Folha da Rua Larga Ed.43

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4 folha da rua larga

janeiro – fevereiro de 2014

história baú da rua larga

A onça, a pedra e um tombo no carnaval Reprodução

O Café Paraíso, na Rua Larga de São Joaquim, no fim do século XIX, era frequentado por sambistas baianos. O Rei de Ouros, pioneiro rancho de carnaval, foi criação de Hilário Jovino, mestre-sala, que proporcionou aos cariocas o primeiro desfile. Com as cores vermelho e amarelo e a inusitada participação de mulheres – as baianas –, portavam estandartes confeccionados na Casa Sucena, especializada em artigos religiosos. O carnaval se expandiu com as escolas de samba desfilando na Avenida Rio Branco e os blocos Cacique de Ramos e Bafo da Onça. Passamos por algumas décadas sem o carnaval de rua, e as escolas se transformaram em empresas. O carnaval ficou frio, disseram alguns. O momento atual é de irreverência e uma apoteose de blocos pela cidade. Dizem alguns que é o verdadeiro carnaval. Com a explosão, a prefeitura pensa em limitar o número de blocos que passam dos 500. Na região da Rua Marechal Floriano, Alexandre Mackenzie, Senador Pompeu, Largo de São Francisco da Prainha, Pedra do Sal e Morro da Conceição,

proliferam-se agremiações com nomes interessantes. “Escravos da Mauá”, “É pequeno, mas vai crescer”, “Larga a Onça, Alfredo!”, para citar alguns. O Escravos da Mauá hoje é um gigante. Surgiu em 1993, composto por profissionais que trabalham no Centro da cidade e que cultuam e divulgam essa região tão rica em história. O bloco É pequeno, mas vai crescer foi criado, em 2007, por um grupo de amigos fregueses do bar do Chico “O perigoso”, que fica na esquina das ruas Senador Pompeu com Alexandre Mackenzie. O Larga a Onça, Alfredo! surgiu de uma roda de companheiros que bebericavam numa segunda-feira de primavera, à noite, num boteco no Alto Cosme Velho. Por conta da zombaria dos amigos com um tal de Alfredo, que apareceu todo amarfanhado, afirmando ter sido atacado por uma onça ao ir ao banheiro na mata, o ataque da fantasmagórica onça serviu de mote para o bloco. Reunidos com alunos da Maracatu Brasil em Laranjeiras, aconteceu o primeiro desfile em 2008. Durante o ano, o bloco bate ponto no Largo da

Bloco Bafo da Onça surgiu em 1956 como um dos pioneiros do carnaval de rua do Rio

Prainha, Pedra do Sal e Morro da Conceição, onde realiza ensaios e encontros musicais, e uma semana antes do carnaval, desfila da Rua Ipiranga à Praça São Salvador. O trajeto é curto e leva-se mais de três horas para chegar à praça. Justificável demora, pois o calor e a cerveja são parceiros da alegria e do vagaroso passo da Onça. A bateria com uma expressiva quantidade de mulheres

assombra pelo número de surdos e tamborins, promovendo um som único de acompanhamento de sambas-enredo de sucesso e marchinhas. Num dos ensaios, na Pedra do Sal, escorreguei e levei um monumental tombo na lisa pedra onde, no passado, chegavam escravos e sal. Segundo os mais experientes, isso é batismo, pois é carnaval. Nada impede, entretanto, que eu,

modesto folião, dispense de “arriscar” um tamborim na furiosa bateria. Fiquemos com a louvação do “Larga a Onça”, uma pérola emprestada de Juca do Bolo: Eu vi uma onça gemer na mata do arvoredo Olelê São João, me vale a São Pedro De onça eu tenho medo

Brincar o carnaval é relativamente fácil. Basta acompanhar um bloco, assistir à evolução de uma escola na passarela, ouvir um samba ou marchinha, ou até mesmo ver pela TV. “Brincar o carnaval!” – uma expressão antiga, e, sem dúvida, uma bela ideia de carnaval na rua.

aloysio clemente breves beiler soubreves@yahoo.com.br


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