Almanaque Socioambiental Parque Indígena do Xingu 50 anos

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povos indígenAs no pArque indígenA do xingu

casa ikpeng. andré villas-bôas/isa

povo IkPeng

O modelo da aldeia ikpeng tem como centro cerimonial a “lua” ou praça ritual, que forma uma elipse com dois fogos. Nela há ainda uma cabana coberta com um teto de duas águas e sem parede, o mungnie, que não é uma casa de homens, como no modelo altoxinguano, pois as mulheres podem ter acesso. Este é o local para a produção de artefatos da cultura material – melhor iluminado do que a escuríssima casa de habitação –, a sala de ensaio para os preparativos cerimoniais, o local onde amigos podem beber e comer fora do grupo doméstico e, por fim, o “arsenal” onde alguns se de-

dicam, sob um estrito tabu, ao fabrico do toucado otxilat, que representa a principal indumentária do guerreiro. Em geral, os grandes rituais ikpeng se passam nessa praça central e marcam as passagens da vida, a maior parte das vezes envolvendo todos da aldeia. Na fase final do ciclo de iniciação (que culmina com a tatuagem feita no rosto de meninos de oito a dez anos), por exemplo, os caçadores regressam das várias semanas passadas na floresta carregados de peças de caça moqueada, a qual é trazida em um imenso cesto, com o auxílio de uma faixa frontal e de redes suplementares, que é depositado na praça para a distribuição. Os circuitos cerimoniais são sempre elípticos, uma vez que os itinerários da dança rodam em torno de dois pontos, dos quais um é o centro da casa e o outro o centro do mungnie. Isso acontece mesmo quando a aldeia é constituída de várias casas e o mungnie fica no centro. Cada casa compõe com ele um circuito de dança elíptico.

a mesma casa. Os grupos que compartilham o fogo, que serve para cozinhar e aquecer nas noites frias, constituem o terceiro nível reconhecível da sociedade ikpeng, geralmente composto pelo marido, esposa e filhos (biológicos e eventualmente adotivos). Tanto o homem como a mulher podem ter mais de um cônjuge, que também partilha do fogo. A guerra é uma questão central na cultura ikpeng, presente nos mitos e na visão de mundo desse povo. Poucas vezes a finalidade da guerra é a obtenção de bens. A sua principal orientação é vingar a morte. Para os Ikpeng, é a feitiçaria dos inimigos que provoca a morte, e os prisioneiros de guerra são substitutos dos defuntos.

Você sabia? S A utilização dos diversos nomes pelos Ikpeng opõe-se à dos apelidos, que são cognomes afetuosos, zombeteiros ou ocasionais. Apelido é amut, termo que designa um tipo de objeto de enfeite de uso jocoso. A maioria dos Ikpeng possui um apelido, que são as designações mais utilizadas no cotidiano, em detrimento dos nomes. ou seja, apesar de todos possuírem muitos nomes, seu uso cotidiano é raro.

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