capítulo 4 | conhecimento indígena
o corAção do brAsil
a domesticação do pequi
O
pequi é um recurso alimentar essencial para os povos do Xingu, sendo um componente de alto valor nutritivo na subsistência desses grupos. Além disso, o óleo de pequi tem vários outros usos, como proteger e perfumar o corpo. Para tanto, é diluído e passado em todo o corpo. O sistema de cultivo abrange um conhecimento profundo sobre o desenvolvimento das plantas associadas, constituindo um sistema agroflorestal bastante adaptado às condições de solo e clima da região. Algumas práticas de manejo são intrínsecas às manifestações culturais de muitos povos, relacionadas ao mito de criação do pequi, onde o jacaré está
sempre presente, além da própria festa do pequi que acontece durante a safra anual. A domesticação é um processo contínuo que envolve práticas de manipulação direta e intencional durante um longo período de tempo e que conduzem a mudanças expressivas no genótipo e fenótipo de uma planta. Assim, as características de interesse são selecionadas e perpetuadas pela intervenção humana, que mantém ou aumenta as características desejáveis tamanho do fruto, espessura da polpa, coloração da semente, sabor, ausência de espinhos e assim por diante. Acredita-se, então, que o pequi dos índios do Xingu teria sido significativamente modificado
TIPos de PequI reconhecIdos Por alguns gruPos Indígenas do Parque do XIngu crITÉrIos de dIFerencIaÇÃo
gruPos Indígenas esTudados* Kalapalo
Waurá
Yawalapiti
Kamaiurá
Kisêdje
PequI culTIVado Variedades (diferenças morfológicas da semente)
Vermelho
3
2
1
2
1
Amarelo
1
1
1
1
1
Branco
1
1
1
1
1
Branco para óleo
–
–
1
–
–
Cinza
–
–
1
–
–
Sem-espinho
2
1
1
1
1
Com buraco na semente
–
1
–
–
–
8
7
3
3
7
1
1
1
1
1
subvariedades
Diferenças palatáveis, olfativas, de espessura da polpa, de casca e na maturação PequI nÃo culTIVado
Silvestre ou do campo
* Não considerado o sistema de classificação dos Kuikuro, Matipu, Nafukuá, Mehinako, Trumai e Ikpeng.
144
AlmAnAque socioAmbientAl pArque indígenA do xingu 50 Anos