Arquivos Catarinenses de Medicina 2003

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DISCUSSÃO

A multiplicidade de trabalhos publicados sobre o tratamento das úlceras de pressão da região sacral1,2,3,6,7,8,9,10,11,12,14,15,16,17,18,19,20 demonstra a grande dificuldade na escolha do tratamento mais adequado, para esses tipos de lesões. A enxertia de pele pode ser utilizada apenas em pacientes portadores de úlceras rasas, recobertas de tecido de granulação, e que deambulam, ou em pacientes com estado geral muito comprometido, portadores de úlceras extensas, sem exposição óssea4, com a finalidade principal de cobrir a área cruenta, diminuindo a perda de líquidos até que, com a melhora do estado geral, possam ser submetidos à cirurgia definitiva. Os retalhos cutâneos locais randomizados, assim como a ressecção da lesão e sutura direta4, só podem ser utilizados quando não há cicatrizes nas regiões vizinhas, com o inconveniente de deixarem cicatrizes sobre áreas de pressão e do índice de recidiva ser bastante elevado. Os retalhos musculares do músculo glúteo maior podem ser utilizados no tratamento de todas as úlceras de pressão da região sacral,8 com o inconveniente da área enxertada localizar-se sobre a área de pressão e, quando bilateralmente,3 as suturas situarem-se também sobre áreas de pressão. Deve-se considerar também que, em pacientes que deambulam, pode-se utilizar apenas as porções superiores desses músculos.13 Os retalhos miocutâneos do músculo glúteo maior são excelentes para o tratamento das úlceras de pressão da região sacral,14,15,16,19 porém são cirurgias que apresentam maior sangramento, são de mais difícil execução e também possuem certa restrição para pacientes que deambulam.18 O retalho toracolombosacral de VYAS20 é muito extenso e, por estar aderido à linha média, possui pouca mobilidade, além de deixar cicatrizes sobre áreas de pressão. O retalho transverso lombar pode ser utilizado como primeira opção para o tratamento não só das úlceras de pressão da região sacral, como também para a maioria das lesões localizadas na linha média e regiões adjacentes do terço inferior da região lombar,13 por se tratar de um retalho com ótimo aporte sangüíneo, além de ser de boa espessura, o que garante uma boa cobertura das lesões. Pode ser utilizado para cobertura de lesões localizadas na linha média e regiões adjacentes do terço inferior da região lombar, como: úlceras profundas com ou sem exposição óssea, em pacientes que deambulam ou paraplégicos; úlcera profunda, com regiões laterais à lesão com cicatrizes; recidivas de úlceras já tratadas com retalhos cutâneos laterais locais e recidivas das úlceras da região sacral, tratadas com retalhos musculares ou miocutâneos do músculo glúteo maior. As complicações deste retalho são as mesmas inerentes a qualquer procedimento cirúrgico: infecção, hematoma, seroma e necrose. Pode-se dividir as complicações do retalho transverso lombar em: 266

a)Complicações menores: - epidermólise principalmente na borda inferior do retalho; - deiscência de sutura também na borda inferior do retalho; - hematomas e seromas; - perda parcial, e mais raramente perda total, do enxerto de pele. b)Complicações maiores: - infecção do retalho; - perda parcial do retalho; - perda total do retalho não há relato ou situação experimentada desta complicação. Suas principais vantagens são: - pode ser confeccionado de acordo com as dimensões das lesões; - fácil e rápida execução; - perda sangüínea mínima; - a área doadora do retalho a ser enxertada, não se localiza sobre áreas de pressão e, em alguns casos, pode ser fechada primariamente; - as regiões glúteas permanecem intactas para que, em caso de recidiva da lesão, retalhos dessas regiões possam ser utilizados; - pode ser utilizado para recidiva de lesões tratadas com retalhos musculares ou miocutâneos do músculo glúteo maior; - pode ser utilizado em pacientes que deambulam, sem nenhuma restrição; - possui um bom arco de rotação. CONCLUSÃO

O retalho transverso lombar pode ser indicado, como primeira opção, para o tratamento de úlceras de pressão da região sacral e para o tratamento de lesões localizadas na linha média e regiões adjacentes do 1/3 inferior da região lombar, pois preenche todos os requisitos para os quais se destina e, principalmente, por ser de fácil execução e não inviabilizar futuros procedimentos operatórios, em caso de recidiva dessas lesões. REFERÊNCIAS 1. ANGER, J.; MILITELLI, N.; MONTEIRO Jr, A. A.; FERREIRA, M.C. Tratamento cirúrgico das úlceras por pressão em pacientes portadores de síndrome de secção medular. Rev. Hosp. Clin. Fac. Med. S. Paulo, v. 39, p. 173-177, 1984. 2. BORMAN, H. The gluteal fasciocutaneous rotationadvancement flap with V-Y closure in the management of sacral pressure sores. Plast. Reconstr. Surg., v. 109, n. 7, p. 2325-2329, Jun. 2002. 3. BUCHANAN, D. L.; AGRIS, J. Gluteal plication closure of sacral pressure ulcers. Plast. Reconstr. Surg., v. 72, p. 4954, 1983. 4. CAMPBELL, R.M.; DELGADO, J.P. The pressure sore. In: CONVERSE, J.M. Reconstructive Plastic Surgery. Philadelphia: W.B.Sauders, p. 3763-3799, 1977. 5. DANIEL, R.K.; TERZIS, J.K.; CUNNINGHAM, D.M. Arquivos Catarinenses de Medicina - Volume 32 - Suplemento 01 - 2003


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