Revista Ideia Sustentável 32

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ça an ra l er pa na Lid preacio ma el uc or áv ed af n t a at te m Pl Sus gra o pr

Edição 32 Trimestral JUNHO 2013 ISSN 2238-1287

R$ 18,00

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s t e n t á v e Para quem quer liderar uma nova economia

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ESPECIAL EDUCAÇÃO como universidades e escolas ao redor do mundo estão educando para a sustentabilidade

Otto Scharmer Entrevista exclusiva com o pai da Teoria U

E MAIS: Anant Agarwal (MIT), Aileen Ionescu‑Somers e Francisco Szekely (IMD), Diane Tavenner (Summit Public Schools), Nicole Hinostro (High Tech High), Contardo Calligaris (psicanalista), John Elkington (Volans e SustAinability), Fabián Echegaray (Market Analysis), Sérgio Rizzo (crítico de cinema) e Marise Barroso (Masisa Brasil)




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EDIÇÃO 32 TRIMESTRAL JUNHO 2013 ISSN 2238-1287

R$ 18,00

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AÇÃO ESPECIAL EDUC des como universida e escolas ao redor do mundo estãoa educando para sustentabilidade

Revista Ideia Sustentável

edição nº 32

Ano 8  Edição 32 Foto/capa: Chuwy/ iStockphoto®

8 / junho trimestral ano l

2013 Ideia Sustentáve

Otto Scharmer

Entrevista exclusiva u Schools), (Summit Public com o pai da teoria diane tavenner ility), Szekely (imd), (Volans e SustAinab omers e francisco John Elkington Brasil) Aileen ionescu-S (psicanalista), Barroso (masisa Agarwal (mit), Contardo Calligaris E mAiS: Anant de cinema) e marise (high tech high), Sérgio Rizzo (crítico nicole hinostro (market Analysis), fabián Echegaray

A revista Ideia Sustentável é uma marca idealizada, concebida e produzida por Oficio Plus Comunicação e Editora Ltda. Publisher Ricardo Voltolini (ricardo@ideiasustentavel.com.br) Diretora de Conteúdos e editora Cláudia Piche (claudia@ideiasustentavel.com.br) Redação Fábio Congiu (fabio@ideiasustentavel.com.br) Marília Arantes (marilia@ideiasustentavel.com.br) Coordenadora administrativa Ana Elisabete Neumann (ana@ideiasustentavel.com.br) Direção de Arte e Diagramação Cesar Mangiacavalli Editor de Fotografia Érico Hiller Colaboraram nesta edição Aileen Ionescu-Somers e Francisco Szekely, Poliana Abreu, Eduardo Shimahara, Fabián Echegaray (Opinião); John Elkington (Livre Pensar), Sérgio Rizzo (Cinema Sustentável) e Marise Barroso (Liderança Sustentável) Editoração eletrônica Studio52 Impressão e acabamento Vox Periodicidade Trimestral Ideia Sustentável online www.ideiasustentavel.com.br Publicidade, assinaturas corporativas, edições anteriores e reprints ana@ideiasustentavel.com.br 55 (11) 5579-8012

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A revista Ideia Sustentável tem tiragem de 10 mil exemplares e distribuição dirigida a lideranças de empresas socioambientalmente responsáveis, de organizações de terceiro setor e dos governos federal, estadual e municipal. A publicação não se responsabiliza pelas opiniões emitidas por seus articulistas, colunistas e entrevistados. A reprodução do conteúdo editorial desta revista, assim como de sua versão online, só será permitida com a autorização da editora ou com a citação da fonte. Esta revista foi impressa em papel couché (115 g no miolo e 230 g na capa) certificado pelo FSC, que garante a procedência sustentável do produto. Redação e Administração – redacao@ideiasustentavel.com.br Rua Bagé, 269 – São Paulo – SP – Brasil – CEP 04012-140 Fone: 55 (11) 5579-8012

Impressão

Apoio Institucional

À venda nas principais livrarias do país 4

Ideia Sustentável

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· sumárıo

Especial

Educação para a sustentabilidade Ideia Sustentável dá uma volta ao mundo em 48 páginas para mostrar como universidades, escolas de negócios e de ensino para jovens e até crianças estão inserindo a sustentabilidade nos currículos e na gestão.

Opinião

46 Educação de lideranças

Os desafios enfrentados pelo Centro Global para Liderança Sustentável, do IMD, na Suíça, são objeto da coluna assinada por dois de seus diretores, Aileen Ionescu‑Somers e Francisco Szekely.

8 Pérolas Finas Iniciativas de escolas, estudantes, ONGs e empresas para uma educação ambientalmente melhor e socialmente mais justa. Entrevista com Anant Agarwal, presidente da plataforma de ensino online do MIT (Massachusetts Institute of Technology). E as curiosidades internacionais sobre iniciativas de sustentabilidade educacional da revista britânica Green Futures, parceira de Ideia Sustentável.

14 Plataforma Liderança Sustentável Movimento iniciado em 2011 prepara programa educacional para sistematizar a disseminação de seus conteúdos. E, ainda, tudo sobre os encontros regionais de 2013.

48 Educação superior e transformação

A consultora Poliana Abreu discorre sobre o papel e as dificuldades de universidades e escolas de negócios, sobretudo nos Estados Unidos, para oferecer uma educação mais sustentável.

56 Segmentação e crise

Mestrando em Sustentabilidade no Sustainability Institute, da África do Sul, Eduardo Shimahara analisa como a educação tradicional fragmentadora dificulta o pensamento sistêmico.

68 Educação do consumidor

O cientista político Fabián Echegaray, diretor‑geral da Market Analysis, fala sobre a fragilidade da comunicação dos apelos ambientais em rótulos e selos nos produtos.

70 Livre Pensar

Em sua estreia como colunista de Ideia Sustentável, John Elkington aborda a nova linguagem da sustentabilidade na educação de empresas e líderes.

80 Cinema Sustentável

74 Entrevista Especial Considerado um dos pais da

Sérgio Rizzo, professor e crítico de cinema, destaca a importância da produção audiovisual na educação para a sustentabilidade.

aclamada Teoria U, Otto Scharmer compartilha sua visão sobre sustentabilidade e a necessidade de educar lideranças coletivas para o futuro.

Marise Barroso, presidente da Masisa Brasil, analisa a importância dos valores dos líderes empresariais para o desenvolvimento de uma cultura de sustentabilidade nas corporações.

82 Liderança Sustentável

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Carta ao Leitor Cláudia Piche

“N

ão existe educar para a cidadania. Apenas educar na cidadania. Assim como não existe educar para, mas na sustentabilidade.” A frase, exaustivamente repetida nos últimos anos pelo educador português José Pacheco (Entrevista Es­pe­cial, IS 20 –​ ­junho/2010), fundador da lendária Escola da Ponte, em Portugal — e relembrada nesta edição por Eduar­do Shimahara (veja artigo na pág. 56) — faz todo o sentido. E, certamente, representaria uma espécie de estado da arte da educação e da convivência harmônica entre economia, meio am­bien­te e so­cie­da­de. Alcançá-lo é, no entanto, uma meta que — enquanto não atingida — pressupõe ainda o caminho do para, para se chegar até lá. É na educação para a sustentabilidade, portanto, que centramos esta edição es­pe­cial de Ideia Sustentável. As explicações detalhadas sobre como elegemos o tema e os cri­té­rios de escolha das instituições que compõem a

série de Reportagens Especiais, o leitor encontra no texto da página 18. Resumidamente, demos uma verdadeira volta ao mundo para identificar como universidades, escolas de negócio e de ensino para jovens e crianças de quatro continentes estão inserindo a sustentabilidade em seus currículos e em sua própria gestão para educar para e, algumas, inclusive, já na sustentabilidade. Complementando a série, artigos de Po­lia­na Abreu e Eduar­do Shimahara, dois verdadeiros “peregrinos da educação sustentável” (veja abaixo), trazem uma visão pes­soal, contribuindo para a reflexão sobre o tema. Mesmo objetivo das entrevistas exclusivas rea­li­z a­das com educadoras americanas (Diane Tavenner e Nicole Hinostro) e com o psicanalista Contardo Calligaris, cujas opi­niões inovadoras — ora polêmicas — apresentam-se como salutar provocação. Como a proposta era produzir uma edição temática, a seção Pérolas Finas também está totalmente dedicada a ini­

cia­ti­vas de alguma forma voltadas à educação para a sustentabilidade, seja em escolas, ONG s ou empresas. O mesmo acontece com as notas reproduzidas da revista britânica Green Futures, parceira de Ideia Sustentável. Os demais artigos de IS 32 também focam es­sen­cial­men­te o tema. Fabián Echegaray, da Market Analysis, aborda a educação do consumidor; o professor e crítico de cinema Sérgio Rizzo trata da produção audiovisual como instrumento de educação para a sustentabilidade (visão, ­aliás, compartilhada por Calligaris); Aileen Ionescu-​­S omers e Francisco Szekely, diretores do Centro Global para a Liderança Sustentável do IMD, uma das principais escolas de ne­gó­ cios da Europa, discorrem sobre o desafio da educação de lideranças; tema também presente na contribuição de Marise Barroso (Liderança Sustentável), presidente da Masisa Brasil — uma das 20 empresas integrantes da Plataforma Liderança Sustentável (PLS).

Correspondente dedicada

Mochileiro sustentável

Atual­m en­t e morando em Boston, nos Estados Unidos, a mineirinha Po­lia­na Abreu frequentou recentemente, como visitante, cursos dedicados à sustentabilidade em­p re­s a­r ial na Boston University e no MIT Sloan School of Management, de onde produziu, com exclusividade para Ideia Sustentável, a Entrevista Es­pe­cial com o pai da Teo­ria U, Otto Scharmer. Aplicadíssima, nossa mais nova correspondente in­ter­na­cio­nal escreveu, ainda, um artigo em que revela suas descobertas sobre o que há de mais inovador e transformador nas escolas de ne­gó­cios dos EUA no que se refere à sustentabilidade corporativa e inovação so­cial. Parte dessa ex­pe­riên­cia pode ser conhecida, também, no blog educacaoresponsavel.wordpress.com.

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Paulistano, 41 anos, Eduar­do Shimahara formou-se engenheiro mecânico, em 1995, e chegou a trabalhar no mercado automobilístico no Brasil e na França. Porém, apaixonou-se pelo tema da educação. E, mesmo ocupando a Diretoria de Sustentabilidade e Inovação do Grupo Ânima Educação, largou tudo para aventurar-se pelo mundo, junto com mais alguns sonhadores, em busca de ex­pe­riên­cias educacionais inovadoras que possam transformar o planeta. Em breve, elas estarão reunidas num livro. Antes, porém, Shima nos oferece um “petisco”, em artigo exclusivo para a seção Opi­nião.

Isabela Carrari

Aventura educacional em edição temática


E por falar na PLS — movimento cuja missão é inspirar, conectar e educar lideranças para a sustentabilidade —, o desenvolvimento de uma metodologia para sistematizar seus con­teú­dos é justamente a novidade do programa. Absolutamente sintonizado, portanto, com a temática da edição. A aprendizagem das empresas com a nova linguagem e conceitos da sustentabilidade foi o tema escolhido por John Elkington para a sua estreia como colunista da revista (seção Livre Pen­ sar). Em busca de parceiros na América Latina para a disseminação do con­ teú­do produzido pela Volans, dirigida por Elkington, Ideia Sustentável foi identificada e contatada pela consultoria britânica como candidata estratégica. Assim, o cria­dor da definição de triple bottom line, presente em vá­rias edições da história da revista como entrevistado, passa, agora, a brindar o leitor de forma mais regular com sua inestimável contribuição.

Outro grande destaque desta edição temática é a Entrevista Es­p e­cial com Otto Scharmer. Considerado um dos “pais” da Teo­ria U — metodologia fundamentada no sentir, pre­sen­ciar e concretizar —, juntamente com outros relevantes teó­ri­cos do mundo da sustentabilidade, como Peter Senge, Scharmer falou também com exclusividade à Ideia Sustentável, diretamente de seu escritório no Massachusetts Institute of Technology, o MIT, em Cambridge (EUA ). Desta vez, no entanto, o leitor certamente sentirá falta do brilhantismo de Ricardo Voltolini e sua coluna, Pen­ samento Sustentável. Nos oito anos de vida desta revista, por pouquíssimas vezes o publisher de Ideia Sustentável absteve-se de deixar sua marca personalíssima nestas páginas. Mas a justificativa é louvável. Além de con­ti­ nuar rodando o Brasil para encontros e palestras sobre a Plataforma Liderança Sustentável, por ele idea­li­za­da em 2011, nos poucos dias em que permanece em

Agora, prata da casa

Líder de valor

Embora já destacado no texto acima, não po­de­r ía­ mos deixar de estampar a figura de John Elkington na galeria deste edi­to­r ial. Descrito pela revista norte-​­americana de ne­gó­cios Businessweek como “o decano do movimento de sustentabilidade corporativa, há três décadas”, o cria­dor da expressão triple bottom line escolheu Ideia Sustentável como parceira estratégica para a divulgação do conhecimento produzido por sua consultoria, a Volans, e pela think tank SustAinability, que ajudou a fundar ainda em 1987. Você, leitor, que já se acostumou a encontrar nestas páginas os maiores ex­poen­tes da sustentabilidade em­pre­sa­rial, agora terá, regularmente, a prazerosa companhia de John Elkington. É ele quem assina o Livre Pensar desta edição.

Integrante da Plataforma Liderança Sustentável desde o ano passado, a presidente da Masisa Brasil, Marise Barroso, acredita que a sustentabilidade seja um valor intríseco ao caráter feminino. E, portanto, os líderes empresariais do sexo oposto têm muito o que aprender com as mulheres. Parte desses ensinamentos consta do artigo de Marise para a seção Liderança Sustentável — uma contribuição pre­cio­sa sobre a importância dos valores e do papel do líder para o desenvolvimento de uma cultura de sustentabilidade nas empresas.

terra firme Voltolini dedica-se à produção do segundo livro da série Conversas com Líderes Sustentáveis, que irá retratar os cases da etapa edu­ca­cio­nal da Plataforma, lançada em agosto de 2012, com entrevistas de mais 10 presidentes de grandes empresas revelando como estão envolvendo e educando lideranças para a sustentabilidade. Por tudo isso, IS 32 assemelha-se a uma espécie de “guia do estudante sustentável”, trazendo informações, dicas e reflexões pre­cio­sas a todos cuja pretensão seja, muito em breve, a de aprender e ensinar na sustentabilidade. Boa leitura! ❧ Cláudia Piche é diretora de Conteúdos da consultoria Ideia Sustentável: Estratégia e Inteligência em Sustentabilidade e editora desta revista.

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Educar para solucionar de miséria tão grande em Bangladesh, em 1976, que começou a emprestar dinheiro às pes­s oas necessitadas. Na época, um fi­nan­cia­men­to de 27 dólares para 42 mulheres não só mudou a vida delas como deu origem ao Grameen Bank, hoje uma instituição com 8 milhões de clien­tes investidores a partir do microcrédito. “Todas as vezes que tenho de resolver o problema das pes­soas, crio um negócio”, confessou Yunus. E é essa a

Caminho de futuro

Programa de Edu caçã

o Ambiental Cam

po Limpo

Ciclo de vida das embalag ens Saiba mais sobre como as emba são produzidas , descartadas e lagens recicladas

L

1

2

MAtériA-PriMA A maioria dos plásticos é produzida a partir do petróleo

1

rESinA O petróleo passa por vários processos até ser transformado em resina plástica

MAtériA-PriMA Os metais são produzidos a partir de minérios extraídos da natureza

2

MEtAL Os minerais são processados para separar o metal das impurezas

PLÁStiCo 3

CoLEtA SELEtiVA Permite que os plásticos sejam separados do lixo comum e enviados para a reciclagem

trAnSforMAção Essas resinas seguem para as indústrias e são transformadas em embalagens plásticas por meio de processos como o da extrusão

5 4

UtiLizAção Um exemplo de embalagem plástica é a garrafa PET

rECiCLAgEM As embalagens são derretidas, refundidas e transforma das em novos produtos

3

CoLEtA SELEtiVA Permite que os metais sejam separados do lixo comum e enviados para a reciclagem

4

2

CoLEtA SELEtiVA Permite que os vidros sejam separados do lixo comum e enviados para a reciclagem

• Jornais

3 meses

2 anos

5 anos

4

trAnSforMAção O vidro pode ser moldado por meio de vários processos, como o de sopro, e se transforma r em diversos tipos de embalagem

UtiLizAção Frascos de cosméticos são exemplos de embalagens de vidro

6

rECiCLAgEM As embalagens são dissolvidas em água e transforma das em novos produtos

5

CoLEtA SELEtiVA Permite que os papéis sejam separados do lixo comum e enviados para a reciclagem

PAPEL 3

trAnSforMAção Essa pasta é prensada e secada nas máquinas

4

UtiLizAção Caixas e sacos são exemplos de embalagens de papel

o tempo da nature

necessário para

2 a 4 semanas

• Cascas de frutas • Pontas de cigarros • Chicletes

PAStA dE CELULoSE Misturada com água e cozida, essa celulose é transformada em pasta de celulose

Vidro

rECiCLAgEM As embalagens de vidro são moídas e transforma das em novos produtos

Quanto tempo é

MAtériA-PriMA Da madeira das árvores se obtém a celulose

2

3

5

1

Vidro Calcário, sódio e outras substâncias são acrescentados à sílica e aquecidos

Educação Ambiental

6

MAtériA-PriMA O vidro é produzido a partir da sílica, que é encontrada na areia

Campo Limpo -

1

trAnSforMAção Os metais são transformados em embalagens por processos como o da laminação

UtiLizAção Um exemplo de embalagem de metal é a lata de alumínio

do Programa de

5

que o nosso lixo

za

seja reabsorvido

• Pilhas

100 a 500 anos

• Latas de alumínio 100 a 500 anos

• Sacos e copos plásticos 200 a 450 anos

• garrafas e frascos de Tempo Indeterminad

o

vidro

Vida das Embalagens

6

s plásticas são trituradas e transformadas em novos produtos

MEtAL

Projeto Ciclo de

rECiCLAgEM As embalagen

Perfil da coleta

naturalmente? 40 35 30 25 20 15 10 5 0

39%

seletiva no Brasil

em peso (média

de 16 cidades)

22% 13%

10%

9% 3%

Papel e papelão

Plástico

Rejeito

Vidros

Metais Diversos*

3%

1%

Longa vida

Alumínio

Parte integrante

6

2011

evar o tema da reciclagem e da sustentabilidade às escolas significa garantir a formação de cidadãos cons­cien­tes de suas responsabilidades quanto às condições ambientais e da própria so­cie­da­de. É o que vem fazendo nos últimos anos o Programa de Educação Am­bien­tal Campo Limpo, cria­do pelo inpEV (Instituto Na­cio­nal de Processamento de Embalagens Va­zias). Em 2013, mais de 1.700 escolas, em 19 estados, aderiram à quarta edição do programa, que ajuda as instituições de ensino a complementar con­teú­ dos curriculares com temas re­la­cio­na­dos ao meio am­bien­te e incentiva o descarte adequado de re­sí­duos pós-​­consumo. Cerca de 10 mil salas de aula já foram impactadas pela ini­cia­ti­va que está entre as mais importantes do Sistema Campo

ideia que o centro — agora presente em 8 paí­ses — deverá transmitir e difundir no Brasil: empresas para so­lu­cio­nar, não só para lucrar. “O ponto-​­chave é a transformação de mentalidade. Os ne­g ó­ cios tradicionais vão atrás do dinheiro, enquanto os ne­gó­cios sociais correm atrás de trabalho”.

* Inclui outros tipos de materiais recicláveis: baterias, pilhas, borracha, madeira, entre outros

Aurélio © Editora Horizonte

naugurar o primeiro centro acadêmico de ne­gó­cios sociais na América Latina. Esse foi um dos motivos da recente passagem pelo Brasil do economista Muhammad Yunus, ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 2006. O Yunus ESPM Social Business Centre irá promover cursos de capacitação, pesquisa e incubação de empresas, com o intuito de fomentar o tema no Brasil. Conhecido como “banqueiro dos pobres”, Yunus encontrou uma si­tua­ção

Ilustrações: Marcos

I

Foto: João Lebrão

Pérolas Finas

inpev.org.br

5º ano

Limpo, dedicado à logística reversa de embalagens va­zias de defensivos agrícolas. As escolas participantes receberam, em maio, 4.820 kits pedagógicos desenvolvidos es­pe­cial­men­te para alunos do 4º e 5º ano do Ensino Fundamental. Multidisciplinares, esses materiais partem do tema Caminhos da Reciclagem e trazem um apanhado de atividades propostas para os professores aplicarem em sala — todas focadas na coleta de re­sí­duos, com me­to­do­lo­gias lúdicas e educativas.

Ecoeducação

C

om o objetivo de transversalizar a educação am­bien­tal às atividades escolares, o Instituto Ecofuturo iniciou, em 2010, atividades que pro­por­ cio­nam aos alunos da rede pública de ensino ex­pe­riên­cias de aprendizagem di­fe­ren­cia­das e uma conexão com o meio am­bien­te. Mais de 2.400 estudantes já passaram pela ini­cia­ti­va, que continua em 2013. Trata-se do Programa de Educa­ ção Am­bien­tal, rea­li­za­do em parceria com a prefeitura de Mogi das Cruzes,

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no Parque das Neblinas, reserva am­bien­tal do Ecofuturo. O projeto busca difundir conhecimentos sobre a riqueza e a importância da bio­ di­ver­si­da­de da Mata Atlântica e levar as temáticas ambientais para dentro da escola. No Parque das Neblinas, os alunos podem vi­ven­ciar os con­teú­dos aprendidos em sala de aula. “As atividades colaboram para uma percepção real das novas gerações sobre a importância da preservação am­b ien­t al e de uma postura mais sustentável na convivência com o meio”, destaca Paulo Groke, diretor de Meio Am­bien­te do Ecofuturo.


Green card

Agentes de mudança

I

E

ndependente do setor de negócio, cada empresa pode fazer a sua parte na educação para a sustentabilidade. A mais recente ini­cia­ti­va do Grupo Multi — maior holding de franquias de ensino de idio­mas e pro­f is­sio­na­li­zan­tes do país — é prova disso. Substituindo os tradicionais CD s que acompanham os livros didáticos por um Audio Card, o grupo pretende economizar mais de 500 mil toneladas de plástico nos próximos cinco anos. Fun­cio­na assim: para fazer as atividades de listening, o aluno toca a ponta da sua English Pen no Audio Card — no local indicado pelo capítulo do livro — e, automaticamente, passa a ouvir a lição pela caneta. A nova ferramenta foi desenvolvida para corresponder às expectativas e necessidades das novas gerações de estudantes, ha­bi­tua­das a recursos digitais cada vez mais inovadores. Wizard, Yázigi, Skill, Smartz, Microlins e S.O.S. são as primeiras redes a utilizar a novidade. O ­ideal é unir novas ferramentas com sustentabilidade. “Inovamos e, ao mesmo tempo, deixamos de gerar re­sí­duos sólidos”, comemora Carlos Wizard Martins, fundador do Grupo Multi Educação.

ducar alunos para que se vejam como agentes de mudanças efetivas na so­cie­da­de. Essa é a missão do Colégio Santo Ivo, de São Paulo, ao promover diversas ações de vo­lun­ta­ria­do e mobilizar seus estudantes para o exercício da so­li­da­rie­da­de e cidadania. O colégio atua em três frentes. Na primeira, rea­li­za uma espécie de intercâmbio entre seus alunos com os da Escola Es­ta­dual Reynaldo Porchat, no Alto da Lapa, em São Paulo: os estudantes do 9º ano e do Ensino Médio do Santo Ivo dão aulas para os do 5º da escola pública. E os resultados são animadores. Em um estudo sobre bio­mas, por exemplo, os vo­lun­ tá­rios desenvolveram um vídeo e dramatizações interativas para comunicar a importância do tema aos colegas, que, por sua vez, ficaram muito interessados. Na Campanha Solidária, outra ini­cia­ti­va de vo­lun­ta­ria­do do Santo Ivo, os estudantes recolhem e entregam doa­ções de roupas, ma­te­rial escolar, produtos de hi­gie­ne, entre outras. E, por fim, os alunos, semanalmente, colaboram no cadastro das notas fiscais recolhidas no colégio para a manutenção dos recursos financeiros da Casa do Pequeno Cidadão Nossa Senhora Aparecida — de apoio a crian­ças carentes, abandonadas ou órfãs —, na Vila Leo­pol­di­na.


Olho vivo

D

e olho nos temas levantados pela ­Rio+20, o Programa Olhar Verde rea­li­za mensalmente, desde o começo do ano, uma série de debates sobre as grandes questões ambientais abordadas na conferência mun­dial de 2012. São encontros e oficinas que incentivam a reflexão sobre ecologia e sustentabilidade a partir de um eixo temático; no caso, o de 2013 é: Economia Verde, Alimentação e Qua­li­da­de de Vida. Os eventos são gratuitos. Os interessados podem participar pre­sen­cial­men­te ou acompanhar a transmissão online — a intenção é possibilitar também as interações à distância, por meio de chats, e conservar os con­teú­dos trabalhados (as edições ficam disponíveis ao público na internet até um mês depois dos encontros).

Por público entendam-se empresas, escolas públicas e particulares, ONG s, instituições, profissionais liberais e educadores preo­cu­pa­dos, de alguma forma, com a questão am­bien­ tal. Especificamente para os professores, o objetivo do Olhar Verde é ajudá-​­los a inserir o tema de forma transversal nas salas de aula. Para tanto, conta com uma equipe multidisciplinar, composta por gestores, técnicos, jornalistas, consultores, entre outros. Nutrição (orgânicos versus transgênicos), Crescimento Po­pu­la­cio­nal, Impacto Am­bien­tal e Ética e Meio Am­bien­te são alguns os temas a serem debatidos nos eventos programados a partir de junho. Inscrições pelo site www.olharverde.com.br.

Sustentabilidade em jogo

Q

Verde mar

A

preo­cu­pa­ção e as soluções ambientais chegaram às escolas com tamanha força que já têm rendido grandes prê­ mios aos estudantes. Slat Boyan, de apenas 19 anos, por exemplo, já traz em seu currículo o reconhecimento de melhor Desenho Técnico de 2012, concedido pela Universidade de Tecnologia de Delft, na Holanda. O jovem holandês ainda estava no Ensino Médio quando desenvolveu o projeto de uma matriz de limpeza oceâ­ni­ca para retirar re­sí­duos plásticos dos mares, isto é, uma máquina para recolher, filtrar e armazenar o ma­te­rial a ser reciclado. Embora não haja previsão de quando estará disponível para uso, o projeto é uma esperança para cien­tis­tas, estudantes e todos aqueles que têm alguma cons­ciên­cia quanto à importância da conservação am­bien­tal, pois o plástico contamina es­pé­ cies marinhas e causa, ainda, inúmeras mortes de animais que ingerem ou ficam presos aos re­sí­duos. A proposta de Boyan permitiria retirar mais de sete milhões de toneladas de plástico do ocea­no. Placas solares e a própria força das correntes marítimas serão utilizadas para gerar a energia necessária ao fun­cio­na­men­to do sistema e, consequentemente, reduzir seus impactos ambientais.

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uem disse que meio am­bien­te e sustentabilidade precisam ser sempre tratados de maneira sisuda? Com um projeto inédito, desenvolvido em uma escola es­ta­dual da Zona Leste de São Paulo, a Leroy Merlin Marginal Tie­tê mostra que não é bem assim O jogo Sustentabilidade em Ação faz parte do programa Construir e Sustentar e visa promover uma cons­cien­ti­z a­ ção am­bien­tal entre alunos, professores e comunidades do entorno da escola. Sucesso entre os participantes, o tabuleiro traz uma cidade com inúmeros problemas, como um “lixão” onde eles têm de apontar quais produtos podem ser reciclados, reutilizados e reduzidos. Ques­tões complexas como essa devem ser resolvidas com soluções sustentáveis encontradas em conjunto. E por falar em conjunto, a empresa responsável pela ini­cia­ ti­va decidiu comemorar a boa recepção do jogo envolvendo fornecedores em ações de me­lho­rias para a escola. A Eucatex, por exemplo, contribuiu com pintura, troca de porta e instalação do piso laminado ecológico para a sala de leitura; a Coza, forneceu as Lixeiras Bios para as salas de aula; e a Docol doou torneiras econômicas para os bebedouros. Segundo Henrique Moura, idea­li­za­dor do projeto, o próximo passo é expandir a ini­cia­ti­va. “Com certeza aplicaremos o programa em outras escolas, em breve.”


Entrevista Anant Agarwal, presidente do edX – plataforma de ensino online

Educação virtual, sustentabilidade real o final do ano passado, a Universi­ dade de Harvard e o MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), nos Estados Unidos, lançaram o edX, uma plataforma de ensino online para oferecer cursos livres e gratuitos a milhares de pes­soas si­mul­ta­nea­men­te em todo o mundo. A primeira ini­cia­ti­v a atraiu nada menos do que 155 mil estudantes de 162 paí­ses. Ao autor do primeiro curso, o professor in­dia­no Anant Agarwal, coube também a tarefa da presidência do edX, cuja principal característica é manter o mesmo rigor e qualidade dos programas presenciais das universidades envolvidas — atual­men­te, mais de 10, entre as quais UC Berkeley, Georgetown, Wellesley e Texas System. A relação entre educação vir­tual e sustentabilidade foi tema da conversa de Agarwal com Ideia Sustentável.

Ideia Sustentável – Como a tecnologia pode ajudar a disseminar a questão da sustentabilidade nos currículos de cur­ sos uni­ver­si­tá­rios? Anant Agarwal – Acredito que a educação online seja real­men­te re­vo­lu­cio­ná­ria, no sentido de misturar todo o sistema de uma forma mais efi­cien­te. An­te­rior­ men­te, cada universidade tinha que fazer de tudo para prover con­teú­do aos alunos. Daqui para a frente, se uma escola tiver cursos excelentes em uma área, poderá torná-​­los acessíveis às outras. E, se não tiver, poderá adquirir cursos, pesquisas e es­pe­cia­li­da­des das demais universidades. É como o comércio in­ter­ na­cio­nal, no qual pode-se preen­cher lacunas pela troca, pelo compartilhamento de conhecimento online. Isso tornará todos mais efi­cien­tes no sistema de ensino e no mercado de trabalho. Por exemplo, em muitas re­giões da Índia, as pes­soas adquiriram telefones celulares antes mesmo da implementação de sistemas de telefonia fixa. Em breve, alguns paí­ses poderão “pular” a etapa

de construir pré­dios de universidades e irem diretamente para o ensino online. IS – Então o senhor acredita que solu­ ções sustentáveis surgirão ao longo desse processo de transformação, tor­ nando o ensino cada vez mais vir­tual? AA – Sim. Com a tecnologia online, as soluções sustentáveis aparecerão conforme formos di­re­cio­nan­do essas questões. Acredito que, assim, poderemos manter a qualidade do ensino e diminuir bruscamente os custos. Assim, cada campus poderá decidir onde — e em que ­áreas — ele pretende estar. A tecnologia é uma ótima ferramenta para caminharmos rumo a modelos mais sustentáveis. Eu real­men­te acredito que devemos parar de construir pré­dios e ter de nos locomover sempre para assistir aulas nas universidades. IS – Na sua opi­nião, cada campus deverá buscar seu próprio progresso por meio da tecnologia? AA – Sim. Para mim, é responsabilidade de cada instituição cuidar de aprimorar a qualidade de seu ensino. Essa é uma evolução, uma onda imensa que está chegando. Os campi que não souberem aproveitá-la estarão perdendo uma grande oportunidade. Esse processo será similar ao que aconteceu com os jornais: os que tiveram a capacidade de se expandir para a internet mais rapidamente, adaptaram-se melhor. As escolas também precisam mudar a forma de fazer as coisas. Assim, as mais aptas em utilizar a tecnologia am­plia­rão seu alcance para um número maior de pes­soas. IS – O senhor poderia citar ex­pe­riên­cias positivas do edX? AA – O processo está começando, estamos apenas na ponta do iceberg. Em junho, o projeto do MIT se tornará open source: todos poderão utilizar o software. Mas o con­teú­do ainda pertence à universidade. Contudo, a Universidade

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de Tecnologia de Delft, na Holanda, será a primeira a disponibilizar o compartilhamento de con­teú­dos também. As maiores universidades do mundo já estão estudando como programar esse sistema de ensino online. IS – Muitos enxergam semelhanças entre o Brasil e a Índia. Qual é a si­tua­ção edu­ ca­cio­nal da Índia atual­men­te? Em sua opi­nião, o que nós brasileiros podemos aprender com o modelo in­dia­no? AA – O sistema edu­ca­cio­nal na Índia não está nada bom. Tenta-se melhorar a educação, buscando mais alunos em quantidade, mas também em qualidade. Ainda assim, é muito difícil completar as classes nas universidades. Trata-se de um enorme desafio. Embora a Índia seja competitiva do ponto de vista edu­ca­cio­nal e seja difícil ingressar na universidade, nem todos estão aptos para isso. O problema envolve muitas questões: dinheiro, política e mentalidade. Existem boas instituições, mas metade de suas posições não está preen­chi­da. Neste caso, o aprendizado online poderá representar uma solução, assim como no Brasil. (Marília Arantes) JUNHO 2013

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Pós-Graduação Lato Sensu ECA/USP Redes Digitais, Terceiro Setor e Sustentabilidade O curso oferece um conteúdo transdisciplinar e inovador a fim de formar profissionais capazes de planejar, implementar e comunicar práticas ambientais sustentáveis por meio de redes digitais. O processo de formação prevê, além de conteúdo teórico, noções de tecnologias de redes aplicáveis às áreas empresarial, pública e terceiro setor. Coordenação: Prof. Dr. Massimo Di Felice (ECA/USP)

Público alvo: profissionais egressos de todas as áreas com graduação reconhecida pelo MEC, profissionais de comunicação institucional, governamental e empresarial, representantes da sociedade civil organizada e do terceiro setor.

Corpo docente formado por professores e pesquisadores da USP, além de profissionais reconhecidos em sua área de atuação, como Ricardo Voltolini (Ideia Sustentável), Pedro Jacobi (FE-USP), Alexander Turra (IO-USP)

O curso conta com a colaboração de renomados pesquisadores internacionais, como Mario Pireddu (Un. Roma III), Michel Maffesoli (Un. Paris V Sorbonne), Derrick de Kerckhove (Un. Toronto) e Alberto Abruzzese (Un. IULM Milão)

Seleção 2013: INÍCIO DO CURSO - outubro / 2013 aulas às sextas das 19h00 às 23h00 e sábados das 9h00 às 13h00

Inscrições: 01 a 31 de agosto, pelo site Informações gerais sobre o curso:

www.atopos-usp.org/cursos ecosofia @usp.br (11) 3091-4224 Promoção

Idealização


Atração magnética

Reduzir para educar

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Fundação de Pesquisas da Universidade Es­ta­dual de Utah – USU (EUA ) comprovou avanços tecnológicos capazes de re­vo­lu­cio­nar os ônibus elétricos, minimizando a poluição e os custos nos centros urbanos. A USU e a empresa WAVE receberam 2,7 milhões de dólares da Autoridade Federal de Transportes dos Estados Unidos para desenvolverem o Aggie Bus. Os veí­cu­los recarregam as ba­te­rias por indução, por meio de uma placa que recolhe energia do chão toda vez que os passageiros sobem nos ônibus. Independentemente das condições me­teo­ro­ ló­gi­cas ou do alinhamento perfeito das placas nos pontos de ônibus, o mecanismo oferece a mesma con­f ia­bi­li­da­de dos veí­cu­los a die­sel e gás natural. E ainda poderá fun­cio­nar por pe­río­dos de tempo mais longos que o dos elétricos tradicionais que só podem recarregar as ba­te­rias no pe­río­do noturno. Segundo Petra Beitl, diretora de Marketing da Liberty Cars, empresa es­pe­cia­li­za­da em tarifação de ônibus, apesar dos custos iniciais elevados e da necessidade de uma in­fraes­ tru­tu­ra intensiva, a nova tecnologia deverá poupar dinheiro. Kate Peterson, es­pe­cia­li­za­da em Desenvolvimento de Ne­gó­ cios na USU, concorda: “Depois do investimento ini­cial, as estimativas de custos com a manutenção se­riam equivalentes a 40 centavos de dólar por galão de combustível”, afirmou. O mecanismo deverá economizar em ba­te­rias também, com “modelos drasticamente reduzidos em tamanho, peso e preço”, diz James May, vice-​­presidente de Ne­gó­cios e Desenvolvimento de Produtos da WAVE . Nos Estados Unidos, a SAE In­ter­na­cio­nal desenvolve uma nova padronização para condutores de cargas que irá garantir que os sistemas sem fio (wireless) — May afirma — “serão muito mais inclusivos do que pro­prie­tá­rios”. (GilesCrosse)

a Impington Village College, perto de Cambridge, na Inglaterra, o valor real da redução de emissões de carbono significa muito mais do que recompensas financeiras. Com po­ten­cial de reduzi-las em mais de 50% — e de economizar cerca de 120 mil libras por ano —, a escola emite, atual­ men­te, 101,33 kg CO ² /m², o dobro da média na­cio­nal. Disposta a encarar o desafio, a instituição contou com um fi­nan­cia­men­to de 1 milhão de libras da empreiteira Skanska para colocar em prática o projeto Retrofit. A empresa espera recuperar a quantia em sete anos, a partir da economia de contas na escola e de receitas geradas com a venda do excedente de energia produzida, por meio de incentivo governamental. Segundo o vice-​­diretor da escola, Fran Difranco, todas as lâmpadas serão subs­ti­tuí­das por modelos de baixa voltagem ou LED, reduzindo as emissões em mais de 10%. Além disso, três caldeiras de bio­mas­sa deverão ser instaladas, fornecendo 85% do aquecimento térmico normalmente gerado por gás, permitindo uma economia de mais 60 mil libras por ano. No entanto, Difranco está ainda mais satisfeito com a capacidade de aprendizagem que os estudantes podem desenvolver a partir da redução de suas pegadas de carbono. “É uma maneira fantástica de envolver os alunos”, diz. Afinal, por meio de um sistema de controle via internet, medidores inteligentes permitirão que os estudantes, a escola e a Skanska analisem o uso de energia e outras mudanças ne­ces­sá­rias. Segundo o diretor adjunto, Richard Byers, “o sistema oferece precisão para prever o uso de energia em comportamentos padronizados, utilizando dados reais gerados pelos usuá­rios”. Com isso, os estudantes poderão reduzir emissões também em suas re­si­dên­cias. “O projeto Retrofit comprova oferecer be­ne­fí­ cios educacionais sem limites”, conclui Difranco. (Lizzie Rivera)

Balanço positivo

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cidade de Chicago pretende construir, até 2015, uma escola pública cujo campus terá balanço de energia positivo. O slogan da Academia para a Cidadania Global, Uma molécula a mais, define os planos de desenvolvimento de mecanismos de autogeração de energia, além do cultivo de alimentos para abastecer alunos e a comunidade local. Assim, o campus fun­cio­na­rá como um “terceiro professor”, que ensina por meio de seus jardins, estufas e design inovador. Até agora, a ini­cia­ti­va já levantou mais de 50 mil dólares em uma campanha de crowdfunding pela plataforma Indiegogo. Combinada com o fi­nan­cia­men­to da administração da escola, a quantia garante o terreno para a construção do campus. Porém, ainda falta muito para os 30 milhões de dólares ne­ces­sá­rios. Além de colaborações de pais e da comunidade, a escola busca doa­do­res e empresas parceiras que possam utilizá-la como um

“laboratório de aprendizagem”. Segundo Dan Schnitzer, coor­de­na­dor de Sustentabilidade e Operações do projeto, no longo prazo, “o campus acabará pagando-se por si só”. O modelo “energia positiva” vem conquistando adeptos em vá­rios setores, garante Bruce McKenney, diretor estratégico para Desenvolvimento de Design na ONG The Nature Conservancy. “O impacto do desenvolvimento deverá conviver cada vez mais com a manutenção dos sistemas naturais.” Schnitzer e seus colegas também têm uma ampla visão sobre os impactos positivos da escola. Além de investir na in­fraes­tru­tu­ra sustentável local, aposta-se numa geração de agentes sociais e políticos, “cons­cien­te das oportunidades que os in­di­ví­duos terão ao produzirem impactos positivos.” (Katherine Rowland)

As notas desta seção foram originalmente publicadas na revista britânica Green Futures (edição 88 – ​­Abril/2013), parceira de Ideia Sustentável. Versão para o português de Marília Arantes. Leia mais em www.forumforthefuture.org/greenfutures JUNHO 2013

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Plataforma Liderança Sustentável Por Fábio Congiu

o primeiro Sarau de Sustentabilidade, na FEA-​­USP, a Feira do Estudante do CIEE-​­2013, em São Paulo, e o VIII Fórum Re­gio­nal – Desenvolvimento Susten­ tável: Políticas de Responsabilidade So­c ioam­b ien­t al, na Bahia. Somados, esses três eventos reuniram um público de cerca de 2.500 pes­soas.

Cláudia Piche

Estrutura e educação

Piloto do programa educacional da PLS, na FGV

PLS apresenta novas iniciativas de educação para a sustentabilidade Entre várias ações, movimento desenvolve modelo pedagógico para trabalhar seus conteúdos e materiais

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urante o VI Congresso Na­cio­ nal de Responsabilidade So­cioam­bien­tal, rea­li­za­do em maio, em Londrina (PR ), a Plataforma Liderança Sustentável (PLS ) recebeu um importante reconhecimento na figura de Ricardo Voltolini: o idea­li­z a­ dor do programa foi eleito Personali­ dade do Ano em Sustentabilidade pela As­so­cia­ção Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento (ABTS). De acordo com os organizadores, o título considera os serviços prestados ao país pela ini­cia­ti­va, que, há dois anos, tem inspirado e educado jovens líderes para a sustentabilidade. Dentro dessa proposta, a mais recente ação da Plataforma foi um evento-​­piloto rea­li­za­do em maio, na FGV, em São Paulo, no qual 20 integrantes de sua Rede de Educadores — que já conta com cerca de

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200 professores de universidades e escolas de ne­gó­cios — ava­lia­ram a abordagem pedagógica do curso de formação de líderes sustentáveis, em desenvolvimento desde o começo do ano. “Convidar-​­nos para opinar sobre o programa já demonstra sua qualidade. Isso é sustentabilidade na prática”, elogiou Tiemi Yamashita, consultora edu­ca­cio­nal. O movimento foi responsável, ainda, por um módulo sobre Liderança Sustentável na Pós-​­Gra­dua­ção em Gestão So­cioam­bien­tal para a Sustentabili­ dade, da Fundação Instituto de Admi­ nistração (FIA ), ini­cia­do em abril. E mais: só em 2013, cerca de 700 gestores participaram dos encontros regionais da Plataforma, que, até o fim de maio, havia passado por Goiânia (GO), Joinville (SC ) e Curitiba (PR ), com paradas confirmadas ainda em Manaus (AM ), em 18/06, Porto Alegre (RS ), em 26/06, e Belém (PA ), em 04/10. Para levar a mensagem de liderança com valores à maior quantidade possível de pes­soas, a ini­cia­ti­va também marcou presença em eventos diversos, como

Ao longo das via­gens pelo Brasil, a Plataforma constatou uma demanda por ma­te­rial “extra”, que fosse além da inspiração possibilitada por um dia de palestras. Muitos participantes dos encontros regionais alegavam sair mobilizados pelas inúmeras ideias dos eventos, mas encontravam dificuldades para colocá-​ ­las em prática. O desafio lançado, assim, era o desenvolvimento de um modelo para trabalhar os con­teú­dos da ini­cia­ti­va de forma mais estruturada e efetiva, em que os grandes temas re­la­cio­na­dos à liderança sustentável fossem fundamentados por materiais específicos e exemplos práticos. Assim, a base da matriz pedagógica do programa edu­ca­cio­nal da Plataforma, ­apóia-se em quatro grandes eixos — Inspirar, Saber, Conhecer e Conectar. O objetivo é desenvolver cinco habilidades: Viver os Valores; Ser Pes­soal­men­te a Mudança; Escutar, Envolver e Dia­lo­gar; Inovar; e Praticar a Interdependência. Para desenvolver esse con­teú­do, o programa propõe, em princípio, dois encontros presenciais para um curso básico de 10 horas. Para o futuro, estuda-se a possibilidade de uma customização do programa para públicos e setores específicos, ou seja, abordagens di­re­cio­na­das — sob demanda — a partir de uma estrutura já consistente. A ideia ini­cial, porém, é garantir aos jovens gestores o entendimento básico do conceito de líder sustentável, como age, pensa e em quais valores acredita. “Todos temos algum tipo de energia de liderança. Nosso objetivo é liberar essa energia para motivar a transformação”, diz Voltolini. Energia que pôde ser constatada durante a aula na Pós-​­Gra­dua­ção em Gestão So­cioam­bien­tal para a Sustentabilidade, da FIA , onde a Plataforma integrou


da sustentabilidade: Performance com Propósito, ou seja, gerar crescimento humano, am­bien­tal e de talentos para construir um futuro mais saudável. Andrea também citou outra ini­cia­ti­va focada em integrar o conceito ao dia a dia dos fun­c io­n á­r ios: “Cria­m os um

a disciplina A Crise Planetária e o Novo Am­bien­te de Ne­gó­cios, panorama dos principais temas e de­sa­ fios da atua­li­da­de. Com exemplos práticos de líderes empresariais protagonistas de mudanças sustentáveis, o movimento ofereceu contribuições além-​­teo­ria para os integrantes do curso. “Os alunos terão esse módulo como um di­fe­ ren­cial na sua formação, já que o desejo da maioria deles é ser

Sílvio Simões

João Carlos Brega, em Joinville

Andrea Alvares, Ivo Faria e Ricardo Voltolini, no encontro regional de Goiânia

Em Paripiranga (BA), 2 mil pessoas prestigiaram palestra de Voltolini sobre a PLS

cubo com questões sobre o tema — imprescindíveis a qualquer tomada de decisão — para ficar na mesa de cada um de nossos colaboradores”, contou. Em Joinville, mais 260 líderes locais foram mobilizados pela palestra do presidente da Whirlpool Latin America, João Carlos Brega. “O evento foi maravilhoso! A cabeça ainda está a mil. Novos pensamentos, novas ideias

um líder nesse tema”, declarou Cristina Fedato, coor­de­na­do­ra pedagógica do programa da FIA .

Goiânia foi a primeira cidade a receber um encontro re­g io­n al da Plataforma Liderança Sustentável em 2013. No dia 27 de fevereiro, mais de 200 gestores reuniram-se para conhecer os insights de Andrea Alvares, presidente da Divisão ­Foods da PepsiCo Brasil e integrante da etapa edu­ca­cio­nal do movimento. Ivo Faria, diretor executivo da Pontal Engenharia, empresa local, também palestrou. A primeira mulher a assumir o comando de uma área de ne­gó­cios da PepsiCo no país desafiou a plateia a agir com transparência e apresentou o conceito utilizado na sua companhia para envolver os gestores com o tema

Mauro Frasson

Mensagem em movimento

Marise Barroso e Paulo Nigro, em Curitiba

e foco na sustentabilidade!”, garantiu Aurea Marlise, gestora de pes­s oas na Oxford Porcelanas In­dus­trial LTDA. Naquele 6 de março, o empresário ressaltou ao público a importância de saber comunicar o conceito de sustentabilidade para um engajamento efetivo dos colaboradores e reafirmou ser necessária muita pa­ciên­cia no processo de mudança das com­pa­nhias. “A ideia e

a preo­cu­pa­ção so­cioam­bien­tal não nascem do dia para a noite numa empresa. É uma questão de legado. Vem com o tempo: cultura, treinamento, aprendizado, dedicação e, acima de tudo, comprometimento”, ensinou Brega. Depois, em Curitiba, no dia 12 de março, a Plataforma reuniu mais 160 líderes para conferir as his­tó­rias e dicas de Marise Barroso, presidente da Masisa, e Paulo Nigro, presidente da Tetra Pak. “Os relatos apaixonantes de como ambos in­cluí­ram a sustentabilidade no DNA das empresas que lideram foram muito inspiradores”, elogiou Adria­na Maria Bigliardi, professora e consultora em Desenvolvimento Humano. Marise defendeu a importância de ferramentas práticas de gestão, como a Sustainability Scorecard (SSC ), que define metas estratégicas, para garantir a efi­ ciên­cia do triple bottom line nas empresas. Já Nigro focou a importância de se conhecer a fundo as cadeias de valor e de, se preciso, romper contratos com fornecedores que não estiverem alinhados com os prin­cí­pios da sustentabilidade. Outras iniciativas

Para po­ten­cia­li­zar a missão de conectar novos líderes com o tema da sustentabilidade, a Plataforma criou em seu portal o espaço Liderança Jovem, no qual oferece oportunidade para gestores ainda em início de carreira de publicar artigos, relatar ex­pe­riên­ cias e compartilhar aprendizados. A rede — feita em parceria com a AIESEC, organização global formada por uni­ver­si­tá­rios e recém-​ ­gra­dua­dos de mais de 100 paí­ses — visa aproximar a juventude do tema e dar voz a essa nova geração de lideranças. Vale destacar também o novo produto edu­c a­cio­nal lançado pela Plataforma. Trata-se de um vídeo em formato reduzido (pouco mais de seis minutos), chamado Encontro com o Líder, mais intimista, captado e editado em linguagem cinematográfica. Com estética inusitada, a primeira edição traz o presidente da Tetra Pak, Paulo Nigro, e está disponível em www.ideiasustentavel.com.br/lideres. ❧ JUNHO 2013

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Eles estão envolvendo e educando E você também pode

A Plataforma Liderança Sustentável já conta com 20 presidentes de grandes empresas, compartilhando suas experiências no esforço de inserir a sustentabilidade na gestão do negócio, na estratégia e na cultura organizacional.

Siga e seja seguido Realização:

S U S T E N TÁV E L ESTRATÉGIA E INTELIGÊNCIA EM SUSTENTABILIDADE


líderes para a sustentabilidade. aprender com as histórias deles.

Faça parte você também deste movimento que já impactou mais de 32 mil líderes no Brasil e no exterior. Acesse e inspire-se:

www.ideiasustentavel.com.br/lideres

Apoio:

GOVERNO DO ESTADO


ESPECI A L Educação Por Marília Arantes, Fábio Congiu, Cristiane Assis e Cláudia Piche

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Uma volta ao mundo da educação para a sustentabilidade

série de reportagens que se segue é resultado da observação e da convicção. No primeiro caso, por ser fruto de um Observatório de Ten­dên­cias, metodologia desenvolvida por Ideia Sustentável: Estratégia e Inteligên­ cia em Sustentabilidade, consultoria que está completando 20 anos dedicados ao tema, responsável pela produção e edição — parte integrante de seu portifólio de serviços — da revista

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Ideia Sustentável. Por essa metodologia, monitoramos organizações globais produtoras de con­teú­do relevante em sustentabilidade, a fim de identificarmos as principais ten­dên­cias nesse campo. E podemos dizer, sem sombra de dúvida, que educar para a sustentabilidade é uma tendência irrevogável nas principais escolas do mundo. A segunda causa — a convicção — não apenas decorre da primeira, como, sobretudo, é parte da missão de Ideia Sustentável. Educar para a sustentabilidade,

afinal, será, literalmente, uma questão de sobrevivência — para escolas, empresas ou, simplesmente, para a manutenção da vida na Terra. Isso posto, partiu-se para a seleção de instituições que com­po­riam as reportagens especiais. O objetivo foi identificar como as principais escolas no mundo estão inserindo a sustentabilidade em seus cursos, currículos e na vida acadêmica. Para tanto, valeu a ampla pesquisa de nosso Observatório, entrevistas informais com es­pe­cia­lis­tas, conversas com


amigos que estudaram e/ou visitaram escolas pelo planeta afora. Ob­via­men­te, muitas ficaram de fora. Não porque não estejam tratando do tema — que, se constatou, ainda que não esteja transversalizado em todas as disciplinas ou na grade curricular das instituições, certamente também não tem sido ignorado pela grande maioria delas. Portanto, a opção foi retratar aquelas que mais têm se destacado, seja em programas com abordagem di­fe­ren­cia­da, seja, sobretudo, no esforço de inserir a sustentabilidade não apenas no currículo, mas na gestão, buscando educar pelo exemplo. Para sistematizar o processo, optamos por elencar as escolas por blocos. Na primeira parte, se­le­cio­na­mos universidades e escolas de ne­gó­cios: cinco americanas (Presidio, Stanford, Oregon, Columbia e MIT ); seis europeias (London School, Ashridge, Copenhagen, Leuphana, Exeter e Audencia); e cinco brasileiras (FGV, D. Cabral, Grupo Ânima, Escas e Metodista). Para complementar e estimular a reflexão, a colaboradora assídua de Ideia Sustentável, Aileen Ionescu-​­Somers, acompanhada do professor Franscisco Szekely, ambos diretores do Centro Global para Liderança Sustentável, do IMD, na Suí­ça, discorrem sobre os de­s a­f ios de uma das mais renomadas escolas de ne­gó­cios da Europa na formação de líderes para os novos tempos. E, amarrando o tema, a consultora Po­lia­na Abreu oferece sua contribuição sobre o que tem encontrado de mais inovador e transformador nas instituições que tem frequentado como visitante, es­pe­cial­men­te nos Estados Unidos, no que se refere à sustentabilidade corporativa e inovação so­cial. O segundo bloco da série es­p e­ cial sobre educação para a sustentabilidade concentra o que consideramos como “escolas para a vida” — aquelas com uma abordagem mais holística, que buscam formar in­di­ví­duos com uma visão integral, sistêmica e interdependente do mundo, portanto, naturalmente mais sustentáveis. Nessa categoria, não po­de­ría­mos deixar de men­cio­nar a Schumacher School, na Inglaterra, instituição-​­referência de nove entre dez dos

grandes pensadores atuais da sustentabilidade. Identificamos, ainda, o Instituto Integral, dedicado à disseminação da obra do filósofo americano Ken Wilber, e o Buckminster Fuller Institute, preservando o pensamento do vi­sio­ná­rio arquiteto norte-​­americano que dá nome à escola. Já no continente africano, localizamos o Sustainability Institute, próximo à Cidade do Cabo, na África do Sul. Local de onde o paulistano Eduar­do Shimahara escreveu seu artigo para esta edição, não apenas relatando sua ex­pe­riên­cia como mestrando da instituição mas também o que tem observado, numa aventura pelo mundo, em busca das ex­pe­riên­cias educacionais mais inovadoras que irão compor um livro escrito coletivamente por ele e demais companheiros da ini­cia­ti­va educ-​­ação.com.

Para finalizar, o terceiro e último bloco de reportagens especiais dedicase à educação de crian­ças e jovens para a sustentabilidade. Do Brasil, se­le­cio­na­ mos uma escola do Ensino Fundamental (Politeia) e uma do Ensino Médio (Colégio Bandeirantes) — esta última chamou atenção es­pe­cial­men­te por estar entre as mais bem colocadas nos índices de aprovação dos principais vestibulares do país e, portanto, formadora das futuras lideranças empresariais e políticas brasileiras. Embora o tema da sustentabilidade ainda seja objeto de projeto extra-​­curricular, os alunos mais velhos desenvolvem projetos com os mais novos, que, por sua vez, in­f luen­ciam os pais, fazendo girar um círculo vir­tuo­so que começa a envolver também o pensamento das classes sociais mais pri­vi­le­gia­das e, por consequência, tomadora de decisão.

O último bloco traz, ainda, a Green School, da Indonésia, escola dos sonhos de qualquer pai e mãe que aposte nos filhos como indutores da mudança para um novo mundo. E também a ex­p e­ riên­cia do Cloud Institute que, na rea­li­ da­de, prepara professores para formar alunos mais críticos e antenados com as demandas atuais. Am­plian­do a reflexão, entrevistas com educadores como Diane Tavenner e Nicole Hinostro (EUA ) e o psicanalista ita­lia­no radicado no Brasil, Contardo Calligaris, também oferecem suas contribuições, em entrevistas exclusivas à Ideia Sustentável. Certamente uma ausência sentida é a de ex­pe­riên­cias em escolas públicas. E, aqui, vale men­cio­nar a ini­cia­ti­va da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), com a recente inauguração do e-​­coLab, cujo pressuposto é tornar-se um laboratório de inovação e excelência que dialogue com os la­bo­ra­tó­rios das grandes universidades do mundo — muitas das quais retratadas nesta série es­pe­cial — e com os grandes nomes do pensamento ecológico e digital contemporâneo, como Edgar Morin, Michel Maffesoli e Derrick de Kerkhove, entre outros, para integrar uma ampla rede também composta por empresas, so­cie­da­de civil e ONG s. A ideia é monitorar e expandir processos e soluções sustentáveis para comunidades e mu­ni­cí­pios, a partir dessa interação com os centros de pesquisa internacionais. Por seu caráter absolutamente transdisciplinar e multistakeholder, optou-se por não incluí-lo nas páginas que se seguem. Até porque, a ini­cia­ti­v a está contemplada na edição an­te­rior (março/2013), em entrevista es­pe­cial com o coor­de­ na­dor do e-​­coLab, o professor e pesquisador Massimo Di Felice (págs. 62 a 69 de IS 31). Ao leitor, portanto, nossa sugestão é: pegue sua mochila vir­tual e aventure-se pelo mundo nas páginas a seguir, nesta espécie de “guia do estudante sustentável” a que esta edição se propõe e que você só encontra aqui, na revista Ideia Sustentável. Boa viagem! Cláu­dia Piche JUNHO 2013

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ESPECI A L Educação Presidio Graduate School

Do Velho Oeste para o novo modelo Formar gestores públicos e privados com um olhar de conexão entre os aspectos econômicos, ambientais e sociais é o maior objetivo da escola

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m por tuguês, o nome não tem uma conotação libertária; muito pelo contrário. Contudo, a Presidio Graduate School, em São Francisco, na Califórnia, coloca-se entre as pioneiras nos Estados Unidos a dedicar-se à formação de líderes mais libertos dos valores tra­di­cio­nal­m en­te

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disseminados nos cursos de es­p e­cia­ li­z a­ção em Administração — tanto no setor privado quanto no público, já que a escola oferece cursos de MBA (Master Business Administration), MPA (Master Professional Administration) ou ambos, concomitantemente, por meio do chamado Dual Degree (diploma duplo). Inaugurada em 2003, a instituição é fruto da parceria público-​­privada com o Parque Na­cio­nal do Presidio, antigo forte espanhol onde se localizam suas instalações. A área foi posto-​­chave da guerra contra o México (1846–48), passando,

então, a base militar do exército norte-​ a­ mericano, até 1995. Hoje, a única “guerra” estabelecida entre os muros da escola é oferecer uma formação que concilie lucros com be­ne­fí­cios sociais, por meio de uma abordagem pedagógica que tenta preen­cher a lacuna existente entre o mundo co­mer­cial e o bem comum. Formado pelo MIT — o Instituto de Tecnologia de Massachusetts — o CEO da Presidio, William Shutkin, afirma que o di­fe­ren­cial da escola está na intersecção entre tecnologia e sustentabilidade. “Que­re­mos estar no centro da nova economia. Somos bastante otimistas em relação aos empregos e a essa nova indústria que está surgindo. A complexidade que ela envolve é pro­por­cio­nal ao tamanho do desafio; mas não devemos nos assustar. Que­re­mos ajudar a construir a economia do futuro”, disse, em entrevista exclusiva à Ideia Sustentável. Shutkin acredita que a Presidio seja a primeira instituição edu­ca­cio­nal a integrar efetivamente a sustentabilidade no seu método de ensino e na base curricular. Au­toe­lo­gios à parte, a escola conquistou o primeiro lugar no ranking do jornal Huffington Post como “MBA verde” líder no mundo da sustentabilidade corporativa, seguida das Universidades de Michigan, Stanford e Yale. Segundo o CEO , os prin­cí­pios básicos alinham-se aos currículos das escolas de ne­gó­cios mais tradicionais, como a de Harvard e do Instituto Kellogg. O di­fe­ ren­cial estaria, portanto, no design dos cursos. “Nossa excelência vem por duas chaves: o con­teú­do e a forma de transmiti-​­lo”, afirma. Outra particularidade da Presidio é a chamada “residência híbrida”, na qual mantém-se a base no campus de São Francisco — centro emergente em sustentabilidade e a sétima economia dos Estados Unidos —, realizando-se, no entanto, poucos encontros presenciais. Assim, muitos alunos con­ti­nuam a trabalhar, e, mesmo morando em cidades ou paí­ses distantes, ainda conseguem participar dos encontros. “Acredito que


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William Shutkin CEO da Presidio Graduate School

“O diferencial da educação para a sustentabilidade está justamente em ir à frente da competição tradicional do capitalismo.” capacidade de adaptação é o um ponto positivo da escola. Estamos aprendendo a ba­lan­cear atividades presenciais e virtuais, e acredito que essa hibridez será cada vez mais uma tendência, in­ter­na­ cio­nal­men­te. Portanto, como vantagem para nossos alunos, oferecemos flexibilidade e bom custo final, que chega à metade de outros top brand norte-​ ­americanos”, diz Shutkin. Em busca de preparar líderes e em­preen­de­do­res com uma nova maneira de agir — tanto na esfera corporativa como na pública —, o processo de admissão na Presidio é bastante seletivo e afinado. A meta é atender, em média, 150 alunos por ano. Gra­dua­ç ão com alto nível curricular e ex­pe­riên­cia em sustentabilidade são pré-​­requisitos — a maioria tem pelo menos sete anos de trabalho dedicados ao tema. A ideia é que, inseridos em grupos de trabalho, cada um possa agregar sua ex­pe­riên­cia à parte prática do curso, os chamados “recursos externos”, como atividades de campo, projetos, pesquisas e workshops rea­li­ za­dos pela escola. Isso significa poder trocar ex­pe­riên­cias entre si e também com as empresas de renome e demais stakeholders que participam ativamente dos projetos de inovação. Atual­men­te, mais de 300 com­pa­nhias trabalham em parceria com a Presidio, em distintas ­áreas de atua­ção, trazendo problemas práticos para serem so­lu­cio­na­dos pelos estudantes — uma exigência curricular, inclusive. “As empresas pagam uma quantia modesta pelo serviço e têm o

privilégio de trabalhar com os nossos alunos.” Afinal, para Shutkin, “o di­fe­ren­ cial da educação para a sustentabilidade está justamente em ir à frente da competição tra­di­cio­nal do capitalismo”. Nesse sentido, os alunos são constantemente de­sa­f ia­dos a ­criar oportunidades inovadoras perante os problemas, de modo a desenvolver soluções sustentáveis, considerando-se desde os aspectos financeiros até as questões de marketing e publicidade que envolvem os em­p reen­d i­m en­tos. Portanto, ficam treinados para agir de forma rápida para perceber conexões, com o objetivo de calcular ne­gó­cios, ava­lian­do, fundamentalmente, a estratégia, o valor dos stakeholders e a performance financeira. Entre os exemplos práticos da escola está a parceria de alunos do curso de Administração Pública com a prefeitura da cidade de Berkeley no projeto JunkSpace — contando também com a participação do setor em­pre­sa­rial —, cuja finalidade era a “repaginação inteligente do bem comum” por meio do desenvolvimento de soluções para sistemas de mobilidade e transportes, construções de moradia, trabalho e lazer, considerando a distribuição de energia, água e demais recursos de forma inteligente. Projetos recentes envolveram grandes empresas como a Hewlett-Packard, Siemens e Cisco Systems para desenvolvimento de modelos de smart cities. Também sobre o tema, a Presidio promoveu, em 2012, a conferência Meeting of the Minds (algo como “encontro de mentores”, em português), reunindo 300 líderes de empresas de diversos paí­ses. Outro ponto forte da escola é receber regularmente os visitantes mais engajados nos assuntos da sustentabilidade. Correntemente, promovem-se eventos com palestrantes de alto nível de atua­ção, além do conhecimento teó­ri­co. An­fi­triões estrelados como Paul Hawken, Cameron Sinclair, Van Jones ou Charles Lockwood já serviram como “cobaias” na proposição de soluções multistakeholders com um olhar de sustentabilidade. A série de

palestras ­anuais Presidio Presents também já se tornou uma referência. Apresentando teo­ria e casos práticos, os arquivos são disponibilizados online, em modelo TED x, no canal que a escola compartilha no YouTube. Igualmente, a escola também atua em encontros externos. Em 2011, realizou a abertura da conferência Sustainable Industries Economic Forum, referência na Califórnia, o estado que deseja tornarse o mais verde dos Estados Unidos. Embora seja relativamente nova, a Presidio trabalha com um plano de metas de 10 anos em busca de am­plia­ ção. Na inauguração, contava com apenas 22 alunos. Atual­men­te, são 250 nos cursos de es­pe­cia­li­za­ção, mais 500 participantes em cursos rápidos e ex­p e­ riên­cias de aprendizagem e uma equipe fixa de 45 educadores, além dos envolvidos no trabalho do HUB , um laboratório de inovação mantido “no quintal de casa”. A comunidade Presidio reú­ne, portanto, cerca de mil pes­soas e atinge uma média de 300 stakeholders. O objetivo da escola, no entanto, é aumentar progressivamente a rede de educação da sustentabilidade, visando tornar-se referência mun­dial no tema. A in­ter­na­ cio­na­li­z a­ção é uma campanha que se fortalece na instituição, e o Brasil está no alvo da Presidio. “Atual­men­te, buscamos ir além dos mercados da Europa e do Japão, agora incluindo China, Índia e Brasil. Vocês são o futuro do planeta! Portanto, estamos interessados em rea­li­zar par­ce­rias com empresas e recrutar mais alunos dessas re­giões”, revela Shutkin. (Marília Arantes)

Para Saber M ais Presidio Graduate School 36, Lincoln Boulevard San Francisco, CA 94129, USA Tel.: (415) 561-​­6555 Fax: (415) 561-​­6483 info@presidioedu.org www.presidioedu.org JUNHO 2013

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ESPECI A L Educação Stanford University

O estado da arte da sustentabilidade Excelência curricular e prédios ecologicamente corretos colocam Stanford no topo dos rankings das escolas de negócio mais sustentáveis dos Estados Unidos

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undada em 1891, a Universi­ dade de Stanford é considerada modelo edu­ca­cio­nal em diversas ­áreas. Localizada na Califórnia, está entre as líderes, no campo cien­tí­f i­co, do movimento pela sustentabilidade na Costa Oeste norte-​­americana, junto a algumas outras instituições da re­gião, como a Bainbridge Graduate Institute, a Haas School of Business – University of California Berkeley e a Presidio School.

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A ins­ti­tu­cio­na­li­z a­ç ão da sustentabilidade, em Stanford, começou pelo Stanford Woods Institute for the Environment, considerado um hub de pesquisas em meio am­bien­te e desenvolvimento sustentável. Instituto de imensa visibilidade, abrange dez temas de estudos e é ponto de encontro para a educação em sustentabilidade em nível de gra­dua­ção. Segundo relatório publicado pela diretoria da escola, o ano 2000 marcou o início da trajetória para que Stanford se tornasse “um líder na­cio­nal em prover soluções para os problemas ambientais”, segundo afirma Peter Vitousek, do Center for Food, Security and the Environment – Freeman Spogli Institute for International Studies, um

entre muitos dos centros de excelência em pesquisa da universidade. Assim, cada vez mais professores e pesquisadores têm se ocupado com a multiplicidade, envolvendo trabalhos colaborativos nas diversas pontas de es­p e­cia­li­z a­ç ão em sustentabilidade e promovendo a transversalidade do tema nos currículos das sete faculdades world​ ­class — Direito, Engenharia, Ciên­cias da Terra, Medicina, Ne­gó­cios, Educação e Humanidades e Ciên­cias. Do ponto de vista business, o Knight Management Center abriga a Escola Su­pe­rior de Ne­gó­cios (Stanford Graduate School of Business ou, simplesmente, GSB), que oferece cursos específicos em sustentabilidade, além da es­p e­cia­li­z a­ ção pelo cobiçado duplo-​­diploma em Gestão de Ne­gó­cios Sustentáveis — MBA e Master of Science in Environment and Resources (Meio Am­bien­te e Recursos Naturais) —, em conjunto com o Stanford School of Earth Sciences (das Ciên­cias da Terra). O programa, de ampla e complexa


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Bernadette Clavier Diretora do Programa de Administração Pública da Graduate School of Business da Universidade de Stanford

“É imperativo aos líderes do futuro entender as dificuldades que apenas o bottom line do business as usual pode causar na economia. Sustentabilidade não é um conceito idealista, mas uma oportunidade de negócios.” formação, oferece es­p e­c ia­l i­z a­ç ão em Ciên­cias, Engenharia e Tecnologia. Tem duração integral de dois anos acadêmicos e um semestre para trabalhos de conclusão, os capstone projects. “A Stanford tem uma abordagem fantástica para os temas da sustentabilidade, a começar pelas instalações da universidade, onde se transita facilmente por entre os pré­dios”, diz Barbara Buell, relações públicas do Knight Management Center. Para atender ao espírito do MBA duplo-​­diploma, os alunos apresentam um trabalho final que tem de atender, obri­ga­to­ria­men­te, às três áreas de es­pe­ cia­li­za­ção da School of Earth Sciences e ser aplicável a ne­gó­cios for-​­profit, ou seja, com fins de lucro. O método de ensino baseia-se em estudos de caso, palestras e, sobretudo, aprendizagem experimental. O pensamento analítico-​­crítico é um pré-​­requisito: alunos de MBA passam, no primeiro ano, por um treinamento especificamente dedicado ao tema. Bem como por um curso preparatório em dinâmica in­ter­pes­soal para a liderança, ministrado também no primeiro ano, cuja função é construir a cons­ ciên­cia do líder, estudando-se, por exemplo, como atitudes de equipe afetam os

outros e os resultados das relações interpessoais. O treinamento pauta-se em reuniões semanais, os chamados La­bo­ra­ tó­rios de Liderança, e um encontro final: o Desafio do Executivo, evento de um dia no qual os alunos têm de resolver si­tua­ções que demandem qualidades de liderança. Assim, a escola os estimula a desenvolver a cria­ti­vi­da­de e o espírito de inovação, incentivando a cultura de uma atitude de aptidão para assumir riscos. No campo da tecnologia aplicada ao estudo — outro ponto forte de Stanford —, a localização geo­grá­f i­ca é uma alia­da. O campus não apenas fica próximo como trabalha em sinergia com o vizinho Vale do Silício, conhecido polo tecnológico. Empresas locais participam dos projetos experimentais, de olho nos novos talentos que despontam nas pesquisas acadêmicas. Segundo o conceituado Instituto Aspen, es­pe­cia­li­za­do em ava­liar, entre outras coisas, a educação su­pe­rior nos Estados Unidos —, a escola de ne­gó­cios de Stanford conquistou a primeira colocação no ranking Beyond Grey Pinstripes (2011/2012). O fato de o prédio da escola ter obtido a categoria LEED Platinum Rating, espécie de selo de construções sustentáveis do Green Building norte-​ ­americano, contou para a classificação. Não obstante, a análise dos resultados do Knight Management Center evidencia, ainda, a excelência em termos de currículo, pesquisa, aprendizagem experimental e comprometimento com a responsabilidade so­cial corporativa e sustentabilidade am­bien­tal nos cursos. A extensa lista de cursos em sustentabilidade oferecidos na Universidade faz jus à fama de Stanford. “A GSB tem um grande comprometimento com os temas da inovação so­cial e responsabilidade so­cial corporativa. Por exemplo, o certificado em Administração Pública e Inovação So­cial — com 16 disciplinas eletivas e uma prática — pode ser adi­cio­ nal a outros MBA s ou mestrados”, destaca

Barbara. Outro exemplo é o Centro de Inovação So­cial, que oferece dois cursos: Em­p reen­d e­d o­r is­m o Am­b ien­t al e Ciên­cias do Meio Am­bien­te para Gestores e Políticos. Atual­men­te, a GSB envolve cerca de 25 mil estudantes no mundo todo, além de ex-​­alunos nos projetos-​­piloto, profissionais dos arredores, executivos globais e uma ampla comunidade ins­ti­tu­cio­nal. O tema da sustentabilidade multiplicase em projetos aplicados, como o Natural Capital Project — em parceria com as ONG s The Nature Conservancy, WWF e o Instituto de Meio Am­bien­te da Universidade de Minnesota —, cujo objetivo é integrar os valores da natureza em todas as decisões importantes que afetam o meio am­bien­te e bem-​­estar humano. “Sustentabilidade é valor central para a Escola Su­pe­rior de Ne­gó­cios. É importante para a so­cie­da­de que se desenvolva um modelo de economia menos intensivo no consumo de recursos. É imperativo aos líderes do futuro entender as dificuldades que apenas o bottom line do business as usual pode causar na economia. Sustentabilidade não é um conceito idea­lis­ta, mas uma oportunidade de ne­gó­cios”, arremata a diretora do Programa de Administração Pública da GSB , Bernadette Clavier. (Marília Arantes)

Para Saber M ais Stanford Graduate School of Business Knight Management Center, Stanford University 655 Knight Way Stanford, CA 94305-​­7298 Tel.: +1 (650) 723-​­2149 Fax: +1 (650) 725-​­4070 sloanadmin@gsb.stanford.edu www.gsb.stanford.edu/sloan Para conhecer melhor como a sustentabilidade vem sendo tratada na Universidade de Stanford, vale a pena acessar o guia online http://sustainablestanford.stanford.edu/ publications_and_reports JUNHO 2013

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ESPECI A L Educação University of Oregon

Projetos reais e a poderosa experiência de aprender com a prática Reconhecida por incorporar o tema da sustentabilidade no campus e nas cidades vizinhas, instituição já recebeu diversos prêmios por projetos ecoeficientes

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Universidade de Oregon (UO), fundada em 1876, está localizada em Eugene, uma cidade tipicamente universitária, famosa por ser eco-​­friendly e adorada por adeptos da bicicleta como meio de transporte, com uma ampla rede de ci­clo­vias e lindos parques. Oferece cursos de gra­dua­ção, pós-​ ­gra­dua­ção, mestrado, MBA , doutorado

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e es­pe­cia­li­za­ção. Possui mais de 24 mil alunos, sendo 10% deles estrangeiros. A instituição é reconhecida na­cio­nal­ men­te pelos esforços no campo da sustentabilidade. Já recebeu diversos prê­ mios por projetos de construção verde, comunidades sustentáveis, transporte ecológico, produção de energia solar, química verde, nanotecnologia e mudanças climáticas. Destaca-se não apenas por incentivar a pesquisa acadêmica e a integração do tema na grade curricular, mas pelo visível esforço em aplicar o conhecimento no campus e na vizinhança. Por meio de par­ce­rias com prefeituras, rea­li­za o Sustainable City Year, por meio da Ini­cia­ti­va Cidades Sustentáveis

(Sustainable Cities Initiative), um programa do departamento de Planejamento, Políticas Públicas e Gestão, na Escola de Artes e Afins e Arquitetura. Todos os anos, cerca de 400 alunos e professores trabalham com autoridades de um município escolhido, durante mais de 60 mil horas. O objetivo é desenvolver e aplicar projetos que melhorem a habitação, conservem os recursos e possam gerar desenvolvimento econômico reduzindo o impacto am­bien­tal. “Para os alunos, a capacidade de trabalhar em projetos reais — enquanto enfrentam todas as restrições econômicas, políticas e sociais do mundo real —, constitui-se numa poderosa ex­pe­riên­cia de


Marc Schlossberg Divulgação

aprendizado”, declara Marc Schlossberg, codiretor do departamento que su­per­vi­ sio­na o programa, no site da instituição. A Universidade de Oregon também rea­li­za projetos sustentáveis dentro do campus junto com os estudantes. Sua implantação é fi­nan­cia­da por uma modalidade que se populariza nos Estados Unidos: os fundos de investimentos rotativos (revolving loan fund – RLF ). Por meio de um fundo assim, cria­do em 2011, a UO di­re­cio­na um milhão de dólares por ano para projetos que reduzam custos e a tornem mais ecoe­f i­cien­te. Isso inclui geração de energia renovável, rea­bi­li­ta­ ção de edi­fí­cios antigos e garantir que as novas construções cumpram as normas LEED — certificação para construções sustentáveis —, além da incentivar o uso de bicicletas e o aluguel de veí­cu­los elétricos dentro e fora do campus e até possibilitar novas atividades extracurriculares “verdes” para os alunos. Recentemente, o Departamento de Arquitetura da Universidade de Oregon foi classificado como o mais verde do país. Além dele, outros departamentos acadêmicos oferecem aulas com foco na sustentabilidade. O de Planejamento, Políticas Públicas e Gestão, por exemplo, mantém, ainda, o Programa de Estudos Ambien­ tais; e o Charles H. Lundquist College of Business abriga um centro de sustentabilidade para ajudar a preparar estudantes de ne­gó­cios interessados no tema. A ini­cia­ti­va da instituição de tornar-se referência em sustentabilidade começou há cerca de 13 anos, por meio de uma série de determinações do governo e de órgãos estaduais. O objetivo era apoiar a expansão de fontes alternativas de energia e reduzir a emissão de carbono em instituições comprometidas com o desenvolvimento sustentável. Em 2000, foram cria­dos grupos de trabalho, comitês uni­ver­si­t á­r ios, re­la­ tó­rios e reuniões de cúpula que ajudaram a desenvolver as diretrizes a serem adotadas pela instituição, resultando no

Codiretor da Iniciativa Cidades Sustentáveis da Universidade de Oregon

“Para os alunos, a capacidade de trabalhar em projetos reais — enquanto enfrentam todas as restrições econômicas, políticas e sociais do mundo real — constitui-se numa poderosa experiência de aprendizado.” Plano de Sustentabilidade, anun­cia­do em 2004. Já em 2007, foi cria­do o Escri­ tório de Sustentabilidade, para ajudar a definir metas, monitorar o progresso, fazer recomendações de política, apoiar estudantes, professores e ini­cia­ti­vas de fun­cio­ná­rios, além de contar a história de sustentabilidade da instituição. Em 2009, a UO estabeleceu um Con­ selho Interino de Sustentabilidade para orien­tar e promover destaque na­cio­nal em pesquisa, educação, serviço e operações do campus. Recentemente, lançouse um programa com duração de um ano e certificado de pós-​­gra­dua­ção chamado Liderança Oregon em Sustenta­ bilidade (OLIS). Negócios sustentáveis

O Charles H. Lundquist College of Business oferece uma ampla gama de cursos em educação e gestão de ne­gó­cios. Entre eles, programas de gra­dua­ção em Contabilidade e Administração de Empresas, mestrado em Administração de Empresas e mestrado e doutorado em Contabilidade, Finanças, Gestão e Marketing. Com forte foco na educação ex­pe­rien­ cial, os cursos de gra­dua­ção exigem que pelo menos 50% do trabalho acadêmico sejam rea­li­za­dos fora da faculdade. Seus cursos para gestores e profissionais concentram-se em liderança e

comunicação, domínio de disciplinas específicas, a integração interdisciplinar de es­tra­té­gias de negócio, bem como o papel das empresas na so­cie­da­de. A escola de ne­gó­cios também abriga o Centro de Práticas em Ne­gó­cios Sus­ tentáveis (Center for Sustainable Business Practices) que visa preparar os alunos de MBA para integrar a gestão am­bien­tal, so­cial e econômica nas es­tra­té­gias de ne­gó­cios mais competitivos. Ele oferece um programa focado em temas como cadeia de suprimentos e gestão de operações, mudança or­ga­ni­za­cio­nal para a sustentabilidade, mensuração e gestão de desempenho e análise do ciclo de vida. Fornece oportunidades para rea­li­ zar ex­pe­riên­cias práticas de sustentabilidade por meio de consultoria de projetos e es­tá­gios, se­mi­ná­rios e tu­to­rias. O Centro também desempenha um papel de liderança na coor­de­na­ção do programa Sustainable Cities Initiative. Além do currículo básico, o aluno de MBA também pode buscar um enfoque interdisciplinar no campo da sustentabilidade por meio da rea­li­za­ção de um MBA conjunto com a Escola de Direito — um dos poucos dessa linha disponíveis nos Estados Unidos. Para isso, devem candidatar-se separadamente nos dois centros de estudo e ser admitidos por ambos. A sede do Lundquist College localiza-se nos pré­dios do Lillis Business Complex, considerado o edifício público mais “verde” de Oregon, com certificação LEED, tec­no­lo­gias modernas de economia de energia e construção ecológica. (Cris­tia­ne Assis)

Para Saber M ais Universidade de Oregon 1585 E. 13th Avenue, Eugene, Oregon 97403, USA Tel.: (541) 346-​­1000 www.uoregon.edu JUNHO 2013

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ESPECI A L Educação Columbia University

A universalidade do planeta Terra Com um centro totalmente dedicado a buscar soluções para os grandes problemas planetários e oito escritórios espalhados pelo mundo, Columbia aposta no desenvolvimento sustentável a partir do intercâmbio de pessoas e ideias

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Columbia University, localizada em Nova Iorque, é a universidade mais antiga dos Estados Unidos e com­preen­de faculdades de prestígio em diversas ­áreas, além de importantes centros ligados ao tema da sustentabilidade, como o The Earth Institute (Instituto da Terra), que com­ preen­de mais de 30 centros de pesquisa e cerca de 850 cien­tis­tas, pós-​­doutorandos, fun­cio­ná­rios e alunos, e tem o economista Jeffrey Sachs como diretor. Um dos grandes nomes da sustentabilidade no mundo, Sachs é professor de Desenvolvimento Sustentável e Políticas de Gestão de Saú­de no The Earth

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Institute e tem uma vida ativa fora da escola. Conselheiro es­pe­cial do se­cre­ta­ ria­do da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Objetivos do Milênio (ODM ), foi ele quem desenhou o programa Millennium Villages Project, que atinge mais de 500 mil pes­soas em si­tua­ ção de pobreza rural na África, principalmente em Uganda, Malaui e Nigéria. Sachs é também conselheiro de diversos governos nacionais, escreve artigos em jornais de grande alcance nos Estados Unidos e livros referenciais no tema, como O Preço da Civilização e O Fim da Pobreza. O The Earth Institute é a instituição que oferece o curso de sustentabilidade corporativa na universidade, o Master of Science in Sustainability Management, embora seja independente da escola de ne­gó­cios, a Columbia Business School. O diretor do curso, Steven Cohen, é um dos homens mais ricos dos Estados Unidos — considerado como um dos “titãs de Wall Street”, fundou a SAC Capital Advisors, empresa es­p e­c ia­l i­z a­d a em investimentos e fundos hedge. Assim

Uma das formas mais agressivas de aplicação financeira, na qual a principal meta do gestor é conseguir o maior retorno possível, aplicando nos mais diversos ativos: moedas, ações de mercados emergentes ou títulos de dívida pública que rendem a juros altos

como Sachs, Cohen fun­cio­na como um grande articulador na rede de entrosamento entre alunos e oportunidades de ne­gó­cios, o que facilita o acesso deles aos projetos de desenvolvimento sustentável, tanto em em­preen­di­men­tos privados como públicos. Segundo a apresentação do Instituto, o programa do curso propõe “uma mistura entre liderança acadêmica, rigor cien­tí­f i­co e prática pro­f is­sio­nal para formar uma comunidade única e interdisciplinar, dedicada a rea­li­zar avanços duradouros às práticas de sustentabilidade globais”. Para tanto, a equipe de ensino utiliza abordagem considerada inovadora por prio­ri­z ar a proteção dos sistemas do planeta e seus recursos, ao mesmo tempo em que almeja distribuir as oportunidades sociais e econômicas. Assim, o currículo é per­mea­do pela integração e a transversalidade da sustentabilidade. As disciplinas são divididas em cinco grupos: cursos integrados em sustentabilidade corporativa; economia e análises quantitativas; dimensões


Raul Moreira

Thomas J. Trebat Diretor do Columbia Global Center do Rio de Janeiro

“A escolha do Brasil deveu-se à crescente prosperidade da classe média e também à percepção de uma ansiedade da sociedade em melhorar seu patamar educacional.” físicas da sustentabilidade corporativa; políticas públicas ambientais para a sustentabilidade corporativa; e temas gerais acerca de gestão e finanças. Devido à fama da Universidade e do Earth Institute, o processo para admissão no Mestrado em Sustentabilidade Corporativa é bastante concorrido. Os alunos ingressam, em média, depois de três anos de ex­pe­riên­cia na área, embora alguns já venham trabalhando há 20 anos com temas ligados à sustentabilidade — essa faixa do grupo representava 8% das turmas, em 2012. Atendendo à parte prática do currículo, os trabalhos de conclusão devem contemplar uma pesquisa de campo. Para a defesa de teses, os famosos se­mi­ná­rios — Sustainable Development Seminar Series — são focos de atenção e público, nos quais os não alunos também podem participar, se agendarem com antecedência. Outro evento importante é a demonstração ­anual de trabalhos, o Student Research Showcase. O Instituto se beneficia pelo fato de estar localizado em Nova Iorque, uma das cidades mais cosmopolitas do mundo, concentradora de es­cri­tó­rios de ne­gó­cios internacionais. Assim, é possível contar com a participação de grandes empresas — como PepsiCo, Addison e Verizon, entre outras — que “emprestam” seus líderes e instalações para a rea­ li­za­ção de práticas de ensino e participações em projetos. Dentro da Columbia há um verdadeiro universo a ser explorado. A amplitude da universidade oferece a facilidade de os alunos poderem integrar-se

a iniciativas de alto nível, como as do Lamont-​­Doherty Earth Observatory, que oferece desde ex­p e­r iên­cias mais cien­tí­f i­c as até o desenvolvimento de soluções práticas para trabalhos de campo — por exemplo, o Millenium Villages, desenvolvido por Sachs — ou ainda estudos específicos de empresas em projetos de sustentabilidade. A sede do Earth Institute, um edifício próprio ao norte de Manhattan, localizase perto dos diversos centros da universidade. Visando à transversalidade dos temas da sustentabilidade, o instituto abarca professores das demais escolas, incentivando o intercâmbio entre eles. Alunos da educação con­ti­nua­da, por exemplo, costumam prolongar os estudos nas faculdades de Saú­de Pública, de Assuntos Públicos Internacionais (SIPA ) e na Faculdade de Direito — sur­preen­den­ te­men­te, um centro de grande envolvimento com a sustentabilidade por meio do Vale Columbia Center, es­p e­cia­li­ za­do em investimentos internacionais sustentáveis. Nele, trabalham-se pesquisas para a promoção da indústria extrativista sustentável, junto aos fundos de investimentos interessados nos chamados FDI s, sigla em inglês para investimentos estrangeiros diretos. A Universidade de Columbia também se esforça pela universalização do conhecimento, fomentando network com outras instituições e paí­ses. Os centros globais servem de ponte para que os alunos — tanto dos Estados Unidos como os estrangeiros — possam rea­li­zar pesquisas de campo nas suas ­áreas. Esse é, sem dúvida, um di­fe­ren­cial para os estudos de sustentabilidade. No caso do Sustainability Management, mestrado do The Earth Institute, esse intercâmbio in­ter­na­cio­nal é um requisito para a conclusão do curso. Columbia também conta, hoje, com es­c ri­t ó­r ios espalhados pelo mundo todo — inclusive um no Brasil, recém-​ ­inaugurado. O Columbia Global Center do Rio de Janeiro tem como diretor Thomas J. Trebat. Recentemente, ele declarou que a escolha do Brasil deveuse à “crescente prosperidade da classe média”, e também à percepção de “uma

an­sie­da­de da so­cie­da­de em melhorar seu patamar edu­ca­cio­nal”. Por meio de seus centros globais, a universidade colocou-se presente em pontos estratégicos, como Mumbai (Índia), Pequim (China), Istambul (Turquia), Nairóbi (Quê­nia), Amâ (Jordânia), San­tia­go (Chile) e Paris (França). Agora, o centro brasileiro buscará interação com os demais e, even­tual­men­te, uma aproximação maior com o do Chile — sobretudo por razões geo­grá­f i­cas. O campo da sustentabilidade é justamente um dos pontos de foco no intercâmbio com o Brasil, segundo informações do website da universidade dedicado aos centros globais. Em sua inauguração, em março deste ano, esteve presente, por exemplo, Vishakha Desai, conselheira es­pe­cial para Assuntos Internacionais e professora da escola de Assuntos Públicos Internacionais, que di­re­cio­na boa parte dos trabalhos de sustentabilidade da Columbia e que representará os interesses de intercâmbio do The Earth Institute no país. Em entrevista à jornalista Mi­rian Leitão, para a Globo News, Lee Bollinger, presidente da Universidade de Columbia que esteve no Rio de Janeiro para o lançamento do centro brasileiro, declarou: “Em tempos de globalização, no mundo cada vez mais integrado e interdependente, queremos com­preen­der melhor cada localidade; nossos alunos serão líderes nos Estados Unidos e demais paí­ses, assim como no Brasil. A falta de informação é um grande problema ­atual. E a diversidade cultural dos nossos alunos e professores — um dos diferenciais da Columbia — é fundamental para estimular o aprendizado.” (Marília Arantes)

Para Saber M ais The Earth Institute, Columbia University 405 Low Library, MC 4335 535 West 116th Street, New York, NY 10027 Informações: Judy Jamal jjamal@ei.columbia.edu Tel.: (212) 854-​­3830 Fax: (212) 854-​­0274 www.earth.columbia.edu JUNHO 2013

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ESPECI A L Educação MIT Sloan School of Management

Sustentabilidade de ponta Aliando inovação tecnológica a teóricos de renome, o MIT afirma-se como referência mundial também na educação para a nova economia

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Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT), localizado em Cambridge, nos arredores de Boston (Costa Leste dos Estados Unidos), é uma referência mun­dial. Simples e objetivo, o lema da universidade — Mens et Manus (“mentes e mãos”, do latim) — reflete os esforços da instituição para transformar em rea­li­za­ções práticas toda a teo­ria levantada em suas incontáveis pesquisas. Resultado da concentração de grandes cérebros — tanto norte-​­americanos como estrangeiros que buscam aperfeiçoamento —, o centro inova na abordagem para ­criar soluções com o objetivo de transformá-​­l as em oportunidades de ne­gó­cios para aplicação

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do conhecimento. E, nos últimos anos, a forte tradição cien­tí­f i­c a, sobretudo no quesito inovação, tem sido canalizada para agregar tecnologia a um novo modelo de produção mais sustentável. “A escola é uma usina de inovação em tecnologia”, acredita Jason Jay, diretor da ini­cia­ti­va MIT Sloan para Ne­gó­cios e So­cie­da­de Sustentáveis. “As doze faculdades do MIT estão envolvidas em formar um canal de conhecimento nessa área”, justifica. Além dos docentes de altíssimo nível, o MIT Sloan School of Management, escola de ne­gó­cios da instituição, valoriza o trabalho em equipe como ferramenta para produzir inovações. Por meio do Action Learning — método de ensino no qual se aprende fazendo, coletivamente —, os alunos são motivados a construir uma cultura colaborativa, que, de certa forma, reflete o espírito do MIT, onde o todo vale mais do que as partes. “Um bom exemplo são os cursos de PHD s com diplomas duplos, como os

que unem Engenharia e Administração”, conta Jay, que também é professor com atua­ção nos la­bo­ra­tó­rios e cursos re­la­cio­ na­dos à liderança e em­preen­de­do­ris­mo em sustentabilidade. Para quem pretende mergulhar no assunto, no entanto, o MBA com Certificado em Sustenta­ bilidade, oferecido desde 2006, é um dos mais indicados. Além de aprofundar o compartilhamento de ex­pe­riên­cias e pesquisas no tema, o aluno conta com o S-​­Lab, o Laboratório para Sustentabilidade Corporativa, cria­do em 2007. O MBA em sustentabilidade está estruturado em três partes. Uma primeira abordagem mais sistêmica, para levantamento das grandes tensões, utiliza estudos de caso e simulações; depois, passase a desenhar es­tra­té­gias de ne­gó­cios, alinhando-as a projetos reais, em que se possa identificar onde existem oportunidades de ne­gó­cios ou não. Por fim, conta-se com a participação de empresas internacionais — como a brasileira Natura. “Trabalhamos com instituições


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Jason Jay Diretor do MIT Sloan para Negócios e Sociedade Sustentáveis

“Além das três disciplinas eletivas em tecnologia, políticas públicas e dimensão estratégica dos negócios na sustentabilidade, o currículo exige que se participe das atividades práticas do S-​­Lab.” que também estão buscando crescer com essas ex­pe­riên­cias, ao passo que possam produzir be­ne­fí­cios públicos”, explica Jay. Em atenção ao am­bien­te corporativo, os acadêmicos e parceiros da indústria consideram em seus projetos a complexidade e o ritmo rápido de transformação do modelo produtivo. Com isso, os alunos são induzidos a desenhar soluções para questões que envolvam os ne­gó­cios como extensão da comunidade; água, mobilidade, agricultura e transportes são alguns dos temas trabalhados. “Além das três disciplinas eletivas em tecnologia, políticas públicas e dimensão estratégica dos ne­gó­cios na sustentabilidade, o currículo exige que se participe do S-​­L ab. Tais ex­p e­r iên­cias con­f luem para o chamado capstone course, disciplina de conclusão, na qual os alunos demonstram in­di­vi­dual­men­te os projetos rea­li­za­dos, por argumentação de teses”, explica Jay. Dessa forma, o MI T oferece uma relação praticamente pro­f is­sio­nal para quem pretende implementar novas práticas. Ou seja, os alunos trabalham questões reais, como os limites do crescimento, considerando uma economia cada vez mais complexa. “No S-​­L ab, os participantes dividem-se em grupos interdisciplinares de quatro integrantes. Em treinamento de três meses, apresentam soluções às empresas. Estas

procuram o MIT enquanto fonte de atua­ li­z a­ção e oportunidades; nossos contratos, portanto, ­aliam a equipe de alunos, instrutores do MIT e as empresas”, explica o professor. Os de­s a­f ios da sustentabilidade, entretanto, são também com­preen­di­ dos por outros la­bo­ra­tó­rios específicos, que con­tri­buem para que o S-​­Lab possa explorar mais profundamente as conexões entre práticas de ne­gó­cios e impactos ambientais, por exemplo. Assim, oferecem-se es­pe­cia­li­za­ções em liderança, em­preen­de­do­ris­mo global dos mercados emergentes, inovação, estudos sobre paí­ses ou mercados específicos (China, Índia), saú­de pública, entre outras. Pesquisas sobre energia, políticas ambientais, inteligência coletiva e ini­cia­ti­v as em liderança fun­cio­nam como pontes e aproximam grupos externos das universidades. E todos, ne­ces­sa­ria­men­te, visam unir teo­ria e prática (mens et manus). O convívio com pesquisadores de renome e trânsito por instituições de excelência, como Stanford e Harvard (com a qual se oferece um programa conjunto em ne­g ó­cios), é outro di­fe­ ren­cial do MIT. E a conexão entre acadêmicos, ini­cia­ti­vas privadas e públicas ajuda a formar uma elite de inteligência para a “sustentabilidade de ponta”, que reú­ne nomes como e Peter Senge e Otto Scharmer (veja a Entrevista Es­pe­ cial na pág. 74). Senge, professor titular sê­nior do MIT, autor de A Quinta Disciplina e ativista da “necessária revolução” por um sistema de produção basicamente mais saudável, é fundador da SOL (sigla em Inglês para a So­cie­da­de de Aprendizagem Or­ga­ni­za­cio­nal) e também integra o Presencing Institute, participando dos estudos sobre a Teo­ria U (desenvolvida por Scharmer), no U-​­Lab, instituição também ligada ao MIT, com estudos relevantes em sustentabilidade. Os am­b ien­t es do M I T são, portanto, pratos cheios para caçadores de talentos. Neles, pesquisadores atentos

e conectados entre si vinculam-se a empresas alertas às novas gerações de profissionais mais bem preparados para o futuro. Darcy Winslow, também professora do MIT que trabalha com Senge na SOL , por exemplo, colidera pesquisas para a Nike, num programa de “rea­ li­nha­men­to holístico” dos ne­gó­cios da marca. Winslow é também conselheira do Cloud Institute for Sustainability, instituto nos moldes da Teo­ria U es­pe­cia­ li­za­do em educação de crianças e adolescentes. (veja mais na pág. 58). Outro campo de atua­ç ão do MIT Sloan, liderado pelo professor Gregor Barnum, é a “cons­cien­ti­za­ção corporativa” para a sustentabilidade, que trabalha os prin­cí­pios da ética em­pre­sa­rial. Herdeiro da Rockwell International, corporação norte-​­americana cuja reputação foi gravemente manchada pela corrupção, Barnum dedica-se à incorporação prática da sustentabilidade, prestando con­sul­to­rias apoiadas na filosofia do vi­sio­ná­rio arquiteto Buckminster Fuller (veja na pág. 52). Isto é, desenvolvendo modos de produção que possibilitem “produzir-se mais com menos”. No sentido de alinhar tecnologia de ponta para melhor responder à complexidade dos novos tempos, o MIT empenha-se no desafio de garantir boas perspectivas ao futuro. Pro­por­cio­nal­men­te à coragem dos alunos em capacitarem-se para enfrentar a mudança, seus professores tarimbados incentivam líderes a agir com certa ousadia, para que possam trazer resultados diferentes simplesmente fazendo diferente. (Marília Arantes)

Para Saber M ais MIT Sloan School of Management MBA Program Office 50 Memorial Drive, Suite E52-​­126 Cambridge, MA 02142-​­1347, USA Tel.: 617-​­253-5276 mbaquestions@sloan.mit.edu http://mitsloan.mit.edu JUNHO 2013

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ESPECI A L Educação London School of Economics and Political Science (LSE)

Compreender as causas das coisas Referência mundial em formação acadêmica, a LSE ensina sustentabilidade seguindo a mesma lógica transdisciplinar que a consagrou na formação de lideranças mundiais

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London School of Economics and Political Science (LSE), fundada em 1895, tem no seu currículo a formação acadêmica de 35 líderes políticos e 16 ganhadores de Prêmio Nobel de economia, paz e literatura. Trata-se de uma referência mun­ dial em estudos políticos e econômicos,

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atraindo estudantes do mundo todo para seu incrível campus no centro de Londres. Estima-se que 65% de seus 5.200 pós-​­gra­duan­dos e 4.200 gra­duan­dos não sejam britânicos. Um grupo seleto, preparado para uma exigente vida acadêmica. De acordo com Monique Barenboim Salles Vanni, advogada brasileira doutoranda na LSE , quem a escolhe costuma ter foco na carreira política ou nas grandes organizações não governamentais internacionais. “É um nome de peso no currículo”, diz. No seu caso, outro fator motivador foi o seu orien­ta­dor, o professor Anthony Hall, um es­pe­cia­lis­ta em Amazônia e no estudo da complexidade so­cial das florestas da América Latina.


Economista britânico, autor do famoso Relatório Stern, de 2006, um dos primeiros documentos produzidos por não cien­tis­tas a apontar os efeitos da economia mun­dial sobre as mudanças no clima

A LSE também se destaca por abrigar dois dos institutos de pesquisa em mudanças climáticas mais in­f luen­tes do mundo: o The Grantham Research Institute on Climate Change and the Environment (GRI ), coor­d e­n a­d o pelo professor Sir Nicholas Stern, e o Centre for Climate Change Economics and Policy. Seus membros são consultores de governos, de políticos e de instituições no mundo inteiro. A LSE possui 24 departamentos e institutos de Ciên­cias Sociais, Economia, Ciên­cia Política, Comunicação e Gestão, além de 16 centros de pesquisa concentrados no mesmo campus. Entre os mais conhecidos, estão o Centre for Economic Performance e o Financial Markets Group, cria­d o em 1987 por Mervyn King, o ­atual responsável pelo

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Jon Emmett Responsável por projetos de sustentabilidade na LSE

“Contamos com uma equipe de seis funcionários dedicados exclusivamente a melhorar o impacto ambiental da LSE. Temos o certificado ISO 14001, e o Plano de Gestão de Carbono prevê reduzir nossa pegada ambiental em 54%, até 2020, em relação a 2005. Temos um fundo de projetos sustentáveis que apoia ideias de estudantes para um campus verde e, graças a iniciativas assim, conseguimos atingir ‘zero’ envio de resíduos para o aterro sanitário.”

Bank of England; e o International Growth Centre, um programa fi­nan­cia­do pelo Departamento de Desenvolvimento In­ter­n a­c io­n al para promover me­l ho­ rias nos paí­s es em desenvolvimento. Em constante contato, num am­bien­te vibrante de difusão de conhecimento, rea­li­z am-se diversos eventos gratuitos e abertos ao público, trazendo para o campus debates atuais e decisões políticas, algo pouco comum em instituições como essa na Europa. Entre os convidados, figuras in­f luen­tes como Kofi Annan, Bill Clinton, Nelson Mandela, Tony Blair e David Cameron. Gestão com foco em sustentabilidade

“O lema da LSE é ‘com­preen­der as causas das coisas’, o que se reflete na forma como ensinamos sustentabilidade. É um tema transversal presente em módulos e ­áreas inesperadas, como Contabilidade, Economia e Governo, e não apenas nos cursos dedicados exclusivamente ao tema”, explica Jon Emmett, responsável por projetos de sustentabilidade na LSE . A interdisciplinaridade é o di­fe­ren­cial, capaz de fazer olhos sustentáveis brilharem. Exige-se que os alunos rea­li­zem o exercício de explorar os grandes debates do nosso tempo, sempre sob perspectivas de diferentes disciplinas, con­tex­tua­ li­zan­do decisões e analisando aspectos sociais, políticos e econômicos envolvidos. “A LSE é acadêmica, mas não tra­ di­cio­na­lis­ta. Ao contrário, é moderna e destaca-se por aceitar propostas de pesquisas interdisciplinares e incentivá-​­las”, conta Monique. Os estudantes têm muita liberdade para montar grades de estudo com disciplinas de va­r ia­d os departamentos. Ao escolher Gestão, por exemplo, podese escolher optativas nos temas ambientais, em marketing ou gestão estratégica. E, na Gestão da Sustentabilidade, dedicar-se a estudos de cadeia de produção, energia, gestão de recursos naturais, marketing e muitos outros. Cursos

A LSE oferece programas intensivos de uma semana, uma vez por ano, no verão, com temas como mudanças climáticas,

No R adar

◆◆ A

LSE ocupa o 42-º lugar no People & Planet Green League 2012, avaliação anual de desempenho ambiental e ético das universidades, publicada no jornal inglês The Guardian (http://peopleandplanet.org). ◆◆ The Complete University Guide 2014 classificou a LSE como a melhor universidade de Londres e terceira melhor do Reino Unido, atrás apenas de Oxford e Cambridge (http://www. thecompleteuniversityguide.co.uk). ◆◆ The Times Higher Education, um ranking das universidades com melhor reputação no mundo, colocou a LSE como a 25-ª entre os 100 nomes mais influentes.

economia, em­preen­de­do­ris­mo, finanças, marketing, inovação, liderança e estratégia. Possui uma ampla va­rie­da­de de cursos de mestrado, entre eles Finanças e Relações Internacionais, com duração média de um a dois anos, que são di­re­cio­na­dos a executivos e profissionais de nível sê­nior. Para executivos líderes, no topo da carreira pro­f is­sio­nal, desenvolvem-se programas sob medida para atender às demandas de uma empresa ou setor de economia, finanças, política, direito e política pública, reunindo acadêmicos de renome na formação. A LSE também integra o programa de TRIUM Global Executive MBA , que prepara executivos para lidar com questões econômicas, sociais e políticas globais. São 17 meses de estudos em diferentes partes do mundo e escolas, incluindo a LSE , a New York University Stern ­S chool of Business (NYU Stern) e a HEC ­S chool of Management, em Paris (HEC Paris). (Cristiane Assis)

Para Saber M ais London School of Economics and Political Science (LSE) LSE Houghton Street London WC2A 2AE Tel.: +44 (0)20 7405 7686 ug-​­admissions@lse.ac.uk www.lse.ac.uk JUNHO 2013

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ESPECI A L Educação Ashridge Business School

Sustentabilidade em todas as disciplinas

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m 1959, um grupo de grandes empresas im­p ul­s io­n a­d o pela demanda crescente por educação executiva fundou a Ashridge Business School, em Berkhamsted, a uma hora de Londres, num antigo monastério com belos jardins e 700 anos de história. Respeitada, ocupa o 28º lugar entre as 79 instituições no European Business School Rankings 2012, do jornal Financial Times; e o 64º lugar no ranking dos 100 melhores MBA s em sustentabilidade do Aspen Institute. Tornou-se conhecida pela ênfase na aprendizagem ex­pe­rien­ cial. Seus MBA s, mestrados e doutorados com foco em mudança or­ga­ni­za­cio­nal e sustentabilidade, além das con­sul­to­rias e dos programas de treinamentos para executivos, ­atraem estudantes do mundo todo, principalmente da China e Índia. “Estamos sendo muito procurados pela ênfase na sustentabilidade” conta Matt Gitsham, diretor do Centro de Ne­gó­

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Matt Gitsham Divulgação

Escola britânica cumpre o compromisso público apresentado na Rio+20 de incluir o tema como obrigatório em todas as aulas

Diretor do Centro de Negócios e Sustentabilidade da Ashridge Business School

“Para ser realmente sustentável, uma escola de negócios precisa tornar‑se exemplo de boas práticas no seu próprio espaço e no uso responsável da energia, dos resíduos, da água e na sua relação com a biodiversidade.”

Segundo o professor e pesquisador brasileiro Jacques Demajorovic, que desde 2010 trabalha a inserção da sustentabilidade nos cursos de Administração da FEI (Fundação Edu­ca­cio­nal Ina­ cia­na) e visitou a escola recentemente, a metodologia utilizada é centrada na mudança do indivíduo. “Os alunos são estimulados à reflexão sobre os de­sa­ fios da sustentabilidade e de seu papel como agentes de mudança.” O principal curso em sustentabilidade da Ashridge é o mestrado MSc in Sustainability and Responsibility, com duração de dois anos. Inclui oito workshops intensivos, de cinco dias cada um, com metodologia ba­sea­da em oficinas de aprendizagem ex­pe­rien­ cial, pesquisa-​­ação e aplicação da teo­ria na rotina pro­f is­sio­nal dos participantes, demonstrando a importância prática da sustentabilidade. Ashridge possui, ainda, um Cen­ tro de Pesquisa em Responsabilidade So­cial Corporativa com projetos desenvolvidos em par­ce­rias com empresas. E também desenvolve ações para tornar o campus mais sustentável. Segundo Gitsham, o plano de gestão de carbono da Ashridge reduziu suas emissões de gases de efeito estufa em cerca de 13% até agora (com base em 2006) e sua meta é chegar a 34%, até 2020, e a 80%, até 2050. (Cristiane Assis)

Para Saber M ais cios e Sustentabilidade de Ashridge. Signatária do Global Compact das Nações Unidas e do Principles for Management Education (PRME), desde 2005, a escola possui um módulo obrigatório de ne­gó­ cios sustentáveis em todos os seus cursos. Em 2012, essa ação foi am­p lia­d a quando Ashridge cumpriu o compromisso público apresentado na Conferência das Nações Unidas, ­Rio+20, de incluir a sustentabilidade como obrigatória, não apenas como módulo, mas como tema dentro de todas as disciplinas.

Ashridge International Business Leaders Forum Berkhamsted Hertfordshire HP4 1NS, United Kingdom Tel: +44(0)1442 843491 Fax: +44(0)1442 841209 contact@ashridge.org.uk 15-16 Cornwall Terrace Regent’s Park, London, NW1 4QP, United Kingdom Tel.: +44(0)20 7467 3660 Fax: +44(0)20 7467 3610 www.iblf.org


Tao Lytzen

ESPECI A L Educação Copenhagen Business School

Escola de negócios em Copenhague atrai estudantes do mundo todo com uma feliz combinação de credibilidade e variedade nos programas acadêmicos

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m 2012, mais de 4 mil estudantes estrangeiros passaram pela Copenhagen Business School (CBS), uma das escolas de negócio mais renomadas e tradicionais da Europa, com quase um século de história. Possui tripla acreditação, ou seja, reconhecimento das três maiores e mais in­f luen­tes certificadoras de escolas de negócio do mundo (AACSB , EQUIS e AMBA ), o que é obtido por menos de 1% das instituições desse tipo no mundo. Ao todo, são cerca de 19 mil alunos dis­tri­buí­dos em cursos de gra­dua­ção, pós-​­gra­dua­ção, mestrado, doutorado, es­pe­cia­li­za­ção e stricto sensu e MBA . O principal di­fe­ren­cial da CBS é a sua capacidade de in­t er­n a­c io­n a­l i­z a­ ção. A escola integra a Global Alliance in Management Education (CEMS ) e o

Jonathan B.C. Baez

As vantagens de ser estudante numa cidade sustentável Barbara Louise Bech Gerente da Plataforma Sustentável da CBS

“A preocupação pública com o desenvolvimento de uma sociedade mais sustentável coloca forte pressão sobre as empresas, que precisam responder ao crescente aumento de visibilidade em gestão responsável. Na CBS, pesquisadores e estudantes dedicam-se a explorar os riscos e as oportunidades que surgem a partir de tais demandas.” Partnership in International Management (PIM), e tem 327 par­ce­rias, representando 48 paí­ses, o que resulta no intenso intercâmbio in­ter­na­cio­nal. “Para os estudantes interessados em sustentabilidade, a CBS é uma excelente opção, não apenas por causa da grande va­rie­da­de de programas acadêmicos disponíveis, mas acredito que a ideia de viver em Copenhague, famosa

por ser uma das cidades mais sustentáveis do mundo, também seja atraen­te”, diz Barbara Louise Bech, gerente da Pla­ taforma Sustentável, uma ini­c ia­t i­v a transdisciplinar da escola. A CBS oferece 25 disciplinas eletivas dentro das ­áreas de Sustentabilidade, Responsabilidade So­cial, Ne­gó­cios Verdes e Mudanças Climáticas. Todas elas estão disponíveis na gra­dua­ç ão e no mestrado. Também oferece um MBA com carga horária integral que acaba de ganhar uma nova disciplina na temática Práticas em Ne­gó­cios Sustentáveis, com duração de um ano. A instituição possui cerca de 200 doutorandos, parte deles dis­tri­buí­dos em três escolas com pesquisas voltadas para a responsabilidade so­cial nas empresas. Atuan­do junto com a diretoria de Sustentabilidade, a CBS adotou a Plataforma de Sustentabilidade como principal estratégia para promover o tema, dentro e fora do campus. Trata-se de uma ini­cia­ti­va transdisciplinar ba­sea­da no Principles for Responsible Management Education Initiative (PRME ), que busca facilitar uma série de atividades com foco na investigação, educação e divulgação. Seu escritório também hospeda o CBS Goes Green, programa que visa melhorar o campus e estimular atitudes mais sustentáveis e novos hábitos, com presença e coor­de­na­ção dos pró­prios estudantes, que se preparam para lançar o segundo relatório sobre a pegada de carbono da escola, em 2013. (Cristiane Assis)

Para Saber M ais Copenhagen Business School Porcelænshaven 18A, office 0.141, 2000 Frederiksberg, Denmark Tel.: (+45) 3815 3286 / +45 28 10 01 80 bb.ikl@cbs.dk www.cbs.dk JUNHO 2013

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ESPECI A L Educação Audencia

Sustentabilidade como inovação nos negócios

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om 113 anos de existência e ran­ quea­da como a sexta melhor escola de negócio da França, em 2012, a Audencia localiza-se na cidade de Nantes, a duas horas de Paris, e possui cerca de 3 mil alunos dis­tri­buí­dos em cursos de gra­dua­ção, mestrado, doutorado e MBA . Nos últimos 10 anos, passou a destacar-se pelo compromisso com o desenvolvimento sustentável. Foi uma das primeiras sig­na­tá­rias francesas de dois importantes documentos: o Pacto Global, das Nações Unidas, em 2004, e os Prin­cí­pios para a Educação Em­pre­sa­ rial Responsável (PRME ), em 2007. O primeiro com prin­cí­pios relativos à defesa dos direitos humanos, meio am­bien­te e luta contra a corrupção; e o segundo com a aplicação desses conceitos em escolas de ne­gó­cios em todo o mundo. Desde que fundou o Instituto de Responsabilidade Global, em 2005, a

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Jean Charroin Divulgação

Universidade na França forma gestores conscientes das questões ambientais, sociais e econômicas e das vantagens competitivas desse tema no mercado

Diretor da Audencia Nantes

“Nosso objetivo na Audencia é capacitar os participantes de MBAs para se tornarem líderes que entendem a importância de agir de forma social e ambientalmente mais responsáveis.” Audencia passou a mobilizar um terço de seus 90 professores para pensar a sustentabilidade e formas de colocá-la em destaque no dia a dia do campus. Para Jean Charroin, diretor da Audencia Nantes, o di­fe­ren­cial da escola é acreditar que a sustentabilidade seja uma oportunidade de inovação para os ne­gó­cios, uma vantagem competitiva, e não um obstáculo. Na prática, essa visão reflete-se em diretrizes do currículo, como a obri­ga­to­rie­ da­de de 80% dos cursos da instituição abordar a temática da sustentabilidade em pelo menos 10% dos con­teú­dos de suas disciplinas. “Ensinamos finanças com

uma visão sustentável, marketing com uma visão sustentável, recursos humanos de modo sustentável. Cinco cadeiras de pesquisa são dedicadas às questões sociais e ambientais. Uma delas, por exemplo, quer descobrir como pequenas e mé­dias empresas podem utilizar a sustentabilidade para inovar e aumentar a rentabilidade”, diz Charroin. Nessa linha, seu MBA em Gestão Responsável acaba de ser redesenhado para o ano letivo 2013–2014. Ele continua como um curso generalista, conforme explica Charroin, atendendo aos padrões internacionais (AACSB , Equis e Amba), mas tem o objetivo de produzir gestores mais cons­cien­tes das questões ambientais, sociais e econômicas. Recentemente, a Audencia assinou um acordo de parceria com a organização am­bien­ ta­lis­ta WWF e tornou-se a primeira instituição de ensino su­pe­rior francês com essa cre­d en­cial, a exemplo de outras como a Exeter, na Inglaterra. A novidade deverá in­fluen­ciar não apenas os con­teú­ dos e cursos, mas o caminho para um campus mais verde, com novos projetos de transporte, reciclagem, fornecedores de comércio justo e orgânicos, além de sistemas de recrutamento internacionais com menos impacto am­bien­tal. E, para não deixar ninguém de fora, nos últimos 12 meses a Audencia realizou mais de 20 eventos e con­fe­rên­cias de sustentabilidade e de responsabilidade so­cial em seu campus e lançou o Desafio da Sustentabilidade para que todos con­t ri­b uam com ideias inovadoras para tornar o espaço cada vez mais verde. (Cristiane Assis)

Para Saber M ais Audencia Nantes School of Management 8 route de la Jonelière B.P. 31222 44312 Nantes Cedex 3, France Tel.: 02 40 37 34 34 www.audencia.com


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ESPECI A L Educação Leuphana University

Coragem para a mudança

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Leuphana University tem 60 anos de história e está localizada na cidade de Lüneburg, na Alemanha. Oferece cursos de gra­dua­ ção, mestrado, doutorado, MBA e es­pe­ cia­li­za­ção pro­fis­sio­nal e possui aproximadamente 7 mil alunos, sendo 6% deles estrangeiros. Empenhada em colocar a sustentabilidade em destaque como tema acadêmico transversal e em praticar a ecoe­f i­ciên­cia no seu campus, já se tornou referência local no tema. “Nos esforçamos, agora, para atrair mais estudantes de todo o mundo em busca de soluções para os diversos de­sa­ fios da transição para o desenvolvimento sustentável”, diz o professor Daniel J. Lang, da Faculdade de Sustentabili­ dade da Leuphana. O principal catalisador dessas questões na universidade é o Centro para a Gestão Sustentável (CSM ), fundado em 2004. Ele reú­ne 30 dos seus professores e pesquisadores de Ciên­cias Ambientais, Gestão de Ne­gó­ cios e Economia, com o objetivo de rea­ li­zar pesquisas e projetos, com participação de alunos de mestrado e doutorado,

Daniel J. Lang Divulgação

Universidade alemã empenha-se em consolidar o conhecimento teórico nas experiências do mundo real, começando por seu próprio campus

Professor da Faculdade de Sustentabilidade da Leuphana

“A integração do conhecimento teórico por meio de métodos e abordagens transdisciplinares aliada à excelente formação cientifica é, provavelmente, a característica mais marcante da nossa faculdade.” nas ­áreas de: Fundamentos da Sustentabilidade Corporativa, Comunicação, Contabilidade, Gestão de Stakeholder, Gestão Integrada para a Sustentabilidade e Serviços Ecossistêmicos. Também ajuda a fomentar um amplo programa voltado à ecoe­fi­ciên­cia no campus, com ações para o consumo cons­cien­te de energia, água, emissões de carbono e re­sí­duos sólidos. “Temos dado vá­rios passos na direção da sustentabilidade. Sabemos que não é algo que deva ser implementado ‘em algum lugar’, mas sim dentro do nosso próprio espaço. Organizamos um programa chamado Agenda 21 — Universität Lünebur and Sustainability University logo no início desse movimento e, desde 2000, temos certificação EMAS”, diz Lang. O European Union's Eco-Management and Audit Scheme (EMAS) é uma ferramenta

da Comissão Europeia para gestão de empresas e organizações que visa ava­ liar, relatar e melhorar o seu desempenho am­bien­tal. O sistema está disponível para a participação de empresas, es­p e­cial­ men­te in­dús­trias, desde 1995, e gra­dual­ men­te passou a incluir outras instituições. A universidade também detém a Cátedra da U N E S CO Educação Su­p e­ rior para o Desenvolvimento Sustentável, sendo responsável pelo módulo Ciên­cia e sua Responsabilidade. Recentemente, recebeu os prê­mios ASU International Awards for Innovative Practices in Higher Education (2011) e ZEIT Wissen Preis — Mut zur Nachhaltigkeit (2013). O ZEIT é um grande jornal semanal na Alemanha, cujo prêmio, oferecido anual­men­te, significa algo como “Encorajadores da Sustentabilidade”, em português. A Leuphana oferece cinco cursos com foco em sustentabilidade: um programa de formação para jornalistas, o Jornalismo e Sustentabilidade; dois cursos de gra­dua­ ção, o de Ciên­cias Ambientais (B.Sc.) e o de Estudos Ambientais e Sustentabilidade (B.Sc.); um mestrado em Ciên­cias da Sustentabilidade (M.Sc.) e um MBA em Gestão da Sustentabilidade. “É uma prática na Leuphana estimular os alunos a trabalhar com projetos de forma transdisciplinar, consolidando o conhecimento teó­ri­co nas ex­pe­riên­cias do mundo real e fortalecendo com­pe­tên­cias interpessoais”, explica o professor Lang. Nos cursos de MBA , mestrado e doutorado, os alunos rea­li­zam trabalhos de consultoria na área de sustentabilidade com empresas parceiras e baseiam seus estudos em si­tua­ ções corporativas reais. (Cristiane Assis)

Para Saber M ais Leuphana Universitat Luneburg Professional School Kerstin Peper Scharnhorststr. 1, 21335 Lüneburg Tel.: +49.4131.677-​­2980 Fax: +49.4131.677-​­2981 ps@uni.leuphana.de www.leuphana.de JUNHO 2013

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Philkai / Wikimedia Commons

ESPECI A L Educação University of Exeter

Segundo e terceiro setor unidos na formação de novos líderes Em parceria com a WWF, instituição britânica destaca-se por inovar em curso de MBA

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Universidade de Exeter encontra-se na re­gião su­does­te da Inglaterra, que concentra, atual­ men­te, um dos maiores polos educacionais de desenvolvimento para a sustentabilidade corporativa daquele país. Embora fun­cio­ne em um antigo castelo me­die­val, a escola de ne­gó­cios da universidade oferece um dos MBA s mais inovadores nesse tema. O One Planet MBA (também conhecido pela sigla OPMBA), em parceria com a ONG in­ter­na­cio­nal WWF (World Wide Fund), busca formar uma nova geração de líderes de ne­gó­ cios, capaz de oferecer às corporações um status ins­ti­tu­cio­nal de respeito ao meio am­bien­te e às pes­soas.

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“Com tantos escândalos de corrupção, escassez de recursos e recessão financeira, corremos riscos de perder con­f ian­ça nas corporações — cujo status de instituições sociais de respeito vem caindo. Com o One Planet, queremos catalisar a mudança sobre a educação para os ne­gó­cios, colocando ênfase no desenvolvimento e suporte de uma geração de líderes mais éticos, orien­ta­da ao bem-​­estar do planeta e das pes­soas, e que possamos formar líderes capazes de restaurar a con­f ian­ça pública nos ne­gó­ cios”, defende Jean-Paul Jeanrenaud, ex-​ ­diretor da WWF, professor e um dos fundadores do curso. Nesse sentido, objetiva-se formar não apenas es­pe­cia­lis­tas em sustentabilidade, mas líderes completos, que possam enxergar a complexidade dos problemas e estejam capacitados para demandar e atender firmes decisões. A faculdade

também amplia uma rede em­pre­sa­rial atenta aos grandes de­sa­f ios da atua­li­ da­de, aparelhando os alunos para pensar e agir estrategicamente e de acordo com as ten­dên­cias da mudança or­ga­ni­za­cio­nal. Segundo Jeanrenaud, “o O PM BA representa um avanço no design dos currículos para a sustentabilidade, es­pe­ cial­m en­te pela integração dos aspectos sociais e ambientais nos módulos de Contabilidade e Finanças”. Bem colocado pelos rankings de cursos su­pe­rio­res, obteve, por exemplo, o segundo lugar no Reino Unido e o nono na Europa na ava­ lia­ção Beyond Grey Pinstripes, de 2012, do Aspen Institute, conceituado instituto norte-​­americano cuja ava­lia­ção mede o preparo dos alunos para as complexidades con­tem­po­râ­neas, considerando fatores ambientais, sociais e éticos. Em depoimento à própria escola, Graham Watson, ex-​­a luno do curso,


sustentabilidade. Como retorno, elas se be­ne­f i­ciam de novas ideias e aprendizagem dos estudos de caso — e campo — que envolvem resolver si­tua­ções e dilemas da vida real. Entre as corporações determinadas a essa mudança de paradigmas estão Coca-​­Cola, IBM, Thomson Reuters, Nokia, Canon, IKEA, Sony e Lloyds Banking, entre outras. “Desde sua inauguração, em 2010, apoiamos com bolsas de estudos e projetos de consultoria, palestrantes e facilitando visitas de campo para pesquisas”, afirma Jake Backus, diretor de

Jean-Paul JeanRenaud Divulgação

afirma que o MBA reflete o foco da maioria dos ne­gó­cios de hoje em dia. “Acredito que já se com­preen­de que os recursos são finitos. E utilizá-​­los visando à sustentabilidade, em vez de simplesmente cortar custos, é o caminho daqui para frente”, acredita. Signatária dos PRME (sigla em inglês dos Prin­cí­pios para a Educação Em­pre­ sa­rial Responsável), do Pacto Global da ONU, a Universidade de Exeter tem buscado qualificar o tema da responsabilidade so­cial como cru­cial para a educação dos ne­gó­cios, fomentando pesquisas e o pensamento ético e inovador entre lideranças globais. “A parceria entre a escola de ne­gó­ cios e a WWF surgiu porque acreditamos na economia global. Também pensamos que os de­sa­f ios sociais e ambientais atuais precisam de soluções inovadoras e urgentes. Que­re­mos encorajar a cria­ção de ne­gó­cios que estejam a serviço da so­cie­da­de, em busca de um bem comum, aumentando o bem-​­estar da humanidade; ou seja, reduzir pobreza, desigualdade e a degradação am­bien­tal e ainda as­so­ciar tudo isso ao lucro”, assegura Jeanrenaud. O trânsito por organizações de peso e a perspectiva in­ter­na­cio­nal da as­so­cia­ ção com a WWF é, sem dúvida, um ponto positivo de estímulo aos alunos. Uma das primeiras ini­cia­ti­vas não governamentais pela proteção ao meio am­bien­te, a WWF — ao contrário de muitas ONG s — colocase aberta à ne­go­cia­ção entre am­bien­ta­ lis­tas e o mundo dos ne­gó­cios. A empresa holandesa de avia­ç ão KLM, por exemplo, chegou a Exeter graças à sua as­so­cia­ção com a WWF. Como resultado, um grupo de alunos passou por um pe­río­do de dois dias da semana envolvidos em pesquisas, na Holanda, para desenvolver a estratégia am­bien­ tal da companhia e seus parceiros. Sem dúvida, uma ex­pe­riên­cia co­mer­cial em oportunidades como essa prepara os alunos para outros de­s a­f ios — e para outras in­dús­trias também. Os demais parceiros do programa são, igualmente, empresas que enxergaram à frente as vantagens no campo da

Fundador do curso do MBA One Planet – Universidade de Exeter/ WWF

“Queremos encorajar a criação de negócios que sirvam à sociedade e trabalhem na busca por um bem comum, ofereçam saídas para aumentar o bem-​­estar humano, reduzir a pobreza, desigualdade e a degradação ambiental, sem que, por isso, deixem de ser lucrativos.” Sustentabilidade para Consumidores da Coca-​­Cola europeia, em ma­te­rial de comunicação da universidade. Para ele, o envolvimento da empresa com a Exeter oferece múltiplos be­ne­fí­cios para o negócio. “Ganhamos acesso a profissionais de talento, com ideias renovadas e que nos ajudam a introduzir sustentabilidade nas práticas do dia a dia.” Com uma ampla possibilidade de trabalho e pesquisa, os alunos do MBA vi­ven­ciam, na prática, disciplinas voltadas à administração de empresas e ge­ren­cia­men­to, destacando correntes de pensamentos e técnicas mais atua­ li­za­das, do mundo todo. No co­ti­dia­no, frequentam palestras, rea­li­zam estudos de caso, debates, trabalhos individuais e em grupos, de­sa­f ios e compromissos, se­mi­ná­rios e, sobretudo, atividades com

alunos dos demais cursos com o objetivo comum da troca de ex­pe­riên­cias. “A escola se esforçou real­men­te para me apresentar a pes­soas-​­chave, tanto na instituição e seus recursos como aos parceiros. Isso demonstra comprometimento”, afirma o aluno Graham Watson. O programa do One Planet tem, ainda, alguns outros diferenciais. Além de fomentar a inclusão e participação de mulheres no tema da sustentabilidade corporativa, tem um organograma modular e flexível. Isto é, pode ser rea­li­ za­do em tempo integral (um ano) ou no formato “executivo”, tornando possível a extensão para quem estuda e trabalha, ao mesmo tempo. Destes, o curso exige apenas a presença em quatro ou cinco módulos diá­rios — com intervalos que vão de seis a oito semanas —, ao longo de dois anos. Além disso, o MBA tem preço mais acessível do que a média das escolas de ne­gó­cios britânicas. Vale men­cio­nar, ainda, que o custo de vida na pequena cidade de Exeter é bem mais em conta do que em Londres. Outra vantagem é o corpo docente, que reú­ne professores com uma vida pro­f is­sio­nal bastante ativa — e os alunos são bem-​­vindos na carona. Profissionais dedicados a estudos da liderança e inovação no mundo corporativo ajudaram a construir uma grade curricular integrada às atividades dos alunos. Nessa lista de professores, in­cluem-se figuras que costumam frequentar as mesas-​ ­redondas mundiais sobre sustentabilidade e outras ini­cia­ti­vas que possibilitam aos interessados mergulhar no tema e, definitivamente, colocar a mão na massa! (Marília Arantes)

Para Saber M ais University of Exeter Business School Rennes Drive Exeter EX4 4PU UNITED KINGDOM Tel.: +44 (0)1392 725269 Fax: +44 (0)1392 723242 business-​­school-reception@exeter.ac.uk http://business-​­school.exeter.ac.uk/ mbaatexeter/oneplanetmba/ JUNHO 2013

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Guilherme Bergamini

ESPECI A L Educação Fundação Dom Cabral

Sustentabilidade no banco da frente Desafio da Fundação Dom Cabral é tirar o conceito da periferia dos cursos e consolidá‑lo como diretriz de ensino e produção de conhecimento

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á três anos considerada uma das 10 melhores escolas de ne­g ó­c ios do mundo pelo ranking de educação executiva do jornal britânico Financial Times, a Funda­ ção Dom Cabral (FDC) destaca-se pelo esforço de inserir a sustentabilidade de forma transversal no currículo, isto é, garantir que o conceito não fique restrito a algumas disciplinas, mas seja um di­re­cio­na­dor metodológico, um elo entre con­teú­dos. A fim de envolver professores e dirigentes de modo efetivo com o tema, criou-se, em 2011, o programa Educação Transversal na FDC : Ciclo Sustentabilidade,

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ba­sea­do na premissa de que enquanto o conceito fosse algo apenas tangente aos cursos e à própria gerência da escola, assim também seria tratado no dia a dia das empresas e nas tomadas de decisão. “Quan­do começamos a desenvolver especificamente o tema da sustentabilidade na FDC , cria­ram-se o Núcleo de Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa e o Comitê de Sustentabi­ lidade, cujo objetivo era tornar as atividades da escola cada vez mais relevantes para a so­cie­da­de. Ao mesmo tempo em que tínhamos de gerar conhecimento externo para os clien­tes, precisávamos também do interno para desenvolver uma gestão sustentável na própria instituição. Assim, ma­pea­mos stakeholders, formamos lideranças e cria­mos programas internos de capacitação a fim de am­pliar nosso po­ten­cial de produzir soluções educacionais capazes de responder às demandas sociais”, conta Maria Raquel Grassi, gerente de Projetos da FDC .

Muitas instituições ainda não se convenceram da necessidade de incluir em seus programas de ensino a noção do triple bottom line. Algumas se mantêm na defensiva, preferem não alterar os métodos consagrados; outras começam a perceber a demanda pelo tema, mas tentam supri-la com medidas pontuais, como disciplinas específicas. A FDC encontrase entre as que, além de oferecer cursos focados no tema, buscam trabalhá-​­lho de forma trans e interdisciplinar. “Um núcleo de sustentabilidade, ob­via­men­te, não tem um conhecimento completo. Mas, se um professor de Estratégia, com profundo con­teú­do sobre planejamento e riscos, com­preen­der onde seu saber se cruza com a sustentabilidade, passará a di­re­cio­nar suas aulas para essa fusão. O mesmo pode acontecer com um professor de Marketing ou Finanças. É o objetivo do programa de educação transversal: colocar nossos colaboradores na mesma perspectiva. Que­ría­mos levar professores e gerentes a esse entendimento. O primeiro passo do módulo ini­cial foi desmistificar o conceito e oferecer ferramental teó­ri­co; no segundo módulo, estimulamos práticas; e, no terceiro, compartilhamos ex­pe­riên­ cias. Houve resistência, claro, mas, desde


Paulo Márcio

a cria­ção do Comitê, os professores estavam cien­tes de que pre­ci­sa­riam desenvolver com­pe­tên­cias nessa área”, conta Maria Raquel. Signatária do Pacto Global da ONU, da Liderança Globalmente Responsável (GRLI) e dos Prin­cí­pios para a Educação Em­pre­sa­ rial Responsável (PRME ), a FDC acompanha há anos as discussões sobre sustentabilidade e o crescimento da demanda do em­pre­sa­ria­do por uma formação executiva preparada para lidar com os de­sa­ fios socioambientais. Afinal, uma governança voltada para o triplo resultado

Maria Raquel Grassi Gerente de Projetos da Fundação Dom Cabral

“Buscamos a ampliação da perspectiva do nosso estudante sobre seu papel na sociedade. Não trabalhamos apenas sua importância como gestor para a geração de lucro empresarial. Além de dar resultados para a companhia onde trabalha, nós o desafiamos a usar sua condição de poder e conhecimento para melhorar o ambiente.” (econômico, so­cial e am­bien­tal) passou a in­f luen­ciar as escolhas do consumidor e tornou-se critério importante de acesso a crédito, assim como fator de di­fe­ren­cia­ ção nas bolsas de valores internacionais. Com vistas a essa demanda externa, a escola desenvolveu o Programa Ges­ tão Responsável para a Sustentabili­ dade, para facilitar a implementação dos múltiplos conhecimentos ne­ces­sá­rios à aplicabilidade do tema nas empresas. A ini­cia­ti­va visa desenvolver a liderança in­di­vi­dual dos participantes, am­pliar seus propósitos, oferecer suporte teó­ri­co e ferramental e ajudar na identificação de

seu papel dentro das novas perspectivas do negócio. O desafio da FDC é justamente cor­ re­la­cio­nar conhecimentos acadêmicos e demandas específicas de clien­tes para formar profissionais — executivos, em­pre­ sá­rios e gestores públicos — capazes de encontrar soluções inovadoras ba­sea­das no triplo resultado e planejadas com foco no tema desde os níveis estratégicos até o ope­ra­cio­nal. A gestão da sustentabilidade pode ser uma etapa entre as propostas desenvolvidas para determinada empresa ou a organização pode optar por um programa cria­do es­pe­cial­men­te para ela, customizado, considerandose contextos, de­sa­f ios e oportunidades. “Às vezes, nosso clien­te nem chega a men­cio­nar questões ‘verdes’. Mas nosso gerente, tendo passado pelo programa de transversalização, está atento para fazer perguntas e provocações nesse sentido durante a conversa. Assim, muitas vezes a empresa reconhece a importância e pede para incluirmos o tema na sua demanda”, afirma Maria Raquel. Articulada no cenário in­ter­na­cio­nal, a FDC tem acesso a grandes centros produtores de tecnologia de gestão e a modernas correntes do pensamento em­pre­sa­rial. E utiliza-se de seus 36 anos de ex­pe­riên­cia para estabelecer diá­lo­go com organizações a fim de integrar objetivos educacionais, corporativos, sociais e ambientais. A meta é colocar a sustentabilidade no centro da discussão edu­ca­ cio­nal, tornando-a fonte de motivação para os ne­gó­cios. Nesse contexto, surgem tanto par­ ce­rias voltadas ao desenvolvimento de comunidades carentes — para agregar valores aos alunos — ou projetos de valorização de em­p reen­d e­d o­res, que geram impactos socioambientais positivos, como também importantes nú­cleos de geração de conhecimento, tais como o Núcleo de Governança Corporativa e o Núcleo Vale de Desenvolvimento de Liderança.

Um dos mais importantes, o Núcleo Petrobras de Sustentabilidade é focado na antecipação de ten­dên­cias e demandas advindas da crescente cons­cien­ti­za­ ção sobre a importância do desenvolvimento sustentável e sua relação com a perenidade dos ne­gó­cios. Cria­do em 2004, produz conhecimento sobre o tema e desenvolve programas para a formação de profissionais a partir dos valores sociais e ambientais. Além disso, o Núcleo investe esforços significativos na cria­ção e operação do Centro de Referência em Gestão Responsável para a Sustentabilidade, em­p reen­d i­m en­t o que busca “induzir a sustentabilidade das pes­soas, dos ne­gó­cios, da so­cie­da­de e do planeta”, valendo-se da cons­cien­ti­za­ção de lideranças organizacionais sobre suas po­ten­ cia­li­da­des e responsabilidades. “Cada vez mais o estudante precisa ter uma visão sistêmica, um pensamento holístico. Antes, gerir era uma atividade totalmente voltada para dentro da organização; mas, agora, qualquer pessoa que ingresse no mercado de trabalho — e as que já estão nele — precisa desenvolver uma nova perspectiva, capaz de com­ preen­der o entorno, suas preo­cu­pa­ções e necessidades. Buscamos promover isso. Se o estudante am­pliar seu olhar e vi­sua­ li­zar melhor os impactos das suas decisões — para além das fronteiras institucionais —, ele estará mais apto a ­atuar nos complexos de­sa­f ios atuais.” (Fábio Congiu)

Para Saber M ais Fundação Dom Cabral Campus Aloysio Faria Av. Princesa Diana, 760, Alphaville, Lagoa dos Ingleses, Nova Lima, MG Tel.: (31) 3589 7300 / 4005 9200 (principais capitais), 0800 941 9200 (demais localidades) portal@fdc.org.br www.fdc.org.br JUNHO 2013

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Divulgação

ESPECI A L Educação Fundação Getúlio Vargas

Optar pelo futuro Disciplina eletiva alia desenvolvimento profissional com pessoal para gerar ideias e soluções sustentáveis

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a Fundação Getúlio Vargas (FGV), todos os alunos a partir do quinto semestre de Administração de Empresas, Administração Pública, Economia e Direito podem optar pela Formação Integrada para a Sus­ tentabilidade (FIS). Transdisciplinar, o curso eletivo busca envolver os estudantes com os de­sa­f ios e oportunidades do tema a partir de um em­preen­ di­men­to real (o Projeto Referência): eles analisam a proposta, refletem sobre ela, criticam e sugerem me­lho­rias e soluções aos envolvidos diretos e também demais stakeholders. Para tanto, durante seis meses, os alunos passam não só por atividades focadas no desenvolvimento

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pro­f is­sio­nal, mas também, no pes­soal, o chamado Projeto de Si Mesmo. “Na formação para a sustentabilidade, percebemos a necessidade de incentivar a emergência do sujeito, ou seja, promover o conhecimento que o indivíduo tem de si, da sua relação consigo mesmo, com o outro e com o planeta. Buscamos, assim, condições para provocá-lo: mais do que artigos cien­tí­f i­cos, livros, pesquisas, era indispensável que trabalhássemos com a rea­li­da­de, com todas as surpresas e cu­rio­si­da­des que o dia a dia nos traz; afinal, o co­ti­dia­no não é exato, controlável. Focamos a ‘razão ex­pe­rien­cial’”, explica Érica Miranda de Toledo Gallucci, coor­de­na­do­ra do FIS . A disciplina surge de uma crescente demanda pela incorporação da sustentabilidade aos currículos acadêmicos — enquanto empresas tendem a cobrar cada vez mais conhecimento sobre o tema de seus fun­cio­ná­rios, ingressan-

tes no mercado de trabalho preferem com­pa­nhias com busca efetiva por uma gestão sustentável ou, no mínimo, preo­ cu­pa­ções sociais e ambientais. As universidades, portanto, precisam se antecipar e fazer a melhor e mais atua­li­za­da conexão entre esses dois agentes. Nesse sentido, há três anos a FGV é signatária dos Prin­cí­pios pela Educação Em­pre­sa­rial Responsável (PRME , na sigla em inglês) — lançados em 2007 pela Organização das Nações Unidas —, que visam promover ini­cia­ti­vas para um modelo edu­ca­cio­nal di­fe­ren­cia­do. A universidade entregou esse desafio à sua Escola de Administração de Empresas, que, por meio do Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces), desenvolveu um modelo sistêmico, integral, plural. “Vimos que educação deveria ser um processo mais formativo, de longo prazo. Não queríamos um professor de um lado e um aluno recebendo informação do


Luiza Xavier

outro, mas, sim, ­criar condições para promover uma transformação legítima de atitudes. Como premissa, te­ría­mos de mudar o paradigma de percepção dos in­di­ví­duos, que, por sua vez, pas­sa­riam a perceber o mundo de forma diferente e a responder a ele de modo condizente com a sustentabilidade”, conta Érica. Embora vindos de cursos diversos, os fisers (como são conhecidos os alunos do FIS) não ­atuam de forma segmentada. Pelo contrário, valem-se da ampla gama de conhecimentos para dia­lo­gar, trocar ex­pe­riên­cias, enriquecer ideias ou propostas e atingir o mesmo objetivo.

Érica Miranda de Toledo Gallucci Coordenadora do FIS

“A sustentabilidade não tem histórico. Pelo contrário, nosso histórico não nos levou à sustentabilidade. Então, não se trata de voltar ao passado para projetar o futuro, mas, sim, de olhar o futuro e, a partir dele, criá-lo.” ­ liás, o principal critério de seleção para A o programa, ao contrário do que acontece tra­di­cio­nal­men­te, não é nota, mas diversidade. “É de São Paulo ou de outro estado? É muito ou pouco comunicativo? É ligado ao tema da sustentabilidade ou cético? Ambas as opções nos interessam”, considera Érica. As turmas têm entre 16 e 22 alunos; a procura chega a uma média de 55 por semestre. Um dos principais diferenciais da disciplina é a aplicação da Teo­r ia U, de Otto Scharmer. A partir do preceito de aprender com mente, coração e vontade abertos, isto é, sem pré-​­julgamentos, com senso emo­cio­nal e desapegados de velhas identidades, os alunos são incentivados a compartilhar seus saberes, expandi-​­los e a se reconectar com o planeta. O programa conta com uma metodologia que vai além da sala de aula — promove debates temáticos, visitas de

campo, dinâmicas de grupo e indicações de filmes e livros. Na ava­lia­ção dos docentes, os métodos tradicionais não possibilitam a imersão necessária aos alunos para entenderem a complexidade dos problemas a que são apresentados. “O FIS exige muito dos participantes. A maior parte dos trabalhos acontece fora dos encontros (como denominamos as aulas). Há uma macro e uma microimersão ao longo do pe­río­do, fundamentais para a evolução no curso”, destaca Érica. O programa encontra-se na sétima edição e, já de início, no primeiro semestre de 2010, escolheu um tema extremamente complexo: grandes em­preen­di­ men­tos na Amazônia e as comunidades do entorno. O projeto-​­referência estava ligado à construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, em Altamira (PA ). Os alunos via­ja­ram ao Norte do país e puderam questionar com mais preparo, por exemplo, a via­bi­li­da­de econômica e a efi­ ciên­cia na produção energética da obra, além de identificar seus impactos sobre a bio­di­ver­si­da­de e vi­ven­ciar as culturas, po­ten­cia­li­da­des e necessidades locais. No itinerário do FIS , há também passagens por Mato Grosso, Cea­rá, Goiás, Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina. Em cada estação, um quadro diferente e uma va­ria­da série de ideias e soluções, sempre discutidas pelos vie­ses econômico, social e ambiental. Os de­s a­f ios enfrentados ao longo da jornada envolveram desde propostas para um plano de inclusão so­cial de comunidades financeiramente ex­cluí­das até um fundo de apoio à agricultura fa­mi­liar e a idea­li­za­ ção de um polo de tecnologia limpa. Não se trata apenas de analisar um em­preen­di­men­to e oferecer respostas rápidas para suas de­f i­ciên­cias, mas sim, de conhecer todas as partes re­la­cio­na­ das, colocar-se no lugar do outro antes de agir, considerar os interesses envolvidos nas tomadas de decisão. “Que­re­mos levar o aluno a entender o que forma a sua ação. Como ele devolve os de­sa­f ios enfrentados? O que sente durante o processo? Nós ‘transatravessamos’ a fronteira entre o acadêmico e o não acadêmico”, diz a coor­de­na­do­ra do curso.

A quinta turma do FIS , por exemplo, trabalhou o fornecimento na cadeia de valor das atividades mineradoras: como geri-​­los e como desenvolvê-​­los. Os alunos conheceram de perto vá­rias obras da Votorantim Metais, Anglo American e Kinross, onde buscaram informações, com­preen­de­ram os inúmeros pontos de vista de atores relevantes e se aprofundaram no tema. Assim, puderam ­criar uma política que garantisse condições para que as empresas brasileiras do setor primário tornem-se personagens principais na promoção da sustentabilidade em suas cadeias de suprimentos. O grupo se autobatizou com o nome de Synco — sim­bio­se e coo­pe­ra­ção —, pautado pela ideia de que, numa ini­cia­ti­va sustentável, toda produção deve ser compartilhada tanto entre as gerações presentes quanto com as futuras. “Como organizadores do FIS , temos a função de me­diar conhecimento, de ­criar condições para que o saber aflore e a formação aconteça. O po­ten­cial dos alunos é enorme. A educação como um todo deveria se preo­cu­par muito mais em alimentar do que em tolher, ou seja, dar espaço para que eles falem, apresentem, explorem, olhem, trabalhem no nível do sensível, ajam a partir do que os toca, botem a mão na massa. Os fisers são cobrados como profissionais, não como estudantes. Mais cedo ou mais tarde, o mercado vai perceber que precisa desse perfil. Muitas empresas já os buscam, inclusive. Ter pes­soas com um outro olhar, uma outra postura em relação à gestão, à vida, à com­preen­s ão do humano é fundamental. Em suma, estamos falando da promoção de uma nova cultura.” (Fábio Congiu)

Para Saber M ais Fundação Getúlio Vargas Formação Integrada para a Sustentabilidade (FIS) Avenida 9 de Julho, 2029, 11-º andar, Bela Vista, São Paulo/SP Tel.: (11) 3799-3342 ces@fgvsp.br www.fgv.br/ces JUNHO 2013

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Moa Sitibaldi

ESPECI A L Educação Universidade Metodista

Resignificando a educação Programa Metodista Sustentável envolve toda a universidade com o tema, desafiando professores e alunos a desenvolver novas formas de ensino e aprendizagem

S

empre que os colaboradores da Universidade Metodista eram ouvidos no processo de concepção do plano pedagógico, notava-se uma demanda por ini­cia­ti­vas de sustentabilidade na instituição. “Tudo o que estava por vir partia de um desejo geral de mudança, não de um simples comando da diretoria. Fosse de outro jeito, não te­ría­mos os mesmos resultados”, afirma Waverli Neuberger, coor­d e­na­d o­r a do Programa Metodista Sustentável.

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Ini­cia­do em 2008, o PMS é um plano de ação de longo prazo que visa alinhar o conceito de sustentabilidade em todos os cursos e disciplinas da universidade ao passo que também busca torná-la uma prática diá­ria na instituição para possibilitar uma educação do aluno pelo exemplo — da teo­ria em sala de aula à concretização nos campi. Na primeira frente, a Metodista capacitou professores, diretores, fun­cio­ná­rios, inovou métodos e incentivou mudanças; na segunda, tomou medidas para minimizar sua pegada ecológica. Desde 2002, o Núcleo e Agência Am­b ien­t al (NUAM ) já abordava uma série de questões ecológicas, com projetos de pesquisa e extensão focados no tema; já o programa usado pela instituição para ouvir as opi­niões dos fun­cio­ná­

Resultado de uma década de diálogo intercultural, é uma declaração de princípios éticos fundamentais para a construção de uma sociedade global justa, sustentável e pacífica. Busca espalhar um sentido de interdependência geral e de responsabilidade compartilhada para o bem-​­estar humano hoje e das futuras gerações

rios, desde 2006, sempre captava ideias de sustentabilidade — havia, portanto, um terreno fértil para a adoção do conceito como um valor transversal. Assim, em 2008, constituiu-se um comitê com a participação dos cinco pró-​­reitores para articular as mudanças. O primeiro passo do programa foi estabelecer o que era sustentabilidade para a universidade — afinal, existem mais de 300 conceituações. A Carta da Terra foi a ideia mais próxima do pensamento


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Waverli Neuberger Coordenadora do Programa Metodista Sustentável

“Trabalhar com sustentabilidade não é nada simples. Exige mudar de atitude. Começa em cada um de nós. O convite à mudança é sempre difícil. É preciso estar maduro para aceitá-lo. Muitos professores desistiam da formação no tema e, depois, voltavam dispostos a encarar os desafios. É muito emocionante ver a comunidade acadêmica — pautada pela segmentação científica — unindo-se em torno de uma mesma causa.” da escola. O conceito somou-se, assim, aos dois prin­cí­pios articuladores das políticas da Metodista — valores que devem perpassar todas as atividades acadêmicas: con­fes­sio­na­li­da­de e bem comum. Para inserir a sustentabilidade na gra­ dua­ç ão, realizou-se um ma­p ea­m en­to com professores e diretores de todas as unidades para entender como o conceito se re­la­cio­na­va com e entre os cursos. “Reduzir o tema a uma disciplina específica o colocaria numa pauta secundária. Os alunos te­riam de falar sobre ele com um ‘professor de sustentabilidade’. Isso distancia, acaba com a inspiração, não motiva ninguém”, explica Waverli, que cursou Educação para a Sustentabilidade no Schumacher College, na Inglaterra. O ­ideal, portanto, seria cada professor, em sua área específica, tratar do tema. Nesse sentido, nasceu o curso de Formação de Lideranças para Edu­ cação na Sustentabilidade no Ensino Su­pe­rior (FLESES). Cerca de 70 docentes de todos os cursos e faculdades foram se­le­cio­na­ dos pela administração para participar

da FLESES e, com isso, compor o time que daria o pontapé ini­cial ao Programa Metodista Sustentável. Um módulo preparou-os teo­r i­c a­m en­te. Chamado Crian­do o Futuro, consistia em definir como a atua­ç ão de cada um estava ligada ao que era sustentabilidade para a escola e como po­de­riam inserir práticas nas aulas. Ao final da formação, cada um apresentava o seu novo plano. Porém, ao com­preen­der o quão novo era o tema, os professores solicitaram outro módulo, que oferecesse me­to­do­lo­gias inovadoras para trabalhar em sala. Surgiram, assim, cerca de 40 formas diversas de atividades lúdicas, reflexivas, interativas, artísticas, que mostram ao aluno a sustentabilidade como valor. De­sa­f ia­dor, o tema também promoveu o interesse pela pesquisa. Os docentes têm buscado conhecê-lo cada vez mais para refletir sobre suas pró­prias ações e (re)pensar os con­teú­dos trabalhados com os alunos. O NUAM passou a ser um Núcleo de Sustentabilidade e, hoje, é um centro que congrega 27 professores de toda a universidade para começar a desenvolver projetos de pesquisa comum, de extensão e de educação para a sustentabilidade. Atual­men­te, delineia-se uma cultura or­ga­ni­za­cio­nal sustentável e, por consequência, uma resignificação do papel do professor. Motivadas, três estudantes da Metodista participaram — e venceram! — o Desafio Santander de Sustentabilidade, em 2010, recebendo, como prêmio, uma bolsa de estudos de duas semanas para o curso de Em­preen­de­do­ris­mo na Babson College, em Boston, nos Estados Unidos. Além disso, a universidade foi convidada pela Carta da Terra, em 2012, para fazer a campanha de comunicação da sua mensagem para a ­Rio+20. “Trata-se de indicadores externos de que estamos no caminho certo”, avalia a coor­de­na­do­ra. Na diretriz de educar pelo exemplo, a Metodista tomou medidas administrativas e financeiras para tornar os campi mais sustentáveis. Um amplo diag­nós­ ti­co foi rea­li­za­do para ava­liar e mensurar

o uso de água, energia e as emissões de gases de efeito estufa. Em dois anos, os gastos com a água foram reduzidos em 20%. “No começo do monitoramento, não tínhamos com quem comparar os dados. Nada disso havia sido feito no Brasil”, destaca Waverli. Houve diminuição, ainda, no desperdício e no descarte de re­sí­duos químicos de laboratório, e o próximo passo é desenvolver um projeto focado nos re­sí­duos sólidos. O propósito dessas medidas não era apenas economizar, mas também reforçar nos alunos a importância de se integrar a sustentabilidade ao dia a dia e à ideia de que é possível, sim, fazer isso em qualquer si­tua­ção. Segundo Waverli, a geração ­atual — embora consumista — é muito antenada, cien­te da importância do tema. Portanto, é fácil engajá-la, mas, se não for oferecida a possibilidade de aprender sempre, de contar com os professores independentemente das disciplinas, a chama se apaga. Afinal, sustentabilidade aprende-se em conjunto. “Para mim, o maior desafio foi aprender a co­criar, pois isso implica abrir mão do controle dos processos. O poder está entranhado nos métodos tradicionais, mas nosso projeto não poderia fluir se alguém tentasse controlá-lo. É preciso contemplar a diversidade. Vejo na Metodista, hoje, o início de uma com­preen­ são holística, um entendimento mais profundo da responsabilidade de cada um sobre a condição ­atual do planeta. Vejo também o surgimento de uma noção de ‘eu posso mudar’”, compartilha Waverli. (Fábio Congiu)

Para Saber M ais Universidade Metodista – Programa Metodista Sustentável Rua Alfeu Tavares, 149, Rudge Ramos, São Bernardo do Campo, SP, CEP 09641-​­000 Tel.: (11) 4366-​­5000 (Grande São Paulo) / 0800 889 2222 (demais localidades) ari@metodista.br www.metodista.br JUNHO 2013

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ESPECI A L Educação Grupo Ânima

Divulgação

Múltiplas ações, um só foco

Grupo Ânima promove iniciativas em suas instituições de ensino com vistas a educação e sociedade sustentáveis

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ransformar o país pela educação.” A missão até poderia soar clichê ou vaga, não fosse pelo fato de ter a sustentabilidade como um sólido di­fe­ren­cial. Mantenedor dos centros uni­ ver­si­tá­rios Unimonte (Santos/SP), Una e UniBH (Belo Horizonte/MG), o Grupo Ânima destaca-se por ser signatário do Pacto Global, da Carta da Terra e dos Prin­

Maurício Escobar Vice-​­presidente do Grupo Ânima

“Vemos a sustentabilidade como um tema transversal e aplicado, isto é, presente em diferentes cursos e conteúdos e cujo aprendizado deve basearse em ações e projetos reais, mais do que em conceitos e teorias. Isso transforma profundamente os modelos educacionais tradicionais e implica uma revisão não só das estruturas acadêmicas, mas do próprio papel dos docentes no processo.” 44

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cí­pios pela Educação Em­pre­sa­rial Responsável — PRME (ini­cia­ti­va da ONU para promover prin­cí­pios e políticas socioambientais na educação de atuais e futuros administradores) e pelo consequente incentivo à diversidade, valorização das pes­soas e ao desenvolvimento sustentável em sua gestão e práticas educacionais. “Vivemos um momento de profundas transformações na educação. Os modelos tradicionais não são efi­cien­tes para as novas gerações — nativas digitais e com acesso ilimitado à informação. Temos de identificar novos formatos. Esse contexto de mudança radical levou-​­nos à pesquisa aprofundada a respeito dos rumos do pensamento sobre sustentabilidade. A educação não pode estar à parte dos debates de propostas inovadoras para o desenvolvimento da so­cie­ da­d e”, afirma Maurício Escobar, vice-​ ­presidente do grupo. Em 2009, o Projeto Acadêmico Ânima já propunha tornar a sustentabilidade eixo transversal das estruturas curriculares dos cursos oferecidos para fazer do tema um “­ideal coletivo” das instituições e formar alunos mais éticos. Aprender pela prática, sem economizar na pesquisa, é um dos principais objetivos — e de­sa­f ios — do Grupo Ânima. “Mais do que conhecimento específico sobre sustentabilidade, o mercado requer um pro­f is­sio­nal antenado com a nova rea­li­da­de, que saiba agir em equipe. Trata-se de uma demanda por atitude sustentável, não exatamente por um saber teó­ri­co”, explica Escobar.

O Núcleo de Sustentabilidade e Inovação do Grupo Ânima promove incontáveis ações para inserir o tema no dia a dia de colaboradores e alunos. Pre­ mia­ções envolvem estudantes de diversas ­áreas em ini­cia­ti­vas que superam os muros das escolas e os conectam com a so­cie­da­de e o meio am­bien­te. Para se ter uma ideia da multiplicidade, há dois anos, por exemplo, o Prêmio de Sustentabilidade Una identifica e reconhece trabalhos interdisciplinares de responsabilidade so­cioam­bien­tal e incentiva o protagonismo jovem. Na Unimonte, o Prêmio Petrocoque estimula desde campanhas de construções sustentáveis até uma “ceia natalina caiçara”. A instituição também mantém um Centro de Tria­gem de Animais Selva­ gens, que recebeu, em um ano, mais de 2,2 mil animais. Em 2012, cerca de 200 alunos do Ensino Médio participaram de debates na UniBH sobre temas da ­Rio+20, a fim de promover reflexões diversificadas sobre desenvolvimento sustentável. “Tratamos de duas dimensões importantes: na referente ao campus, promove-se a verificação e a ação sobre o impacto ecológico e so­cial de nossas unidades educacionais, abrangendo temas como uso de energia e destinação de re­sí­duos. Já na dimensão da comunidade, referimo-​ ­nos à identificação e integração de todos os stakeholders envolvidos com a nossa presença na sua re­gião”, diz Escobar. Mais do que refletir, perceber, sentir e compartilhar adquiriram importante significado nos processos de ensino e aprendizado. Não bastam análises racionais e estudos de caso. São também essenciais pontos de vista diferentes, conflitos de ideias, diá­lo­gos. Assim, o Ânima segue em busca da coa­pren­di­za­gem. (Fábio Congiu)

Para Saber M ais Grupo Ânima Escritório em São Paulo Av. Eng. Luís Carlos Berrini, 1297, cj 22, São Paulo/SP – CEP: 04571-​­932 Tel.: (11) 5105-​­4444 www.animaeducacao.com.br


Arquivo IPÊ

ESPECI A L Educação Escas – Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade

Caminho longo, tempo curto

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á mais de 20 anos, quando eram dados os primeiros passos rumo à uma preo­cu­pa­ção global com as condições ambientais do planeta, na Eco 92, o professor Cláu­dio Pádua já compartilhava com alguns amigos o sonho de ­criar uma escola dedicada ao tema. No mesmo ano daquela conferência, fundou o IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas), OSCIP com sede em Nazaré Paulista (SP), que promove pesquisas cien­tí­f i­cas e projetos ligados ao desenvolvimento sustentável. No entanto, só quase duas décadas depois, viu fechada a primeira turma da Escas (Escola Su­pe­rior de Conservação Am­bien­tal e Sustentabilidade). “Por volta de 2005, todos os colegas presentes desde o início do IPÊ já tinham doutorado ou estavam prestes a concluílo. Ha­vía­mos am­plia­do nosso escopo para além da conservação am­bien­tal. O mundo também. O sonho amadureceu. Então, cria­mos o Mestrado Pro­fis­sio­nal em Con­ servação da Bio­di­ver­si­da­de e Desen­ volvimento Sustentável. Como ainda não tínhamos espaço nem orçamento,

Cláudio Pádua Cláudio Rossi

Ampliar escala de cursos é fundamental para que a velha economia dê espaço à nova, diz reitor da Escas

Reitor da Escas

“A mudança para a sustentabilidade acontece como uma troca de pneus feita com o carro andando. É preciso atuar em várias frentes ao mesmo tempo. As empresas e instituições querem trabalhar o tema, mas ainda precisam formar as pessoas, criar departamentos, gerir novas ideias. Uma coisa deve suplementar a outra.” a primeira turma foi formada em 2008”, conta Pádua, atual­men­te reitor da Escas. Para produzir conhecimento, capacitar pes­soas e formar líderes capazes de enfrentar os de­sa­f ios socioambientais cada vez mais complexos, a escola conta com 14 docentes permanentes, cerca de 50 colaboradores externos de renomadas instituições e diferenciais metodológicos de ensino e aprendizado. Os mestrandos, por exemplo, vivem durante um ano no campus de Nazaré Paulista, numa re­gião conhecida pelas riquezas e belezas naturais, bem como por abrigar os

re­ser­va­tó­rios do Sistema Cantareira, que fornece água a cerca de 20% da população do Estado de São Paulo. O mesmo curso é oferecido em formato modular exclusivamente a profissionais atuan­tes no extremo sul da Bahia. Implantar as atividades na re­gião foi possível, em grande parte, devido a par­ce­rias com a Fibria e o Instituto Arapyaú. “Em São Paulo, predominam turmas mais novas, com boa formação, mas pouca ex­p e­r iên­cia; lá, os alunos chegam com muitos conhecimentos e teo­rias, de olho na prática”, descreve Pádua. A Escas apresenta como um de seus principais diferenciais justamente essa visão prática: investe muito em teo­ria e pesquisa — afinal, tem forte relação com o IPÊ —, mas foca a ação. Como ss alunos moram na universidade, consequentemente convivem com seus projetos e ini­cia­ti­vas. Aprendem a trabalhar em equipe, comunicar, so­lu­cio­nar, ­atuar nas ­áreas de restauração de florestas, re­sí­ duos sólidos, conservação de água, entre outras. Os trabalhos produzidos abordam os mais diversos temas — de ava­ lia­ção de impactos ambientais a turismo com base comunitária — e são disponibilizados no portal da escola. Embora destaque a existência de uma crescente demanda do mercado por profissionais com formação em sustentabilidade, Pádua ressalta que am­pliar a escala dos cursos ainda é o maior desafio. Faltam políticas públicas que contemplem o tema. “Se não aumentarmos os recursos e possibilidades de estudo, a velha economia não abrirá espaço para a nova. Temos um longo caminho pela frente, mas pouco tempo”, adverte Pádua. (Fábio Congiu)

Para Saber M ais Escas – Escola Superior de Conservação Ambiental e Sustentabilidade Rod. Dom Pedro I Km 47, Caixa Postal 47, Nazaré Paulista, SP, CEP 12960-​­000 Tel.: (11) 4597-​­1327 mestrado@ipe.org.br www.ipe.org.br/mestrado JUNHO 2013

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OPINI ÃO : Educação de Lideranças Por Aileen Ionescu-​­Somers e Francisco Szekely

Preparando líderes para os novos tempos

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oje, mais do que nunca, não se trata mais de uma questão de “seria bom ter”, mas sim de “temos que ter” líderes de sustentabilidade encabeçando empresas e setores. A recente crise financeira mostrou que os sistemas de valores subjacentes ao mundo dos ne­gó­cios precisavam ser revistos se­ria­men­te, assim como todo nosso sistema corporativo. E um elemento positivo resultante disso é o incentivo, por parte de líderes de ne­gó­cios, na implementação da responsabilidade corporativa como uma “norma” em empresas modernas no pós-​­crise. Certamente, essa é uma área para a qual as escolas de ne­gó­cios podem real­men­te fazer a diferença. No entanto, estão fazendo, de fato? As escolas de ne­gó­cios estão contribuindo para construir outro paradigma? Antes de abordar essas questões, vale primeiro considerar a a­ tual si­tua­ção da integração estratégica da sustentabilidade nas empresas. O IMD, na Suí­ça — uma das principais escolas de ne­gó­cios do mundo —, tem rea­li­za­do grandes pesquisas empíricas sobre o tema ao longo da última década. Constatou-se que muitas empresas globais estão firmemente ancoradas aos modelos de negócio “antigos” e que gerentes funcionais internos resistem à mudança. Isso acontece, principalmente, devido às mentalidades fixas ou de curto prazo, mas também às lacunas de conhecimento e má com­preen­ são de como a sustentabilidade pode ser integrada de forma relevante no dia a dia das operações. Portanto, a inovação estratégica para a sustentabilidade tem se mantido incremental: pequenos passos ne­ces­sá­rios para enfrentar questões-​­chave, como mitigação das mudanças climáticas, redução das amea­ç as aos recursos naturais ou a melhoria da

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equidade global ao abordar, de forma adequada, questões dos direitos humanos e combate à pobreza. Apesar de todo o alvoroço da sustentabilidade, uma inovação estratégica mais radical continua sendo da competência de poucos líderes em cada setor. A transformação completa dos modelos de ne­gó­cios — que talvez seja a única maneira de se ­criar um sistema sustentável — pode sequer estar perto de acontecer.

A quantidade de iniciativas para apoiar as escolas e universidades na programação de ações mais focadas na sustentabilidade indica que ainda há muito a ser feito nessa área. Uma inibição semelhante sobre a transformação de modelos permeia as escolas de ne­gó­cios. A quantidade de ini­cia­ti­vas para apoiar as escolas e universidades na programação de ações mais focadas indica que ainda há muito a ser feito nessa área. O Pacto Global das Nações Unidas criou os Prin­cí­pios para Educação Em­p re­s a­r ial Responsável (PRME , na sigla em inglês), cuja missão é “inspirar e incentivar globalmente a gestão responsável da educação, pesquisa

e liderança”. A Academy of Business in Society (ABIS) é uma “rede de empresas globais, e as principais escolas de ne­gó­ cios, comprometida com a integração em­pre­sa­rial sustentável nos ne­gó­cios e na investigação de políticas, educação executiva e gestão da educação”. A Ini­cia­ti­va de Liderança Global­ mente Responsável (GRLI) — que representa empresas, escolas de ne­gó­cios e centros de educação para a liderança — foi formada pela Fundação Europeia para o Desenvolvimento da Gestão (EFMD), e apoiada pelo Pacto Global. Por fim, a ini­cia­ti­va 50+20, uma colaboração entre escolas de ne­gó­cios que buscam novas formas e oportunidades para a gestão da educação para transformar e reinventar-se, descreve a “escola de ne­gó­cios do futuro” em um livro programado para ser publicado ainda no primeiro semestre de 2013. A jornada do IMD

Em 1993, o IMD criou a primeira ini­cia­ti­va de pesquisa de gestão am­bien­tal com foco em ações estratégicas das empresas além da conformidade. Em 2000, tornou-se uma plataforma dinâmica de pesquisa e ensino orien­ta­da por empresas. Na mesma época, tornou-se sócio-​ ­fundador da ABIS , men­cio­na­da acima. Recentemente, passou a integrar o PRME da ONU. Em meio à ­atual crise financeira global, o IMD colocou a liderança em sustentabilidade em outro patamar dentro da escola de ne­gó­cios — crian­do um Cen­ tro Global para a Liderança em Sus­ tentabilidade (CSL ), com uma cadeira dedicada, e integrando-a à plataforma de ensino de empresas e parceiros globais. O objetivo é reunir, sob um mesmo foco, atividades de pesquisa e aprendizagem


que estão sendo rea­li­za­das pela instituição e seus parceiros de ensino, e abordar de forma holística as três maneiras com que as escolas de ne­gó­cios podem contribuir para preparar líderes para a sustentabilidade: a liderança, a pesquisa e prática relevante e a integração de programas para executivos. Liderança

Atual­men­te, não existe uma definição global do que real­men­te signifiquem a responsabilidade corporativa e a liderança responsável. Por exemplo, a diferença de interpretação da “responsabilidade so­cial das empresas” entre Estados Unidos e Europa é um grande desafio que precisa ser re­me­dia­do. O CSL trabalha uma grade de liderança que vai harmonizar o conceito da responsabilidade em­pre­sa­rial. Para tal, o Centro assume uma abordagem pragmática com base na relevância econômica dos ne­g ó­c ios de indicadores sociais e ambientais e do desdobramento de oportunidades de ne­gó­cios re­la­cio­na­dos. Cegas pelo pensamento de curto prazo, muitas empresas não estão tratando adequadamente importantes indicadores de sustentabilidade. Para alterar o quadro, as discussões da sustentabilidade em­pre­sa­rial precisam se tornar estratégicas e focar em garantir que soluções ba­sea­das no mercado façam uma verdadeira diferença. Os de­sa­f ios são: dar mais prio­ri­da­de à sustentabilidade na agenda da liderança corporativa, adotar modelos de ne­gó­ cios sustentáveis e programar isso de forma efi­cien­te. A plataforma de ensino CSL rea­li­za uma mesa-​­redonda de liderança sobre temas-​­chave, como os de­sa­f ios da sustentabilidade que afetam os recursos

naturais e soluções inovadoras re­l a­ cio­na­das, ou sobre a identificação de oportunidades de inovação estratégicas referentes às questões climáticas e energéticas. As mesas-​­redondas permitem acompanhar a dinâmica da liderança nessas ­áreas, espalhar o conhecimento entre os gestores e re­la­cio­nar essa dinâmica ao con­teú­do dos programas de liderança de alto nível do IMD.

O comportamento social e ambientalmente responsável deve estar integrado aos sistemas de negócios como parte da atividade cotidiana da empresa. Com membros corporativos dinâmicos e de p eso, como Nestlé, Unilever, ABB, Bombardier, Novartis e Hoffmann-La Roche, a plataforma de ensino CSL mantém-se atua­li­za­da nessa área tão acelerada de interesses acadêmico, público e em­pre­sa­rial. Ao monitorar e documentar como as empresas superam as barreiras à integração estratégica da sustentabilidade, pode-se utilizar ma­te­rial relevante e de ponta nos programas e gerar casos de ensino fundamentados na prática dos ne­gó­cios. O mantra corporativo do IMD é Real World, Real Learning (algo como Mundo Real, Aprendizagem Real). Sendo assim, a

pesquisa do CSL foca em ajudar empresas a superarem suas barreiras, tentando estabelecer “normas” em torno da liderança responsável nas organizações, tornando-as mais “pés no chão” em um contexto em que são orien­ta­das por partes interessadas. “Integrar” a sustentabilidade nas organizações significa torná-la não apenas algo a ser adi­cio­na­do, alojado em um Departamento de Sustentabilidade, po­voa­do por gestores do tema desenvolvendo es­tra­té­gias irrelevantes à vida dos colaboradores. Na verdade, o comportamento so­cial e am­bien­tal­men­te responsável deve estar integrado aos sistemas de ne­gó­cios como parte da atividade co­ti­dia­na da empresa. Em sua contribuição à integração, a meta do IMD é fazer com que a liderança responsável se torne parte da grade. Assim, há somente um programa maior dedicado à liderança em sustentabilidade: o One Planet Leaders Program (OPL ) — ou Programa de Líderes de Um Único Planeta, uma parceria inusitada entre a escola de ne­gó­cios e a ONG de conservação WWF. Conclusão

Focar questões de sustentabilidade de longo prazo nas empresas será uma tarefa árdua se a abordagem permanecer ancorada na gestão de risco em vez de buscar oportunidades. É preciso uma nova geração de líderes empresariais que tragam novas maneiras de pensar sobre um modelo sustentável do capitalismo. Sem a contribuição das escolas de ne­gó­cios, isso não irá acontecer. ❧ Aileen Ionescu-​­Somers e Francisco Szekely são diretores do Centro Global para Liderança Sustentável (CSL) do IMD Business School, na Suíça. JUNHO 2013

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OPINI ÃO Por Poliana Abreu

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Os desafios da educação para a sustentabilidade

os últimos anos, tenho observado o papel fundamental que o setor de educação su­pe­rior pode desempenhar para trazer mudanças mais cons­cien­tes para a so­cie­da­de. Isso engloba como as instituições são administradas, como elas se envolvem com suas comunidades locais, como engajam seus colaboradores e o que é ensinado dentro e fora da sala de aula. Em suma, as instituições educacionais encontram-se em posição pri­vi­le­gia­da para in­f luen­ciar a mudança para a sustentabilidade por meio da inovação em seus campi, nas comunidades, nas suas linhas de pesquisa e no currículo. Mesmo com todos os de­s a­f ios e outras prio­ri­da­des nas agendas das instituições de ensino su­pe­rior no Brasil e no ex­te­rior, tornam-se cada vez mais claros os motivos pelos quais a sustentabilidade tem sido considerada uma questão estratégica em importantes universidades e escolas de ne­gó­cios no mundo. Ao trabalhar pela implementação e desenvolvimento do tema no Grupo Ânima Educação e, pos­te­rior­men­te, na Fundação Dom Cabral, esses motivos tornaram-se mais evidentes para mim. Mas percebi que era necessário com­ preen­d er a fundo o que motivava os demais colegas de profissão e outras escolas a enfrentar os de­sa­f ios da sustentabilidade e não simplesmente fugir ou se adaptar a eles. Foi assim que comecei a percorrer algumas instituições para descobrir o que há de inovador e transformador no que se refere à sustentabilidade corporativa e inovação so­cial. Atual­men­te morando em Boston (Estados Unidos), re­gião que abriga grandes e renomadas universidades do mundo, tenho acompanhado os dilemas desse

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debate por meio de conversas, aulas e entrevistas com professores e alunos dos mais diversos backgrounds. É evidente que a motivação para inserir a sustentabilidade na agenda das instituições de ensino su­p e­rior depende da estratégia, dos de­s a­f ios, restrições e habilidades de cada escola. Mas, de forma geral, o primeiro motivo levantado pela maioria das escolas com as quais

Para permanecerem relevantes num mundo cada vez mais dinâmico e conectado, algumas escolas já sentem que terão de repensar seus propósitos e valores, de forma a se alinhar com os novos desafios da sociedade. conversei é se tornar mais relevante e desejável no médio e longo prazos, atendendo a uma demanda da so­cie­da­de e do mercado — já que, no mundo corporativo, os conceitos de organizações cons­cien­tes e sustentabilidade têm sido amplamente considerados. O que muitas vezes dificulta esse processo é uma estrutura edu­ca­cio­nal an­te­rior que tenha, de fato, desenvolvido pes­soas e profissionais

capazes de promover transformações nas suas organizações, alinhadas com os grandes de­sa­f ios locais e globais. O segundo motivo é tornarem-se ope­ra­cio­nal­men­te mais efetivas. Para isso, muitas escolas estão buscando fi­nan­cia­ men­to para novos projetos “verdes” e inovadores, fazendo progressos em vá­rias ­áreas, es­pe­cial­men­te em energia, edificações, re­sí­duos, reciclagem, compras cons­cien­tes e envolvimento da comunidade. E o terceiro motivo está alinhado, es­pe­cial­men­te, à reinvenção da educação executiva e das escolas de ne­gó­cios. Para permanecerem relevantes num mundo cada vez mais dinâmico e conectado, algumas escolas já sentem que terão de repensar seus propósitos e valores, de forma a se alinhar com os novos de­sa­f ios da so­cie­da­de. Sendo assim, começar a refletir sobre as questões de sustentabilidade pode ser um bom caminho para se ini­ciar o debate sobre o papel e o futuro das escolas de ne­gó­cios. Nesta caminhada em busca das instituições de ensino que estão fazendo a mudança para a sustentabilidade, tenho visto desde pequenas e novas escolas que já nasceram com esse DNA , como é o caso da Presidio School, em São Francisco (EUA ) — que atrai inúmeros estudantes com interesse no tema —, até grandes e tradicionais instituições, como MIT, Harvard e Yale —, que, com estrutura e reputação, são capazes de ajustar ou inovar seus currículos para atrair não somente os estudantes já engajados com o tema mas também os mais céticos. Essas universidades, em vez de tratar os diferentes de­sa­f ios da sustentabilidade de maneira isolada, estão crian­do novas oportunidades e mecanismos para integrar o debate com outras ­áreas de


conhecimento. Um approach ini­cial que muitas escolas têm escolhido — e que para mim faz todo o sentido — é tratar sustentabilidade como um tema re­la­cio­ na­do à gestão da mudança e inovação. Nas aulas de sustentabilidade da Boston University, por exemplo, a maior parte dos cases utilizados não é específica de sustentabilidade, e, sim, trata de questões como inovação, mudança e aprendizado or­ga­ni­za­cio­nal — em última instância, o que permite que os projetos de sustentabilidade sejam viáveis. Já no Brasil, não poderia deixar de citar o exemplo da Fundação Dom Cabral, que alinha geração de conhecimento, por meio do Núcleo Petrobrás de Sustentabilidade, com o di­re­cio­na­ men­to estratégico do tema, que é conduzido pelo Comitê de Sustentabilidade da instituição. Há dez anos, a FDC antecipava-se em atender às demandas de uma rea­li­da­de em­pre­sa­rial que começava a se envolver, de forma mais participativa, com as questões re­la­cio­na­das à gestão responsável. Nessa época, criouse o Núcleo de Sustentabilidade, que, a meu ver, é um interessante modelo de geração de conhecimento no tema. Muitas outras ini­cia­ti­vas interessantes, mas ainda pontuais, têm sido conduzidas por escolas brasileiras, como as 18 sig­na­t á­r ias do PRME (Prin­cí­p ios para a Educação Em­pre­sa­rial Responsável), uma ini­cia­ti­va da ONU para inspirar as escolas de ne­gó­cios a adaptarem seus currículos, me­to­do­lo­gias, pesquisas e es­tra­té­gias institucionais em prol das questões de sustentabilidade. Essas escolas, ainda que muito tímidas para rea­li­za­rem mudanças estruturais nessa área, já sinalizam interesse em dar os primeiros passos nessa direção.

Esses exemplos nos fazem perceber que, ao contrário do que acontecia há alguns anos, quando não exis­tiam modelos a serem seguidos nesse campo, atual­ men­te há muitos exemplos de escolas que estão focando em uma gestão mais cons­cien­te e integrando os con­teú­dos re­la­cio­na­dos à sustentabilidade em seus cursos e pesquisas. Mas ainda há muito a se fazer nessa área; a transformação está apenas começando.

O desafio de conseguir uma substancial alteração no conteúdo e adaptação nas disciplinas tradicionais de negócios ainda encontra-se nos primeiros estágios. Se analisarmos de forma geral as grandes universidades no mundo, é fácil perceber um significativo avanço nas disciplinas de cursos como Engenharia e Arquitetura, que já trabalham com certa profundidade as questões de ecodesign, design inclusivo e ecoe­f i­ciên­cia. Mas o desafio de conseguir uma subs­t an­cial alteração no con­teú­do e adaptação nas disciplinas tradicionais de ne­gó­cios (por exemplo, Estratégia, Marketing, Finanças, Recursos Humanos e Operações)

ainda encontra-se nos primeiros es­tá­gios. O currículo tra­di­cio­nal e fragmentado tem sido muito questionado, pois muitas vezes fornece uma visão par­cial e distorcida do mundo dos ne­gó­cios. Por isso, o desafio é fazer com que o tema da sustentabilidade seja um pano de fundo — e não tratado como es­pe­cia­li­da­de —, semelhante ao que domina o currículo padrão. Essa mudança de mentalidade, e consequentemente de atitude, requer, antes de tudo, o desenvolvimento in­ten­ cio­nal dos envolvidos e não apenas um ajuste su­p er­f i­cial de curto prazo. Por isso, o que real­men­te faz a diferença — e esta é a minha conclusão, ditada por valores pessoais — é o esforço colaborativo. Temas de fronteiras e interdisciplinares só serão capazes de sair do nível da abstração se houver um real comprometimento de todas as ­áreas da instituição. Isso não quer dizer que se deve mudar radicalmente as prio­ri­da­des e as agendas das ­áreas envolvidas. Mas, sim, buscar a melhor versão que cada es­pe­ cia­li­da­de pode oferecer para entender e di­re­cio­nar os grandes de­sa­f ios econômicos, ambientais e sociais. E, à medida que cresce a contribuição e o envolvimento com esses de­sa­f ios, a propensão é que pes­soas e instituições ganhem ainda mais motivação para percorrer o caminho da sustentabilidade, alcançando novos desdobramentos, novos con­teú­dos e novos públicos. ❧ Poliana Abreu é consultora em sustentabilidade corporativa, professora convidada da Fundação Dom Cabral (FDC) e especialista visitante em cursos da Universidade de Boston e do MIT Sloan School of Management. Seu desafio atual é descobrir o que há de inovador e transformador nas escolas de negócios no que se refere à sustentabilidade corporativa e inovação social. JUNHO 2013

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Divulgação

ESPECI A L Educação Schumacher College

Policultura de ideias

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rnst Friedrich Schumacher (1911– 1977) foi um economista britânico, radicado na Universidade de Oxford, que desenvolveu um pensamento econômico com foco no ser humano. Sua visão, por muitos considerada budista, apoiava-se no pensamento dos filósofos orientais e ativistas políticos, como Gandhi, em resposta ao novo liberalismo, cujo ápice, nos anos 70, culminaria numa desumana “economia de cassino”. Contra o gigantismo econômico, Schumacher já alertava em seu livro Small is Beautiful, de 1973: “O ma­te­ ria­lis­m o não cabe neste mundo, pois não há nenhum princípio que o limite. Enquanto o meio am­bien­te, sim, é estritamente limitado.”

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Fazendo jus ao nome, portanto, a Schumacher College é uma escola de formação para a vida. Prin­cí­pios holísticos visam cons­cien­ti­zar os alunos sobre o complexo tema da sustentabilidade. Concebida, em 1991, por educadores como o in­dia­no Satish Kumar, entre outros vi­sio­ ná­r ios de um novo modelo — sobretudo edu­ca­cio­nal —, a instituição integra aspectos ecológicos e humanistas às ciên­cias, como a agricultura orgânica voltada a uma “economia para a transição”. A sede da escola localiza-se no centro histórico de Dartington, vilarejo com 2 mil habitantes, ao sul da Inglaterra e três horas de trem de Londres, e está as­so­cia­da, principalmente, a três instituições: a Universidade de Plymouth, com a qual firma diplomas conjuntos; a New Economics Foundation (NEF ), e a ONG Transition Network. Seus cursos focamse no ensino su­pe­rior, mestrado e alguns “certificados” (mais curtos, que vão de semanas a poucos meses).

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Oferecendo formação humanista e harmônica com a natureza, a Schumacher consolida-se como uma escola para a vida

Juliana Schneider INTEGRANTE DA Equipe de Comunicação da Schumacher College

“A escola vira a casa das pessoas: é de todos e de ninguém. Temos aulas teóricas, mas a principal experiência de sustentabilidade — verdadeiramente holística — é o cotidiano.” O curso de Ciên­cias Holísticas, primeira área de es­pe­cia­li­za­ção da escola, busca resgatar a totalidade cien­tí­f i­ca. O de Economia para a Transição dedica-se ao desenvolvimento de eco­no­mias re­si­ lien­tes e com baixas emissões de carbono. Horticultura e Produção de Alimentos Sustentáveis, o mais recente, trabalha os sistemas de produção de baixo impacto e a diversidade de cultivo. E o de Design de Ecologia busca reconectar o fluxo entre


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os recursos urbanos e rurais. Há outros exemplos, mais específicos, como o certificado em Construção Natural, em parceria com a ONG local Embercombe, com duração de seis meses. A transdisciplinaridade, adotada como método de ensino na Schumacher, é uma ex­p e­r iên­cia co­ti­dia­na na escola, por meio da qual os alunos transitam em liberdade por distintas manifestações do conhecimento, incentivandose a cria­ti­vi­da­de e autoexpressão, sob o lema: “Não oferecemos respostas, mas aprofundamos a crença no indivíduo, no poder da comunidade e na sabedoria da natureza para guiar uma trajetória de esperança aplicada.” A brasileira Ju­lia­na Schneider acaba de concluir o mestrado em Ciên­c ias Holísticas na Schumacher e, atual­men­te, integra a equipe de comunicação da instituição. Para descrever o co­ti­dia­no da escola, ela recorre a uma frase do próprio Satish Kumar: “O certificado final é apenas uma desculpa. Vocês estão aqui para se apaixonar! Pela terra, os seres humanos, por vocês mesmos!” Para ela, o convívio comunitário é um grande di­fe­ren­ cial. “A escola vira a casa das pes­soas: é de todos e de ninguém. Temos aulas teó­ri­ cas, mas a principal ex­pe­riên­cia de sustentabilidade — verdadeiramente holística — é o co­ti­dia­no. Aprendemos a viver coletivamente, desempenhando todas as funções. Assim como os alunos in­f luen­ ciam o design dos currículos, os professores também limpam a casa, cozinham e cuidam do jardim”, conta Ju­lia­na. Os cursos da Schumacher geralmente acontecem em pe­río­do integral. A grande maioria dos alunos convive em residência durante oito meses e, no tempo restante, elabora suas teses de conclusão. Segundo Ju­lia­na, os trabalhos finais abordam inúmeros temas e os projetos costumam transformar-se, ganhando força ao longo do curso — assim como os pró­prios alunos. A estrutura curricular também é bastante cu­rio­sa. O mestrado em Ciên­cias Holísticas, por exemplo, compõe-se de três módulos determinantes: Qua­li­da­ des das Ciên­cias, Caos e Complexidade e A Terra Viva. Além dessas, os alunos rea­

Construindo o futuro E mbora fisicamente distante, a Small S­ chool, em Hartland (no­roes­te da Inglaterra) está ligada ins­t i­t u­cio­nal­men­te ao Schumacher College e integra o Movimento Educação em Escala Humana (Human Scale Education Movement), cujo objetivo é promover a educação de crian­ças e jovens em “instituições menores, re­la­cio­na­ men­tos mais profundos e comunidades de aprendizagem mais fortalecidas”. Além da ini­cia­ção em jardinagem, cozinha e meditação, o currículo da Small School para alunos de 11 a 13 anos inclui Inglês, Matemática, Ciên­cias, Estudos Clássicos, Humanidades e Artes. Para os de 14 a 16 anos, segue-se a es­pe­cia­li­za­ção fundamental do currículo britânico, com Bio­ lo­gia, Quí­mi­ca, Física, Fotografia, Design, Tea­tro, Cinema, Literatura, Francês, Latim e Música. O di­fe­ren­cial é que “caso um aluno demonstre interesse particular por outros temas, a escola tentará atendê-​­lo”, afirma a diretora, Louise Hopkinson. No co­ti­dia­no comunitário, alunos e professores cuidam da manutenção da horta e limpeza do prédio, pais ajudam na cozinha e todos participam de eventos na cidade para arrecadar fundos que ajudam a manter a instituição. Afinal, na Small School, os professores concordam com sa­lá­rios menores para que cada aluno possa pagar apenas 375 libras por semestre para estudar (pouco menos de R$ 1.200,00). li­zam pelo menos duas disciplinas complementares, eletivas, como os minicursos que se sucedem ao longo do semestre. Nessas oca­siões, vi­ven­ciam a oportunidade rara de estar em contato com personalidades do calibre de Fritjof Capra, Vandana Shiva, James Lovelock, Deepak Chopra, Patch Adams e outros ícones do pensamento de vanguarda que costumam participar das aulas magnas, cursos e palestras. Só para se ter ideia, neste primeiro semestre de 2013 estão sendo rea­li­za­dos

workshops sobre temas que vão da Complexidade e Colaboração — sobre transformação or­ga­ni­za­cio­nal no mundo dos ne­gó­cios — até A Cozinha Zen Moderna, no qual Toshio Tanahashi aborda a alimentação vegetariana Shojin Ryori, introduzida no Japão com o budismo no sexto século. Outra presença confirmada é a do professor Otto Scharmer, do MIT – Instituto de Tecnologia de Massachusetts —, o famoso teó­ri­co da Teo­ria U. A despeito de todo ecletismo filosófico e pedagógico — que lhe conferem um ar de “escola alternativa” —, cada vez mais grandes empresas en­viam fun­cio­ ná­rios para estudar na Schumacher, em busca de novos modelos institucionais e formas menos mecanicistas de trabalhar. E encontram um espaço aberto para o questionamento, a diversidade e a espontaneidade. “Adotamos algumas ten­dên­cias, como a Teo­ria Gaia e a Ecologia Profunda, mas não há uma linha específica a seguir. Somos contra a monocultura de ideias, conforme define a filósofa e física in­dia­na Vandana Shiva”, explica a brasileira Ju­lia­na. O espírito de receptividade integra o entendimento entre alunos, professores, vo­lun­tá­rios, convidados e a comunidade. “São pes­soas que vivem na prática tudo o que estão falando”, diz Ju­lia­na. Como resultado, amplia-se a temática dos cursos — e o número de alunos, vindos de todas partes do mundo, inclusive do Brasil —, propagando-se a filosofia descentralizada da escola. “A continuidade do aprendizado em outras perspectivas e localidades reflete uma expansão orgânica do que é cultivado por lá.” Naturalmente, o universo conspira para o sucesso da escola. (Marília Arantes)

Para Saber M ais Schumacher College The Old Postern Dartington, Totnes, Devon TQ9 6EA, UK Tel.: + 44 (0) 1803 865934 Fax: + 44 (0) 1803 866899 valerie.lancaster@schumachercollege.org.uk www.schumachercollege.org.uk JUNHO 2013

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Buckminster Fuller e o design thinking

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ara mudar algo, é necessário construir um novo modelo que torne o modelo existente obsoleto.” A frase soa bastante ­atual. Mas foi proferida ainda na década de 50 pelo vi­sio­ná­r io arquiteto norte-​­a mericano Richard Buckminster Fuller. Cons­cien­te do “pe­río­do de gestação da natureza”, até mesmo para as novidades da tecnologia, Bucky — como era conhecido — acreditava na responsabilidade do homem para com o am­b ien­te. E, ao detectar “prin­cí­pios universais naturais” — elementos comuns que se repetem nos sistemas complexos —, atualizou o design com sua ampla visão de mundo. Um dos exemplos mais conhecidos do salto qualitativo de seus inventos foi a re­cria­ção do mapa-​­múndi, agregando pela primeira vez a Antártida à cartografia. A visão do homem como um ser com­ preen­si­vis­ta — que enxerga o todo e cumpre diversas tarefas num determinado processo — em contraposição aos outros animais, os es­pe­cia­lis­tas — aptos apenas a certas habilidades —, tornou-se a base da pedagogia do Buckminster Fuller Institute, localizado no Brooklin, bairro de cria­ti­vos nova-​­iorquinos. Ao facilitar a convergência entre as disciplinas de Arte, Ciên­cia, Design e Tecnologia, por meio de uma visão eticamente orien­ ta­da, a instituição tornou-se referência no campo do chamado design thinking — que, literalmente, significa desenhar formas de pensar. E desenhar, aqui, não inclui apenas o design de produtos mas também de soluções para problemas práticos con­tem­po­râ­neos. Um exemplo foi o workshop rea­li­za­do em Oaxaca, no México — que acabou se

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transformando num hub de apoio a ini­ cia­ti­vas de desenvolvimento da comunidade local —, para onde uma turma de alunos foi levada a fim de discutir questões da produção agrícola da re­gião. “Propusemos ao grupo dois exer­cí­cios. Primeiro, olhar para o fenômeno local, percebendo o agora, para traçar os problemas daquela comunidade. Depois, buscamos o que queríamos daquilo, sua transformação, conforme o que Bucky chamava de ‘estado de preferência’ da

Pablo Freund Divulgação

Baseado nas teorias do visionário arquiteto, o Buckminster Fuller Institute apoia-se na visão sistêmica para produzir soluções ética e esteticamente sustentáveis

Diretor de Operações do BFI

“Trabalhamos para integrar a educação multidisciplinar, almejando encontrar a melhor forma de manter o interesse dos alunos. Os resultados de nossas iniciativas aparecem no maior volume de conhecimento que se passa a utilizar, repaginando currículos tradicionais. Nosso trabalho é apontar ferramentas corretas para empoderar o espírito inquisidor e a curiosidade.” si­tua­ção ou coisa. Assim, chegamos ao levantamento de soluções, de tal forma que cada participante demonstrasse sua aptidão para desenhar tra­je­tó­rias efi­cien­ tes”, conta Pablo Freund, diretor de Operações do BFI , ele próprio um exemplo do público nada con­ven­cio­nal que o Instituto abriga. Em sua formação está a passagem da Engenharia para a História da Arte e Arquitetura, uma curta carreira no mercado financeiro, seguida de es­pe­cia­li­ za­ção em sustentabilidade no The Earth Institute, da Universidade de Colúmbia. Atual­m en­t e, o B FI oferece ações educacionais, como palestras, se­mi­ná­

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ESPECI A L Educação Buckminster Fuller Institute

rios, workshops e programas de imersão; mantém incubadoras de inovação e uma rede de líderes de sustentabilidade, por meio de programas de apoio fiscal, além do ex­traor­di­ná­rio Buckminster Fuller Challenge — evento de pre­mia­ção ­anual no valor de 100 mil dólares que, em 2013 (inscrições encerradas!), completa a sexta edição e tem, no júri, personalidades como a artista plástica Linda Weintraub e o pai do conceito do triple bottom line, John Elkington. O prêmio tem o objetivo de promover ini­cia­ti­vas inovadoras para os problemas mais urgentes da so­cie­da­de global em diversos campos. E os projetos de cam­peões, vice-​­cam­peões e menções-​ ­honrosas de cada ano compõem outra importante ini­cia­ti­va do Instituto, o Index de Ideias, um “estoque léxico de alternativas”, nas palavras de Freund, pronto para ser colocado em ação por parte de investidores, filantropos, designers, artistas, políticos e qualquer um que queira mudar o mundo. O di­fe­ren­cial do Buckminster Fuller Institute está na ênfase em combinar a ini­cia­ti­va in­di­vi­dual com a integridade de todo o pensamento sistêmico, o rigor cien­tí­f i­co e o reconhecimento da dependência aos prin­cí­pios da natureza para o desenvolvimento de soluções coletivas. “Pro­pi­cia­mos um espaço — uma página em branco — para a construção de formas de vida, produção ou organização, já que o modelo ­atual dos sistemas de energia, transportes e a so­cie­da­de de consumo comprovam-se cada vez mais ine­f i­cien­tes. Ensinamos uma visão de mundo sobre o papel da humanidade na Terra”, acredita Freund. (Marília Arantes)

Para Saber M ais Buckminster Fuller Institute 181 N 11th Street, Suite 402, Brooklyn, NY 11211, USA Tel.: 718.290.9280 Fax: 718.228.7863 contact@bfi.org www.bfi.org


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ESPECI A L Educação Instituto Integral

O mapa da experiência humana

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Teo­r ia Integral, cria­d a há 40 anos pelo filósofo norte-​ ­americano Ken Wilber, norteia cursos em diversas partes do mundo voltados à gestão e liderança. Ao explorar e unir do­mí­nios diferentes do conhecimento, tais como Psicologia, Es­pi­ri­tua­li­ da­de, So­cio­lo­gia e Antropologia, Wilber criou um método de organização da ex­pe­riên­cia humana representado por um mapa composto de níveis, linhas, traços, tipos e quadrantes. O método de Wilber fun­cio­na como uma espécie de ‘GPS do ser humano’ e facilita a sua trajetória em diferentes ­áreas do conhecimento. Costuma ser aplicado no ge­ren­cia­men­to de projetos e empresas e vem encontrando terreno fértil na sustentabilidade. Seu di­fe­ren­ cial é focar o desenvolvimento de habilidades e com­pe­tên­cias pessoais para a construção de so­cie­da­des sustentáveis, alian­do a esse processo o uso de ferramentas de gestão aplicáveis no dia a dia das organizações. “Uma abordagem de liderança integral é absolutamente es­sen­cial para incorporar a sustentabilidade no DNA de uma organização e transformá-la em um poderoso agente de mudança so­cial, ambiental

Diretor executivo do Integral Sustainability Center

“Grandes temas e questões da humanidade apresentam hoje o paradoxo de cenários dos mais evoluídos aos sensivelmente críticos, enquanto nos aproximamos perigosamente das limitações ambientais, sociais e econômicas. Hoje a liderança exige criatividade, engajamento e capacidade de inovar, rompendo com modelos e paradigmas de forma cada vez mais sofisticada.” e econômica”, diz Marcelo Cardoso, presidente do Instituto Integral Brasil. Ken Wilber publicou mais de 20 livros sobre a Teo­ria Integral e, apesar de dificilmente ministrar cursos, escreve avidamente e orien­ta o desenvolvimento da teo­ria e suas ferramentas. Além do Integral Institute dos Estados Unidos, apenas outros dois similares, porém independentes, são reconhecidos: o da Austrália e o do Brasil. Por aqui, onde o Instituto foi cria­do há pouco mais de um ano, são rea­li­za­ dos cursos pontuais e de curta duração com a presença de professores renomados na Teo­ria, como Barrett Brown. “Sob a ótica da Teo­ria Integral, o curso de formação pro­por­cio­na melhor com­preen­ são de es­tra­té­gias mais abrangentes para a sustentabilidade, bem como oferece

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Aliando teoria e prática, Instituto Integral ajuda líderes e gestores a tornarem-se cada vez mais preparados para lidar com os complexos dilemas da sustentabilidade

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Barrett Brown

recursos para o autoconhecimento e o desenvolvimento da capacidade de liderança, considerando os principais aspectos da emergência de uma nova cons­ ciên­cia dian­te de um panorama geral”, diz Brown. Para ele, nunca houve tanta necessidade de líderes altamente qualificados e maduros para ajudar as organizações e a so­cie­da­de a navegar nas águas turbulentas da atua­li­da­de. Nos Estados Unidos, a maior parte dos cursos é organizada pela Meta Integral Academy, parceira do Instituto, em São Francisco. Sua formação, The Embodied Practitioner Certification (EPC), é a mais abrangente disponível hoje na Teo­ria Integral. Consiste em três anos de estudos — divididos em programas anuais — com foco na elaboração e execução de projetos propostos pelos estudantes — pessoais ou profissionais, locais ou globais. Cada módulo é composto de três se­mi­ná­rios presenciais de cinco dias nos EUA e um intenso cronograma com atividades online. O co n su l to r Miguel Dantas está no primeiro ano de formação e considera a ex­p e­r iên­ cia de estudar a Teo­ria Integral um Miguel Dantas divisor de águas na sua vida. “O curso te leva a viver intensivamente a abordagem integral e trabalha em todas as dimensões do indivíduo: corpo, mente e espírito. É bem prático. Cada um leva seu projeto de vida e/ou trabalho e o desenvolve durante o curso na visão integral.” No caso dele, o projeto é a sua própria empresa, a startup EHMAHO Consultoria em Gestão Em­p re­s a­r ial, que já nasce dentro do pensamento integral. (Cris­tia­ne Assis)

Para Saber M ais Integral Institute (EUA) www.integralinstitute.org www.metaintegral.org

Instituto Integral Brasil www.institutointegralbrasil.com.br JUNHO 2013

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Eduardo Shimahara

ESPECI A L Educação Sustainability Institute

Formação para a vida Programas oferecidos em parceria com a Universidade de Stellenbosch baseiam-se no estudo da complexidade e no engajamento comunitário

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pós estudarem com Fritjof Capra, na Schumacher College (Inglaterra), em 1993, Eve Annecke e Mark Swilling retornaram à sua terra natal, a África do Sul, decididos a ­criar um centro edu­ca­cio­nal. Seis anos depois, nascia a ONG Sustainability Institute, em Stellenbosch, nos arredores da Cidade do Cabo.

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Instalada entre a Montanha do Papagaio e o vale fértil do rio Eerste — primeira fonte de água pura encontrada pelos colonizadores no interior do país —, a instituição busca atender ao seguinte propósito: “Um desafio transdisciplinar requer uma resposta transdisciplinar.” E faz isso por meio de uma educação prática, em conjunto com a comunidade. Fundamentações teó­ri­cas bastante inovadoras permeiam o ensino de pós-​ ­gra­dua­ção. O instituto oferece programas para mestrado (MBA /Master of Sciences) e doutorado (PhD), com es­p e­c ia­l i­z a­ ção em Desenvolvimento Sustentável, em diploma conjunto com a Universi­ dade de Stellenbosch. O Programa de

Mestrado em Estudos de Sustentabili­ dade e Complexidade (MPhil-​­Master of Philosophy) é o carro-​­chefe, com programas inter e transdisciplinares entre centros de pesquisa e ensino es­pe­cia­li­za­do. O curso dura dois anos em tempo integral, embora também seja possível considerar-se o meio-​­pe­río­do, conforme o objetivo do aluno. A casa-​­base que abriga a sede do Instituto está instalada numa ecovila, a Lynedoch EcoVillage. Para Mark Swilling, fundador e coor­de­na­dor dos programas de mestrado e doutorado, esse fato está entre os três grandes diferenciais do Sustainability Institute. “O primeiro é que, devido a uma forte característica


Eduardo Shimahara

Mark Swilling Fundador do Sustainable Institute

“A experiência na Shumacher College, principalmente o curso que fizemos com Fritjof Capra, há 20 anos, sem dúvida nos incentivou a formular a ideia de qual tipo de educação queríamos desenvolver.” transdisciplinar, nossos cursos não se prendem aos professores, mas tendem a am­pliar-se. Oferecemos 22 opções, cada aluno escolhe oito cursos. Outra coisa importante é que todos eles acontecem na ecovila, uma ex­p e­riên­cia que permite vi­ven­ciar questões práticas, e não somente acadêmicas. E, por fim, acredito que o mecanismo mais livre de ava­lia­ ção abre espaço para a discussão e mais ex­pe­riên­cia. Os alunos têm de escrever, mas o trabalho prático e em grupos é de muito maior valor.” Pelo sistema ava­lia­ti­vo, a cada módulo de uma semana os alunos precisam produzir um artigo in­di­vi­dual de aproximadamente 7 mil palavras, preen­cher um diá­rio de aprendizado em formato livre e rea­li­zar uma apresentação em grupo. Embora a dissertação seja o único componente ava­lia­ti­vo escrito do currículo — os módulos centrais não exigem notas —, é necessário participar efetivamente das atividades regulares e dos eventos para apresentar e discutir os trabalhos com os colegas. Com o objetivo de oferecer resposta aos de­s a­f ios de sustentabilidade na África do Sul, os alunos também dedicam-se ao estudo da complexidade e atividades de campo, considerando-se stakeholders e grupos de interesses em va­ria­dos aspectos. Segundo Swilling, “por meio dos projetos de pesquisa, penetramos o am­bien­te da re­gião e as comunidades locais. Por exemplo, estamos rea­li­zan­do um extenso trabalho sobre a ocupação ilegal de terras. Isso envolve sem-​­tetos e desempregados. Os alunos se esforçam

para trabalhar com fazendeiros locais e buscar o problema real, para então formularem, de maneira acadêmica, suas teses de mestrado ou doutorado. Isso é o que chamamos de educação orien­ ta­d a pela ‘pesquisa de ação’ (action oriented research)”. A parceria com a Universidade de Stellenbosch oferece opções de es­pe­cia­ li­za­ção em programas conjuntos sobretudo com a Escola de Liderança Pública (School of Public Leadership), da Facul­ dade de Economia e Administração (Economic and Management Sciences). Para promover a transdisciplinaridade e expandir os programas para além dessas duas instituições, criou-se o TsamaHUB, em 2005, um centro que coor­de­na a participação de stakeholders relevantes à produção de conhecimento e envolvidos na sustentabilidade da re­gião. Ele serve a uma rede de acadêmicos e reú­ne a cúpula de professores-​­supervisores que ava­liam efetivamente as dissertações, principalmente no programa de doutorado. E também concentra espaços acadêmicos como o Centro de Estudos em Energia Reno­ vável (CRSES ) e o Centro para Estu­ dos da Complexidade (CSC ), onde a Engenharia Mecânica, Bioquímica e Filosofia despontam como disciplinas de maior importância. A responsabilidade dos alunos em rea­li­zar trabalhos acadêmicos que sirvam à so­cie­da­de é visível. Levam-se em consideração o pro­f is­sio­na­lis­mo na autoria dos projetos e os re­la­tó­rios produzidos sobre casos práticos nas re­giões africanas, muitos com a participação de instituições internacionais, como a UNEP — Programa das Nações Unidas para o Meio Am­bien­te. Esses projetos, portanto, extrapolam as instituições de ensino e contam, ainda, com representações em ins­tân­cias nacionais, como o Conselho para a Pesquisa Cien­tí­fi­ca e In­dus­trial (CSIR ) e o Conselho para a Pesquisa em Ciên­cias Humanas (HSRC ). Projetos em design de estratégia também empregam as pesquisas desenvolvidas no Instituto, aplicando seus resultados na vizinhança da escola. De fato, o conceito central é justamente ­criar uma

rede sustentável no entorno, onde comunidades se re­troa­li­m en­tem durante o pe­río­do em que acreditam estar vivendo “uma fase de transição para uma nova rea­li­da­de”, mais sustentável e de acordo com o respeito à natureza. Assim como acontece na Schumacher College, da Inglaterra, a vida em comunidade é a grande forma de aprendizado em Lynedoch. Cons­cien­tes da desigualdade do país e da vizinhança, os educadores cultivam soluções para reduzir e erradicar a pobreza, integrando ecologia e equidade. Seguindo a mesma filosofia dos cursos de es­pe­cia­li­z a­ção, a EcoVillage também trabalha o desenvolvimento de jovens, por meio de projetos com a comunidade, focando em gestão e práticas responsáveis. Segundo Swilling, a escola fundamental é mantida pelo governo e divide o prédio com o Sustainability Institute. “Seguese o currículo ofi­cial, colocado na­cio­ nal­m en­te. Portanto, não chegamos a afirmar que ela seja parte integrante do Instituto, embora pertençamos à mesma comunidade.” A escola fundamental segue o modelo Montessori e atende cerca de 35 crian­ças por ano, formando-as como trabalhadoras rurais. Os programas da educação infantil servem como prática de ensino para os cursos su­pe­rio­res, e também integram projetos do TsamaHUB — elo entre o Sustainability Institute e a Universidade de Stellenbosch. O programa de PhD, por exemplo, desenvolve atual­men­te o projeto Reinventando Stellenbosch Sustentável — considerado uma ini­cia­t i­v a da Ciên­cia em meio à so­cie­da­de —, di­re­cio­na­da em conjunto com a prefeitura local. (Marília Arantes)

Para Saber M ais Sustainability Institute Lynedoch Road R310 Baden Powel Turnoff P.O. Box 162 Lynedoch 7603, South Africa Tel.: +27 (0) 21 881 3196 Fax: +27 (0) 21 881 3294 www.sustainabilityinstitute.net JUNHO 2013

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OPINI ÃO Por Eduardo Shimahara

Educação. E eu com isso?

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ão é mais possível pensarmos em uma única crise. Estamos imersos em problemas que se entrelaçam, se po­ten­cia­li­zam e, portanto, aumentam em complexidade. Degradação dos ecossistemas, aquecimento global, distribuição de riquezas. A policrise descrita por Mark Swilling e Eve Annecke em Just Transitions (2012) parece maior do que qualquer pesadelo. Como foi possível chegarmos até aqui? Quan­do falamos em globalização, ime­d ia­t a­m en­t e o que vem à minha mente não é ne­c es­s a­r ia­m en­t e uma comunidade global em que sabedoria e bens de consumo são trocados. Mas, sim, uma única imagem daquilo que chamamos de “desenvolvimento” em sua versão ocidental, sendo co­pia­da, replicada e desejada por todo o globo terrestre. Mas o que seria, afinal, desenvolvimento? Asfalto, concreto, estabilidade financeira e plano de saú­de? Es­ta­ría­mos condenados aos fins de semana imersos em shoppings centers para saber qual a última bugiganga a ser comprada na vã tentativa de preen­ cher o vazio que se acomoda em nossas almas? Para Stephan Harding, em seu livro Animate Earth (2009), nosso mundo está em crise e, infelizmente, a forma de fazer ciên­cia no Ocidente certamente contribuiu para os muitos problemas que enfrentamos. Po­d e­r ía­m os extrapolar esse pensamento, dizendo que o sistema de educação tra­di­cio­nal (que copia, herda ou se inspira na nossa forma de fazer ciên­cia), unidisciplinar e fragmentador do conhecimento humano em pedaços que se mantêm isolados uns dos outros também é um dos grandes responsáveis pelo segmentado mundo em que vivemos. Segundo Manfred Max-​­N eef, em seu artigo Fundamentos da Transdiscipli-

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naridade (2004), a estrutura da grande maioria das universidades, apoiada em faculdades e departamentos, reforça a formação unidisciplinar, principalmente nos níveis de gra­dua­ção. Nossa educação nos ensina, portanto, a pensar e agir de forma rasa, fragmentada e re­du­cio­nis­ta.

O sistema de educação tradicional, unidisciplinar e fragmentador do conhecimento humano em pedaços que se mantêm isolados uns dos outros também é um dos grandes responsáveis pelo segmentado mundo em que vivemos. Se nosso mundo está em crise, não tenho a menor dúvida de que nossas escolas e universidades, principalmente no mundo ocidental, são diretamente responsáveis por produzir seres humanos incapazes de pensar de forma sistêmica. Quer um exemplo? Faça uma pesquisa em qualquer universidade que você conheça e estude o currículo de algum curso voltado às Ciên­cias Ambientais. Bem, dificilmente você encontrará disciplinas ligadas a modelos de negócio, teo­ria da administração ou maximização de lucros.

Agora faça o inverso: busque disciplinas ligadas à bio­di­ver­si­da­de dentro de cursos de Administração ou Ne­gó­ cios. Provavelmente o que você deve ter encontrado, na melhor das hipóteses, são disciplinas isoladas ou tentativas de transdisciplinaridade (comunicação e troca total entre as diversas disciplinas, sem hierarquia). Aprendemos a nos dividir e segmentar. Essa é a educação que recebemos. E, aqui, estou abordando apenas a camada “pro­f is­sio­n a­l i­z an­te” de um processo que, ao longo da vida, acaba aniquilando outras esferas, como es­pi­ ri­t ua­l i­d a­d e, diversidade, cria­t i­v i­d a­d e, re­la­cio­na­men­to e valores humanos. Segundo Edgar Morin, “o pensamento que compartimentaliza, divide e isola permite aos es­pe­cia­lis­tas e experts serem bastante efi­cien­tes nos seus compartimentos e coo­pe­rar de forma efetiva em ­áreas não complexas de conhecimento, es­pe­cial­men­te aquelas que têm a ver com o fun­cio­na­men­to de máquinas artificiais” (1999). Com base nesse pensamento, pode-se afirmar, com relação ao sistema de educação tra­di­cio­nal, que “fun­cio­na. Mas não para todos”. Sem dúvida, existem pes­s oas felizes em se sentar numa carteira escolar por quatro ou cinco horas do dia, ouvir um professor (que sequer sabe seu nome) falando sem parar e depois ir para casa cheias de lição a ser feita, sem saber muito bem por quê. Educação é o tema da atua­li­da­de. Desde experts como Sir Ken Robinson — que afirma que as escolas estão cons­truí­das para destruir a cria­ti­vi­da­de — até fantásticos do­cu­ men­tá­rios que trazem à luz questões bastante polêmicas — como o argentino La Educación Prohibida, ou ainda os do­cu­ men­tá­rios Race to Nowhere e Waiting for "Superman” —, nunca os sistemas atuais foram tão questionados. Ainda bem!


Sim, acredito que há pes­soas que gostam do sistema ­atual. Mas eu — um brasileiro de 41 anos de idade que teve acesso a excelentes escolas e universidades — posso dizer que meus anos no sistema de ensino tiveram raríssimos momentos de prazer. Muitos deles ligados às amizades que pude construir; pouquíssimos referentes ao aprendizado em si. Mais do que uma crítica, no entanto, eu gostaria de trazer esperança. Via­jan­do pelo mundo desde março de 2012, junto a outros colegas que decidiram se aventurar num trabalho coletivo de produção de um livro (a ser dis­tri­buí­do gratuitamente para download em Creative Commons), posso dizer que existem centenas — senão milhares — de alternativas. Particularmente, não gosto da palavra “alternativa” porque muitas vezes parece algo menos bom ou menos pior. Trago aqui dois exemplos nos quais educação, transdisciplinaridade, valores humanos e sustentabilidade são questões absolutamente inseparáveis. Uma fantástica construção de bambu no in­te­rior da Ilha de Bali, na Indonésia, poderia ser um cenário de conto de fadas, mas é uma escola. A Green School, fundada por John Hardy, é uma instituição in­ter­na­cio­nal que oferece desde o Jardim de Infância até o Ensino Médio completo. Ali, 80% da energia elétrica utilizada vêm do Sol, e planos audaciosos para elevar esse número para 100% envolvem os pais dos alunos que fazem parte de grupos de trabalho para tornar a escola ainda melhor. Praticamente toda a comida vem do campus, onde hortas são plantadas (com ajuda dos alunos). A palavra sustentabilidade não está escrita em nenhum lugar. Porém, mais do que uma palavra, sustentabilidade, na Green School, é algo que se respira no dia a dia, nas pequenas e grandes ações. Cada uma das classes passa por quatro camadas de

aprendizado: in­te­lec­tual, emotiva/so­cial, cinestésica e es­pi­r i­tual. Disciplinas se conectam umas às outras, e professores discutem como interligar os diferentes temas. É uma abordagem mais integral e muito, muito menos fragmentada.

Se nosso mundo está em crise, não tenho a menor dúvida de que nossas escolas e universidades, principalmente no mundo ocidental, são diretamente responsáveis por produzir seres humanos incapazes de pensar de forma sistêmica. Outro exemplo vem da África do Sul, desta vez, em nível de mestrado. Logo no primeiro dia de aula, os alunos são confrontados com questões simples a serem discutidas em grupo, como citar o nome de árvores nativas de seus paí­ ses ou descrever de onde vem a eletricidade que utilizam. O Sustainability Institute, sonho de um casal de sul-​ ­africanos, fica dentro de uma ecovila. Nela, a água dos esgotos passa por um processo bio­ló­gi­co de purificação para então ser reutilizada nas descargas.

O bio­gás resultante da decomposição é usado para alimentar os fogões de algumas re­si­dên­cias. Os atuais fundadores e coor­de­na­do­res de um dos cursos mais ousados do mundo vivem ali. Liderar pelo exemplo, o famoso walk the talk, é a máxima do curso. A diferença desse mestrado? Bem, são muitas. A começar pelo fato de que o desafio é ­aliar excelência acadêmica com mão na massa. Em cada um dos oito módulos que compõem cada uma das linhas de pesquisa, são comuns as visitas de campo, contemplação, meditação, trabalho em grupo e até mesmo aulas de arte. Um coor­de­na­dor está presente 100% do tempo (e conhece todos os alunos por nome e sua história pes­ soal) e faz as ligações entre um módulo e outro, crian­do um am­bien­te de aprendizado onde nada está desconectado. Esses são apenas dois exemplos, de centenas de outros espalhados pelo mundo e inclusive no Brasil, em que fantásticas ini­cia­ti­vas, como o Projeto Âncora, em Cotia, a Escola Politeia, na cidade de São Paulo, e o CPCD, de Tião Rocha, em Minas Gerais, apontam para um horizonte com mais esperança com relação à educação para a sustentabilidade. A esse respeito, ­aliás, no dia 10/10/10, às 10h da manhã, tive o prazer de ouvir uma frase do educador português José Pacheco, um dos fundadores da mítica Escola da Ponte: “Não existe educar para a sustentabilidade. Só existe educar na sustentabilidade.” Fez todo o sentido. ❧

Eduardo Shimahara formou-se engenheiro mecânico e trabalhou por quase 10 anos no mercado automobilístico no Brasil e na França. Especialista em jogos cooperativos, apaixonou-se pelo tema da educação e tornou-se diretor de Sustentabilidade e Inovacao do Grupo Ânima, de onde saiu, em 2012, para cofundar o coletivo www.educ-​­acao.com. Atualmente é aluno de Mestrado em Desenvolvimento Sustentável no Sustainability Institute, na África do Sul. JUNHO 2013

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ESPECI A L Educação Cloud Institute

Inteligência e inovação para os sistemas de ensino Com metodologia e ferramentas inovadoras, o Cloud Institute apoia educadores e comunidades para uma educação sustentável

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Ideia Sustentável

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“Q

ue sentido faria educar para um futuro sem esperanças?”, questiona a educadora Jaimie P. Cloud, na abertura de seu livro Educação para um Futuro Sustentável. Para Jaimie, fundadora e diretora do Cloud Institute for Sustainability Education, “esperança significa unir uma visão com a capacidade de rea­li­zá-la. Cultivarmos isso em nossas crian­ças: faz sentido tanto para nós e para elas mesmas como para o mundo ao redor”, afirma.

A organização sem fins lucrativos, fundada em 1995 e localizada em Nova Iorque, dedica-se à construção de cenários otimistas e desenvolvimento de capacidades de ação consistentes com visão sustentável. “Enquanto educadores, não advogamos uma posição em particular. Que­re­mos ver todos pensando com profundidade, utilizando a informação da melhor forma, com pensamento crítico, sistêmico e cria­ti­vo. Assim, poderemos nos organizar em busca do futuro que queremos. Objetivamente, em nossos trabalhos, vi­ven­cia­mos múltiplas perspectivas. Buscamos resolver temas controversos considerando diversos pontos de vista, pois somos cons­cien­tes da nossa responsabilidade em decidir como operar e dar continuidade a eles”, afirmou Jaimie, em entrevista à Ideia Sustentável. Os serviços oferecidos pelo Instituto in­cluem consultoria e desenvolvimento de lideranças; desenvolvimento e aconselhamento de profissionais; design de currículo, ava­lia­ção, ma­pea­men­to e alinhamento; e parceiras entre escolas e comunidades do entorno. O Cloud trabalha, sobretudo, com escolas e professores do chamado K-12 dos Estados Unidos, que com­preen­de o pe­río­do edu­ca­cio­nal que vai do jardim de infância (4 a 6 anos) até a 12ª série (18 a 19 anos). No Brasil, equivaleria ao Ensino Fundamental e Médio, com dois anos a mais. Com avançada visão pedagógica, o Cloud tem como missão garantir a via­bi­li­ da­de de comunidades sustentáveis, aproveitando o sistema de ensino para preparar os jovens para a mudança em direção ao futuro. “Nossos padrões promovem cons­cien­ti­za­ção e efi­ciên­cia entre estudantes e professores. Com perspectivas mais amplas, podemos resolver mais de um dilema por vez, ao mesmo tempo, minimizando o surgimento de novos problemas”, diz Jaimie. Como nos Estados Unidos o Departamento de Educação estuda firmar parâmetros para ensinar sustentabilidade nos currículos oficiais, o Instituto Cloud


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Jaimie Cloud Fundadora e diretora do Cloud Institute

“O resultado mais autêntico do nosso trabalho é que as crianças passam a se envolver com a comunidade em que vivem. Em seis meses, reduzem o consumo de energia e a produção de lixo em uma média de 60 a 80%; deixam de ‘matar’ aulas e jogar tempo fora e passam a se preocupar com a cultura orgânica da comida dos refeitórios.” enxerga, nesse processo, uma oportunidade de re­c riar modelos curriculares junto às escolas públicas e privadas, adaptando novos olhares para a educação. Ultimamente, dedica-se a desenvolver campos de inovação como bio­mi­ mé­ti­ca, neurociências, ética am­bien­tal, pensamento sistêmico, entre outros. São nove, no entanto, os con­teú­dos centrais ao Instituto: Preservação Cultural e Transformação; Responsabilidade Local e Cidadania Global; Dinâmicas de Sistemas e de Mudanças; Economia Sustentável; Assuntos Comuns à Saú­de; Leis Naturais e Prin­cí­pios Ecológicos; Inventando e Afetando o Futuro; Perspectivas Múltiplas; e Senso de Lugar. Contudo, o diretor-​­sê­nior de Educação e Pesquisa do Cloud, Moira Wilkinson, adverte, no site da instituição: “Nenhum deles pode contribuir sozinho para a educação. Os nove con­teú­dos que promovemos e os indicadores que os acompanham são movidos conjuntamente por resultados catalíticos. Essa coleção, ao mesmo tempo com­preen­si­va e rigorosa, é ba­sea­da em campos de pensamento relevantes, cuidadosamente se­le­cio­na­dos e designados para integrarem sua­ve­men­te os programas já existentes.”

Segundo Jaimie Cloud, atual­men­te alguns importantes programas encontram-se em andamento. O New Jersey Learns, por exemplo, destina-se ao treinamento de educadores — formais ou não —, stakeholders e líderes comunitários em Nova Jersey para trabalharem junto às instituições municipais por um futuro sustentável. “Em oito dias, desenvolvem-se novas formas de pensar, favorecendo uma mudança de paradigmas que fortaleça formas diferentes de agir”, diz a diretora da instituição. Já o Summer Design Studio, programa de verão sobre design de currículos com duração de cinco dias, foca os planos de ação e desenvolve protocolos e ferramentas para trabalhar a educação para a sustentabilidade em sala de aula. “Além disso, fundamos o projeto na­cio­nal SoL Education Partnership, junto ao professor Peter Senge, do MIT – Instituto de Tec­ nologia de Massachusetts, para disseminarmos o aprendizado resultante de ex­pe­riên­cias nas escolas e comunidades pelo país, promovendo um intercâmbio de ideias entre elas e acelerando as metas na busca por sustentabilidade”, en­tu­sias­ma-se Jaimie. Tal qual a contribuição de Senge, os con­teú­d os trabalhados pelo Instituto têm sido também in­f luen­cia­d os por prin­cí­pios do estudo de liderança, segundo a teo­ria de David Rock. O fundador do Instituto de NeuroLideran­ ças (NeuroLeadership Institute), es­pe­cia­ lis­ta em treinamento de líderes, gestores, mudança or­ga­ni­za­cio­nal e consultoria, oferece suporte aos trabalhos de temas como, por exemplo, fun­cio­na­men­to da mente em­preen­de­do­ra; pensamento sistêmico; dinâmica sistêmica e características da re­si­liên­cia. Basicamente, os treinamentos do Cloud partem do simples princípio de que “nossos pensamentos determinam nossos comportamentos. Estes, por sua vez, afetam nossos resultados”. Nesse sentido, compartilha ex­pe­riên­cias de aprendizagem por mecanismos de

dinâmicas. O Fish Game, por exemplo, é uma simulação educativa para harmonizar atividades humanas, recursos e limites da natureza, favorecendo a mudança de paradigmas e buscando ­criar espaço para novas conexões cognitivas. O exercício leva o aluno a sair da zona de conforto e “pensar fora da caixa”, o que, naturalmente, o conduz a novas formas de crescimento. A metodologia do Cloud, portanto, prepara um “circuito de mudanças”, isto é, cria condições para o desenvolvimento de novos hábitos. “Os melhores resultados vêm do papel que os jovens adquirem quando se comprometem com a sustentabilidade do futuro. Eles logo tomam a liderança, passam a se envolver em níveis da comunidade e contribuir apaixonadamente. Esse trabalho holístico se reflete em diversos aspectos: melhor rendimento escolar, professores mais satisfeitos, crian­ças mais saudáveis”, celebra Jaimie. Embora o foco do Instituto ainda sejam as escolas norte-​­americanas, os resultados da metodologia têm repercutido em outras partes do mundo. E seus recursos multimídia têm sido disponibilizados para venda na webstore do site da instituição. Entre os materiais de formação que podem ser adquiridos há ví­deos (como o de introdução à sustentabilidade), podcasts, webinars, o kit com ma­te­rial de apoio para utilização do Fish Game, aulas e lições diversas, indicadores de performance, ferramentas para o ensino, exemplares de currículos escolares, artigos e uma densa bi­blio­te­ca de recursos pedagógicos. (Marília Arantes)

Para Saber M ais The Cloud Institute for Sustainability Education 307 Seventh Avenue, Suite 1201, New York, NY 10001 Tel.: 212.645.9930 Fax: 212.645.9931 angela@cloudinstitute.org http://cloudinstitute.org JUNHO 2013

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Eduardo Shimahara

ESPECI A L Educação Green School

Pedagogia do encantamento No meio da floresta e perto da praia, mas com currículo internacional e muita ousadia, a Green School semeia a sustentabilidade na educação de crianças e jovens

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Green School bem poderia ser um Eco Resort em meio à ilha pa­ra­di­sía­ca de Bali, na Indonésia. À beira do rio Ayung, é uma escola de excelência para crian­ças e jovens — da educação infantil até os 18 anos —, cujo campus foi desenhado para causar o menor impacto possível ao meio am­b ien­te. Com instalações feitas pri­ mor­dial­men­te de estruturas de bambu — entre outros materiais de fontes renováveis — e jardins de permacultura, foi considerada pelo Green Building Council mun­dial como a “escola mais verde do mundo”, em 2012.

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“Certamente, torna-se muito mais fácil ensinar sustentabilidade com tudo o que nos cerca, em meio à floresta, o rio correndo, jardins e animais. Nossos alunos não escutam falar simplesmente de sustentabilidade dentro de uma caixa de concreto — eles vi­ven­ciam a ciên­cia am­bien­tal a cada minuto. Esse ponto é favorável para estruturarmos práticas e design de sustentabilidade no in­te­rior pouco desenvolvido de Bali”, diz Ben Macrory, professor e diretor de Comunicação da escola. Segundo Macrory, o objetivo da Green School é preparar jovens cidadãos do mundo com responsabilidade am­bien­tal para tornarem-se líderes inovadores do movimento verde. A pedagogia holística centra-se em oito valores essenciais: integridade, responsabilidade, empatia, sustentabilidade, paz, igualdade, comunidade e con­f ian­ça. “Tudo o que fazemos é cons­ truí­do sobre a plataforma das práticas

Tecnologia que utiliza de forma inteligente os recursos naturais, pela otimização do espaço e bem-estar de quem o desfruta

sustentáveis. Sobretudo, tentamos ao máximo incluir o tema no currículo. Isso pode ser notado na transdisciplinaridade do nosso programa de Ciên­cias, o Green Studies, es­pe­cial­men­te.” A escola abriga, atual­men­te, 270 alunos de 40 paí­ses distintos. São, sobretudo, filhos de executivos em missão pro­ fis­sio­nal. Portanto, segue-se o currículo in­ter­na­cio­nal, no qual in­cluem-se disciplinas tradicionais. Estas, no entanto, são ministradas de tal forma que se enfatize a experimentação e o em­preen­de­do­ris­mo, po­ten­cia­li­za­das pelo incentivo às artes. Todavia, evitar es­te­reó­ti­pos sempre foi uma preo­cu­pa­ção: “A Green School é muito mais do que uma escola hippie no meio da floresta! Muitas questões sé­rias do mundo envolvem nossos alunos — e enfrentamos si­tua­ções complicadas, sem medo. Educamos por meio da sustentabilidade, mas sempre pensando na habilidade dos alunos, de tornarem-se competitivos e bem-​­sucedidos, enxergando


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Ben Macrory Diretor de Comunicação da Green School

“A Green School é muito mais do que uma escola hippie no meio da floresta! Muitas questões sérias do mundo envolvem nossos alunos — e enfrentamos situações complicadas, sem medo.” o mundo de forma bem ampla”, destaca o professor. O projeto pedagógico da escola diferencia-se pela metodologia fundamentada no princípio do Three Frame Day (Dia de Três Níveis), que corresponde às esferas integral, ins­tru­cio­nal e experimental. Impreterivelmente, todos os dias devem ser per­mea­dos pelos três níveis — uma estratégia para cativar os alunos, mantendo o tom de­sa­f ia­dor das atividades. Outra crença da escola é que cada aluno desenvolverá sua humanidade plena a partir de respostas físicas, intelectuais, emocionais e espirituais — os Big Four, como são chamadas as expressões essenciais, presentes em cada lição e adaptadas a todos os temas de estudo. Por exemplo, ao estudar as árvores, elas são analisadas nos quatro aspectos descritos. Segundo as diretrizes da escola com­ preen­de-se que, principalmente, na fase de estruturação das habilidades numéricas e da escrita, cada aluno progride em proporções distintas. Portanto, os educadores também desenvolvem programas de aprendizagem customizados. Apesar de cara para os padrões locais — estudar na Green School custa entre 10 e 13 mil dólares por ano — a escola oferece uma cota de 10% das vagas em bolsas de estudo para crian­ças da re­gião, mas há planos de dobrar esse per­cen­tual, com o objetivo de participação cada vez maior da comunidade nas atividades. A conjuntura do país, afinal, é es­pe­ cial­m en­te interessante para o estudo das questões de sustentabilidade, fun­

cio­nan­do como uma espécie de microcosmo para o resto do mundo. “Embora tenha uma economia basicamente agrária, atravessamos uma transformação para, ma­jo­ri­ta­ria­men­te, atender os setores de serviços. Atual­men­te, os habitantes já trabalham mais com turismo do que nas fazendas. E, ao mesmo tempo em que se reconhecem as belezas física e cultural de Bali, enfrentam-se graves de­sa­ fios ambientais, como superdesenvolvimento, poluição e exploração excessiva dos recursos naturais”, analisa Macrory. Segundo o diretor, embora essas condições sejam consideráveis para a inovação do design do currículo utilizado, há um grande cuidado para não assustar os pais dos alunos. “Estamos em um país em desenvolvimento. Como temos licença de escola in­ter­na­cio­nal, o governo não interfere no currículo nem precisamos nos adaptar aos padrões locais. Contudo, enquanto escola privada, que depende de mensalidades para cus­tear a maioria das despesas, ne­ces­sa­ria­men­te precisamos atrair pais que tenham con­f ian­ça su­f i­cien­te na educação que seus filhos receberão aqui.” Sempre que possível, as aulas acontecem fora das salas, incentivando-se interações com o mundo natural e “real”. Participando de ini­cia­ti­vas em que aprendem fazendo, os alunos, consequentemente, envolvem-se com as comunidades locais. Uma interação que tem resultado em ini­c ia­t i­v as inovadoras, como o projeto de construção de aviá­ rios, em as­s o­cia­ç ão com a Fundação Begawan, para a proteção de es­pé­cies de pássaros em extinção. Outro programa interessante acompanha a cultura do arroz — alimento muito tra­di­cio­nal na Indonésia —, digerindo-a em seu mais amplo sentido. Os alunos têm observado a retomada do plantio orgânico pelos agricultores locais que abandonaram a produção tra­ di­cio­nal pela intensiva utilização de fertilizantes e pesticidas. Assim, o ce­real — e, da mesma forma, outros temas — tornase objeto de estudos multifacetados, de acordo com seu papel histórico, cultural, econômico e até re­li­gio­so. Porém, Macrory logo pontua: “Não esperamos

que nossos estudantes tornem-se plantadores de arroz — nem mesmo os alunos balineses. Mas que enxerguem uma tigela desse alimento com apre­cia­ção pelo trabalho que se teve para chegar até ali e essa cons­ciên­cia in­f luen­ cie o curso de vida, futuramente, considerando os efeitos de suas escolhas no planeta”, explica. Mesmo para habilidades mais tradicionais, que geralmente exigem prática e repetição, como matemática, inglês, música, teo­ria e outras línguas estrangeiras, trabalham-se abordagens com base nas teo­rias da múltipla inteligência e da aprendizagem profunda (deep knowledge), visando despertar cu­rio­si­ da­de e interesse, e procurando manter os alunos em processo de aprofundamento e autodescoberta por toda a vida. O am­b ien­t e pro­p or­c io­n a­d o pela Green School colabora para que o processo de aprendizagem seja considerado uma obrigação, sem dúvida, porém muito divertida. Nesse sentido, os educadores abusam da cria­ti­vi­da­de para tirar proveito da fase em que as crian­ças imitam os adultos. Valorizando a admiração pelo mundo dos mais velhos, nos primeiros anos de vida, a escola incentiva a visita de convidados especiais, que estejam envolvidos integralmente em atividades como artes visuais e música, para que os alunos possam espelhar os melhores exemplos aos pequenos. A ex­cep­cio­na­li­da­de da ex­pe­riên­cia de ensino da Green School, no entanto, será colocada à prova no final deste semestre, com a formatura da primeira turma da escola — que abriu suas portas ofi­cial­men­te em 2008. “Logo começaremos a perceber como se dá, efetivamente, a nossa relação com o mundo real”, conclui Macrory. (Marília Arantes)

Para Saber M ais Green School Bali Jalan Raya Sibang Kaja, Banjar Saren Abiansemal 80352, Bali, Indonesia Tel.: + 62 361 469 875 yani@greenschool.org www.greenschool.org JUNHO 2013

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Rosiani Baron Telles

ESPECI A L Educação Colégio Bandeirantes

Saindo da caixa

“P

arece que, na escola, nos ensinam a colocar o mundo em caixas separadas, em pedaços. Quan­do entramos em um curso como este, fica mais fácil passar a enxergar as conexões, entender a complexidade.” As palavras de Gio­van­na Frate, aluna do projeto Educa­ ção para a Sustentabilidade, do Colé­ gio Bandeirantes, em São Paulo, sur­ preen­dem pela qualidade da percepção. Aos 17 anos, ela participa pela segunda vez da atividade extra-​­curricular oferecida pela escola para envolver estudantes e torná-​­los protagonistas de mudanças. O Band, como é conhecido, está entre as escolas particulares com maiores índices de aprovação nos principais vestibulares do país — a média geral chega aos 70% a cada ano. Embora o tema da sustentabilidade ainda não esteja transversalizado no currículo, entendeu-se que não era possível negligenciá-lo. No final de 2009, um grupo multidisciplinar de professores dispostos a encarar a tarefa de levar o conceito para o dia a dia da escola desenvolveu o projeto para ­criar uma cultura que envolva toda a comunidade. “Tínhamos uma série de ini­cia­ti­vas, mas nada sistematizado. Em um levantamento, constataram-se

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Cristiana Mattos Assumpção Ricardo Birrer

Desenvolver a noção de interdependência e o protagonismo dos alunos para torná-​­los agentes de mudanças é objetivo de projeto do Colégio Bandeirantes

Coordenadora do projeto Educação para Sustentabilidade do Colégio Bandeirantes

“Sozinha, não conseguiria fazer um trabalho aprofundado. Nossa formação foi segmentada; já o curso é sistêmico. Como bióloga, tenho de ler e aprender sobre diversos outros assuntos para colaborar com os alunos e os outros professores. Humildade para reconhecer nossos limites e procurar apoio de especialistas é fundamental.” duas demandas muito fortes para as escolas do futuro: sustentabilidade e ética. Precisávamos de algo concreto”, diz Cris­tia­na Mattos Assumpção, coor­de­na­ do­ra do curso. Na primeira turma, alunos da 1ª série do Ensino Médio colaboraram na elaboração, aplicação e análise de um questionário di­re­cio­na­do aos estudantes do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental para verificar suas noções e práticas de sustentabilidade. A partir dos resultados, passaram a idea­li­zar e rea­li­zar propostas concretas de me­lho­rias da escola, com amostragem, orçamentos, alternativas e comunicação.

“Com a pesquisa, descobrimos, por exemplo, que o uso exagerado de copos plásticos era uma preo­cu­pa­ção dos alunos. A partir dos dados — eram mais de 30 mil copinhos descartados por semana no colégio —, orien­ta­mos os participantes do curso no desenvolvimento de uma campanha para o uso cons­cien­te e, mais ainda, encontramos uma solução conjunta: garrafinhas personalizadas, duráveis, para todos. Assim, nossos agentes veem seu trabalho perdurar no tempo”, comemora Edson Grandisoli, consultor do projeto. Os interessados inscrevem-se no início do ano, passam por uma formação teó­ri­ca ao longo do primeiro semestre e, no segundo, ini­ciam as intervenções na comunidade escolar. Nesse processo, entram em contato com ins­tân­cias com as quais não mantinham uma comunicação horizontal, dividem conhecimentos com alunos de sé­ries an­te­rio­res, rea­ li­zam campanhas de sensibilização, entre outras ini­cia­ti­vas. Se os currículos atuais, na maior parte das vezes, limitam os processos de ensino e aprendizado às paredes das salas de aula e às teo­rias, superar tradições é um dos principais obstáculos da educação para a sustentabilidade. À primeira vista, o desafio pode parecer instransponível. Mas o projeto do Colégio Bandeirantes parte de um princípio facilitador: explorar temas aparentemente simples, com profundidade, pode demonstrar como eles são significativos tanto para estudantes como para professores envolvidos. Para o futuro, par­ce­rias entre co­lé­gios que se preo­cu­pam com o tema são uma forte tendência. Afinal, sustentabilidade envolve coo­pe­ra­ção. “A ideia básica é de que alunos de escolas diferentes possam se encontrar para trocar ex­pe­riên­cias e, talvez, um intervir no colégio do outro”, adian­ta Cris­tia­na. (Fábio Congiu)

Para Saber M ais Colégio Bandeirantes Rua Estela, 268, São Paulo, SP, CEP 04011-​­001 Tel: (11) 5087-​­3572 sustentabilidade@colband.com.br http://sustentabilidade.colband.net.br


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ESPECI A L Educação Escola Politeia

Autonomia, responsabilidade e sustentabilidade são princípios para uma educação inovadora na Escola Politeia

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uitas vezes, a sustentabilidade é tratada como um conceito estritamente re­la­cio­na­do ao de meio am­bien­te ou ecologia. Porém, ele abrange vá­rias outras questões, como diversidade, liberdade e democracia. Essa com­preen­são, mais ampla, guia a Escola Politeia de São Paulo, onde estudantes do Ensino Fundamental têm voz ativa nas decisões pedagógicas e veem valorizados os seus potenciais físicos, afetivos, corporais, sociais e intelectuais no processo edu­ca­cio­nal. Trata-se da chamada “educação democrática”, princípio que garante direitos iguais a estudantes, professores (ou facilitadores), fun­cio­ná­rios e demais agentes do espaço escolar. Os alunos devem, portanto, decidir em conjunto o que querem estudar ou que atividades pretendem desenvolver, a partir de um di­re­cio­na­men­to sólido pautado por autonomia e responsabilidade, ou seja, pelo equilíbrio entre o in­di­vi­dual e o coletivo. “As escolas democráticas têm características semelhantes entre si, não um modelo a ser seguido. A sustentabilidade como princípio edu­ca­cio­nal, por exemplo, é um di­fe­ren­cial nosso”, afirma Osvaldo de Souza, gestor da Escola

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Democracia na prática Osvaldo de Souza Gestor da Escola Politeia

“Quando falamos em sustentabilidade como princípio, não nos referimos somente à sustentabilidade ambiental, mas também à econômica e de relações. A primeira é mais comum de se trabalhar. A segunda consiste em entender como funciona o sistema econômico para dar o devido valor ao dinheiro, isto é, os estudantes ajudam a direcionar o orçamento da escola. E a terceira, por fim, implica não trabalhar as ideias de advertência, suspensão e castigo, mas sempre o diálogo.” Politeia, que promove a participação das crian­ças e jovens nas ini­cia­ti­vas de ensino e aprendizado e orien­ta-os para saudáveis relações com a comunidade interna e a do entorno. São cerca de 20 alunos para 13 professores, responsáveis por ajudar os estudantes a com­preen­der melhor seus pró­prios interesses e a estabelecer um Projeto Coletivo por semestre, em turmas divididas em ciclos — um corresponde ao pe­río­do do 1º ao 3º ano de

uma escola tra­di­cio­nal; outro, do 4º ao 6º; e, o último, do 7º ao 9º. As classes reduzidas qualificam o acompanhamento e po­ten­cia­li­z am a formação de in­di­ví­ duos cons­cien­tes de suas ações, objetivo principal da escola. Há também incentivos para que os jovens desenvolvam suas cu­rio­si­da­des na forma de pesquisas individuais, bem como para o entrosamento de alunos com interesses similares, nos Grupos de Estudos e Aprimoramento. A escola participou, ainda, de projetos como o Currículo Global para a Sustentabili­ dade, proposta de ONG s internacionais e nacionais que estimula educadores a incorporar o tema às suas aulas por vie­ ses não tradicionais, como justiça so­cial, direitos humanos, cultura, interdependência global, entre outros. A ini­cia­ti­va envolveu, entre 2010 e 2012, cerca de 200 professores de 40 escolas de Ensino Fundamental ao redor do mundo. Por meio da transdisciplinaridade, a Politeia busca superar a hegemonia do pensamento cien­tí­f i­co — considerado segregador — e ultrapassar os muros da escola, integrando a vida estudantil e a da comunidade. Seus métodos exigem uma organização di­fe­ren­cia­da do tempo em relação a instituições convencionais: vale-se de ciclos de aprendizagem, mais longos, que visam promover habilidades mais profundas do que o acúmulo de informação, sempre com respeito ao ritmo e ao talento de cada um. “Os estudantes saem da Politeia com muito mais autonomia para decidir o que vão fazer, o que querem aprender e onde vão estudar. Sua capacidade de pesquisa é muito desenvolvida. A escola tra­di­cio­ nal promete ensinar tudo e não o faz. Nós nos propomos a ensinar o máximo possível, de acordo com o interesse dos alunos”, sentencia Osvaldo. (Fábio Congiu)

Para Saber M ais Escola Politeia Educação Democrática R. Dona Germaine Burchard, 511, Água Branca, São Paulo, SP, CEP 05002-​­062 Tel.: (11) 3803-​­9805 secretaria@escolapoliteia.com.br http://escolapoliteia.com.br JUNHO 2013

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ESPECI A L Educação Entrevista: Diane Tavenner, diretora executiva e cofundadora da rede Summit Public Schools

que aconteceu com a escola pública norte-​­a mericana?” Dian­te do questionamento de um grupo de pais de estudantes do Vale do Silício, na Califórnia (EUA ), a educadora Diane Tavenner entendeu que estava na hora de engajar-se no esforço de desenvolver um modelo inovador e replicável para o ensino secundário. Em 2003, nascia, portanto, as Summit Public Schools, hoje um grupo de charters schools (escolas públicas com administração privada) cuja missão é garantir que cada aluno da comunidade não só seja se­le­cio­na­do por uma universidade como também obtenha sucesso nos quatro anos de estudo. O resultado deu tão certo que, hoje, a ex­pe­riên­cia está entre as 10 mais transformadoras, segundo a revista Newsweek, ocupando a 36ª posição entre as 23 mil escolas dos Estados Unidos. No­mea­da uma das “Action Heroes” do Centro de Reforma da Educação americana, Diane conversou com Ideia Sustentável durante o Transformar, evento de educação ocorrido em abril, em São Paulo.

Ideia Sustentável – Como se trabalha a questão da sustentabilidade nas Summit Schools? Considera-se a transversali­ dade do tema ao preparar os alunos para o futuro? Diane Tavenner – O tema da sustentabilidade está no coração daquilo que nos esforçamos para fazer. Para se pensar e resolver grandes problemas, é preciso fazer perguntas melhores. Que­re­mos que nossos alunos possam aprender ao rea­li­ za­rem coisas. Os currículos escolares tradicionais são velhos e muito ultrapassados. Por exemplo, os de Bio­lo­gia, Quí­mi­ca e Física. Em nossa escola, ensinamos, por exemplo, “Ciên­cias do Meio Am­bien­te”, porque essa nomenclatura traz todos os recortes cien­tí­f i­cos. Nossos alunos também rea­li­zam grandes projetos sobre as relações entre essas ciên­cias, a política e o governo. Acredito que esse novo modelo

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de educação é capaz de desenvolver o tipo de cidadãos para o mundo. E, por estarem mais bem preparados, tornarão melhores as nossas so­cie­da­des.

IS – Então será preciso que a educação com­preen­da uma visão mais integral? DT – Sim, porque os alunos já estão trazendo essas questões. Por exemplo, uma de nossas escolas tem uma horta. Ela foi cria­da a partir da cu­rio­si­da­de de um aluno sobre como cultivar alimentos

Diivulgação

“O

Educação customizada

e tudo o que envolve a produção de sua própria comida. Nós abraçamos a dúvida que ele trouxe. Portanto, essas respostas — atitudes em relação ao meio am­bien­te — vêm naturalmente do processo de aprendizado e do que ensinamos no dia a dia. IS – Você mencionou, na sua palestra, que o modelo in­dus­trial de educação ainda em vigência serve mais para for­ mar prisioneiros do que cidadãos para a vida. Como conseguir a grande rup­ tura dessa antiga “linha de produção” edu­ca­cio­nal? DT – O modelo vigente é um modelo in­dus­trial, ba­sea­do nas fábricas. Nos Estados Unidos, moldamos a indústria automobilística — tivemos a Ford com sua linha de produção. No entanto, vivemos

no Vale do Silício e, lá, estamos redefinindo a manufatura. A forma de produção já não é mais a mesma. Porém, a educação continua da mesma forma. Posso dar um exemplo simples: o iPhone. Você pode comprá-lo online, ele chegará em três dias e você poderá escolher a capinha, a cor, muitos detalhes que irão customizá-lo de forma que fique mais parecido com você. Esse é um novo processo de manufatura. E acredito que a educação deva seguir a mesma ideia. Portanto, precisamos fazer uma grande reforma, agora! Embora não se consiga personalizar o ensino para todos de uma vez só, é possível fazer isso para alguns e ir ganhando uma escala tal que os custos fiquem razoáveis. Nesse sentido, seria interessante olhar para as in­dús­trias de séculos atrás, que tiveram de se reinventar para tentar entender como elas se transformaram. Na minha opi­nião, a tecnologia é o grande divisor de águas. Ela vai mudar o jogo porque torna possível ou facilita coisas que antes eram impossíveis. Existe todo um avanço da “ciên­cia smart” por trás do que está sendo lançado de efetivamente cria­ti­vo. A tecnologia é uma boa ferramenta para apontarmos o que cada pessoa está precisando e trabalhar as soluções.

IS – Qual o maior desafio para se melhorar a capacidade de ensino dos professores? DT – Honestamente, vencer o medo. As pes­soas têm medo de rea­li­z ar coisas que nunca fizeram. Quan­d o isso acontece, faz-se somente aquilo que já se sabe — não se toma riscos ou tentase algo novo. No meu país, atual­men­te, existe uma pressão muito grande sobre os professores. Fala-se muito que eles não estão fazendo um bom trabalho e por isso as coisas não estão fun­cio­nan­do bem. Então, o nosso desafio é fazer algo de forma diferente: dar chance para a paz e para que os professores possam trabalhar sem medo. (Marília Arantes)


João Lebrão

ESPECI A L Educação Entrevista: Contardo Calligaris, psicanalista

Ética não se ensina na escola

A

frase-​­t ítulo desta entrevista certamente provoca reflexão. E, sem dúvida, essa é uma característica marcante do psicanalista ita­lia­no, radicado no Brasil, Contardo Calligaris. Doutor em psicologia clínica, colunista de jornal e escritor, Calligaris dedica-se es­pe­cial­men­te às questões da adolescência — fase da vida que dá nome a um de seus livros mais lidos e estudados —, justamente por considerá-la uma das mais potentes fontes de energia da atua­li­da­de. Ética e sustentabilidade na educação de jovens e adolescentes foram temas da entrevista concedida à Ideia Susten­ tável, durante evento para educadores em São Paulo. Ideia Sustentável – Na sua opi­n ião, a educação de jovens e adolescentes tem levado em conta as questões de sustentabilidade? Contardo Calligaris – Em algumas escolas que conheço — porque visitei, inclusive como palestrante, ou pelo contato com os pais — acho que no mínimo existe essa ambição. Mesmo no ensino público (sem generalizar), vejo que existe a preo­ cu­pa­ção de sensibilizar essa população — falo de até 12 anos, do Ensino Médio e até alunos menores — com a questão da sustentabilidade. Uma coisa que era totalmente fora do campo de interesse de uma crian­ça da minha geração. Lembro-me do primeiro Relatório do Clube de Roma — que, ­aliás, era excessivamente alarmista, porque carregava no tom de que o mundo iria acabar logo. Isso era recebido, no fundo, com uma certa dose de ceticismo. E, real­men­te, não entrava no currículo escolar de nenhuma maneira. Isso sensivelmente mudou. Você deve ter constatado uma enorme quantidade de crian­ças pequenas que são capazes, por exemplo, inclusive de fazer observações aos pais sobre condutas an­tie­co­ló­gi­cas de qualquer tipo. Na minha época, no máximo, alguém

Psicólogo e filósofo americano, contemporâneo de Jean Piaget, dedicou‑se a estudar o desenvolvimento moral do ser humano, de 1958 até sua morte, em 1987

poderia dizer: “Vamos apagar a luz porque não somos só­cios da Light!” Mas, hoje, a preo­cu­pa­ção existe porque a energia é questão de preservação do planeta. IS – Falando mais especificamente do adolescente, você acha que entre eles há espaço para essa discussão? Consi­ derando-se o mundo in­di­vi­dua­lis­ta, con­ sumista e ma­te­ria­lis­ta em que vivemos, como ela “pega” o adolescente? CC – Existe sim. A vida simples, hoje, é um lifestyle cons­ti­tuí­do como tal. Podemos até achar engraçado, mas é. Vida simples não é somente a expressão de um cuidado ou simplificar for­mu­lá­rios burocráticos, mas real­men­te ter uma vida de menor impacto, com menor “pegada” no mundo. É um estilo de vida assumido pela roupa que se escolhe, a quantidade, os materiais usados, reciclados ou não — independentemente se o custo será mais vantajoso —, a maneira de decorar seu apartamento. Tudo isso é um estilo de vida. Talvez menos no Brasil do que nos Estados Unidos ou na Europa. O que também é com­preen­sí­vel, porque, paradoxalmente, você não vai poder pedir essa atenção às classes que acabam de ter acesso ao consumo, porque elas vão querer provar tudo o que os pais não tiveram ou puderam. É muito cedo para pedir isso aos adolescentes no Brasil. IS – Ética e valores são essenciais quando se fala em sustentabilidade (refiro-me não apenas ao aspecto am­b ien­t al do termo, mas também econômico e so­cial).

Você acha que esses de­ve­riam ser temas dos currículos escolares para adolescen­ tes e jovens? CC – Não acredito que ética e valores possam ser ma­té­rias curriculares. O único ensino de ética que vi fun­cio­nar eram as aulas de dilemas éticos inventadas por Lawrence Kohlberg, e não dis­po­ría­ mos de pes­soas qualificadas para isso. Um ensino positivo de valores seria recusado pelos jovens — e, devo dizer, com minha total aprovação. IS – Os adolescentes de hoje serão nos­ sas lideranças de amanhã, nas empresas e nos governos. Como atrair a atenção deles para as questões da sustentabi­ lidade sem que isso pareça chato, de modo que possamos ter esperança em lideranças mais éticas no futuro? CC – A ficção (cinema, em particular) já se ocupa disso há tempos. Não é nenhuma surpresa. O patrimônio ético da modernidade está nas ficções — li­te­rá­rias, cinematográficas, televisivas. Escreva um bom se­ria­do sobre o tema e será muito mais efi­cien­te do que 100 aulas! (Cláu­dia Piche) Publicado em 1972 e intitulado de Os Limites do Crescimento, tornou-se o primeiro documento de repercussão sobre o tema entre cientistas e governantes. Também conhecido como Relatório Meadows, o estudo propunha crescimento econômico zero e influenciou, de maneira decisiva, o debate na Conferência de Estocolmo, realizada no mesmo ano, quando surgiu a primeira definição do termo sustentabilidade JUNHO 2013

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ESPECI A L Educação Entrevista: Nicole Hinostro, diretora pedagógica da High Tech High

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Designers do ensino

High Tech High é uma rede de escolas de San Diego (Califórnia) que tem reinventado a educação nos Estados Unidos, nascida da necessidade de uma maior conexão do ensino com a necessidade dos alunos. Hoje, a rede pública, administrada pela ini­cia­ti­va privada (charter schools), opera 11 escolas (duas de Educação Infantil, quatro de Ensino Fundamental e cinco dedicadas ao Ensino Médio). A metodologia apoia-se no aprendizado ba­sea­do em projetos e nos quatro pilares apontados por es­pe­cia­lis­tas como essenciais para formar alunos para o século 21: personalização, conexão com o mundo, interesse comum em aprender e professor como designer do aprendizado. O grupo também é famoso por manter a sua própria instituição de pós-​­gra­dua­ção para os professores, preparando-os para esse novo modelo de ensino. Diretora pedagógica da High Tech High, Nicole Hinostro conversou com Ideia Sustentável.

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Ideia Sustentável – Como você enxerga o tema da sustentabilidade na educa­ ção infantil? Qual a melhor maneira de formar cidadãos mais bem prepa­ rados para enfrentar os de­s a­f ios dos novos tempos? Nicole Hinostro – O que com­preen­de­ mos a partir da prática do ensino ba­sea­do em projetos é que um dos temas primordiais que temos à mão para desenvolver estudos é o meio am­bien­te. Há um valor imenso em trabalhar isso. Nossos alunos, por exemplo, projetam anún­ cios públicos em relação à vida ecologicamente correta e rea­li­zam campanhas pela reciclagem e reutilização de materiais, para captar água da chuva, cuidar de jardins e hortas. Os projetos em sustentabilidade são os que aparecem mais

constantemente em nossas escolas porque, com eles, temos possibilidades de desenvolver habilidades, já que se trata de uma necessidade ime­dia­ta pela qual todos os nossos alunos podem interagir com o mundo. Ao levá-​­los para a “vida real”, eles acabam também se re­la­cio­ nan­do melhor entre si. Além disso, é fácil

misturar as ciên­cias com pesquisas, linguagens, história, matemática, estatísticas, física, design, engenharia. Pela ótica da sustentabilidade, há muitas formas de integrar todas as disciplinas. IS – Pela sua ex­pe­riên­cia, quem traz mais esse assunto para a escola: os professo­ res ou os alunos? NH – Algumas vezes são os professores; outras, os alunos. Mas o que nós educadores estamos reconhecendo é que, de um modo geral, já se enxerga essa necessidade. Isso explica por que colocamos nosso foco no que chamamos de “a meta da vida real”, visando perceber

como o ensino afetará a comunidade e procurando enxergar essa necessidade. A sustentabilidade beneficia todo mundo e afetará questões da comunidade sobre o meio am­bien­te e a ecologia de forma central. IS – Na Califórnia, atual­men­te, há um grande engajamento com o tema am­bien­tal. Como esse movimento abar­ cou a área da educação? A seu ver, essa nova geração — que nasceu no universo digital — tem mesmo vindo mais bem preparada para a inovação? O que ela traz de diferente? NH – Esse tipo de ensino não acontece somente na Califórnia. Mas também ainda não está disseminado em todo o país. Temos muito trabalho pela frente! O que eu posso dizer sobre essa nova geração é que precisamos trabalhar mais co­ti­dia­na­men­te, objetivando fortalecer a capacidade de pensar de forma crítica. É preciso praticar: tentar fazer perguntas melhores, e não só corresponder ao esperado. Acredito que carregamos as respostas conosco. Mas a habilidade de so­lu­cio­nar problemas e a análise crítica são os grandes temas da educação de hoje. Nosso maior desafio é a reflexão: “Quem sou eu? Como posso tornarme parte da comunidade? Qual o sentido do meu trabalho para a comunidade?” Essa criticidade é o que estamos demandando dos alunos, é nossa meta fundamental. Assim, acredito que temos de trabalhar para construir cidadãos ativos, formar um público capaz de engajar a comunidade na resolução de problemas, com coe­rên­cia, cons­ciên­cia, de forma inovadora e mais ousada. Acredito que isso não deva ser só in­di­vi­dual­men­te, mas vir, principalmente, da dimensão da coletividade. (Marília Arantes)


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OPINI ÃO : Educação do Consumidor Por Fabián Echegaray

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Apelos ambientais e educação do consumidor

isponibilizar mensagens é igual a informar? Formular declarações e disseminar apelos equivale a educar? Uma boa parte da comunicação das empresas com seus consumidores sobre o trabalho que vêm rea­li­z an­do em termos de sustentabilidade é feita por meio de mensagens nas embalagens dos produtos. Uma abordagem que, aparentemente, contaria com a simpatia de uma porção importante dos consumidores já que, dentre uma série de alternativas, uma etiqueta colocada no produto é eleita como a melhor forma de comunicar sobre o trabalho corporativo em sustentabilidade1. Mas por que esse modelo de comunicação não fun­ cio­na como meio de informação para o consumidor e levanta dúvidas sobre a transparência e in­ten­cio­na­li­da­de do esforço comunicativo por trás da rotulagem am­bien­tal? Uma pesquisa rea­li­z a­da pelo Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) em parceria com a Market Analysis aponta que quatro em cada 10 brasileiros desconhece a existência de apelos ambientais, sociais, de saú­de ou de respeito ao consumidor nos rótulos de produtos (43%). Outros três em cada 10 já ouviram falar uma vez ou outra sobre o assunto (30%). Ou seja, tem-se uma maioria da população brasileira que sequer fica exposta a esse tipo de comunicação (73%). Isso mostra que nem mesmo aqueles que elegem as etiquetas como formas ideais de comunicação estão dispostos a prestar atenção no que é comunicado nos rótulos. E, em

1  36% dos brasileiros elegem uma etiqueta no produto como a melhor maneira de comunicar o trabalho em sustentabilidade, frente a outras opções como obter uma certificação do governo, realizar trabalho com ONGs e publicar relatório de sustentabilidade. O dado é do Monitor de Sustentabilidade Corporativa, realizado pela Market Analysis.

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uma visão mais pessimista, que de fato a maioria da população não quer ver ou não se importa com esse tipo de informação. Numa época de hipervalorização da conexão com o consumidor, ferramentas ób­vias e diretas como os rótulos e as declarações se revelam inó­cuas ou produtoras de efeito contrário ao esperado.

Numa época de hipervalorização da conexão com o consumidor, ferramentas óbvias e diretas como os rótulos e as declarações se revelam inócuas ou produtoras de efeito contrário ao esperado. Para o grupo de consumidores que possui algum conhecimento dos apelos presentes nos rótulos, as mensagens ambientais são as mais sa­lien­tes: mais de metade diz respeito ao con­teú­d o am­bien­tal. A maior popularidade desse tipo de apelo não é surpresa: já em 2010, o estudo Greenwashing no Brasil avaliou uma série de rótulos de produtos disponíveis no varejo na­cio­nal e encontrou uma média de 1,8 apelos ambientais por rótulo. O que sur­preen­de é o fato de que justamente os que maior sucesso têm tido em atingir visibilidade junto aos consumidores, figuram também entre as mensagens que menor credibilidade despertam entre a população e, por

consequência, menor utilidade pos­suem como canais de informação do trabalho corporativo em sustentabilidade, pouco in­f luen­cian­do a decisão de compra do consumidor. Mais divulgação, portanto, está gerando menos per­sua­são. O que estaria por trás desse paradoxo entre alto exi­bi­cio­nis­mo dos apelos ambientais e baixa credibilidade? Existe uma ambiguidade na visão do consumidor sobre a motivação das empresas a utilizarem esse tipo de apelo. Ao mesmo tempo em que as mensagens comunicam o trabalho rea­li­za­do, entende-se que têm grande po­ten­cial de fortalecer o po­si­cio­na­men­to do produto no mercado por meio do aumento das vendas. Essa dua­li­da­de faz com que muitas vezes o consumidor perceba as mensagens mais como uma estratégia de marketing das empresas e não ne­ces­sa­ria­men­te como uma comunicação informativa do trabalho rea­li­za­do. E, muito além disso, passa-se a duvidar se real­men­te existe algo de verdadeiro nos apelos ambientais. Encontrar produtos de limpeza ou inseticidas com apelos defensivos, alegando não prejudicar o meio am­bien­te, Confiança e influência na decisão de compra das mensagens presentes nos produtos Por conteúdo das mensagens

Segurança

46% 46%

Economia de recursos

40% 46%

Saudabilidade Ambiental Social

35% 35% 31% 32% 25% 26%

■ Confiança  ■ Influência na compra


Conteúdo das mensagens de respeito empresarial à sociedade, ao meio ambiente e aos direitos dos consumidores

ou, mais chamativamente, mensagens ousadas afirmando que o produto ajuda o meio am­bien­te são candidatos seguros a gerar des­con­f ian­ça. O consumidor se pergunta: “Afinal, o produto faz bem ou é menos ruim?”; ou “Como acreditar que seu efeito possa ser am­bien­tal­men­te positivo?” O resultado é uma maioria de consumidores que acredita que as empresas exageram na comunicação am­bien­tal, levando a crer que o produto é muito menos pre­ju­di­cial ao meio am­bien­te do que na rea­li­da­de é, ou — pior — levando a crer que o produto é am­bien­tal­men­te correto, quando, na rea­li­da­de, ele possui apenas um melhoramento na embalagem ou no ma­te­rial de que é feito o seu rótulo2. Se a comunicação da forma como tem sido feita não consegue convencer os consumidores, muito menos ajudará a educá-​­los. Muito embora uma porção subs­tan­cial dos consumidores considere que os apelos são compreensíveis da maneira como são apresentados, é evidente o quanto há margem para mais de uma leitura polissêmica dessas diferentes mensagens — algumas delas capazes, inclusive, de provocar cinismo. “A empresa está fazendo a sua parte pelo meio am­bien­te e a so­cie­ da­de” é somente um dos possíveis entendimentos dessas declarações embutidas nos selos ou etiquetas. “Essa marca quer chamar atenção dizendo que é melhor em alguma coisa” é outra leitura; “É uma justificativa para cobrar mais caro pelo mesmo produto” representa uma terceira possível interpretação. Como construir uma mensagem coe­ ren­te que gere previsibilidade e contribua para formar consumidores com discernimento sobre a sustentabilidade da oferta? A resposta para esse questionamento pode vir daqueles apelos tidos como mais confiáveis pelos consumidores: mensagens que garantem a segurança dos produtos e que tratam da 2  76% dos consumidores percebem que os apelos nas embalagens levam a crer que os produtos são ambientalmente melhores do que na realidade são. O dado é da pesquisa Percepção do Consumidor sobre os Apelos nas Embalagens, realizada pelo Idec em parceria com a Market Analysis.

1% 1%

1% 10% ■ Proteção ao meio ambiente ■ Saudabilidade do produto

6%

■ Economia que o produto proporciona 6%

■ Durabilidade do produto 53%

■ Qualidade do produto ■ Segurança para as crianças

11%

■ Engajamento em causas sociais ■ Outros 11%

economia de recursos que eles pro­por­ cio­nam. São mensagens que contam, na maioria das vezes, com dois selos que são cases de sucesso no Brasil: o Inme­ tro e o Procel. O que se pode aprender com esses exemplos que po­de­riam ser aplicados em outros tipos de apelos?

Se a comunicação da forma como tem sido feita não consegue convencer os consumidores, muito menos ajudará a educá-​­los. Objetividade e facilidade de entendimento. Ao se deparar com as imagens desses selos, é possível saber de forma fácil e objetiva o que significam. No caso do selo do Inmetro, que o produto foi testado e tem qualidade, indicando inclusive restrições de uso de acordo com faixas etá­rias. No caso do Procel, indicando qual é o nível de consumo de energia do eletrônico ou eletrodoméstico por meio de uma imagem amplamente divulgada e de fácil entendimento. Mas isso não é tudo. Ambos os selos são atri­buí­dos por instituições não vinculadas às empresas fabricantes ou a as­so­cia­ções de interesse do fabricante;

■ NS/NR

são instituições públicas que, na visão do consumidor, não estarão obtendo ganhos junto com o fabricante na co­mer­ cia­li­za­ção do produto. Carregar um apelo nesses termos é bastante diferente de encontrar uma mensagem declarada pelo próprio fabricante ressaltando as qualidades do produto para o meio am­bien­te, a so­cie­da­de ou para o usuá­ rio. E essa di­fe­ren­cia­ç ão se reflete na con­f ian­ça que o consumidor atribui ao apelo e, por consequência, na utilidade desse apelo no momento de escolha de um produto. Por outro lado, a pesquisa Idec/ Market Analysis traz outros ensinamentos. É cu­rio­so (senão irônico) perceber que, justamente aquelas premissas que serviram de base para o desenvolvimento de políticas corporativas de sustentabilidade — a responsabilidade so­cial e am­bien­tal — são as que obtêm menor credibilidade entre os consumidores quando comparadas à vasta va­rie­da­de de apelos existentes nas embalagens de produtos. Um sinal de que ainda existem grandes de­sa­f ios a serem trabalhados no caminho para uma comunicação corporativa mais efi­cien­te. No intuito de querer educar o consumidor a discernir e valorizar propostas sustentáveis, não podemos nos esquecer da necessidade de educar os pró­prios formuladores da comunicação sobre sustentabilidade no in­te­rior do mundo corporativo e governamental. ❧ Fabián Echegaray é Ph.D em Ciência Política pela Universidade de Connecticut (EUA) e diretor-​­geral da Market Analysis, instituto de pesquisas especializado em sustentabilidade e responsabilidade social. JUNHO 2013

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Livre Pensar Por John Elkington

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A nova linguagem da sustentabilidade

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m número crescente de pes­s oas no mundo dos ne­gó­cios vem aprendendo a utilizar a nova linguagem e os conceitos da sustentabilidade. Enquanto alguns incorporam rapidamente, outros se complicam. Nesse sentido, uma pessoa que sabe exatamente o que está dizendo é Peter Bakker, presidente do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD). Da maneira como o faz, ele consegue envolver mesmo as pes­soas mais comuns do mundo corporativo. “Comprar um Porsche é uma emoção” — eu o ouvi dizer recentemente. “Mas não chega a ser comparável à compra de seu primeiro Boeing 747” — algo que ele realizou enquanto CEO da empresa de logística TNT. O problema com o 747, porém, é sua enorme pegada de carbono, algo que Bakker só foi descobrir mais tarde. Ele contou essa história enquanto falava no workshop interno que coor­ga­ni­za­mos

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na sede da gigante companhia alimentícia Nestlé, em Vevey, na Suí­ça. O objetivo autodeclarado de Bakker era transformar o público no que chamou de “re­vo­lu­cio­ ná­rios do mercado”.

São eles: aquecimento global, extinção de espécies, ciclo do nitrogênio, uso da água doce, conversão de florestas em plantações, acidificação dos oceanos, ciclo do fósforo, contaminação química e carga de aerossóis na atmosfera

O WBCSD publicou seu am­bi­cio­so estudo Visão 2050, há alguns anos. Reconhecendo-se tanto a importância de sua agenda flexível como as dificuldades em levá-lo para o mainstream — o

centro dos debates —, um dos primeiros atos de Bakker, ao assumir a organização, foi ini­ciar os trabalhos para se ­criar uma versão mais atua­li­za­da e melhorada do estudo. O objetivo é claro: chegar aos nove bilhões de pes­s oas no mundo, até mea­dos do século — todas vivendo bem —, dentro dos limites pla­ne­tá­rios. Contudo, pressões de curto prazo, agravadas pela crise ­atual, conspiraram para atrasar o rumo do progresso. Esses de­sa­ fios foram destacados na última rodada da pesquisa Riscos Globais, do Fórum Econômico Mun­dial. Para esquentar o assunto, Bakker decidiu testar a trajetória da pesquisa Visão 2050 conforme os nove limites pla­ ne­tá­rios identificados pelo Centro de Re­si­liên­cia de Estocolmo. O mundo, ele advertiu, está “pegando fogo” — e a falta de progresso real até agora é “assustadora.” Ele observou ainda que, segundo prevê a Agência In­ter­na­cio­nal de Ener­ gia (AIE), usinas a carvão, que serão cons­truí­das até 2017, nos levarão a uma inconcebível trajetória de cinco graus de aquecimento da Terra. De acordo com as evi­dên­cias atuais, os governos não poderão resolver isso tão rapidamente, embora não signifique que — pelo menos alguns deles — não reconheçam a importância do desafio. Mas a lição é clara: “Os ne­gó­cios são agora a única força com capacidade de romper essa trajetória.” Dito isso, as empresas precisam encontrar formas de trabalhar com os governos para resolver problemas, uma área-​­chave na qual o WBCSD se concentra. E os ne­gó­cios devem agir, portanto, desenvolvendo soluções em escala e, sobretudo, para mudar as regras do jogo mercadológico. Em vez de tentar trabalhar com todos os paí­ses ao mesmo tempo, o WBCSD


Rede social para networking entre pessoas de negócios

planeja prio­ri­zar ini­cia­ti­vas com alguns principais — os “de ponta” — com uma prio­ri­da­de es­pe­cial: as cidades. Autointitulando-se um contundente “capitalista holandês”, Bakker reconhece sua defasagem de diplomacia — pois descreve a rea­l i­d a­d e como ele a vê, mesmo que corra o risco de desapontar muitos de seus colegas no C-Suite Global. E uma coisa que ele disse pode ter perturbado um pouco os colegas da Nestlé: “Não acredito em soluções ganha-​ ­ganha (win-​­win) como principal resposta

A fim de se fazer avançar da mudança incremental para uma mudança transformadora, devemos adotar enquadramentos mais amplos, percepções mais profundas, metas mais altas e escalas de tempo mais longas. para os de­sa­f ios sistêmicos que estamos enfrentando.” O incômodo decorre do fato de que a Nestlé foi fonte do movimento Valor Compartilhado, propagado por Michael Porter e Mark Kramer. Na época, ha­vía­mos convidado Mark Kramer para fazer uma apresentação em vídeo para o Workshop Zero Nestlé — nele, Kramer aceitou que, embora o “valor compartilhado” seja uma poderosa maneira de enquadrar os de­sa­f ios de estratégia dos ne­gó­cios — ao mesmo tempo em que cresce o espectro de ferramentas para ajudar líderes empresariais a alcançar soluções win-​­win —, o objetivo nunca foi o de enfrentar de­sa­

fios sistêmicos, como as mudanças climáticas, com a urgência necessária à “emergência global” que Peter Bakker enxerga. Portanto, em vez de permitir disputas territoriais entre defensores do “valor compartilhado” e “comunidades de sustentabilidade”, os participantes do workshop con­cluí­ram que o caminho mais indicado a seguir deveria ser o de “hibridizar” o melhor de ambos os mundos. Dando início à sessão, eu tinha oferecido minha própria abordagem: que o “valor compartilhado” deve ser estendido para a agenda da sustentabilidade, e que a sustentabilidade deve ba­searse em “metas-​­zero” (entre elas, resíduo zero e construções autossustentáveis em energia), temas que se apresentaram nas últimas décadas no mapa da Visão 2050 do WBCSD. Quan­d o ini­c ial­m en­t e sugeri um “workshop zero” para a Nestlé, perto da época em que lancei meu livro mais recente (2012), The Zeronauts: Breaking the Sustainability Barrier, confesso que eu tinha medo de que a proposta estivesse longe demais para a maior empresa de alimentos do mundo. Em vez disso, descobri que o seu COO , José Lopez, passou anos trabalhando no Japão, e estava totalmente convencido do “poder do impacto zero” — que está no coração das abordagens japonesas de qualidade total e produção enxuta. Na verdade, ele prontamente se ofereceu para cos­se­diar o primeiro Workshop Zero. Antes, permitam-me explicar o que queremos dizer com a palavra “zeronauta”. A ideia, claro, é ba­s ea­d a nos Argonautas, o conto mítico sobre 50 antigos marinheiros gregos que tomaram o navio Argo e, liderados por Jason, foram

Modelo de negócio que se propõe a gerar lucro, porém atuando diretamente no foco dos problemas sociais

ao mar em busca de tesouro, riqueza e fama. Como geralmente acontece em tais aventuras, as coisas não saí­ram bem como eles esperavam, nem sairiam para muitos zeronautas. Então isso é o que queremos dizer com o termo:

ZERONAUTA – 1. Um inventor, inovador, empreendedor, intraempreendedor, investidor, gerente ou educador que promove a criação de riqueza durante a condução, para o zero, de impactos ambientais, sociais e econômicos adversos. 2. Alguém que descobre, investiga e desenvolve soluções inovadoras para a crescente tensão do equilíbrio entre demografia, estilos de vida consumistas e sustentabilidade. 3. Líder político ou tomador de decisão que ajuda a desenvolver marcos regulatórios e incent iv o s ne c e s s á r io s para conduzir soluções em escala para o planeta Terra.

O contexto dessa aventura é o seguinte. Um mundo de nove bilhões de pes­soas, até mea­dos do século, exigirá mudanças fundamentais em nossas mentalidades, comportamentos, culturas

Algo como Os Zeronautas: Quebrando a Barreira da Sustentabilidade, ainda não lançado em português

e paradigmas abrangentes. Assim como a humanidade rompeu a barreira do som durante os anos 1940/50, agora uma nova geração de inovadores, em­preen­ de­do­res e investidores irá se alinhar para quebrar a “barreira da sustentabilidade”. JUNHO 2013

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(Reino Unido), por exemplo — lar do chocolate KitKat —, já alcançou o “resíduo zero”. Em seguida, há o Dia­man­te de Excelência, agora usado em algumas ­áreas do negócio. O programa ostenta cinco facetas (entre elas, acidentes, custos e re­sí­duos), cada uma claramente ligada às metas do zero. Cu­rio­s a­men­te, essa abordagem foi inspirada pelas com­pa­ nhias aé­reas, que — com muito sucesso — tiveram como alvo o “zero acidentes” em suas pistas de voo. Testada primeiramente em um pequeno número de fábricas, a abordagem Dia­man­te está sendo estendida agora aos 400 (ou mais) locais de produção da Nestlé.

Se conseguirmos aprender com esses ‘zeronautas’ pioneiros, o século XXI ainda poderá ser o melhor dos tempos. Outro relato interessante de progresso veio da ini­cia­ti­va Zereau, nome que combina a palavra zero com eau (a expressão francesa para água). Isto é, projeta-se retirar completamente a água das fábricas de leite, por meio da exploração do recurso contido no alimento cru entregue nos pontos de coleta da Nestlé. Afinal, “por que dia­bos precisamos de água em uma fábrica de leite?”, perguntava-se o engenheiro-​­chefe, depois de seu momento Eureka: “88% do leite é água!” Agora, o objetivo é alcançar um impacto de água positivo, não somente reduzir a demanda do recurso subterrâneo a zero. Após a sessão, José Lopez falou sobre a necessidade de “pretendermos consequências não intencionais” sobre o que ne­gó­cios fazem, e não há dúvida de que embora empresas como

Paulo Varella

Os zeronautas estão inovando em uma sur­preen­den­te gama de ­áreas, abordando extremos de­sa­f ios econômicos, sociais, ambientais e de governança. Para dar um exemplo desse progresso até aqui, já existem organizações que se propõem cinco zeros como de­sa­f ios-​­chave (5 Ps, em inglês): zero crescimento po­pu­ la­cio­nal, zero pan­de­mias, zero pobreza, zero poluição e zero proliferação de armas de destruição em massa. A potência da redução de impactos a zero por muitas vezes foi alar­dea­da no passado, notadamente em relação aos “defeitos zero”. Os zeronautas destacam as principais lições aprendidas no campo da gestão da qualidade total — e introduzem um modelo de cinco fases, os “caminhos para o zero”. Estes atravessam desde o momento Eureka! (da descoberta) até o ponto no qual uma nova maneira de fazer as coisas torna-se endêmica na economia. A fim de se fazer avançar da mudança incremental para uma mudança transformadora, devemos adotar enquadramentos mais amplos, percepções mais profundas, metas mais altas e escalas de tempo mais longas. O livro investiga algumas maneiras em que alguns líderes zeronautas estão avançando em direções relevantes, em casos pro­ve­nien­tes de um amplo espectro da atividade humana — desde o desperdício de água até a mutilação do genital feminino, ainda praticada por algumas culturas. Se conseguirmos aprender com esses zeronautas pioneiros, o século XXI ainda poderá ser o melhor dos tempos. O desperdício de água tem sido uma das três grandes questões que a Nestlé vem prio­ri­zan­do, juntamente com o desenvolvimento rural e a nutrição. O presidente da empresa, Peter Brabeck-​ ­Letmathe, tem sido um cam­peão, e vem conquistando maior atenção pública para a questão da segurança da água. Mesmo assim, a sessão da Nestlé em Vevey provou-se bastante reveladora, com os colegas de José Lopez apresentando uma série de projetos e programas “rumo ao zero” para toda a empresa, como zero bruto, zero a zero ou além do zero. A fábrica da empresa em Iorque

a Nestlé busquem me­lho­rias por meio do valor compartilhado, precisarão manter sua visão de longo prazo intimamente focada à expansão da agenda de sustentabilidade. Mas eu também sai com uma suspeita de que as empresas que adotam essa mistura SharedValue-Sustentabilidade-​ ­Zero (valorcompartilhado-sustentabilidade-zeroimpacto) irão tropeçar em todos os tipos de consequências positivas inimagináveis. Seria a melhor maneira de olhar para tudo isso tão simples como zerar o valor compartilhado entre as gerações? No longo prazo, saberemos que fomos bem-​­sucedidos quando muito desse jargão cair e voltarmos à simples linguagem dos ne­gó­cios — objetiva e fácil de entender. ❧ John Elkington é executivo-​­chefe da Volans (www. volans.com), cofundador e diretor não executivo da SustainAbility (www.sustainability.com) e membro do Conselho Consultivo da Nestlé. www.johnelkington.com

Para Saber M ais

Para conhecer exemplos atuais de “zeronautas”, consulte a primeira Zeronaut 50 Roll of Honor (http://thezeronauts.com/roll_of_ honor.html).


Mais de 2.400 páginas de conteúdo produzidas sobre sustentabilidade, 780 entrevistados nacionais, 230 internacionais, 370 artigos produzidos. 300 matérias sobre tendências. 18 Dossiês contendo estudos sobre Liderança, Comunicação, Mercado e Tendências em Relatórios de Sustentabilidade. 450 seminários e cursos ministrados, 70 estudos de caso elaborados para clientes

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Especial Sustentabilidade

Desafios que vão impactar os negócios nos próximos anos

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Aprender para mudar

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s t e n t á v e Para quem quer liderar uma nova economia

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Uma década de afirmação e o que vem por aí

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De onde veio tanta ideia assim, há muito mais para a sua empresa S U S T E N TÁV E L ESTRATÉGIA E INTELIGÊNCIA EM SUSTENTABILIDADE

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Cidades sustentáveis e negócios sociais: o papel das empresas na nova economia


Entre vista Especial Otto Scharmer Professor do MIT e fundador do Presencing Institute Por Poliana Abreu

Migrar da visão egossistêmica para a ação ecossistêmica é o grande desafio da educação de lideranças para o futuro 74

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Educação para a liderança coletiva

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outor em Economia e Ne­g ó­cios pela Uni­ versidade de Witten– H e r d e c ke n a A l e manha, professor da Sloan School of Management do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e fundador do Presencing Institute, um centro de pesquisas de inovação e em­preen­de­do­ris­mo so­cial e am­bien­tal, se­dia­do em Cambridge, nos Estados Unidos. Não sem motivo, Otto Scharmer é reconhecido in­ter­na­cio­nal­men­te como um dos mais di­fe­ren­cia­dos es­pe­cia­lis­tas de liderança da atua­li­da­de, prestando con­sul­to­rias e assessorando empresas e governos de vá­rias partes do mundo. Na área acadêmica, desenvolveu, em conjunto com Adam Kahane, Peter Senge e Joseph Jaworski, a aclamada Teo­ria U, cuja proposta é tornar-se uma tecnologia so­cial que ajude a conectar in­di­ví­ duos, empresas e toda a so­cie­da­de. E é justamente nessa linha que segue o mais recente projeto liderado por Scharmer, o GNH Lab (Gross National Happiness Lab), lançado recentemente no Brasil em parceria com a Natura, Ministério do Meio Am­bien­te, Governo de Minas Gerais e o Instituto Arapyau. Em sua sala na escola de ne­gó­cios do MIT, em Cambridge, Scharmer concedeu a seguinte entrevista exclusiva à Ideia Sustentável, na qual compartilha a sua visão de sustentabilidade e crença sobre o futuro da educação de novos líderes.

Ideia Sustentável – Qual o seu conceito particular de sustentabilidade? Em que medida ele se in­t er­s ec­c io­n a com a Teo­ria U? Otto Scharmer – O meu conceito é ba­s ea­d o na definição tra­d i­c io­n al de sustentabilidade, que já é fa­mi­liar para a maioria das pes­soas e organizações. Porém, vai além em uma importante dimensão. Penso que o principal problema do tra­di­cio­nal conceito é que, basicamente, concentra-se em fazer “menos mal”. Mas o que precisamos, no sentido de transformar a maneira como fazemos ne­gó­cios — que é insustentável —, é nos movermos da ideia de fazer menos mal para a de torná-la uma força de cria­ção de bem-​­estar coletivo. Esta é a principal crítica ao conceito de sustentabilidade, incluindo o triple bottom line, que mensura muitos pontos, mas não informa o su­f i­cien­te sobre o core business das empresas. Por exemplo, o Goldman Sachs está respondendo muito bem aos indicadores do triple bottom line (econômicos, ambientais e sociais), rea­li­zan­do uma série de ini­cia­ti­vas muito interessantes. No entanto, todos sabem que seu core business contribui para uma massiva onda de externalidades negativas, que atinge centenas de milhares de pes­soas. Talvez algo esteja errado com o que eles estão mensurando. Para simplificar, vejo que a crise global que estamos passando é consequência de três principais desníveis da ­atual JUNHO 2013

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comunidade em­pre­sa­rial e da so­cie­da­de em geral. O primeiro é a questão ecológica, que se refere à relação entre nós mesmos e a natureza; o segundo desnível está re­la­cio­na­do à questão so­cial e econômica, que nos separa do outro, o que pode ser exemplificado pela pobreza e desigualdade. E o terceiro desnível com o qual estamos lidando é entre a relação cultural e es­pi­ri­tual, entre o meu eu ­atual e o meu eu emergente. Ou seja, a separação entre o que faço no meu am­bien­te pro­f is­sio­nal e o meu propósito de vida. São esses tipos de desníveis que manifestam sintomas como exaustão, depressão e até suicídio. Nesse contexto, o que estou sugerindo é reinventar o conceito da sustentabilidade, levando em consideração essas três dimensões. Para mim, a cria­ção de valor e reinvenção da economia para transformar instituições e so­cie­da­de em algo sustentável significam es­sen­cial­men­te aprender a conectar esses três níveis. IS – O modelo con­ven­cio­nal de ensino de líderes nas escolas de ne­gó­cios está sob forte discussão. Que mudanças pre­ cisam ser feitas para preparar líderes afi­ nados com as demandas deste século 21, es­pe­cial­men­te as que se referem à sustentabilidade? OS – As escolas de ne­gó­cios ao redor do mundo são criticadas, e geralmente culpadas, pelo fracasso de duas si­tua­ ções: como os líderes aprendem e como se dá o seu desempenho. A crise das três dimensões que citei na resposta an­te­rior é, es­sen­cial­men­te, de liderança. O que chamo de crise ou fracasso da liderança pode ser exemplificado pela seguinte frase, que serve para a maior parte dos sistemas atual­m en­te: “Nós, coletivamente, cria­mos resultados que ninguém deseja.” Por exemplo, coletivamente operamos uma economia que usa 1,5 planetas Terra, o que representa uma massiva destruição. Nós, coletivamente, obtemos resultados em que 2,5 bilhões de seres humanos vivem abaixo da linha da pobreza, e assim por dian­te. Num contexto como esse, a maior parte das pes­soas se sente enfraquecida e incapaz de modificar essa

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si­tua­ção. Por que se sentem incapazes? Porque falta liderança. A crise da liderança, atual­men­te, não significa que não temos líderes individuais bem in­ten­cio­na­dos, mas que convivemos com uma crise de liderança coletiva. Nós, coletivamente, não conseguimos abordar os de­s a­f ios principais que enfrentamos como uma comunidade de agentes de mudanças. E as raí­zes dessa crise de liderança coletiva são duas: a primeira é o que chamo de “ponto cego da liderança”, representado pelo paradigma do pensamento econômico. Ou seja, os líderes atuais não têm sido capazes de perceber a grande transformação da so­cie­da­de, que é a transformação do capitalismo. Em minha opi­nião, há uma grande mudança acontecendo

Penso que o principal problema do tradicional conceito de sustentabilidade é que, basicamente, concentra‑se em fazer ‘menos mal’. na so­cie­da­de e pouco se fala sobre isso, contribuindo para que os líderes sejam menos informados e menos efetivos nas suas ações, porque não entendem profundamente o que está acontecendo. A segunda raiz é o paradigma da liderança. A maior parte dos treinamentos e conceitos que conhecemos sobre esse tema, hoje, está focada no indivíduo, e particularmente no líder que está no topo, geralmente o CEO. O que precisamos é, basicamente, de mecanismos para desenvolver capacidade de liderança não apenas no nível de in­di­ví­duos pré-​­se­le­cio­na­dos, mas em todo o sistema. E isso não se ensina nas salas de aulas tradicionais. Devemos desenvolver habilidades para a liderança coletiva,

mas nosso sistema edu­ca­cio­nal não está preparado para essa mudança. Por isso, as escolas de ne­gó­cios terão de se reinventar. Imagino que o caminho seja mover-se da sala de aula para o mundo real, por meio de jornadas de aprendizagem e conexão com os grandes hubs de inovação. IS – Quais universidades e escolas de ne­g ó­c ios no mundo, na sua opi­n ião, merecem destaque pela inserção da sustentabilidade em seus currículos e métodos de ensino? Poderia citar alguns exemplos? OS – Existe um número grande de propostas abordando esse conceito. Um exemplo que posso citar é a 50+20, uma ini­cia­ti­va de escolas de ne­gó­cios ao redor do mundo que tenta reinventar a educação em liderança e gestão, em termos de sustentabilidade e responsabilidade so­cial. É um esforço colaborativo que busca novas formas e oportunidades para a gestão da educação se transformar e se reinventar, não apenas em relação ao currículo mas também por meio da inovação de me­to­do­lo­gias e processos de aprendizagem. Apesar de falar da minha instituição, acho que seria apro­pria­do men­cio­nar o MIT por três razões: primeiro porque, nos últimos 10 anos, houve uma profunda transformação da universidade em relação à sustentabilidade. O que antes tinha um papel marginal, agora é um assunto estratégico, que envolve professores, estudantes e empresas. A segunda razão está conectada com o método de ensino. A aprendizagem na prática — action learning —, antes um nicho da Sloan School of Management, é atual­men­te um fator fundamental no currículo do MIT. A terceira razão é a ­atual revolução que está ocorrendo com universidades ao longo do mundo, no que tange ao ensino à distância (online learning). O MIT foi uma das instituições pioneiras a ­criar o ensino online, disponibilizando todo seu con­teú­do, e, agora, demos o segundo passo, trazendo aulas virtuais sem custo ou a baixo custo, crian­d o uma plataforma global de comunidade de aprendizado. Já não são apenas 9 mil pes­soas


conectadas com o con­teú­do do MIT, mas, po­ten­cial­men­te, 7 milhões! Isso nos faz refletir sobre as seguintes questões: se abrirmos todo o nosso con­teú­do, por que o mundo precisaria do MIT ? Qual seria o papel da instituição? São exatamente essas perguntas que estamos nos fazendo agora. Estamos reinventando os nossos processos, porque o que sabemos do futuro é que ele não vai se parecer com o passado, e não vai focar as aulas tradicionais como principal método de ensino. Precisamos aprender a inovar, e as escolas de ne­gó­ cios têm o DNA para isso. Ao longo da história, vimos, por exemplo, Stanford e MIT se tornarem os grandes hubs de tecnologia do mundo. Mas o que ainda não vimos foi uma instituição como o MIT representar um hub de sustentabilidade para o capitalismo 4.0. IS – Como as empresas estão envolvendo e educando os seus líderes para a sus­ tentabilidade? Acredita que as corpo­ rações devam cumprir esse papel? Cite ex­pe­riên­cias que considere exemplares no mundo. OS – Existem duas linhas interessantes nas práticas corporativas. Muito do que as empresas têm feito, na rea­li­da­de, são projetos de alívio, que classifico como sustentabilidade 1.0. Ou seja, empresas que apenas rea­li­zam algumas ações positivas e pontuais, e é isso que reportam em seus re­la­tó­rios de sustentabilidade. Já a sustentabilidade 2.0 é quando se começa a re­la­cio­nar esses de­sa­f ios com o core business. Poderia citar, por exemplo, a Toyota, que cria políticas de RH , investe em inovação para reduzir sua pegada ecológica, apoia ações de vo­lun­ta­ria­do, dentre outras ini­cia­ti­ vas muito relevantes. Mas, se olharmos para o core business, a Toyota continua fazendo o mesmo, produzindo automóveis. Como empresa, ainda não está focando o grande desafio do seu setor, que não é apenas reinventar o carro, mas, sim, reinventar a mobilidade. A versão 3.0 da sustentabilidade consiste em tentar contribuir para que a missão so­cial da empresa seja intrínseca aos ne­gó­cios. Como, por exemplo, uma

empresa híbrida. Esse é o mais avançado nível de sustentabilidade e está ba­sea­do em duas premissas. A primeira é que, nessa condição, o conceito de empresa está intrínseco ao de ecossistema. Trata-se

A crise da liderança, atualmente, não significa que não temos líderes individuais bem intencionados, mas que convivemos com uma crise de liderança coletiva. de uma comunidade de líderes, organizações e stakeholders que, juntos, ­criam condições para incentivar a inovação e a cons­ ciên­cia para todo o sistema. A segunda dimensão envolve o propósito e a missão. Como organização, incentivo meus colaboradores a seguirem suas paixões. E, como sabemos, esse não é o perfil das empresas tradicionais. Essa ideia está mais re­la­cio­na­da com o que discutimos hoje em em­p reen­d e­d o­r is­m o de empresas guiadas por valores ou empresas híbridas.

Esse conceito estendido de sustentabilidade ainda é raro de se ver no mundo corporativo. Mas o que começo a observar é que algumas empresas já vêm puxando esse tema para este terceiro nível de sustentabilidade, e isso é muito animador! Além disso, todos os anos, cada vez mais pes­soas têm a clareza do que esperam para o seu futuro: querem se sentir bem com o que fazem e contribuir para a so­cie­da­de. Por exemplo, quando perguntamos o que traz as pes­s oas para programas de MBA e educação executiva, como os do MIT, cada vez mais recebemos respostas do estilo: “Estou completamente sem inspiração no meu trabalho. Na verdade, quanto mais avanço na minha carreira, menos inspirado eu fico. Gostaria de seguir pro­ fis­sio­nal­men­te de uma forma que me reconecte com minhas pró­prias fontes de inspiração e que transforme o meu trabalho como líder.” Esse é um sinal claro de que os in­di­ví­duos não precisam apenas de uma nova posição em suas organizações; na verdade, eles precisam transformar suas organizações. É por isso que acredito que o grande desafio que enfrentamos é a transformação dos ne­gó­cios e da economia por meio da transição de uma abordagem egossistêmica para uma ação ecossistêmica. Isso vai acontecer do dia para a noite? Não. Vai demorar muitos anos? Sim. Devemos começar agora? Sim. JUNHO 2013

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IS – O que é a Teo­ria U e de que maneira ela pode ser aplicada à educação de líde­ res nas empresas? OS – A Teo­ria U é uma nova lente para olhar a liderança e a gestão, e também um tipo de metodologia. Como lente, permite observar a liderança e as habilidades sociais de um ponto de vista profundo, que não só leva em conta o que fazem os líderes e como o fazem, mas que enfoca algo que não tinha sido contemplado pelos teó­ri­cos: o lugar de onde ­atuam. Dessa forma, os auxilia a melhorarem sua capacidade de com­preen­der, ajudando-os a desenvolver habilidades para lidar com os de­sa­f ios mais complexos da atua­li­da­de e do futuro. A Teo­ria U se fundamenta nos pilares do Sentir, Pre­sen­ciar e Concretizar. Temos utilizado essa abordagem em projetos de diferentes proporções: alguns envolvem apenas uma organização, outros com­preen­ dem toda a cadeia produtiva, enquanto outros, ainda, envolvem um país. Acredito que o sucesso da liderança depende da qualidade da atenção e intenção que os líderes trazem para cada si­tua­ção. Dois líderes, nas mesmas cir­ cuns­t ân­cias, fazendo a mesma coisa, podem gerar resultados completamente distintos, dependendo do lugar in­te­rior a partir do qual cada um deles age. A Teo­ ria U, quando aplicada em conjunto com os líderes, ajuda a conectá-​­los com uma fonte mais profunda do seu propósito.

IS – O Senhor está liderando o GNH Lab, que recentemente foi lançado no Bra­ sil. Poderia contar um pouco mais sobre essa ini­cia­ti­va? OS – O Global Wellbeing&Gross National Happiness (GNH) Lab é um projeto colaborativo entre o primeiro-​ ­ministro do Butão (Jigme Thinley), a GIZ Academia de Liderança Global do Ministério Alemão de Coo­pe­ra­ção Econômica e Desenvolvimento, e o Presence Institute para explorar novas formas de mensurar e implementar o bem-​­estar e o progresso

As escolas de negócios terão de se reinventar. Imagino que o caminho seja mover-se da sala de aula para o mundo real, por meio de jornadas de aprendizagem e conexão com os grandes hubs de inovação.

nas so­c ie­d a­d es ao redor do mundo. Embora existam muitos esforços para desenvolver indicadores alternativos de progresso, eles não estão conquistando a atenção que de­ve­riam, es­pe­cial­men­te se pensarmos nas questões globais, como a nossa pegada ecológica ­atual de 1,5 planeta e as desigualdades de renda (2,5 bilhões de pes­soas vivendo abaixo da linha de pobreza). Precisamos não só de diferentes indicadores de progresso, mas de uma mentalidade diferente. Em vez de um conceito de desenvolvimento econômico que se baseia apenas em aumentos na taxa de transferência ma­te­rial, necessitamos de algo que reflita o impacto e o bem-​­estar das pes­soas e do planeta. Por isso, nosso objetivo é transformar esse laboratório em uma plataforma de colaboração e inovação, reunindo os principais líderes de empresas, governos e so­cie­da­de civil de paí­ses emergentes e desenvolvidos, de norte a sul. Convidamos vá­rias lideranças para explorar esse tema conosco. Alguns deles são do Brasil, como a Natura, o Ministério do Meio Am­bien­te, Governo do Estado de Minas Gerais e o Instituto Arapyau. A primeira etapa do GNH Lab foi lançada recentemente no Brasil, reunindo um grupo de mais de 30 líderes inovadores da Alemanha, Butão, EUA , Brasil, França, Suí­ça, Índia, Sri Lanka, Grã-​ ­Bretanha, Austrália e África do Sul para explorar in­di­vi­dual e coletivamente o significado mais profundo de bem-​­estar e felicidade como base de um novo paradigma de desenvolvimento, e para ajudar a alavancar o mundo para além do modelo orien­t a­d o pelo PIB (Produto Interno Bruto). Esses líderes fizeram uma profunda jornada de aprendizagem no Brasil, em janeiro deste ano, e no Butão, em abril. No Brasil, os participantes do GNH Lab percorreram favelas urbanas e comunidades na re­gião da Floresta Amazônica, próximo a Belém e Santarém. Foi uma grande oportunidade para entender a rea­li­da­de dessas comunidades sob outro ângulo — mais profundo e mais real. IS – Como inserir a sustentabilidade no planejamento estratégico de uma empresa?

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OS – Sustentabilidade pode ser perfeitamente inserida no planejamento estratégico seguindo cinco passos tangíveis. O primeiro diz respeito à composição do grupo. Quan­do se fala em sustentabilidade, é necessário considerar a cria­ção de um grupo in­ter­se­to­rial que envolva multistakeholders do am­bien­te em que a empresa está lidando. O segundo passo é convidar esse grupo para uma profunda reflexão e conhecimento da área de interesse. Por exemplo, o grupo vai vi­ven­ciar a ­atual rea­li­da­d e e o ponto de vista de stakeholders paralelos. Pode também, ir para outros paí­ses, re­giões ou uma empresa de um setor completamente diferente, para entender como as pes­soas, em si­tua­ções diversas, lidam com os de­sa­f ios levantados ini­cial­men­te pelo grupo, para entender o tema, mas também as oportunidades. O terceiro passo denomino de “práticas de profunda reflexão”, que é o momento de sintetizar o que se aprendeu e rea­li­z ar exer­cí­cios de liderança. Assim como defendo na Teo­ria U, é a fase de se usar ferramentas e práticas para abrir a mente, o coração e a vontade. Esse processo deve englobar não apenas o âmbito or­ga­ni­za­cio­nal, mas também o pes­soal. Algumas perguntas de reflexão ajudam nesse processo, tais como: Qual é o meu propósito? Que futuro queremos que emerja desse processo? Como podemos in­f luen­ciar o futuro? O quarto passo é a cria­ção de um protótipo, que é um processo interativo para desenvolver uma primeira versão da ini­cia­ti­va, testá-la localmente, envolvendo os interessados. Esse protótipo não tem de ser caro e nem sofisticado, mas algo simples, do qual a empresa possa receber feedbacks, refletir sobre o que foi aprendido, reconstruir e assim por dian­te. Após a cria­ção da versão mais simples do modelo, é o momento de partir para o quinto passo: o projeto-​­piloto, que representa a reflexão de todas as ideias do protótipo e o momento de explorar os melhores insights em um pouco mais de escala, trazendo múltiplos stakeholders para ver o que de melhor se pode obter desse piloto, como am­pliar a escala e sustentar o projeto em um

contexto mais amplo. É importante ter em mente que só aprendemos verdadeiramente a fazer algo novo fazendo e depois ajustando. O processo de ajuste pode levar horas, dias ou anos. Todo esse processo não significa apenas um tra­d i­c io­n al planejamento

Ao longo da história, vimos, por exemplo, Stanford e MIT se tornarem os grandes hubs de tecnologia do mundo. Mas o que ainda não vimos foi uma instituição como o MIT representar um hub de sustentabilidade para o capitalismo 4.0. estratégico. Porque é pes­s oal, mais diverso, mais profundo e mais prático, já que a empresa não “explora” a ideia e, sim, “testa”, recebe feedbacks e produz vá­rios protótipos no nível local, sobre como o projeto fun­cio­na.

IS – Como educar pes­soas para a susten­ tabilidade, de uma maneira mais geral? OS – Engajando-as. Por meio de envolvimento de longo prazo nos assuntos estratégicos, nos processos de inovação, decisões e nos processos de cria­ção de valor. Podemos dizer que isso pode acontecer de forma gra­dual, no ritmo normal do mundo corporativo. Mas muitas pes­soas sentem que entramos numa era de mudança disruptiva. Provavelmente, os próximos 10 anos serão muito disruptivos, em vá­rios tipos de so­cie­ da­de e ne­gó­cios. Isso significa que novas oportunidades estão surgindo, e é neste momento que a liderança importa. Liderança não significa apenas lidar com o óbvio, administrar a mudança gra­dual que estamos enfrentando. Liderança, no seu sentido mais profundo, é a capacidade de lidar com os processos de ruptura. Como educamos para isso? Crian­do novas formas de educação que ativem as capacidades para operar nesse nível de mudança. Outro ponto importante de men­cio­nar é que praticamente todas as teo­rias de aprendizagem que utilizamos atual­men­te se concentram em aprender a partir do passado: como podemos aprender a partir do que já aconteceu? Embora esse tipo de aprendizagem seja sempre importante, não é su­f i­cien­te quando estamos avançando para um futuro profundamente diferente do passado. Nesse sentido, o que necessitamos para educar melhor as pes­soas para a sustentabilidade é um conjunto de ferramentas que nos auxiliem a apreen­der do futuro na medida em que este emerge. ❧ JUNHO 2013

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Cinema SUSTENTÁVEL Sérgio Rizzo

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Educar com o audiovisual

ma crian­ç a caminha p or uma praça e atira uma garrafa plástica de água no chão. Um menino pensa em dar um chute na garrafa, mas outra crian­ça o observa e lhe dá uma bronca, explicando o que deve fazer: jogar o objeto no lixo. Em seguida, surge uma terceira crian­ça que, ao fazer o descarte de mais uma garrafa, a atira no re­ci­pien­te apro­pria­do. É o momento de a “patrulheira” aplaudir o gesto. Essas si­tua­ções são encenadas como se os personagens estivessem em um filme si­len­cio­so, sem uso de diá­lo­gos e fazendo ana­lo­gias esportivas (com o futebol e o basquete). A história prossegue em forma de corrente e envolverá as crian­ças de uma escola em um grande projeto sobre reciclagem, com a aquisição de latões para descarte seletivo do lixo. O filme em questão é La Basura És Plata (O Lixo É Dinheiro). Foi rea­li­z a­do em vídeo digital e tem cinco minutos de duração. Seus rea­li­za­do­res são alunos do Instituto Panamericano, do Panamá. Em maio, eles foram vencedores da etapa latino-​­a mericana do K WN 2013 — Kid Witness News, programa edu­c a­c io­n al voltado para a rea­li­za­ção de ví­deos por crian­ças e adolescentes de 10 a 15 anos, com o patrocínio da Panasonic. Agora, as crian­ças panamenhas vão disputar — ao lado dos outros quatro

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finalistas dessa etapa, representando Brasil, Chile, México e Peru — uma das seis vagas para a mostra mun­dial do programa, a ser rea­li­za­da no Japão. O KWN foi rea­li­za­do pela primeira vez nos EUA , em 1989. Hoje, a rede envolve 622 escolas de 29 paí­ses.

O uso do audiovisual na escola cria experiências coletivas que ganham um sentido muito especial para todos os envolvidos. Tive o prazer de integrar o júri da etapa latino-​­a mericana, ao lado de Maisa Zakzuk, diretora de T V e escritora, e de Vera Sanada, da produtora ­A V EN T UR A com BR , responsável pelas oficinas de vídeo digital ministradas nas escolas brasileiras que integram o programa. Na cerimônia de pre­mia­ção, rea­li­ za­da em São Paulo, constatei o que todos os envolvidos em projetos semelhantes sabem: o uso do audiovisual na escola cria ex­pe­riên­cias coletivas que ganham

um sentido muito es­pe­cial para todos os envolvidos — alunos, professores, gestores escolares, pais. As crian­ças e os jovens que participam dessas atividades aprendem a se expressar por meio de imagens e sons, a se organizar em equipes para trabalhar de forma coo­pe­ra­ti­va e a desenvolver uma obra audiovisual — no caso do K WN , um vídeo de aproximadamente cinco minutos em torno dos temas ecologia e comunicação — que tenha alguma espécie de repercussão na própria comunidade (e possa também correr o mundo graças à internet). Falei aqui do curta-​­metragem panamenho, mas poderia lembrar aspectos positivos presentes nos outros quatro finalistas. Se quiser assistir a eles, para se inspirar no planejamento e na execução de projetos equivalentes ou por mera cu­rio­si­da­de, me escreva por meio do meu site (abaixo) e encaminharei os links. De qualquer forma, os ví­deos expõem apenas o resultado dos projetos. É preciso afinar a visão para ir um pouco além deles e perceber que, no processo de rea­ li­za­ção, houve um trabalho de cons­cien­ ti­za­ção sobre temas de sustentabilidade que fluiu de forma intensa e natural. Tremendamente eficaz, portanto. ❧ Sérgio Rizzo é jornalista, crítico de cinema e professor www.sergiorizzo.com.br


O RECONHECIME N TO Q U E G E R A VA LO R

Jurados envolvidos

64

191

Cases apresentados na Audiência Pública Brasil

Participantes na Audiência Pública Brasil

350

364

Projetos inscritos

166

Profissionais envolvidos na produção

400

5 Regiões 16 Categorias

Empresas

ETAPAS 01. Auditoria

04. Audiência Pública Brasil *dados referentes ao Prêmio Aberje 2012

02. Triagem

03. Etapa Premiatória

05. Cerimônia de Premiação Consulte o regulamento e inscreva-se em


Liderança Sustentável Por Marise Barroso

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Os valores e o papel do líder para a cultura da sustentabilidade

ala-se muito em sustentabilidade corporativa nos dias de hoje, mas são poucas as empresas que têm a gestão da sustentabilidade no seu DNA , no seu dia a dia ope­ra­cio­nal. Para que real­men­te se viva a sustentabilidade em toda a organização, ela deve fazer parte da visão, da missão e da estratégia integral do negócio, estando presente na tomada de decisão no mais alto nível e estendendo-se a toda a organização. A sustentabilidade deve per­mear cada uma das grandes e pequenas decisões da empresa. Gerar e manter uma cultura em­pre­ sa­r ial de sustentabilidade requer um grande esforço e real convicção de toda a empresa e es­p e­c ial­m en­te de seus líderes, já que a responsabilidade coletiva e in­di­vi­dual é muito maior ao mensurar resultados econômicos, sociais e ambientais derivados dessa cultura. E para poder passar de um grau de melhoramento contínuo a um patamar de inovação e geração de valor real através da cultura de sustentabilidade, fazse necessário alinhar toda a organização por meio de valores compartilhados, por um propósito comum que só será alcançado por uma estratégia de negócio e um plano de metas que seja de conhecimento de todos os colaboradores. Sustentabilidade, Desenvolvimento Or­ga­ ni­za­cio­nal e Comunicação Corporativa andam ne­ces­sa­ria­men­te de mãos dadas por esse caminho.

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Nesse caminho, pelo qual falamos de prosperidade para toda a cadeia de valor da empresa e não mais de lucro, o papel dos líderes é fundamental, pois eles são o principal canal de comunicação e exemplo para seus liderados na posta em marcha da estratégia e do agir

Gerar e manter uma cultura empresarial de sustentabilidade requer um grande esforço e real convicção de toda a empresa e especialmente de seus líderes, já que a responsabilidade coletiva e individual é muito maior ao mensurar resultados econômicos, sociais e ambientais derivados dessa cultura.

com integridade. Os líderes empresariais têm uma enorme responsabilidade nas mãos, es­pe­cial­men­te nos dias de hoje, em que o planeta nos avisa que já não pode resistir ao ­atual padrão de consumo da população. O verdadeiro líder sempre poderá optar por exercer sua in­f luên­cia em benefício de um mundo melhor e das futuras gerações por meio de sua atua­ção em uma empresa, pois dele depende o exemplo, o estímulo a um consumo mais cons­cien­te, as re­nún­ cias ao que não é ético, mesmo que isso lhe custe o “estar líder” em uma determinada organização. A verdade nua e crua é que, durante a jornada pro­f is­sio­nal e pes­soal de cada um de nós como líderes empresariais, certamente mais cedo ou mais tarde nos faremos algumas perguntas: Eu estou fazendo tudo o que está em minhas mãos para pro­pi­ciar aos mais jovens e às futuras gerações um am­bien­te mais próspero, mais justo e menos vio­len­to do que eu pude desfrutar? Eu estou medindo o meu sucesso pela quantidade de bens que consigo acumular ou pela quantidade de pes­soas que educo e apoio para que tenham uma vida mais digna? Eu passo o meu tempo reclamando dos governos ou me engajo com outros líderes para transformar o meu país? A resposta a essas perguntas será, sem dúvida, o nosso legado. ❧ Marise Barroso é presidente da Masisa Brasil.


Ilustração: Michelle Cunha

Meu sonho era levar saúde para quem mais precisasse. Com o Projeto Quilombo, eu me realizei.

À frente do Projeto Quilombo, da MRN, todos os dias eu sou recompensada. Já vi muita coisa na minha vida, mas ter essa experiência de levar a saúde para alguns dos pontos mais distantes da floresta amazônica é, sem dúvida, a mais desafiante e também a mais recompensadora. Quando o barco da nossa equipe vai chegando é emocionante. Pra gente é o nosso trabalho, mas pra eles, ter essa assistência médica, ter exames, medicação, vacinas, ginecologia, pré-natal e até auxílio para crianças desnutridas, é cidadania. O Projeto Quilombo pra mim é mais do que prevenção e assistência, é como levar a vida para quem, antes, só tinha esperança.

Ethel Soares, enfermeira e coordenadora do Projeto Quilombo, já levou saúde pra mais de 4 mil quilombolas.



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