Anais - Interaction South America 09

Page 100

estarão aptos a verificar desde os estágios iniciais do projeto quais são as capacidades do produto. O sentimento de apropriação fica evidenciado quando o usuário participa do desenvolvimento, pois este se sente mais envolvido ao perceber que contribuiu para o desenvolvimento do software (sente-se como “o dono do sistema”), mostrando-se mais receptivo quando da entrega do software pronto. A participação do usuário no desenvolvimento deve ser gerenciada de forma a estabelecer diferentes graus de envolvimento, onde a cooperação em meio turno ou em tempo integral, durante uma parte ou por todo o projeto, pode trazer vantagens e desvantagens [12]. Cybis, Betiol e Faust [16] descrevem três formas de envolvimento do usuário no desenvolvimento de um sistema ou produto: envolvimento informativo, envolvimento consultivo e envolvimento participativo. No envolvimento informativo o usuário é visto como uma fonte de informações, que são coletadas por meio de entrevistas, questionários ou de observações do seu trabalho. O envolvimento consultivo é aquele em que o usuário é chamado para opinar sobre soluções de projeto, elaboradas a partir de informações coletadas do próprio usuário ou não. Da mesma forma que no envolvimento informativo, este envolvimento pode ser feito por meio de entrevistas ou questionários. O envolvimento participativo constitui-se no nível mais elevado de envolvimento, onde o usuário tem poder decisório sobre o projeto, necessitando um esforço maior de planejamento, organização e execução do que os outros tipos de envolvimento. É desejável que o envolvimento dos usuários ocorra em uma combinação dos três níveis anteriormente citados, e que para isso é necessário conscientização, mudanças organizacionais e culturais, na empresa e na equipe de desenvolvimento. Atividades da Engenharia de Usabilidade O design de interfaces de usuário compreende atividades iterativas que implicam em passar por várias fases em níveis diferentes de detalhes. O processo consiste em: entender as necessidades dos usuários a partir da coleta de requisitos, elaborar os modelos conceituais com base nos requisitos coletados, construir protótipos, avaliá-los quanto às questões de usabilidade e objetivos da experiência do usuário, decidir sobre as implicações observadas a partir das avaliações, realizar as alterações nos protótipos e avaliar os protótipos novamente [12]. Preece, Rogers e Sharp [12] propõem quatro atividades básicas, que por serem genéricas, podem ser encontradas em outras áreas de design como, por exemplo, no design arquitetônico. As atividades compreendem:

• • •

A identificação e estabelecimento dos requisitos, que busca conhecer quem são os usuários-alvo e o tipo de suporte que o novo sistema pode oferecer; O estudo das opções alternativas de design; A construção de versões interativas com a elaboração de protótipos a fim de fornecer aos usuários uma melhor indicação do design que está sendo construído; e, A execução de avaliações, a fim de determinar a usabilidade e a aceitação do produto.

Identificação e Estabelecimento dos Requisitos O objetivo desta atividade é entender ao máximo possível os usuários, seu trabalho e o contexto deste trabalho, de forma que o sistema a ser construído ofereça o suporte necessário para atingir seus objetivos. A partir da identificação das necessidades, produz-se um conjunto de requisitos estáveis a fim de formar uma base para elaboração dos designs [12]. Segundo Pressman [17], a busca por requisitos estáveis deve-se ao fato de que os requisitos para sistemas computacionais mudam e que o desejo de mudá-los persiste ao longo da vida do sistema. Preece, Rogers e Sharp [12] definem que: “Um requisito consiste em uma declaração sobre um produto pretendido que especifica o que ele deveria fazer ou como deveria operar”. As autoras acrescentam que a atividade de estabelecimento de requisitos tem como objetivo torná-los mais específicos, não-ambíguos e mais claros. Em síntese, as atividades iniciais de um processo de engenharia de usabilidade consistem em apoiar os projetistas de interfaces na busca de informações sobre o contexto de uso e sobre a usabilidade do sistema a ser construído [16]. A identificação das necessidades e o estabelecimento de requisitos têm importância fundamental no processo, pois caso não seja executada corretamente e os requisitos estejam errados, o produto poderá ser ignorado ou pior, desprezado pelos usuários, ocasionando, tanto para o desenvolvedor como para o cliente, frustações, retorno de investimento perdido, perda da confiança do cliente e assim por diante [12]. Em uma pesquisa realizada no ano de 2000, que envolveu entrevistas com 38 profissionais de Tecnologia da Informação (TI) a fim de se investigar as causas da falha de projetos de TI, verificou-se que as questões sobre requisitos figuraram com alto índice nas respostas. Segundo a pesquisa, o item “definição de requisitos” foi apontado como o estágio de projeto que mais causou falhas; os “objetivos e requisitos pouco claros” foram apontados como a maior causa de falhas em geral e a “clareza e o detalhamento dos requisitos” foram indicados como um fator crítico de sucesso [18].

100


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.