CLB - Euclides da Cunha

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em estivando em si é: uma fonte de poder de luz e sombra iluminada, dos momentos de hemeralopia mundial que paradoxalmente coincidiram com seu centenário, virando mais corpo vivo que obra de arte.

Dentro desta revista Me encontro em pleno gozo dentro desta revista com os euclidianos da hora, agricultores preparando a vida de planta social Os sertões irrigando o semi-árido Brasil-Mundo 2002. Li muito quase todos e pude ter o privilégio de ouvi-vê-los numa epifania na Faculdade de Jornalismo Cásper Libero, onde o apaixonado jornalista do Teatro do Mundo, Mario Vitor Santos, organizou um encontro em torno de Os sertões em que aconteceu milagrosamente um encontro mesmo. Primeira nova beleza reexposta de um antigo movimento vital sem começo nem fim da força do ‘homem’, agente geológico também desfazedor de desertos. Um viveiro claro de transpessoas, pensamentos desejos, contradições dinamizadoras maduras, da conversa interminável de Euclides com o corpo sem órgãos. Fui para ouvir uma palestra fiquei para todas. Tive o prazer de ouvir uma geração que, através do estudo apaixonado do livro, está conectada, está com o segredo de uma pauta de renovação do saber no Brasil, no mundo em guerra terrorista contra o terrorismo das bombas financeiras hecatômbicas, do colonialismos submisso à grande Totalização Hegeliana Global. Senti neles o depósito de energias guardadas nas reservas das raízes que em contacto com a situação do mundo podem dar tanto quanto os jogadores da copa, e o que os políticos e partidos não estão dando: a discussão apaixonada e íntima da devoração da civilização do mal-estar, o parto tão em vão falado que deste ‘projeto para o Brasil’. As ciências do século atrasado, as artes, as secas, as vitórias, os massacres mercenários, a nossa condenação à civilização do mal-estar, em Os sertões estão em estado de espatifação, escombros de sublevações onde seus mais dedicados leitores cultivam, caçam, derivam, escrevem, continuam. Pois agora existe não um Maudsley, mas o poeta de Xangô para as loucuras e os crimes das nacionalidades: Euclides da Cunha, ele mesmo, levantado esta anticlinal extraordinária, feita de letras, sinais e vazios, fluxos-phal(a)os-grotas, levantes e tombos, nos canais do não dito, ainda que escrito no escrito, na busca do mundo do verbo situado numa cartografia de mapas como que Faulkner fez de sua Yoknapatawpha.

Cartografia cênica O leitor-ator entra maníaco na investigação dos lugares, programando o cérebro a transitar pelo corpo inteiro com o mapa da mina: o de Siqueira de Meneses, por exemplo, planta baixa de um espaço cênico e mental, mais real e vivo do que o próprio geográfico, que o ator precisa inventar mais forte do que o da sua cidade até confundir-se com o dela, penetrando-a letra a letra, sílaba a sílaba até as palavras acionada pelos verbos enxurrarem sobre as impressões fotográficas de Flávio de Barros, torcendo com o corpo horas pro Exército, eternidades pros sertanejos, pras chuvas, pras secas, nos tumultos geológicos, virações, atravessando todo o corpo do livro como informação intensa explícita no não-explicitado, vibrando no paradoxo e na contradição poética exata e poderosa. 143


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