O Caminho Primitivo a Santiago de Compostela

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O CAMINHO PRIMITIVO

Em peregrinação a Santiago de Compostela texto e fotografia de henrique feliciano



O CAMINHO PRIMITIVO

cópia do selo da Compostela obtida nesta peregrinação

henrique feliciano


INDÍCE Um pouco de história Mapa das etapas A viagem até Oviedo Etapa 01 - 20 Abril Oviedo >> Grado Etapa 02 - 21 Abril Grado >> Bodenaya Etapa 03 - 22 Abril Bodenaya >> Campiello Etapa 04 - 23 Abril Campiello >> Berducedo Etapa 05 - 24 Abril Berducedo >> Grandas de Salime Etapa 06 - 25 Abril Grandas de Salime >> Fonsagrada Etapa 07 - 26 Abril Fonsagrada >> Cadavo Baleira Etapa 08 - 27 Abril Cadavo Baleira >> Lugo Etapa 09 - 28 Abril Lugo >> San Román de la Retorta Etapa 10 - 29 Abril San Román de la Retorta >> Melide Etapa 11 - 30 Abril Melide >> Santa Irene Etapa 12 - 1 Maio Santa Irene >> Santiago de Compostela Epílogo Foto de capa: cruzeiro em Nadela, Galiza

© copyright 2013 by Henrique Feliciano All photos © Henrique Feliciano 2013, except “A despedida”, pag. 44, shot by Paulo Teixeira “Com a Natália”, page 64, shot by Susanna (nome fictício) Text © Henrique Feliciano 2013 No part of this book may be reproduced without written permission from the copyright owner First print September 2013

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Para a Graรงa, minha companheira de todas as Viagens.


Salomé, Mãe de Tiago (Catedral de Compostela) - Canon PowerShot G12 1/30 sec at f / 4,5 ISO 400

Zebedeu, Pai de Tiago (Catedral de Compostela) - Canon PowerShot G12 1/30 sec at f / 4,5 ISO 400

Atanásio e Teodoro depositaram cuidadosamente o corpo decapitado do seu mestre no túmulo. Depois de tantas peripécias, e com a ajuda divina, conseguiam finalmente que ele tivesse descanso. Não podiam estar mais enganados, a missão de Jacob (Ya’akov), o apóstolo querido de Jesus, ainda mal começara. Estávamos então em 42 ou 44 d.c. A poeira dos séculos cobriu o lugar. O Império Romano na Península cresceu e desmoronou-se, vieram tempos de esquecimento e abandono. Vieram invasores do Norte, e depois do Sul. Mas na memória dos homens a história de Jacob, ou Tiago como lhe chamariam nestas terras do longínquo Ocidente, não desapareceu. Cinco séculos mais tarde o breviário dos Apóstolos refere o enterramento na península, na “arca marmárica”.


Santiago Peregrino, no topo da Catedral de Compostela - Canon PowerShot A470 1/400 sec at f / 5,8 ISO 100, , altit

Campo de Estrelas, 25 Julho 813, ainda de madrugada. A vida de pastor é dura, dias sem fim longe dos seus e do conforto do lar, tendo por companhia apenas as suas ovelhas, o Sol, o vento, as estrelas. O pastor acordou, algo indefinido o tirou do sono, como que o chamava. Lá estavam novamente aquelas luzes dançando no monte Libredan, lá longe. Sentiu um impulso indominável de ir até lá, ao lugar que ele já baptizara de Campo de Estrelas. Rezando, receoso dos lobos e dos seres da noite, avançou trôpego até um ponto de onde parecia partir aquele brilho indefinido que encantava os seus olhos. O que encontrou deixou-o espantado. Ao mesmo tempo o ermitão Pelayo, ali próximo, tem uma revelação, segundo a qual o túmulo do apóstolo teria sido descoberto. Iria Flavia, 25 Julho 813, ao princípio da tarde. As notícias correram velozes. O bispo Teodomiro descansava após a sua refeição, quando alguém entrou de rompante e lhe contou a incrível nova. Mandou preparar um farnel e deixou a colegiata de Iria Flavia, seguindo o mensageiro até ao local do achado, onde chegou ainda antes de o sol se pôr. Depois de limpa a vegetação do local, ele pode confirmar a descoberta, era Tiago quem repousava, há quase oito séculos, no Campo de Estrelas (Campus Stellae).


Oviedo, inícios de Agosto 813. Afonso II implorava a ajuda dos céus. Os reinos Cristãos tinham sido sucessivamente derrotados, o seu mundo, encolhido no NW peninsular, estava à beira da extinção desfecho que só a vitória em Covadonga, quase 90 anos antes, tinha impedido. Piedoso e crente, recebeu com imenso regozijo a notícia de que o bispo Teodomiro tinha identificado os restos mortais de Tiago e dos seus dois discípulos, que as lendas de séculos diziam que tinham chegado à península numa barca vinda da Palestina, fugindo das perseguições movidas por Herodes Agripa aos seguidores de Cristo. Deixou Oviedo, a capital do Reino, e seguiu pelos difíceis trilhos da montanha até ao Campo de Estrelas. Ainda não o sabia, mas era o primeiro de milhões de Peregrinos que enfrentariam a rudeza dos caminhos, a inclemência do clima, a fome e as doenças, pagando muitas vezes com a própria vida, para visitar e prestar tributo a Tiago. Manda erigir de imediato uma capela em honra a Santiago (concluída em 829) e outras duas dedicadas a S. Pedro e S. Paulo. Clavijo, 23 Maio 844. A imagem de Tiago vai nos estandartes e ouvem-se as invocações ao Santo em plena batalha e a reconquista não pára mais, graças ao Santo que vai ser o Padroeiro de Espanha. Primeiro Clavijo, depois toda a península. Tiago o Mata-Mouros, então figurado a cavalo e brandindo a espada, é o líder e o alento que faz dos homens heróis em mais uma sangrenta convulsão da história.

Tiago Mata-Mouros - Catedral de Compostela - Canon PowerShot G12 1/40 sec at f / 4,0 ISO 2000


Europa, 2º milénio: um continente inteiro de caminhos. O reino cresce. A capital muda-se para León, em pleno caminho dos Franceses, o caminho de Aymeric. As peregrinações de Oviedo declinam, o Caminho Francês cresce em importância. Santiago continua agora em nova missão. Primeiro são os hospitales, depois os conventos, depois as vilas e cidades. O mundo cristão cresce em torno desta que será a mais importante via de peregrinação e cultural europeia. Mais tarde surge no centro europeu a época dos construtores de catedrais, que se estende depois à Espanha dos Peregrinos: Burgos, León, Astorga... Mas é em Oviedo que ficarão duas relíquias veneradas pela Cristandade: a Arca Santa e um pedaço do Santo Sudário, trazidos da Palestina no sec VII. Agora os peregrinos do Caminho Francês vão muitas das vezes desviar-se até à Catedral de San Salvador, tomando depois o Caminho Primitivo até Santiago. Uma canção dos peregrinos franceses diz mesmo “quem a Santiago de Compostela vá em peregrinação e não visite a Catedral de Oviedo dedicada ao Salvador, visita o Servo e esquece o Senhor”. Oviedo, 19 Abril 2013. Todos os Caminhos a Santiago têm os seus valores próprios: a espiritualidade, monumentalidade e profunda ligação entre os peregrinos no Francês, a história de Tiago no Central Português... Mas foi em busca da calma, da montanha, de uma ruralidade noutros lados desaparecida, que viemos ao Caminho Primitivo. Instale-se o leitor confortavelmente e siga a nossa história, com mais imagens do que palavras, já que aquelas valem por mil destas.

Estátua de Afonso II O Casto, junto à Catedral de Oviedo - Canon PowerShot G12 1/400 sec at f / 4,5 ISO 400


O Caminho Primitivo - as etapas

O mapa e os dados (distâncias, tempos e desníveis) recolhidos do meu gps. Todos os trilhos estão disponíveis na Wikiloc, o link para a etapa 1 é: http://www.wikiloc.com/wikiloc/view.do?id=4921379

Organizámos a nossa viagem em 12 etapas, por comodidade e para dispôr do tempo suficiente para fazer as fotos que queríamos. Mas seria perfeitamente possível fazer o trajeto em 11 dias, sem que tal signifique um esforço em demasia.


Etapa 00: Lisboa >> Oviedo

Catedral de San Salvador, Oviedo - Canon PowerShot G12 1/320 sec at f / 5,6 ISO 80, 43°21’34” N 5°50’35” W, altit 226,5 m


Testemunhos bem visíveis da longa história de Oviedo - Canon PowerShot G12 1/160 sec at f / 3,2 ISO 250

A bordo do vôo 7625 da Easyjet, o céu limpo e com poucas nuvens permitia vistas espetaculares sobre os Picos da Europa, avisando-nos de que aquele não ia ser um Camino como os outros: a região montanhosa das Astúrias esperava ansiosamente por nos mostrar um dos mais belos trajetos até Santiago. Ou seríamos nós que estávamos ansiosos por o conhecer? Meia hora foi quanto demorou o autobus desde o aeroporto das Astúrias até Oviedo. Uma passagem pelo El Corte Inglês onde adquiri o último mosquetão disponível para o meu gps Garmin (uma alteração de bagagem de última hora... e o meu ficou em casa). Simpatia inexcedível, como é hábito, problema resolvido - obrigado, Manolo! Dois quilómetros andados, para treinar para o dia seguinte, e estávamos a tocar à campainha do Albergue. O eficiente Alfonso registou-nos, deu-nos todas as indicações sobre o percurso até Grado, onde adquirir víveres para o dia seguinte, e indicou-nos onde poderíamos cenar ali perto.


Fonte na Plaza de Afonso II El Casto - Canon PowerShot G12 0,8 sec at f / 8,0 ISO 80, 43°21’34” N 5°50’35” W, altit 226,5 m

Escolhemos o El Fartuquín onde um menu de favada, entrecot e tarta de queso acompanhados de um Rioja de 14º nos deixou saciados. Um chupito e regressamos ao albergue, sob um céu frio e ventoso. Dormimos razoavelmente bem, acordados aqui e ali por um alguém que se esmerava na arte de bem ressonar. Estavam connosco na exígua camarata uma americana acabadinha de chegar de Washington e uma inglesa de quase 70 anos, de Bristol. E o Vitor, que ja conhecêramos no aeroporto. Ou melhor, ele travara conhecimento comigo, quando se dirigiu a mim e me disse: essa mochila É minha! Todos tínhamos tido a mesma ideia: fazer embrulhar as mochilas num belo filme plástico de proteção, no terminal 2 do aeroporto de Lisboa; agora em Oviedo, ninguém percebia qual era de quem, todas pareciam uns ovos de Páscoa pintados de vermelho... Foi muito bom encontrar mais portugueses nesta peregrinação. Mais tarde acabaríamos por confirmar que partiam connosco de Oviedo mais 4, além de nós e do Vitor.


Uma vis


Etapa

01 - 20 Abril

| Oviedo >> Grado | 27,5 Km

sta do caminho, perto de Oviedo (Villamar). Ao fundo as montanhas do Parque Natural de Las Ubinãs-La Mesa - Canon PowerShot G12 1/160 sec at f / 6,3 ISO 80, 43°22’28” N 5°54’12” W, altit 232,1 m


Amanhece em Oviedo - Canon PowerShot G12 1/100 sec at f / 4,0 ISO 1000

Tomámos o pequeno almoço e saímos. Só quando íamos a bater a porta é que ouvimos movimento lá dentro na camarata. Mas nós gostamos de saborear esta existência de peregrinos, a Canon não pára, e cedo fomos ultrapassados pelos nossos companheiros de albergue. O percurso dentro da área urbana é longo, quase 5km. A travessia do casco antiguo foi uma autêntica prova de obstáculos, era Sábado e as calles estavam pejadas de lixo e garrafas partidas, vestígios do “friday night fever”. Um café e uma madalena, já quase a sair da cidade, e aí estava a primeira seta amarela, sinal de que as vieiras de metal que nos apontam o caminho nos passeios de Oviedo iriam ficar para trás. Tal como as lindíssimas estátuas e magníficos monumentos. Mas de imediato a paisagem asturiana vem em nosso socorro, as montanhas ainda de picos vestidos de Inverno a SE, e do lado oposto, à nossa direita, os prados trepando suavemente encosta acima, até darem lugar ao arvoredo, fazendo-nos quase sentir na Navarra.


Iglesia de San Juan el Real - Canon PowerShot G12 1/60 sec at f / 3,5 ISO 640


1/200 sec at f / 6,3 ISO 100 43°22’18” N 5°53’42” W altit 248,2 m

1/320 sec at f / 6,3 ISO 100 43°22’23” N 5°54’3” W altit 251,0 m

- Canon PowerShot G12 1/200 sec at f / 5,0 ISO 100 43°23’45” N 6°0’13” W altit 70,8 m

1/640 sec at f / 4,0 ISO 100 43°22’42” N 5°54’50” W altit 185,7 m


- Canon PowerShot G12 1/320 sec at f / 5,0 ISO 100 43°22’12” N 5°52’55” W altit 243,6 m

Parámos um pouquinho num ponto alto para contemplar a paisagem e fazer uns alongamentos. O Vitor passou por nós veloz, ficámos com pena, pois de certeza iríamos mais lentos e não o veríamos mais. O almoço saiu da nossa mochila e em seguida parámos no bar Feliciano para um café. O dono pertencia a uma geração de Felicianos, que já ia na quarta edição. Mostrei-lhe o meu cartão de idendidade na esperança de um desconto, mas não tive sorte. Timbrámos as credenciais de peregrino, dissemos adeus às companheiras de albergue que estavam ali a almoçar e seguimos até Grado. Tínhamos ficado preocupados, em Oviedo, com a peregrina inglesa de 70 anos, parecia frágil e a idade era avançada para um percurso duro como aquele que a levava de San Salvador a Santiago. Mas quando a vi com uma San Miguel na mão, bebendo satisfeita o precioso líquido pela garrafa, fiquei com a certeza que todos os Santos a ajudavam.


1/400 sec at f / 3,5 ISO 80 43°23’49” N 6°0’38” W altit 67,9 m

1/500 sec at f / 3,5 ISO 80 43°23’52” N 6°0’56” W altit 62,4 m

- Canon PowerShot G12 1/200 sec at f / 3,5 ISO 100 43°23’31” N 5°56’10” W altit 125,1 m

1/5 sec at f / 8,0 ISO 80 43°22’44” N 5°55’8” W altit 146,3 m


Loriana - Canon PowerShot G12 1/125 sec at f / 5,6 ISO 80 43°22’43” N 5°55’19” W altit 178,9 m

A Primavera e a ruralidade das Astúrias apoderaram-se de nós, caminhávamos encantados pela paz e pela luz que nos rodeava. Foi a primeira vez que viemos tão cedo, em geral temos iniciado os nossos percursos de longa rota em finais de Maio ou mais tarde, se em zona de montanha.


Seguindo ao longo do Rio Nalón - Canon PowerShot G12 1/500 sec at f / 3,5 ISO 80 43°23’52” N 6°1’29” W altit 57,6 m

Gallegos - Canon PowerShot G12 1/50 sec at f / 5,6 ISO 80, 43°23’15” N 5°56’20” W, altit 134,0 m

HDR de 3 fotos raw - Canon PowerShot G12 1/100 sec at f / 5,0 ISO 100, , altit


Capilla de Fátima - Canon PowerShot G12 1/500 sec at f / 5,0 ISO 100, 43°24’7” N 5°57’31” W, altit 205,6 m


1/500 sec at f / 5,0 ISO 80 43°24’8” N 6°2’50” W altit 55,4 m

1/200 sec at f / 7,1 ISO 160 43°24’10” N 6°2’39” W altit 58,8 m

- Canon PowerShot G12 1/200 sec at f / 7,1 ISO 80, 43°24’14” N 6°2’26” W, altit 62,9 m

1/200 sec at f / 7,1 ISO 160 43°24’11” N 6°2’32” W altit 61,9 m

O rio Nalón é o mais longo e caudaloso das Astúrias, e mostrou aqui a sua força: em 1586 lançou abaixo a ponte de Peñaflor


O rio Cubia, à entrada de Grado - Canon PowerShot G12 1/500 sec at f / 5,0 ISO 80, 43°23’36” N 6°3’58” W, altit 62,1 m


HDR de 3 fotos raw - Canon PowerShot G12 1/80 sec at f / 5,0 ISO 400, , altit

Chegados a Grado, instalámo-nos no Auto Bar, onde encontrámos outros peregrinos. Bom serviço, boa alimentação. Após o jantar fomos visitar a animada e acolhedora “baixa” de Grado, terra de fortunas feitas em terras da América do Sul, notáveis os inúmeros exemplares de arquitetura “indiana”. Uma terra onde o mundo rural e o urbano se unem de forma harmoniosa. E onde somos recebidos pelos bons sabores asturianos, começando pelo queijo Afuega’l pitu e terminando num Toucinho do Céu.

Capilla de Nuestra Señora de los Dolores (sec XVIII), uma das mais destacadas obras do Barroco Asturiano - Canon PowerShot G12 1/60 sec at f / 5,0 ISO 400, , altit


Plaza General Ponte - Canon PowerShot G12 1/80 sec at f / 5,0 ISO 500, 43°23’21” N 6°4’8” W, altit 73,0 m



Etapa

02 - 21 Abril

| Grado >> Bodenaya | 29,6 Km

San Marcelo - Canon PowerShot G12 1/500 sec at f / 4,0 ISO 250, 43°23’19” N 6°7’51” W, altit 232,8 m


Saindo de Grado - Canon PowerShot G12 1/125 sec at f / 5,0 ISO 320, 43°23’6” N 6°4’44” W, altit 104,7 m

Saindo de Grado - Canon PowerShot G12 1/800 sec at f / 4,5 ISO 320, 43°22’59” N 6°5’10” W, altit 159,2 m

O pequeno almoço foi servido um pouco tarde, às 7:30. E deixou-nos com fome... Despedimo-nos da D. Celsa e iniciámos a subida até ao Alto del Fresno. O Sol nasceu e a magia daquele momento veio tornar ainda mais belas as encostas verdejantes e floridas. Uma descida em estradão escorregadio e desinteressante, logo compensado pouco depois, ao chegar a Doriga, por um belo trilho junto de um regato. Continuamos pelo vale até Cornellana, alternando entre trilhos e estradões, sempre surpreendidos pela beleza dos espigueiros asturianos e da arquitetura rural destas terras. Entramos no “Casino” para um galão e uma fatia de bolo de leite fresco e saboroso. Passava das 11:00, tínhamos que retomar a marcha, para um almoço tardio em Salas. Partimos em meados de Abril porque queríamos ver os picos com neve, a natureza a rebentar de vida nova, queríamos sentir ainda os frios do Inverno e o Sol temperado da Primavera. Tivemos tudo isso e muito mais. O verde espampanante dos prados estava salpicado por uma constelação de flores silvestres e por todo o lado o branco imaculado das macieiras em flor nos encantava, ainda mais quando perto delas podíamos admirar a beleza daqueles rebentos. Potros e vitelinhas, ainda sem forças para pastar longas horas, espraiavam-se aos pés das progenitoras.


- Canon PowerShot G12 1/100 sec at f / 5,0 ISO 100, 43°24’3” N 6°8’55” W, altit 135,9 m

- Canon PowerShot G12 1/500 sec at f / 4,0 ISO 250, 43°23’4” N 6°7’15” W, altit 367,8 m

- Canon PowerShot G12 1/80 sec at f / 4,5 ISO 320, 43°23’5” N 6°4’56” W, altit 146,7 m

- Canon PowerShot G12 1/2000 sec at f / 5,0 ISO 80, 43°23’51” N 6°8’53” W, altit 147,5 m


- Canon PowerShot G12 1/80 sec at f / 3,5 ISO 320, 43°23’6” N 6°4’47” W, altit 112,4 m - Canon PowerShot G12 1/80 sec at f / 4,5 ISO 500, 43°22’60” N 6°5’21” W, altit 160,0 m

1/320 sec at f / 5,0 ISO 80 43°24’15” N 6°13’13” W altit 152,0 m 1/250 sec at f / 3,5 ISO 250 43°23’29” N 6°8’17” W altit 162,6 m


- Canon PowerShot G12 1/160 sec at f / 6,3 ISO 400, 43°23’7” N 6°6’60” W, altit 329,9 m

- Canon PowerShot G12 1/320 sec at f / 4,5 ISO 160, 43°23’7” N 6°5’50” W, altit 199,6 m

1/1000 sec at f / 4,0 ISO 80 43°24’17” N 6°9’47” W altit 121,3 m


Casa velha próximo de La Llinar - Canon PowerShot G12 1/160 sec at f / 4,5 ISO 400, 43°23’2” N 6°5’43” W, altit 189,5 m

Um par de madreñas (em uso) - Canon PowerShot G12 1/50 sec at f / 4,0 ISO 125, 43°23’40” N 6°8’40” W, altit 119,6 m

- Canon PowerShot G12 1/200 sec at f / 4,0 ISO 250, 43°23’23” N 6°7’59” W, altit 199,8 m


Cabra de férias em La Quintana... - Canon PowerShot G12 1/320 sec at f / 5,0 ISO 80, 43°24’18” N 6°12’52” W, altit 131,8 m

O bosque do musgo - um pouco antes de Llamas - Canon PowerShot G12 1/80 sec at f / 3,5 ISO 80, 43°24’26” N 6°10’21” W, altit 139,0 m

Happy hour em Cornellana... - Canon PowerShot G12 1/200 sec at f / 3,5 ISO 100, 43°24’36” N 6°8’59” W, altit 50,1 m


La Llinars - Canon PowerShot G12 1/200 sec at f / 5,6 ISO 400, 43°23’10” N 6°6’42” W, altit 314,2 m Llamas - Canon PowerShot G12 1/320 sec at f / 5,0 ISO 80, 43°24’16” N 6°11’14” W, altit 108,5 m

Llamas - Canon PowerShot G12 1/320 sec at f / 5,0 ISO 80, 43°24’15” N 6°11’16” W, altit 112,8 m Llamas - Canon PowerShot G12 1/640 sec at f / 4,5 ISO 80, 43°24’17” N 6°11’12” W, altit 107,3 m


Sobrerriba - Canon PowerShot G12 1/400 sec at f / 5,0 ISO 80, 43°24’16” N 6°9’41” W, altit 115,7 m


Rio Narcea, junto a Cornellana - Canon PowerShot G12 1/100 sec at f / 7,1 ISO 100, 43°24’50” N 6°9’6” W, altit 54,0 m


Paisagem rústica, pouco antes de Llamas - Canon PowerShot G12 1/320 sec at f / 5,0 ISO 80, 43°24’28” N 6°10’18” W, altit 152,7 m


Mosteiro de San Salvador de Cornellana - Canon PowerShot G12 1/320 sec at f / 6,3 ISO 80, 43°24’33” N 6°9’22” W, altit 55,6 m

Mosteiro de San Salvador de Cornellana - Canon PowerShot G12 1/250 sec at f / 6,3 ISO 80, 43°24’29” N 6°9’20” W, altit 58,5 m

Torre em Casazorrina - Canon PowerShot G12 1/160 sec at f / 5,0 ISO 80, 43°24’1” N 6°14’9” W, altit 173,2 m

Travessia do rio Nonaya, Casazorrina - Canon PowerShot G12 1/13 sec at f / 7,1 ISO 80, 43°24’21” N 6°13’44” W, altit 153,0 m


Chegámos à agradável Salas onde decorria uma feirinha de produtos regionais. Foi onde fizemos um almoço tardio, e é também o final de etapa escolhido por alguns peregrinos. Nas fotos, dois dos monumentos importantes da cidade: - a Colegiata de Santa Maria La Mayor, construída no séc. XVI como panteão familiar e mais tarde convertida em Igreja Paroquial; - a torre medieval, do séc. XIV, unida por um arco ao Palácio de Valdés Salas. Também é de Salas o azulejo com a piedosa imagem de Santiago Peregrino. Já o mojon do caminho que aqui mostro fica pouco depois de Sobrerriba. Tal como os outros pelos quais passámos, estava cheio de pedrinhas em cima mais tarde constatámos que duas delas tinham muito provavelmente sido deixadas por um casal de peregrinos portugueses que vamos conhecer já a seguir...

1/500 sec at f / 6,3 ISO 125 43°24’33” N 6°15’41” W altit 254,4 m 1/40 sec at f / 5,0 ISO 80 43°24’1” N 6°14’10” W altit 175,1 m

1/250 sec at f / 6,3 ISO 125 43°24’33” N 6°15’41” W altit 254,2 m 1/500 sec at f / 4,5 ISO 80 43°24’23” N 6°10’2” W altit 157,8 m


Passando em Porciles, já perto de Bodenaya - Canon PowerShot G12 1/200 sec at f / 7,1 ISO 125, 43°24’38” N 6°18’38” W, altit 636,3 m

- Desculpa, tu não estavas no Caminho Português em 2011? Interrompi a organização dos meus pertences e olhei lá para baixo, do alto do meu beliche. Quem me interrompia em bom português ali na penumbra da camarata? Sou mau fisionomista, já tinha passado um tempo e aquele jogo do com óculos ou sem óculos tinha sido o suficiente para não me aperceber, em Oviedo, mas agora sim começava a recordar-me perfeitamente. - Sou o Paulo, vimo-nos em Tui e depois cheguei a Redondela atrapalhado dos pés e... Sim claro que me recordava. Tínhamos acabado com sucesso, em Agosto de 2011, uma aventura de 44 dias, atravessámos os Pirenéus desde o Mar Cantábrico até ao Mediterrâneo. Tínhamos que agradecer a Santiago, o nosso protetor, o termos vencido contrariedades e perigos sem qualquer acidente. E há muito que eu queria atravessar a Galiza vestida com as cores de fogo do Outono. Por isso, em meados de Outubro, peregrinámos de Valença a Santiago. O Paulo tinha “avariado” as botas em casa mesmo antes de partir, quebrou uma presilha. Decidiu vir de ténis, uns Merrell... ainda por cima fez uma etapa muito longa, queria chegar a Fisterra dentro do tempo disponível, chegou ao albergue em Tui já depois das 20:00. Conseguiu tomar banho, tratar as bolhas e encontrar onde lhe servissem algo a tempo de voltar justamente às 22:00, hora a que fechava o albergue. No dia seguinte chegou a Redondela, lento e com os pés em sangue, foi ao Hospital tratar-se. Mas não desistiu.


A vida de peregrino é feita de lutas, de sofrimentos e de alegrias. E de ensinamentos, e de troca de experências de vida. E de entreajuda e de união sincera. Tudo isso explica porque há um prazer redobrado quando nos reencontramos nas sendas de Santiago - e cada reencontro é um fortalecimento dessa amizade. E afinal também ali estava o Vitor, nosso companheiro de camarata em Oviedo, mais seis alemães, três francófonos, dois espanhóis, uma italiana e nós os cinco, porque desta vez a Fernanda, mulher do Paulo, tinha vindo também fazer o Primitivo. Uma alegria que não podia ter acontecido em melhor sítio: Bodenaya. Bodenaya passou a ser para nós um nome mítico, talvez pelas mesmas razões que o é San Juan Bautista en Grañon, no Caminho Francês. É o ambiente que se vive, o calor humano, o sentirmo-nos parte de uma grande família, o espírito fraterno que se sente. Era uma vez um jovem madrileno e sua noiva que se fartaram da grande cidade e resolveram ir para longe, escolheram o verde puro das Astúrias. Recuperaram uma pequena casa rural e seu palheiro, na casa fizeram o albergue, o palheiro foi convertido em habitação para o casal. Já lá vão seis anos. Mas não é um albergue qualquer. Logo que chegamos somos recebidos com toda a simpatia pelo Alejandro González, que nos explica como funciona tudo, de uma organização leve e funcional. Logo nos oferecem um chá e tostas com doce, destinam-nos o nosso beliche, explicam-nos que nos lavam a roupa, servem-nos um jantar e no dia seguinte um excelente pequeno almoço para nos dar forças para o caminho. É ao jantar (onde ele teve o cuidado de destinar uma mesa para os cinco lusos) que é decidido entre os peregrinos qual a hora de levantar no dia seguinte, e o acordar é ditado por uma música suave que é difundida por todo o espaço. Promessa cumprida, 15 minutos depois da alvorada o cheiro do café e das torradas inebriava o olfato dos caminheiros famintos. E tudo isto é muito caro? Não. O Alejandro também nos tinha indicado, ao receber-nos na véspera, onde estava um mealheiro onde “se quiséssemos podíamos deixar um donativo”. Bem hajam.

O Albergue de Bodenaya - Canon PowerShot G12 1/80 sec at f / 6,3 ISO 200, 43°23’60” N 6°19’23” W, altit 620,4 m

Um pin, sem qualquer valor material. É uma oferta do Alejandro a todos os peregirnos que passam em Bodenaya. Está carinhosamente guardado na nossa caixinha de preciosidades. - Canon EOS 7D 1/30 sec at f / 7,1 ISO 320, , altit



Etapa

03 - 22 Abril

| Bodenaya >> Campiello | 26,1 Km

Perto de Santullano, de novo as vistas sobre as montanhas ainda nevadas - Canon PowerShot G12 1/500 sec at f / 5,6 ISO 100, 43°20’11” N 6°27’55” W, altit 867,7 m


Não vai doer nada. Já sabemos como é, um abraço, um beijo, um breve adeus e estugamos o passo escuridão adentro, não olhamos para trás, com medo de nos arrependermos. Assim deixamos Bodenaya.

A despedida - Canon PowerShot G12 1/320 sec at f / 3,2 ISO 2000, 43°24’0” N 6°19’23” W, altit 641,8 m

- Canon PowerShot G12 1/800 sec at f / 4,5 ISO 320, 43°23’59” N 6°19’38” W, altit 656,2 m

- Canon PowerShot G12 1/800 sec at f / 6,3 ISO 320, 43°23’27” N 6°20’35” W, altit 686,0 m


- Canon PowerShot G12 1/320 sec at f / 3,2 ISO 2000, 43°24’2” N 6°19’27” W, altit 645,2 m


1/320 sec at f / 4,5 ISO 320 43°23’57” N 6°19’43” W altit 663,7 m La Pereda - Canon PowerShot G12 1/200 sec at f / 6,3 ISO 160, 43°23’22” N 6°20’45” W, altit 709,8 m

O caminho à saída de Bodenaya - Canon PowerShot G12 1/160 sec at f / 4,5 ISO 320, 43°23’57” N 6°19’45” W, altit 665,1 m

Moínho em Bedures - Canon PowerShot G12 0,3 sec at f / 6,3 ISO 80, 43°22’43” N 6°21’43” W, altit 721,8 m


- Canon PowerShot G12 1/125 sec at f / 6,3 ISO 320, 43°23’24” N 6°20’35” W, altit 689,9 m

Saimos quase todos ao mesmo tempo, para um percurso belo e calmo, oportunidade para conversa mais demorada com a italiana Susanna, que veio fazer o Caminho com tempo muito limitado e é com sacrifício que o faz - caminha com alguma dificuldade devido ao seu peso, mas num passo muito regular. Na foto uma paragem para apreciar a rústica Capilla del Cristo de los Afligidos (sec XV) em La Pereda, onde no interior se podia divisar uma singela imagem de Santiago Peregrino .


Velhos caminhos entre muros de pedra ou cercas de gado, verdes pastos onde calmamente se alimentavam as produtoras do afamado leite asturiano. Trilhos por entre florestas de árvores despidas, de braços levantados ao céu implorando pelo Sol e dias longos. E alguma lama, claro, o que seria de nós sem lama? No horizonte, do nosso lado esquerdo, sempre os cumes de Somiedo ainda revestidos do branco do Inverno. Depois foi a aproximação a Campiello, sempre a descer, com um extenso troço dentro de um bosque despido onde o tapete de folhas secas no chão era tão espesso que ocultava todas as irregularidades do piso... No final ainda nos esperavam quase 3km de estrada para chegar à Casa Herminia, que oferece um bom espaço de albergue e jantar por um preço muito acessível. Ficamos nós, a Susanna e dois espanhóis que tínhamos já conhecido em Bodenaya - o Rafael Fernandez e o Diego Ruiz. Os outros seguiram para Dorres.

La Millariega - Canon PowerShot G12 1/100 sec at f / 5,6 ISO 100, 43°22’30” N 6°21’52” W, altit 711,3 m

El Pedregal - Canon PowerShot G12 1/1600 sec at f / 7,1 ISO 80, 43°22’18” N 6°21’59” W, altit 718,5 m


Lama em Pedregal... - Canon PowerShot G12 1/100 sec at f / 7,1 ISO 320, 43°22’12” N 6°22’25” W, altit 761,0 m

Pedregal - Canon PowerShot G12 1/640 sec at f / 8,0 ISO 80, 43°22’4” N 6°22’32” W, altit 786,3 m

- Canon PowerShot G12 1/125 sec at f / 4,5 ISO 100, 43°20’45” N 6°24’6” W, altit 730,3 m

Zarracin - Canon PowerShot G12 1/100 sec at f / 8,0 ISO 80, 43°20’55” N 6°24’4” W, altit 748,3 m


Pedregal - Canon PowerShot G12 1/250 sec at f / 6,3 ISO 80, 43°22’4” N 6°22’33” W, altit 787,0 m


O Rafa ocupando o nosso caminho em Bedures! - Canon PowerShot G12 1/400 sec at f / 6,3 ISO 160, 43°22’57” N 6°21’24” W, altit 762,7 m

Pedregal - Canon PowerShot G12 1/200 sec at f / 6,3 ISO 80, 43°21’59” N 6°22’42” W, altit 786,0 m

Pedregal - Canon PowerShot G12 1/250 sec at f / 8,0 ISO 80, 43°22’5” N 6°22’31” W, altit 784,1 m

À saída de Tineo - Canon PowerShot G12 1/160 sec at f / 5,6 ISO 320, 43°20’29” N 6°25’27” W, altit 722,1 m


Meson Cervantes - Canon PowerShot G12 1/80 sec at f / 5,0 ISO 80, 43°20’1” N 6°24’60” W, altit 659,1 m

Tineo - Canon PowerShot G12 1/160 sec at f / 7,1 ISO 80, 43°20’11” N 6°24’45” W, altit 708,9 m


Saída de Tineo - Canon PowerShot G12 1/320 sec at f / 6,3 ISO 320, 43°20’13” N 6°25’44” W, altit 740,3 m

A caminho de Campiello, perto de Santullano - Canon PowerShot G12 1/125 sec at f / 6,3 ISO 100, 43°20’28” N 6°27’5” W, altit 884,5 m


Nas proximidades de Santullano - Canon PowerShot G12 1/200 sec at f / 6,3 ISO 100, 43°20’24” N 6°27’38” W, altit 914,3 m

Vega de Rey - Canon PowerShot G12 1/1250 sec at f / 4,5 ISO 400, 43°20’14” N 6°30’2” W, altit 630,3 m

A passagem por Tineo serviu para retemperar forças - perguntámos a um polícia que nos indicou, logo ali no largo, o Meson Cervantes. Pedimos um pão com queso Afuega’l pitu e uma taça de vinho. O homem serviu-nos e disse que o queijo era bom, mas o presunto... como o dele não encontraríamos em lado nenhum ali em volta! Venha ele, e pedimos uma sandwich de presunto. E tão bom era que pedimos mais duas para o caminho... O jantar na D. Hermínia foi muito animado: a típica cena entre peregrinos. Muitas histórias para contar, histórias do caminho, da vida, da família... os sonhos e os muitos projetos. Já sabíamos que a Susanna falava bem o inglês, estava a fazer um curso e tinha exame no regresso de Santiago. Mas afinal também falava francês, acabou por se distrair e falar indiferentemente nas 3 línguas ao longo do jantar. Além do espanhol do Diego e do Rafael... tentámos nós não falar em português para não agravar mais a situação. O menu incluía empanada de entrada, sopa de fideo, cocido de verduras, arroz doce e maçãs... o típico nestes sítios. Claro que o cocido, onde se cozinham os enchidos (ainda apareciam uns bocados no meio das “verduras”) é um prato “forte”, o que levou o sempre bem disposto Rafa a ensinar-nos um dito da sua terra: - un segundo aquí, e apontava para a boca, y toda la vida aquí, e apalpava a cintura.


O tapete de folhas - Canon PowerShot G12 1/200 sec at f / 6,3 ISO 400, 43°20’3” N 6°28’44” W, altit 734,8 m



Etapa

04 - 23 Abril

| Campiello >> Berducedo | 32,7 Km

A escorregadia descida de Puerto del Palo - Canon PowerShot G12 1/400 sec at f / 7,1 ISO 125, 43°16’18” N 6°40’55” W, altit 1091,0 m


Perto de Ermita de La Magdalena - Canon PowerShot G12 1/80 sec at f / 5,6 ISO 100, 43°20’13” N 6°32’10” W, altit 594,0 m

El Espin - Canon PowerShot G12 1/100 sec at f / 5,6 ISO 100, 43°20’11” N 6°32’19” W, altit 600,0 m

El Espin - Canon PowerShot G12 1/125 sec at f / 5,6 ISO 100, 43°20’9” N 6°32’24” W, altit 601,0 m

Borres - Canon PowerShot G12 1/500 sec at f / 3,5 ISO 100, 43°20’7” N 6°33’31” W, altit 650,7 m


A caminho de Borres - Canon PowerShot G12 1/125 sec at f / 5,6 ISO 100, 43°20’6” N 6°32’40” W, altit 595,4 m


Desde La Mortera para Colinas de Arriba - Canon PowerShot G12 1/200 sec at f / 6,3 ISO 100, 43°19’15” N 6°35’9” W, altit 690,8 m

Espigueiro em Samblismo - Canon PowerShot G12 1/160 sec at f / 5,6 ISO 100, 43°19’40” N 6°34’3” W, altit 721,4 m Chegando a Borres - Canon PowerShot G12 1/125 sec at f / 5,6 ISO 100, 43°20’5” N 6°32’53” W, altit 611,1 m

Samblismo - Canon PowerShot G12 1/100 sec at f / 5,6 ISO 100, 43°19’29” N 6°34’20” W, altit 695,6 m


Foi mais um nascer de dia fabuloso. A luz destes momentos encanta os caminheiros e é uma dádiva para os fotógrafos, e é por isso que nos levantamos sempre bem cedo nas nossas caminhadas e nunca nos arrependemos. Tomamos o café com leite e as torradas com azeite e partimos. Nas nossas costas, o sol baixo e envergonhado lançava uma luz rosada sobre a paisagem diante de nós, que contrastava com o céu encoberto por nuvens de um cinza azulado. Belo, como belo foi o caminho, o que já começa a não nos surpreender nas Astúrias... Tínhamos decidido que iríamos só até Pola de Allande, seria um dia de descanso. Ainda pensámos alterar e ir pela Ruta de los Hospitales, mas pareceu-nos que devia estar tudo tapado lá em cima, o que mais tarde confirmámos. Chegados a Pola “aportamos” ao Bar do Peregrino na Av. América, perto do albergue, que nos tinha sido indicado por um senhor no Meson Cervantes em Tineo. Comemos muito bem e foi uma alegria descobrir que a proprietária, a D. Natália, era natural de Alfândega da Fé, de onde emigrou há já 28 anos. Foi um bom momento, tão bom que nos enchemos de coragem e resolvemos mais do que duplicar a etapa: fomos até Berducedo.

Porciles - Canon PowerShot G12 1/160 sec at f / 4,0 ISO 80, 43°17’59” N 6°36’5” W, altit 706,7 m

agora tínhamos pela frente uma forte subida, até ao Puerto del Palo, e para piorar as coisas o céu tinha destapado e o sol impiedoso da tarde atingia-nos pelas costas com violência. Foi com dificuldade que fizemos a subida, o sofrimento só foi minorado pela presença, em boa parte do trajeto ascendente, de uma ribeira que corria paralela ao trilho. Chegados ao ventoso Puerto, fizemos a foto da praxe e avançámos, não podíamos deter-nos muito tempo, e mesmo assim chegámos ao destino às 20:00. Ficámos no Albergue Camin Antiguo, já que o público estava repleto. Jantámos na Casa Marques, onde encontrámos o Diego, o Rafa, o Vitor, o Paulo e a Fernanda... eram quase 21:30 quando regressámos ao albergue. Dormi mal, estavam lá uns alemães e um deles, provavelmente comemorando a vitória 4-0 do Bayern sobre o Barcelona a que tinha assistido ao jantar , desatou a ressonar a ponto de me obrigar a levar o colchão para a entrada do edifício, onde finalmente consegui sossegar.


Porciles - Canon PowerShot G12 1/160 sec at f / 4,0 ISO 80, 43°17’57” N 6°36’4” W, altit 714,9 m

Ferroy - Canon PowerShot G12 1/125 sec at f / 5,6 ISO 100, 43°16’57” N 6°36’9” W, altit 678,6 m

Ferroy - Canon PowerShot G12 1/80 sec at f / 5,6 ISO 80, 43°17’10” N 6°36’3” W, altit 787,2 m

Ferroy - Canon PowerShot G12 1/160 sec at f / 5,6 ISO 100, 43°16’34” N 6°36’17” W, altit 559,6 m


Perto de Ferroy - Canon PowerShot G12 1/80 sec at f / 5,6 ISO 80, 43°17’17” N 6°36’1” W, altit 782,9 m


Com a D. Natália - Canon PowerShot G12 1/500 sec at f / 2,8 ISO 1600, 43°16’20” N 6°36’37” W, altit 542,1 m

Iglesia de San Andrés de Pola de Allande - Canon PowerShot G12 1/500 sec at f / 5,6 ISO 100, 43°16’19” N 6°36’34” W, altit 533,4 m

Uma História de Coragem e Determinação Estávamos para sair do Bar do Peregrino quando surgiu a Susanna. A Natália tinha tentado demover-nos de avançar para Berducedo - É um trajeto cansativo e são quase duas da tarde! É loucura! Mas estávamos decididos a ir; tal como a italiana, o que deixou a Natália de boca aberta. Afinal ela era mais lenta e estava ainda ainda mais atrasada... estes peregrinos devem estar loucos. >>>


1/8 sec at f / 8,0 ISO 80 43°17’16” N 6°38’35” W altit 678,6 m

1/125 sec at f / 5,6 ISO 80 43°16’55” N 6°38’8” W altit 624,5 m

1/125 sec at f / 5,6 ISO 80 43°16’53” N 6°37’58” W altit 610,1 m A subida para o Puerto del Palo, perto de Peñaseita


Puerto del Palo - Canon PowerShot G12 1/800 sec at f / 4,5 ISO 125, 43°16’22” N 6°40’41” W, altit 1155,9 m

Vistas de Lago - Canon PowerShot G12 1/200 sec at f / 6,3 ISO 160, 43°15’29” N 6°43’2” W, altit 878,8 m

>>> Na verdade, estávamos também cada vez mais espantados com a Susanna (nome fictício, já que não consegui contactá-la a tempo desta edição), pela coragem e determinação que mostrava, andando com dificuldade, sozinha... A Susanna vive perto de Milão e faz caminhadas com regularidade perto da cidade. Começou a caminhar sob o olhar reprovador da família, mãe e irmã, que achavam a ideia disparatada. Mesmo com o exercício, esta peregrina que já anda perto dos cinquenta anos de idade é uma pessoa pesada (talvez perto dos oitenta quilos e diz que já pesou mais), o que a limita na passada que é lenta - mas muito regular. Sofre com as inclinações acentuadas deste terreno asturiano que lhe provocam dores nos joelhos. Mas é de uma determinação inabalável. Antes de partir para Oviedo o chefe retirou-lhe dois dos planeados dias de férias, pelo que ela decidiu alongar as etapas para poder concluir a peregrinação! Estava a ficar muito tarde e aquele é um percurso de montanha... num ponto alto, perto de Lago, tentei perceber se a divisava lá para trás. Pareceu-me vê-la no “escorrega” que sai do Puerto del Palo. Fiz uma foto com toda a tele-objetiva disponível e ampliei ao máximo o resultado.


Em Berducedo somos recebidos por um magnífico nascer da Lua à luz da tardinha - Canon PowerShot G12 1/800 sec at f / 6,3 ISO 200, 43°14’29” N 6°45’34” W, altit 946,8 m

Reduzida a meia dúzia de pixeis, conseguimos mesmo assim reconhecer que era uma pessoa e adivinhar as cores do vestuário, que condiziam com as dela. Ficamos mais descansados e seguimos. Na verdade, este é um dos troços mais gratificantes de todo o caminho, mas também duro e deserto. Depois do banho tomado, já estávamos à mesa do restaurante, vi a nossa amiga passar. Corri para a rua e chamei-a - Susanna, ainda vais hoje para Santiago? Eram 21:00, ela caminhava desde as 7:00 e já ia na direção da saída da vila! Ensinei-lhe onde ficava o albergue. Depois de jantar fomos ter com ela, ficámos um pouco a conversar na cozinha, enquanto o resto dos peregrinos assistiam ao jogo ainda sentados à mesa do restaurante. Era tarde, ela não jantou, penso que ficou só com leite e chocolate... Já com um chá quente na nossa frente (ela não sabia ligar a placa vitrocerâmica) felicitámo-la pela sua coragem e determinação. - Sou muito determinada. Já em pequena a minha mãe dizia que eu era obstinada... Na verdade saio ao meu pai, afirmou, com um sorriso e o olhar distante...e continuou: nunca pensei ouvir-me dizer isto. Quando era mais nova, se diziam que eu era como o meu pai, ficava danada. Agora encho-me de orgulho.



Etapa

05 - 24 Abril

| Berducedo >> Grandas de Salime | 20,8 Km

Berducedo, oito da manhã de um dia magnífico - Canon PowerShot G12 1/250 sec at f / 6,3 ISO 400, 43°13’57” N 6°46’49” W, altit 998,2 m


A rústica igreja de La Mesa, dedicada a Santa María Magdalena - Canon PowerShot G12 1/200 sec at f / 5,6 ISO 100, 43°13’6” N 6°48’6” W, altit 876,6 m

Ambiente pastoril em La Mesa, uma aldeia de 32 habitantes (2009) - Canon PowerShot G12 1/200 sec at f / 5,6 ISO 100, 43°13’6” N 6°48’14” W, altit 881,2 m


Buspol - Canon PowerShot G12 1/250 sec at f / 7,1 ISO 125, 43°13’30” N 6°49’14” W, altit 994,4 m

Capilla de Santa Marina de Buspol - Canon PowerShot G12 1/250 sec at f / 7,1 ISO 125, 43°13’29” N 6°49’18” W, altit 983,3 m


Imagens na capilla de Santa Marina de Buspol - Canon PowerShot G12 1/60 sec at f / 3,5 ISO 1600, 43°13’29” N 6°49’19” W, altit 982,6 m

O caminho em Buspol - Canon PowerShot G12 1/200 sec at f / 6,3 ISO 100, 43°13’29” N 6°49’25” W, altit 969,9 m

Autêntico Verão. O dia amanheceu ameno e luminoso, e depressa se lhe juntaram névoas e farrapos de nuvens que criaram a luz ideal para apreciarmos a paisagem. E tão soberbas eram as vistas para o embalse de Salime, que nos fizeram esquecer os sofrimentos dos nossos joelhos em tantos quilómetros seguidos de acentuada descida, depois dos "maus tratos" sofridos na etapa anterior. A meio da descida, numa curva do caminho, vimos um promontório rochoso com uma vista fabulosa para a barragem. Alvas nuvens, leves como penas, flutuavam a meia altura sobre as águas de azul profundo lá mais abaixo. Detivemo-nos um pouco e comemos uma laranja. Pouco depois o Vitor, o Paulo e a Fernanda não resistiam também ao feitiço do lugar. Deixámo-los lá numa sessão de fotos e continuámos a interminável descida para a que já foi, no seu tempo, a maior barragem de Espanha e a segunda maior da Europa. E logo a seguir novo recanto com bonitas vistas, local ideal para prepararmos o nosso pão com chourição. Os outros peregrinos seguiram para o "Las Grandas", pouco mais de 1km para lá da barragem. Somos sempre bem tratados nos Caminos de Santiago em Espanha. Estamos habituados, e o Las Grandas foi disso um bom exemplo.


Vista de Buspol - Canon PowerShot G12 1/250 sec at f / 6,3 ISO 100, 43°13’31” N 6°49’33” W, altit 933,3 m


Almoço com vistas - Barragem de Salime - Canon PowerShot G12 1/250 sec at f / 7,1 ISO 125, 43°14’15” N 6°50’57” W, altit 243,3 m

O Las Grandas, implantado em local estratégico - Canon PowerShot G12 1/250 sec at f / 5,6 ISO 125, 43°14’14” N 6°50’58” W, altit 245,3 m

Parámos apenas para tomar café. Muita simpatia e um bom expresso, que tomei num pequeno balcão da recepção, onde a empregada me deixou usar o computador para poder dar notícias à família pelo facebook. Acabámos de tomar a cafeína lá fora, na esplanada, com vista para a albufeira. A empregada passou e deixou-nos um pratinho de batatas fritas - desculpem, já o trago tarde... Passado um pouco voltou com um tabuleiro de tapas que ofereceu a todos os peregrinos presentes. Educadamente recusámos, que já tínhamos almoçado, explicámos, pagámos os cafés e metemo-nos até Grandas, um pedaço de subida em asfalto sem história. Grandas de Salime. Sede de concelho, com todos os serviços mas com a calma de uma pacata aldeia. A única agitação era a do 4x4 da Guardia Civil que acima e abaixo a 10km/h, interminavelmente patrulhava a urbe. O hospitaleiro estava ausente, telefonei e em cinco minutos tínhamos na nossa frente o Tony que nos registou e atribuiu cama no espaçoso albergue. Também nos disse que o restaurante A Reigada tratava muito bem os peregrinos - mas a cena era só depois das 20:30, muito tarde para quem gosta de jantar às sete, e de qualquer modo tínhamos planeado nesse dia fazer o jantar no albergue.


Vista parcial da barragem - Canon PowerShot G12 1/160 sec at f / 7,1 ISO 125, 43°14’11” N 6°50’51” W, altit 235,7 m

A subida para Grandas - Canon PowerShot G12 1/160 sec at f / 5,0 ISO 125, 43°13’11” N 6°51’33” W, altit 433,9 m

Um peregrino na descida para Salime - Canon PowerShot G12 1/100 sec at f / 7,1 ISO 320, 43°13’39” N 6°50’22” W, altit 483,4 m

A albufeira de Salime - Canon PowerShot G12 1/80 sec at f / 8,0 ISO 320, 43°13’30” N 6°50’34” W, altit 476,2 m


Mas ficámos de água na boca, tomámos duche e corremos para o Reigada. Estávamos a meio da tarde, já não eram horas de almoço, que se arranja? e... regressámos ao albergue de barriga cheia com umas tapas de quesos e uns chipirones e as imprescindíveis cañas, que estávamos tão desidratados... Uma História Simples Acontecem sempre destas histórias nos Caminhos da Espanha rural. É apenas mais uma. Eu queria um pão, para trazer na mochila nos próximos dois dias. Era Domingo, o mini-mercado perto do albergue (já a encerrar) não tinha pão. Fiquei a saber que lá à entrada da vila, perto da A Reigada, havia uma padaria, podia ter a sorte de estar aberta. De caminho indaguei umas senhoras que conversavam alegremente. - É lá ao fundo da rua, a seguir àquele prédio, apontaram em coro. Chego lá, não vejo nada, apenas abaixo do nível da rua, num terreiro, um trator e alguma lenha (haja esperança!) Do outro lado da rua uma rapariga sai de uma casa. Pergunto, logo me diz que sim, que ali é a padaria. Desci a rampa, e lá estava uma modesta porta de alumínio “anos setenta” mal estimada. Era a padaria. Fechada, ninguém atendia. Um fim de tarde quente de Domingo, a vida parou na pacata vila, fico sem pão, pensei, e subi a rampa de novo. A rapariga afinal não tinha seguido caminho, esperava-me, - Toque ali à campainha, a senhora deve aparecer, e foi-se embora. Resultou, a padeira deixou os seus afazeres e desceu para abrir a padaria, onde uma dúzia de apetecíveis pães rústicos esperavam espalhados numas prateleiras que alguém os livrasse daquele inebriante cheiro de forno de lenha e massa de pão. - Leve daqueles, são bons e aguentam-se bem uns dias. Cinco dias depois, a meio da etapa, o que sobrava do pão que comprei ainda nos saciou a fome. - Canon PowerShot G12 1/100 sec at f / 3,5 ISO 400, 43°13’3” N 6°52’35” W, altit 583,9 m

fotos da página seguinte: Igreja de San Salvador de Grandas de Salime


1/500 sec at f / 5,0 ISO 80 43°13’4” N 6°52’35” W altit 584,1 m

1/500 sec at f / 5,0 ISO 80 43°13’3” N 6°52’32” W altit 571,2 m

1/100 sec at f / 3,5 ISO 400 43°13’4” N 6°52’35” W altit 583,9 m

1/100 sec at f / 3,5 ISO 800 43°13’4” N 6°52’34” W altit 583,4 m


Vistas do Albergue - Canon PowerShot G12 1/1600 sec at f / 5,6 ISO 400, 43°13’10” N 6°52’24” W, altit


A Lua vai nascendo mais tarde, cada vez o espetáculo é mais belo - Canon PowerShot G12 1/1250 sec at f / 5,6 ISO 800, 43°13’10” N 6°52’24” W, altit



Etapa

06 - 25 Abril

| Grandas de Salime >> Fonsagrada | 26,2 Km

Esteios de pedras verticais, velhos hábitos nórdicos, que permanecem tão visíveis no Norte da Península - Canon PowerShot G12 1/500 sec at f / 5,6 ISO 320, 43°11’52” N 6°55’22” W, altit 685,1 m


Acordei ainda antes de o meu despertador tocar. No beliche ao lado, vimos a Fernanda e o Paulo já prontos para sair da camarata. Conseguiram arranjar tudo sem qualquer ruído - e eu tenho um sono muito leve. Caminheiros experimentados, sem dúvida. Tomámos o pequeno almoço e partimos. Estava um céu fantástico, emprestando um belo pano de fundo à igreja de San Salvador, um convidativo templo com uma planta e volumetria muito equilibradas e atraentes. Originário do sec XII, foi remodelado nos sec XVII, XVIII e XIX, mas continua lá o pórtico coberto e rodeado por uma curiosa arcada que ao longo dos séculos já abrigou milhares de peregrinos em volta desta antiga Colegiata. Atravessámos um troço de pinheiro negro de grande beleza e, no Puerto del Acebo, entramos na Galiza, sem conseguir disfarçar as saudades das Astúrias. Acabámos por parar para um alimento mais substancial no Meson Catro Ventos onde comemos uma saborosa e gigante sandwich de ternera, e onde encontrámos novos peregrinos. Notamos que muitos deles optaram por seguir a estrada - o trajeto é paralelo, talvez seja mais rápido, mas os perigos e a falta da natureza não compensam, quanto a mim. Após um troço menos interessante, entrámos em Fonsagrada. Tal como tínhamos planeado, decidimos tirar proveito dos serviços da vila e não avançar para o albergue de Padron, 1km mais abaixo. Mas na verdade faz-se bem o caminho do albergue até à vila. Amanhece em Grandas - Canon PowerShot G12 1/13 sec at f / 5,6 ISO 1600, 43°13’3” N 6°52’43” W, altit 595,9 m


San Salvador de Grandas de Salime - Canon PowerShot G12 1/6 sec at f / 5,6 ISO 1600, 43°13’5” N 6°52’33” W, altit 577,6 m


Farrapa - Canon PowerShot G12 1/160 sec at f / 5,6 ISO 320, 43°12’41” N 6°53’39” W, altit 695,9 m

Malneira - Canon PowerShot G12 1/640 sec at f / 5,6 ISO 200, 43°12’35” N 6°54’42” W, altit 646,9 m

Farrapa - Canon PowerShot G12 1/50 sec at f / 5,6 ISO 400, 43°12’40” N 6°53’21” W, altit 683,4 m


Castro - Canon PowerShot G12 1/640 sec at f / 5,6 ISO 320, 43°11’56” N 6°55’20” W, altit 684,4 m

Castro - Canon PowerShot G12 1/1000 sec at f / 5,6 ISO 320, 43°12’4” N 6°55’14” W, altit 674,7 m

Capilla de San Lázaro de Padraira - Canon PowerShot G12 1/400 sec at f / 5,6 ISO 200, 43°11’12” N 6°55’24” W, altit 728,8 m

Padraira - Canon PowerShot G12 1/250 sec at f / 5,6 ISO 200, 43°11’25” N 6°55’22” W, altit 719,7 m


Ermita de Santa Bárbara do Camiño - Canon PowerShot G12 1/320 sec at f / 5,6 ISO 80, 43°8’31” N 7°2’7” W, altit 883,1 m

Iglesia de Santa María Magdalena, Peñafuente - Canon PowerShot G12 1/160 sec at f / 6,3 ISO 125, 43°9’47” N 6°56’7” W, altit 859,1 m

Deixámos as Astúrias e entrámos na Galiza, mas um dos encantos deste caminho não se desvaneceu. Refiro-me aos templos e sinais da religiosidade, de uma singeleza que nos conquista de imediato. Onde em outros locais se procura a monumentalidade, a arte, até o fausto, onde os arquitetos do gótico se esmeraram a tentar chegar aos céus, aqui procura-se o oposto. Ao contrário daquilo a que nos habituámos (e não podemos deixar de admirar) ao longo do Caminho Francês, ou do Português, mesmo na Via da Prata, aqui encontramos capelinhas que são na maioria das vezes simples abrigos que protegem da intempérie os santos e os fiéis. Construções diminutas e toscas, mas enternecedoras, pelo seu significado e localização, por serem a expressão possível da religiosidade de antigas povoações, algumas pastoris e com apenas uma mão cheia de almas. Confundem-se com a paisagem, não é necessário chegar lá acima, a Deus, como se quem vive nestes ermos serranos se sentisse já suficientemente perto d’Ele. Mesmo as igrejas paroquiais das vilas principais não procuram, em geral, rivalizar com as obras emblemáticas que conhecemos em outras viagens a Compostela. Por outro lado, as peregrinações tiveram grande importãncia em alguns locais deste Caminho Primitivo, e Fonsagrada é um caso a destacar. Desde o século XII ponto de passagem dos peregrinos, onde houve desde cedo Hospital, cresceu e desenvolveu-se em torno deste eixo viário. Reza a lenda que o nome vem da fonte ao lado da igreja, venerada pelos peregrinos, da qual jorrou leite para alimentar uma mulher que não conseguia sustento para si nem para os seus filhos.


Iglesia de Santa María - Canon PowerShot G12 1/250 sec at f / 7,1 ISO 125, 43°7’32” N 7°4’3” W, altit 960,5 m

San Lazaro de Padraira - Canon PowerShot G12 1/8 sec at f / 4,5 ISO 800, 43°11’12” N 6°55’23” W, altit 729,5 m

Cruzeiro em Fonsagrada - Canon PowerShot G12 1/400 sec at f / 4,0 ISO 80, 43°7’36” N 7°4’3” W, altit 949,9 m

La fuente Sagrada - Canon PowerShot G12 1/160 sec at f / 3,5 ISO 125, 43°7’33” N 7°4’1” W, altit 957,4 m


O Cantabrico - Canon PowerShot G12 1/25 sec at f / 5,6 ISO 1250, 43°7’33” N 7°4’4” W, altit 963,6 m

Ficámos num bom quarto na Pension Casa Manolo, onde optamos também por jantar um menu - fraco, apesar das saborosas trutas fritas. Durante a tarde deambulámos pela vila. O habitual, compras, internet, e... tínhamos que provar o pastel típico de Fonsagrada, que acabámos por encontrar no Cantábrico, onde a D. Eva nos serviu a iguaria confeccionada segundo velha receita da casa, com amêndoas e creme pasteleiro. Uma delícia. Após o jantar fomos passear um pouco, beber um Carlos III para nos aconchegar na fria noite. Regressámos ao Manolo a tempo de surpreender a lua cheia nascendo por entre nuvens, por detrás da torre da igreja. Foi um novo momento de embevecimento com este recanto da nossa galáxia e... mais umas fotos. Subimos ao nosso quarto, que tinha uma magnífica vista a poente. Sobre o fundo azulado de um céu iluminado pela lua cheia ainda no horizonte, do lado oposto, miríades de estrelas brincavam comigo às escondidas por detrás de umas brumas que não paravam quietas. As luzes de Fonsagrada, cá em baixo, ajudavam a dar escala àquela imensidão. O céu acabou por limpar e adormeci contemplando o espetáculo. Tudo apontava para que as previsões de chuva não se concretizariam. Pastel de Fonsagrada - Canon PowerShot G12 1/50 sec at f / 2,8 ISO 640, 43°7’34” N 7°4’6” W, altit 960,0 m


Com este cenรกrio adormeci, na Casa Manolo - Canon PowerShot G12 15,0 sec at f / 5,6 ISO 1000, , altit



Etapa

07 - 26 Abril

| Fonsagrada >> Cadavo Baleira | 25,1 Km

Não restam dúvidas, estamos na Galiza! (O Couto) - Canon PowerShot G12 1/250 sec at f / 6,3 ISO 500, 43°3’28” N 7°10’22” W, altit 675,9 m


1/6 sec at f / 5,6 ISO 2000 43°7’34” N 7°4’2” W altit 959,8 m 1/25 sec at f / 5,6 ISO 3200 43°7’29” N 7°4’5” W altit 973,2 m

1/20 sec at f / 5,6 ISO 3200 43°7’32” N 7°4’2” W altit 962,9 m Um amanhecer nevoeirento em Fonsagrada

1/15 sec at f / 5,6 ISO 3200 43°7’23” N 7°4’7” W altit 960,7 m


O Padrón - Canon PowerShot G12 1/20 sec at f / 5,6 ISO 2000, 43°6’51” N 7°4’59” W, altit 880,7 m

Eram seis da manhã quando o despertador tocou. Duplo alarme. Algo de estranho se passava. Embora ainda fosse escuro, percebia que tudo tinha mudado, não havia estrelas nem pastos verdes, parecia que alguém tinha construído um muro de betão diante da nossa janela. Estendi o braço fora da janela e a minha mão quase deixava de se ver, perdida no nevoeiro frio. Arranjámos um pequeno almoço no quarto e saímos para aquela humidade que nos penetrava até aos ossos. Cones de luz amarelada pendiam dos candeeiros, e tal como o arco-iris, por mais que nos esforçássemos não conseguíamos agarrá-los. Passámos a igreja e seguimos uma rua estreita, onde não nos admiraria ver surgir sir Sherlock com o seu checkered deerstalker enfiado até às orelhas. Acabámos por deixar Fonsagrada para trás, e mais abaixo o dia clareou e o nevoeiro aliviou um pouco mas manteve-se a humidade, chegou mesmo a chuviscar, conferindo à paisagem uma atmosfera de mistério e indefinida nostalgia.

Pedrafitelas - Canon PowerShot G12 1/60 sec at f / 5,6 ISO 800, 43°6’13” N 7°7’21” W, altit 946,3 m


Montouto - Canon PowerShot G12 1/125 sec at f / 6,3 ISO 400, 43°5’42” N 7°8’37” W, altit 1031,1 m

Montouto - Canon PowerShot G12 1/125 sec at f / 6,3 ISO 400, 43°5’41” N 7°8’37” W, altit 1031,4 m

Montouto - Canon PowerShot G12 1/125 sec at f / 6,3 ISO 400, 43°5’42” N 7°8’37” W, altit 1031,1 m

Montouto - Canon PowerShot G12 1/125 sec at f / 6,3 ISO 400, 43°5’42” N 7°8’37” W, altit 1030,9 m


E foi neste ambiente de mistério que nos acercámos das ruínas do Hospital de Montouto. Fico sempre impressionado com estes locais, e a atmosfera do dia só veio acentuar os meus sentimentos. Os hospitais, funcionado como um misto de albergue e dos atuais hospitais (de que são na realidade precursores) davam apoio e alívio aos extenuados e por vezes doentes peregrinos. Muita alegria e satisfação terá aqui acontecido, mas também, e é isso que me comove, muita dor e sofrimento. Peregrinar em séculos idos era muito diferente. Os caminhos não eram o que agora são, os equipamentos eram muito rudimentares tal como o conhecimento que os destemidos peregrinos possuiam do que iam enfrentar pelo caminho. Vivendo muitas vezes do que lhes era oferecido pelas populações, iam comendo e dormindo como podiam e facilmente sofriam de fome, hipotermia ou exaustão. Os hospitais e a dedicação de quem neles trabalhava eram a sua salvação e terão garantido que muitos chegassem à sonhada tumba do Apóstolo. Mas muitos outros ficaram pelo caminho, vítimas da fome, da doença, dos assaltantes ou dos animais selvagens. Na verdade Montouto é uma das aldeias com mais tradição no Caminho Primitivo, precisamente devido ao hospital que ficava um pouco acima, construído em 1360 por Pedro I o Cruel (sobrinho do homónimo de Portugal). Era o hospital de alta montanha mais importante da Galiza, e em 1698 foi transladado para outra localização perto da inicial, passando a chamar-se Novo Hospital de Santiago de Montouto, e manteve-se em funcionamento até meados do séc. XX ! A capela próxima é recente, e aí se celebra uma romaria no dia 25 de Julho, dia de Santiago. É curioso que o local de implantação do novo hospital coincide com o do dolmen de Montouto, e próximo fica o menir da Peña Labrada, o que vem reforçar a ideia de que este Caminho Primitivo, tal como o Caminho Francês e o de Finisterra, retomam velhas rotas de peregrinação pré-cristãs. Também a Via da Prata foi desenhada sobre uma estrada romana que por sua vez seguiu a traça de velhos caminhos de transumância. Todas esta sequência de civilizações e motivações de quem calcorreou os mesmos terrenos que hoje percorremos, só vem aumentar a magia destes Caminhos.

O bosque em Montouto - Canon PowerShot G12 1/40 sec at f / 6,3 ISO 800, 43°6’3” N 7°7’38” W, altit 946,3 m


Mas nem só de magia vive o peregrino, e já a chegar a Paradavella fizemos uma paragem na Casa Meson, onde aguardámos vez para ser servidos, tantos eram os peregrinos que ocupavam as mesas, entre eles os nossos amigos Vitor, Fernanda e Paulo. Por fim chegou a nossa oportunidade de nos sentarmos a uma mesa, e saciámo-nos com o segundo pequeno almoço (sim, tomamos sempre dois...) composto de enormes tostadas, mantequilla e mermelada e o infalível cafe con leche. Simpatia, bom serviço e bom preço. Eram apenas dez da manhã, mas já havia quem estivesse a deliciar-se com pão com azeite e vinho quente!


1/125 sec at f / 3,5 ISO 125 43°4’18” N 7°10’38” W altit 756,2 m


O Castro - Canon PowerShot G12 1/80 sec at f / 7,1 ISO 400, 43°4’9” N 7°10’28” W, altit 734,1 m

O Castro - Canon PowerShot G12 1/20 sec at f / 6,3 ISO 100, 43°4’5” N 7°10’27” W, altit 712,9 m

O Couto - Canon PowerShot G12 1/160 sec at f / 6,3 ISO 500, 43°3’27” N 7°10’22” W, altit 675,0 m

A Fontaneira - Canon PowerShot G12 1/100 sec at f / 5,6 ISO 80, 43°1’56” N 7°12’5” W, altit 908,8 m


No caminho de A Lastra para A Fontaneira - Canon PowerShot G12 1/160 sec at f / 5,6 ISO 250, 43°2’36” N 7°11’30” W, altit 917,2 m


O Couto - Canon PowerShot G12 1/160 sec at f / 6,3 ISO 500, 43°3’26” N 7°10’23” W, altit 675,7 m


E assim foi o nosso dia: cinzento, húmido, galego. Um dia feito de constantes subidas e descidas que nos levaram até Cádavo Baleira, onde chegámos passando pelo Monte da Matanza, local em que Afonso II, o monarca que fez “nascer” o Caminho Primitivo, derrotou em batalha os exércitos Muçulmanos. Um bom albergue, tudo a funcionar. A D. Lola, mal chegámos ligou as caldeiras para o banho e aquecimento do chão. Um café no Eligio onde deixamos notícias frescas no facebook e compras no minimercado para confeccionar, mais à noite, um bom jantar regado por um belo Rioja. A noite veio, e com ela veio ainda mais frio. As previsões deste final de Abril apontavam para neve acima dos 500 metros. Parecia que íamos ter ainda mais do que sonháramos, nesta peregrinação.



Etapa

08 - 27 Abril

| Cadavo Baleira >> Lugo | 30,8 Km

O encanto da neve em Corona Vaqueriza - Canon PowerShot G12 1/200 sec at f / 5,0 ISO 200, 43°1’23” N 7°16’42” W, altit 876,9 m


Albergue de Cádavo - Canon PowerShot G12 0,6 sec at f / 5,0 ISO 500, 43°1’1” N 7°14’43” W, altit 739,6 m


Amanhece em Cádavo Baleira - Canon PowerShot G12 1/50 sec at f / 5,0 ISO 3200, 43°0’58” N 7°14’49” W, altit 721,6 m

O tempo estava estranhamente calmo, e apesar de a temperatura ser de apenas 1,4 ºC, não se sentia frio. Iniciamos a subida que nos leva dos 740m de altitude no albergue aos 870 m, por Pradera e corona Vaqueriza. Não demorou um quarto de hora e começou a nevar, S. Tiago brindava-nos com o primeiro nevão nas nossas peregrinações ao seu túmulo. Durante uma hora foi uma animação naquele belo trecho do caminho. Paragens para vestir impermeáveis, proteger as mochilas, fotos, muitas fotos. Acho que a progressão de todos foi lenta durante aquele começo de dia. Iniciada a descida, a queda de neve começou a diminuir e já nada restava quando chegámos ao santuário de Nuestra Señora del Carmen. O resto do dia decorreu fácil, 31km sem grandes inclinações. Mas sempre belas paisagens e ambientes rurais. Bela praceta em Castroverde, junto da igreja, com a fonte dos meninos e o guarda-chuva, de que os nossos amigos Rafael e Diego tanto gostavam. E um bom café logo ao lado, pouco antes tínhamos feito um pequeno desvio para um outro, na rua principal (Rosália de Castro), onde fomos muito mal servidos. Ora sol ora chuva, o nosso dia continuou até Vilar de Cas, onde o abrigo de uma máquina de vending nos protegeu enquanto o almoço saía das nossas mochilas. E, claro, resolvido o mistério de como operar a máquina, tomamos café.


1/100 sec at f / 4,5 ISO 1600 43°0’43” N 7°15’53” W altit 838,6 m

1/100 sec at f / 4,5 ISO 640 43°1’1” N 7°16’14” W altit 862,4 m

1/125 sec at f / 4,5 ISO 640 43°1’21” N 7°16’39” W altit 876,4 m

1/100 sec at f / 3,5 ISO 250 43°1’53” N 7°17’14” W altit 786,3 m


1/200 sec at f / 5,0 ISO 200 43°1’22” N 7°16’41” W altit 876,9 m


1/100 sec at f / 5,0 ISO 250 43°1’26” N 7°16’45” W altit 878,8 m


1/100 sec at f / 5,0 ISO 250 43°1’40” N 7°17’1” W altit 848,7 m


Santuario de Nuestra Señora del Carmen - Canon PowerShot G12 1/50 sec at f / 5,0 ISO 250, 43°1’59” N 7°17’27” W, altit 763,7 m

Catedral de Castroverde - Canon PowerShot G12 1/640 sec at f / 5,0 ISO 1000, 43°2’8” N 7°18’3” W, altit 678,6 m

E fomos em demanda de Lugo, a grande Lucus Augusta dos Romanos do tempo de Cristo. As nuvens negras continuaram a seguir-nos a baixa altitude, até que a tormenta desabou. Foram 3 aguaceiros de granizo, pelo meio umas "pérolas" de 8mm que já doiam quando nos atingiam! Foi mais um dia de caminhos lindíssimos a que o céu conturbado e o granizo vieram acrescentar drama e fascínio. Mas depois não pudemos deixar de sentir grande tristeza, enquanto caminhávamos sobre longos tapetes de pétalas caídas. Estranho sentido o do nosso Universo, a perenidade das coisas... a natureza tinha-se esmerado durante meses a vestir a paisagem com aquelas gloriosas flores, e agora, em minutos, com a outra mão deitava tudo a perder. Porque somos invadidos por esse desejo da eternidade perante o belo, perante a vida quando afinal tal não existe, até o Universo terá um fim? Porque sentimos essa noção de que há outro nível de existência onde o belo é para sempre, o mal nunca aparece, não há destruição? Será que essa é a marca em nós do sopro Divino que subitamente nos elevou na linha da evolução e nos tornou humanos? Para onde vamos nós, que somos feitos do pó de estrelas moribundas, como dizia Carl Sagan? São os mistérios do Caminho, onde também procuramos as respostas.


Villabade - Canon PowerShot G12 1/200 sec at f / 6,3 ISO 400, 43°2’8” N 7°18’4” W, altit 675,9 m


1/80 sec at f / 5,0 ISO 200 43°1’24” N 7°20’56” W altit 506,3 m 1/80 sec at f / 5,0 ISO 320 43°1’23” N 7°20’57” W altit 506,5 m

1/80 sec at f / 5,0 ISO 200 43°1’24” N 7°20’54” W altit 507,2 m A Penalonga

1/100 sec at f / 5,0 ISO 320 43°1’21” N 7°20’57” W altit 507,0 m


1/640 sec at f / 4,0 ISO 100 43°1’2” N 7°22’31” W altit 517,3 m

1/640 sec at f / 4,0 ISO 100 43°1’5” N 7°22’55” W altit 521,9 m

1/640 sec at f / 4,5 ISO 100 43°1’3” N 7°23’3” W altit 511,3 m

1/250 sec at f / 4,0 ISO 100 43°1’4” N 7°22’34” W altit 525,7 m Nadela


A Graça estava mal, as botas eram duras e pesadas para este tipo de atividade, e ainda pouco quebradas. Os efeitos acumularam-se e a etapa foi de sofrimento. Só com uma ración de quesos e um belíssimo tinto servidos na Vinoteca Lubre à entrada de Lugo foi possível eliminar os sintomas... dirigimo-nos em seguida ao Hostal San Roque onde depois de regatear um pouco ficamos por um belo preço incluindo dormida e um pic-nic para o dia seguinte, fornecido no café em frente.

Depois do granizo, em Bascuas - Canon PowerShot G12 1/100 sec at f / 5,0 ISO 320, 43°1’2” N 7°26’36” W, altit 522,4 m

Continuava o frio e a chuva, pouco pudemos ver de Lugo, que é a única cidade do mundo rodeada por muralhas Romanas quase intactas, que se estendem por 2117 metros, com 10 a 15m de altura, 71 torres e 10 portas. Construída no séc. III, a muralha está classificada pela Unesco como World Heritage Site. Cansados e com fome acabámos por procurar um menu no La Encina, perto da Porta de San Pedro. A melhor refeição no Primitivo, comi umas zamburiñas, seguidas de uma deliciosa espetada de carne com molho de natas e batatas em rodelas, terminando com um gofre de chocolate. Anunciavam à entrada que só começavam a servir às 21:00, ainda faltava meia hora, fizemos olhinhos de Shrek, tiveram pena de nós, molhados e gelados, e arranjaram uma mesinha escondida num canto da sala onde jantámos aconchegados.


Muralha de Lugo junto da Porta de San Pedro - Canon PowerShot G12 1/13 sec at f / 6,3 ISO 1600, , altit

“Por aqui entrou o rei Afonso II O Casto, no século IX, inaugurando o primeiro Camiño de Santiago - 1996” - pedra comemorativa junto da Porta de San Pedro 1/25 sec at f / 4,0 ISO 800 43°0’39” N 7°33’17” W altit 498,1 m

1/25 sec at f / 5,6 ISO 250 43°0’37” N 7°33’11” W altit 490,6 m



Etapa

09 - 28 Abril

| Lugo >> San Román de la Retorta | 22,4 Km

Paisagem nevada (Seoane) - Canon PowerShot G12 1/400 sec at f / 4,0 ISO 80, 42°58’31” N 7°37’38” W, altit 547,1 m


Deixámos o hostal San Roque pelas sete horas e avançámos pelo casco antiguo de Lugo. Estávamos numa grande cidade e, tal como acontecera em Oviedo, os sinais da noite de Sábado estavam por todo o lado: garrafas partidas e grupos de jovens com dificuldades em manter-se na vertical. Encontrámos a Susanna e outros dois peregrinos alemães ainda na cidade. Quando entrámos na provincial 2901 que leva a San Román, começou a nevar. Foram vários episódios de neve, alguns com flocos grandes, mas era neve "molhada" que derretia, manteve-se por umas duas horas no cimo de muros, pilhas de lenha, e locais abrigados. O nosso segundo pequeno almoço foi no Mesón As Searas, perto de O Burgo. Estavam já de saída o Paulo e a Fernanda, o casal alemão, e um outro alemão que vínhamos encontrando desde o início. Andava muito insatisfeito com a Galiza. Ao balcão de um bar em Fonsagrada tinha-me dito: “Nas Astúrias ofereciam-me sempre algo de comer com a bebida; aqui, nada!” e varria com o olhar desconsolado o balcão vazio... Antes de sair ainda nos fez uma foto com a Susanna que entretanto chegou e comeu na nossa companhia. Depois partimos. Tínhamos planeado ir só até San Román; como é uma etapa curta e sempre por estrada, optámos por fazer um desvio ao santuário romano de Bóveda. Plaza Mayor, Lugo - Canon PowerShot G12 1/25 sec at f / 6,3 ISO 1600, , altit


Ponte Romana, Lugo - Canon PowerShot G12 1/30 sec at f / 6,3 ISO 1600, 43°0’9” N 7°33’48” W, altit 388,7 m

Igreja San Lazaro - Canon PowerShot G12 1/80 sec at f / 4,5 ISO 1600, 43°0’1” N 7°34’20” W, altit 390,7 m


Carrigueiros - Canon PowerShot G12 1/250 sec at f / 5,0 ISO 80, 42°58’13” N 7°38’10” W, altit 541,1 m

Carrigueiros - Canon PowerShot G12 1/160 sec at f / 5,0 ISO 80, 42°58’10” N 7°38’19” W, altit 537,7 m

Carrigueiros - Canon PowerShot G12 1/320 sec at f / 5,0 ISO 80, 42°58’21” N 7°37’53” W, altit 552,9 m

Fornelo - Canon PowerShot G12 1/250 sec at f / 4,0 ISO 125, 42°59’18” N 7°36’41” W, altit 511,6 m


Seoane - Canon PowerShot G12 1/320 sec at f / 4,0 ISO 80, 42°58’39” N 7°37’25” W, altit 547,1 m

Fornelo - Canon PowerShot G12 1/250 sec at f / 4,0 ISO 125, 42°58’56” N 7°37’2” W, altit 534,9 m

O Burgo - Canon PowerShot G12 1/125 sec at f / 5,6 ISO 125, 42°58’12” N 7°38’43” W, altit 538,2 m

O Santo Matías - Canon PowerShot G12 1/250 sec at f / 5,0 ISO 320, 42°59’27” N 7°36’7” W, altit 495,7 m


O Burgo - Canon PowerShot G12 1/500 sec at f / 4,0 ISO 125, 42°58’9” N 7°38’42” W, altit 542,1 m


Bóveda é um santuário único no mundo romano, com uma planta mais tarde adoptada pelos Visigodos, construído ao tempo da muralha de Lugo (séc. III). Apresenta uma porta com um arco em ferradura, o mais antigo em Espanha. Foi dedicado à Deusa Cibeles, e mais tarde, como habitual, apropriado para o culto Cristão, dedicado a Santa Eulália. Estava fechado, mas valeu a pena o desvio. Graças a ela entrámos numa rede de PR’s designada por “Lugo Agrário”. Foi como um salto no tempo. Percorremos um caminho muito velho, romano possivelmente, velhas árvores e cancelas, muros de rudes blocos de granito verdes de musgo. Por entre as árvores ainda se viam ao longe as linhas de relevo desenhadas a branco e acima de nós pairavam nuvens cor de chumbo. Passámos uma encantadora aldeia e mais tarde acabámos por retomar a estrada provincial e o Caminho Primitivo oficial. Fiz poucas fotos, estava a navegar sem track gps e sem indicações no terreno, e sem saber se chegaria ao caminho para San Román ou se teria que voltar atrás. Não podia demorar-me. Em San Román dirigimo-nos à Taberna, onde a D. Clara nos arranjou um saboroso bocadillo de queso, que acompanhamos com umas cervezas. Comprámos víveres para cozinhar à noite, carimbámos as credenciais e dirigimo-nos para o albergue, que fica 800m mais adiante. Tínhamos decidido seguir a variante da Via Romana, até Ferreira.

Bóveda (Santa Eulália) - Canon PowerShot G12 1/250 sec at f / 4,5 ISO 100, 42°58’43” N 7°41’5” W, altit 499,5 m


O Lameiro - Canon PowerShot G12 1/320 sec at f / 3,5 ISO 100, 42°58’10” N 7°40’23” W, altit 540,6 m

Bóveda (Santa Eulália) - Canon PowerShot G12 1/160 sec at f / 5,0 ISO 100, 42°58’41” N 7°41’1” W, altit 496,4 m


Espigueiro em Bóveda - Canon PowerShot G12 1/125 sec at f / 6,3 ISO 100, 42°58’49” N 7°41’11” W, altit 511,3 m

Vigo - Canon PowerShot G12 1/1250 sec at f / 3,2 ISO 200, 42°58’20” N 7°42’7” W, altit 532,5 m

Bóveda (Santa Eulália) - Canon PowerShot G12 1/250 sec at f / 2,8 ISO 100, 42°58’42” N 7°41’4” W, altit 497,9 m

Vigo - Canon PowerShot G12 1/100 sec at f / 6,3 ISO 200, 42°58’20” N 7°42’2” W, altit 527,7 m


O Tino acompanha-nos ao albergue... - Canon PowerShot G12 1/125 sec at f / 4,5 ISO 100, 42°57’7” N 7°44’45” W, altit 604,3 m

O albergue da Xunta - Canon PowerShot G12 1/200 sec at f / 5,6 ISO 200, , altit

O albergue da Xunta - Canon PowerShot G12 1/500 sec at f / 5,6 ISO 200, 42°57’5” N 7°44’48” W, altit 605,8 m

A paisagem vista da nossa janela - Canon PowerShot G12 1/500 sec at f / 5,6 ISO 80, 42°57’5” N 7°44’48” W, altit 603,4 m


1/40 sec at f / 5,6 ISO 640 42°57’5” N 7°44’49” W altit 603,4 m

1/10 sec at f / 6,3 ISO 2000 42°57’5” N 7°44’48” W altit 604,1 m

Mal saímos da Taberna acercou-se de nós um homem, - Vós ides ao albergue da xunta? - Si. - Eu vou acompañar-vos, sou o hospitaleiro. E foi connosco por ali acima, em amena cavaqueira. - podeis falar português, disse ele com algum sotaque galego. O Tino Pinheiro (sim, com nh) estava a concluir um curso de português de seis anos, que já o tinha trazido a Lisboa várias vezes. - quero aprender o galego de Lisboa. Na verdade falamos a mesma língua, foi da separação dos territórios de Portugal e Espanha que resultaram as diferenças ao longo destes anos. Na Galiza falamos portunhol, e recuso-me a falar castelhano, eu não sou de Castela. Não foi preciso mais. Ele falava sem animosidade, de forma racional e mostrando grandes conhecimentos de um tema que me é caro: esta península contra-natura em que vivemos. Dizia que era Pinheiro, embora nunca tivesse ganho a guerra com as autoridades para mudar a grafia do seu apelido. Sentados nos bancos da cozinha, ficamos um longo pedaço a conversar os três. O Tino contou-nos a longa história de uma Galiza que ía de Braga a León, e de um Rei que teve de escolher León como sede porque no resto do território não lhe reconheciam autoridade, eram os bispos de Braga, Lugo, Astorga quem governava. Falámos dos muitos episódios que estiveram na origem da Península que nos viu nascer. Mas a vida de peregrino é dura, usualmente deitamo-nos com as galinhas, ainda tínhamos que tomar banho, lavar roupas e cozinhar, acabámos por ter que pôr fim à conversa. O albergue é pequeno mas muito confortável, com bastante aquecimento elétrico que o Tino ligou mal chegamos. Estava tudo muito limpo, e não faltavam indicações sobre o Caminho Primitivo e sobre pontos de interesse em redor, que o hospitaleiro ainda nos explicou em mais detalhe. Para quem não quiser cozinhar, há a possibilidade de marcar jantar no albergue privado em frente. Ficaram connosco duas peregrinas de Castelló (Valencia) . Tal como nós estavam cheias de frio, mesmo com o aquecimento ligado. Depois da caminhada o corpo desliga e lá fora estavam 6,5ºC, e muito vento, um real feel de uns 2 ou 3ºC. Deitamo-nos e todos adormecemos rápido, o sol poente lançando esperanças de bom tempo janelas dentro. Eram 20:30, 19:30 na Galiza além-minho.



Etapa

10 - 29 Abril

| San Román de la Retorta >> Melide | 28,4 Km

A caminho da Leboreira - Canon PowerShot G12 1/160 sec at f / 8,0 ISO 100, 42°56’48” N 7°50’3” W, altit 597,8 m


Albergue da Xunta em San Romรกn - Canon PowerShot G12 6,0 sec at f / 6,3 ISO 320, , altit


Estugamos o passo, para nos aquecermos. Sabe bem o céu azul, depois de dois dias de chuva e neve, mas com a noite destapada e o vento, veio o frio, estão apenas 2,4ºC. O céu, de uma transparência só possível após tanta chuva e vento, deixa ver uma lua esplendorosa. Tínhamo-nos levantado às seis e arrumámos tudo e tomámos o pequeno almoço sem acordar as duas valencianas, que só iam deixar os sonhos às sete. Foi uma noite santa e longa, sem roncadores, retemperadora. Quando saímos elas apareceram e ficaram tão desconsoladas com o frio que aceitaram de bom grado dois dos nossos Nescafés. Do caminho romano só resta o traçado, todas as lajes desapareceram, o último vestígio visível é o arco da ponte em Ferreira. Mas o melhor ali é mesmo a Casa da Ponte (turismo rural) onde paramos para o nosso segundo pegueno almoço. Ambiente confortável, sentimo-nos em família, e um excelente serviço a um bom preço. Bem alimentados, partimos para uma etapa deserta em que como sempre as nossas mochilas nos salvaram, providenciando o que ainda havia na "despensa": uma ponta de chouriço, o resto do maravilhoso pão comprado 5 dias antes em Grandas, e até um derradeiro par de pasteis. Não pude deixar de recordar aquela padaria improvável "leve aquele, é muito bom e aguenta uns dias". Estávamos em O Hospital das Seixas, e para a frente esperavam-nos os cimos do collado de la sierra de Careón, a 710 metros de altitude, divisória das províncias de Lugo e A Coruña. Muito, muito vento na travessia do colo e finalmente, 6km antes de Melide, um café onde nos arranjaram uma excelente tortilla com uns enormes copos de vinho tinto que quase só provamos.

Próximo de Castrelo, pelo caminho romano - Canon PowerShot G12 1/10 sec at f / 6,3 ISO 1600, 42°57’4” N 7°44’49” W, altit 595,7 m


Antes de o sol nascer, perto de O Burgo - Canon PowerShot G12 HDR 3 fotos raw, ISO250, 42°57’3” N 7°46’14” W, altit 517,8 m


Pacio - Canon PowerShot G12 1/125 sec at f / 7,1 ISO 160, 42°57’5” N 7°47’53” W, altit 576,7 m

Pacio - Canon PowerShot G12 1/200 sec at f / 5,0 ISO 100, 42°57’6” N 7°47’35” W, altit 554,3 m

Pacio - Canon PowerShot G12 1/160 sec at f / 7,1 ISO 100, 42°57’6” N 7°47’23” W, altit 533,2 m

Vilacarpide - Canon PowerShot G12 1/320 sec at f / 5,0 ISO 200, 42°57’10” N 7°46’59” W, altit 591,6 m


Pacio - Canon PowerShot G12 1/60 sec at f / 5,0 ISO 400, 42°57’10” N 7°47’21” W, altit 537,5 m

Pacio - Canon PowerShot G12 1/60 sec at f / 5,0 ISO 400, 42°57’10” N 7°47’22” W, altit 537,3 m

Nas proximidades de Castrelo - Canon PowerShot G12 1/125 sec at f / 6,3 ISO 160, 42°57’3” N 7°48’16” W, altit 573,8 m

Pena da Galiña - Canon PowerShot G12 1/250 sec at f / 5,6 ISO 200, 42°56’56” N 7°48’58” W, altit 550,7 m


Mosteiro / Ferreira - Canon PowerShot G12 1/5 sec at f / 8,0 ISO 80, 42°56’46” N 7°49’1” W, altit 529,6 m


Montecelo

Vilamor de Arriba

Montecelo

Pacio

As Seixas

O Hospital das Seixas


Vilamor de Abaixo

As Seixas

O Pazo

O Burgo

Montecelo

As Seixas



Desinteressante o resto do caminho, esses últimos 6 quilómetros até Melide. Estrada, sem paisagens e cada vez mais sujidade. Em 2007 tínhamos ficado com uma impressão muito negativa do albergue da xunta, pelo que desta vez nos instalámos no novo albergue privado O Cruceiro. É um edifício urbano, antigo, bem adaptado e equipado - tem microondas, sala para comer, máquina de lavar, posto internet... E exíguas casas de banho. E outros problemas, como a noite nos ensinaria. Depois de terminadas as tarefas diárias de peregrino, fomos para a rua. Encontrámos as peregrinas espanholas de San Román que nos disseram que o albergue público estava agora muito bom, e depois a agradável surpresa - passeando ali pelo centro andavam o Rafa e o Diego. Estavam hospedados em outro albergue, encontraram-se com amigos que vêm pelo Caminho Francês e irão mais lentos de agora em diante, talvez por Arzua, Lavacolla, Santiago.


As Seixas - Canon PowerShot G12 1/400 sec at f / 7,1 ISO 200, 42°56’32” N 7°52’45” W, altit 588,2 m

O Pazo - Canon PowerShot G12 1/400 sec at f / 6,3 ISO 160, 42°56’33” N 7°55’49” W, altit 598,3 m

Vilamor de Arriba - Canon PowerShot G12 1/4 sec at f / 8,0 ISO 80, 42°56’31” N 7°56’50” W, altit 483,2 m

Casacamiño - Canon PowerShot G12 1/320 sec at f / 8,0 ISO 200, 42°56’40” N 7°53’52” W, altit 685,3 m


O pulpo do Ezequiel - Canon PowerShot G12 1/25 sec at f / 4,5 ISO 2000, , altit

Que seria de nós sem o Ezequiel? Ficávamos pelo caminho, não chegávamos a Santiago! Sentei-me numa das mesas corridas, para o ritual do prato de madeira com o pulpo á feira e uma malga de vinho branco fresco. A casa está cheia de gente, muitos são peregrinos. Melide, toda ela, fervilha de peregrinos. Aqui já é Caminho Francês, o Caminho dos Caminhos, é uma alegria bonita de se ver. Mas também é verdade que, estando dentro do raio mínimo de 100km que é necessário percorrer a pé para obter a Compostela, há por aqui muitos "turigrinos” e viajantes que apenas querem obter aquele “papel”, por vezes até viajando de carro e assim mesmo ocupando lugar nos albergues públicos... são ruidosos, como um par que estava na sala do albergue e me impediu de escrever o meu relato, está ausente o espírito de peregrino, de entre-ajuda, muitas das vezes há atitudes de competição e de menos respeito pelos outros. Mas o Caminho é de todos, e eu sei que também destes grupos irão nascer novos peregrinos, tocados pelo espírito do Caminho, pelas vivências por que vão passar.



Etapa

11 - 30 Abril

| Melide >> Santa Irene | 31 Km

A “multidão” do Caminho Francês, perto de A Peroxa - Canon PowerShot G12 1/250 sec at f / 5,6 ISO 320, 42°55’34” N 8°11’27” W, altit 383,0 m


Sta. María de Melide - Canon PowerShot G12 1/13 sec at f / 5,6 ISO 3200, 42°54’40” N 8°1’28” W, altit 456,8 m


Raido - Canon PowerShot G12 1/30 sec at f / 5,6 ISO 800, 42°54’59” N 8°2’49” W, altit 465,9 m


Fonte da Saleta, Boente - Canon PowerShot G12 1/80 sec at f / 4,0 ISO 320, 42°54’58” N 8°4’35” W, altit 411,3 m


Chegando a Ribadiso - Canon PowerShot G12 1/125 sec at f / 4,0 ISO 100, 42°55’49” N 8°7’29” W, altit 363,5 m

Arzúa - Canon PowerShot G12 1/100 sec at f / 4,0 ISO 320, 42°55’34” N 8°9’51” W, altit 387,8 m

Ribadiso - Canon PowerShot G12 1/125 sec at f / 4,0 ISO 200, 42°55’51” N 8°7’50” W, altit 309,9 m

Ribadiso - Canon PowerShot G12 1/125 sec at f / 4,0 ISO 100, 42°55’52” N 8°7’47” W, altit 312,3 m


A Brea - Canon PowerShot G12 1/250 sec at f / 5,6 ISO 400, 42°55’6” N 8°18’28” W, altit 379,6 m Ferreiros - Canon PowerShot G12 1/400 sec at f / 5,6 ISO 400, 42°55’6” N 8°14’25” W, altit 368,6 m

Má escolha, o Cruceiro. Alguns destes albergues privados tentam o lucro fácil... colchões de espuma, revestidos por um isolamento protetor plastificado. Transpiração, uma cova ao centro má para costas de caminheiros e barulho dos frágeis beliches sempre que alguém se movia. Fraca noite! Já cá fora, ainda era noite, encontrámos a lua escondida pelo céu nublado. O frio, o vento e a chuva foram alternando durante todo o dia, a coisa piorava quando os turnos coincidiam. O almoço saiu da nossa mochila, abrigados numa paragem de autocarro, mas assim mesmo gelámos. Entrámos logo a seguir num restaurante cheio de peregrinos, a Casa Calzada, mas nem o seu ambiente aquecido nem o café a fumegar resolveram a nossa hipotermia, que só meia hora de caminhar acelerado e um chá quente no Meson a Equipa em Vilarmeao solucionou. Pouco depois estávamos em O Empalme (Alto de Santa Irene), a fazer o benchmarking dos restaurantes para o jantar da noite.


A Calzada - Canon PowerShot G12 1/80 sec at f / 5,6 ISO 400, 42°55’33” N 8°13’19” W, altit 392,8 m

Perto da As Quintas - Canon PowerShot G12 1/80 sec at f / 5,6 ISO 320, 42°55’39” N 8°12’11” W, altit 379,1 m


Boavista - Canon PowerShot G12 1/250 sec at f / 5,6 ISO 400, 42°55’24” N 8°15’53” W, altit 372,6 m


Albergue de Sta. Irene - Canon PowerShot G12 1/400 sec at f / 6,3 ISO 160, 42°55’6” N 8°20’9” W, altit 369,5 m

Avançámos para o albergue da xunta em Santa Irene. Renovado em 2011 está agora muito bom, funcional, aquecido... Mas sem trem de cozinha, nova e incompreensível regra nos albergues públicos da Galiza. E a obra deveria ter contemplado a inclusão de vidros duplos - poupavam energia e proporcionaria melhor descanso, pois o edificio está a 5 metros da movimentada estrada nacional N-547. Mas soube bem o ambiente limpo e confortável, no final de um dia de frio e de chuva. Estamos no terminus do Caminho Francês, a sua parte desorganizada, feia, industrializada. A Galiza rural desapareceu, as estradas, o trânsito, o lixo espalhado vão ser a nossa companhia até que o calor peregrino e a monumentalidade do casco antigo de Santiago nos envolvam. Mais decepcionante ainda para quem vem das belezas do Caminho Primitivo. À noite voltamos atrás, ao restaurante o Ceadoiro, em Empalm, a pouco mais de um quilómetro. Serviço banal, nada a destacar salvo o triste espetáculo de dois peregrinos que já tínhamos visto a beber lá para trás e que agora, dançando e cantando em grande algazarra, com as camisolas manchadas de tinto, entraram e se acercaram do balcão, apoiados um no outro, para uma recarga. Já deitado no albergue, ouvi-os passar em baixo na estrada - devem ter dormido ao relento, mas frio não tiveram de certeza.



Etapa

12 - 1 Maio

| Santa Irene >> Santiago de Compostela | 23,2 Km Chegámos! - Canon PowerShot G12 1/400 sec at f / 3,5 ISO 320, 42°53’12” N 8°31’8” W, altit 295,3 m


5:40 em Santa Irene - Canon PowerShot G12 10,0 sec at f / 5,0 ISO 400, , altit

Uma noite de carros acima e abaixo. E um dia cinzento, frio, chuvoso, que fizemos em grande velocidade e com poucas paragens. A primeira foi em Pedrouzo, onde tomamos o nosso segundo pequeno almoço no restaurante onde jantámos quando fizemos o Caminho Francês em 2007 (ficámos então em Arca de Pino). Começámos a caminhar muito cedo, antes das 7:00, e pelo caminho fomos encontrando cada vez mais peregrinos, que iniciavam nos incontáveis albergues e habitaciones ao longo do percurso - incluindo as nossas amigas de Valencia, que ficaram contentes de nos ver e nos pediram para lhes fazer uma foto. Depois parámos no bar do Camping San Marcos e descemos até Santiago. Dirigimo-nos ao Obradoiro. Como sempre acontece entre peregrinos que bem se querem, encontrámos a corajosa Suzanna, que chegara na véspera, cumprindo o apertado schedule , acabara de sair da missa do peregrino, e ía agora regressar a Itália; soubemos que na Catedral ela tinha visto também a Fernanda e o Paulo.


1/60 sec at f / 5,6 ISO 800 42°54’14” N 8°23’0” W altit 291,4 m

1/160 sec at f / 5,6 ISO 400 42°54’50” N 8°24’55” W altit 368,6 m

1/800 sec at f / 5,6 ISO 400 42°54’42” N 8°24’51” W altit 373,4 m

1/4 sec at f / 8,0 ISO 800 42°54’44” N 8°25’25” W altit 332,5 m

Em volta do aeroporto


- Canon PowerShot G12 1/640 sec at f / 5,0 ISO 320, 42°53’22” N 8°29’38” W, altit 379,1 m


m

- Canon PowerShot G12 1/400 sec at f / 3,5 ISO 320, 42°53’22” N 8°29’38” W, altit 382,5 m Monte do Gozo


1/200 sec at f / 5,0 ISO 200 42°52’50” N 8°32’46” W altit 261,1 m

Quem já lá foi sabe como é: a última etapa tem pouco que contar. Ou tem tanto, que não cabe nas palavras. O percurso dos Franceses não é bonito, com aquela imensa volta ao aeroporto, a passagem pelo Monte do Gozo e a correria por ali abaixo, uma mão cheia de quilómetros que parecem mais longos do que o habitual. E chuva, muito provalmente. Em Santiago chove em 360 dias por ano, é mais difícil chegar com sol do que apanhar o botafumero a balançar, empurrado pelos tiraboleiros. E finalmente o dourado velho, escuro, das polidas e gastas pedras da milenar cidade, ecoando séculos de passos e bastões de peregrinos, a plaza Cervantes com viajantes fazendo fotos na fonte, os acordes da gaita de foles ecoando pela rua da Acibecheria. O som, carregado dos lamentos e das alegrias de gerações, vai ficando cada mais alto e encontramos finalmente o tocador sob o Arco del Palacio que descemos num tropel. Estamos no Obradoiro. A Catedral imponente, imensa, acolhedora, que fala connosco, como se fosse extensão de quem ela abriga, desde o início. Os risos. As fotografias. As línguas de 5 continentes. As mochilas e as bicicletas pelo chão. Turistas de Ray-Ban e peregrinos de roupas velhas e gastas. Abraços apertados e sentidos. Um Santiago peregrino. As lágrimas, a comoção. Os reencontros de quem se encontrou e desencontrou pelo Caminho. As histórias. Alguém que descobriu finalmente um sentido. O orgulho e a satisfação de quem alcançou algo de que não se julgava capaz. Uma promessa cumprida, um agradecimento. O som grave e pausado dos enormes sinos da Catedral, a Missa do Peregrino, os cânticos celestiais. Só interrompidos pela celebração, desfilam ininterruptamente sobre o altar-mor os peregrinos que abraçam a imagem de Tiago, nascido há dois mil anos na Galileia, filho de Zebedeu e de Salomé, pescador de profissão, a quem Jesus disse: - larga as redes e vem comigo, vou fazer de ti um pescador de Homens.


No Obradoiro - Canon PowerShot G12 1/320 sec at f / 5,0 ISO 200, 42°52’49” N 8°32’46” W, altit 259,9 m

E depois foram os velhos rituais: a Compostela na Oficina do Peregrino, o check-in no La Salle onde a rececionista de há muito me conhece, um petisco ali ao lado no típico e confortável espaço da Bodeguilla de San Roque, o jantar no San Xaime, onde os mejillones, o rape e o lingado na plancha, e o Albariño nos deliciaram. O ritual continuou no dia seguinte, com um saboroso e bem servido pequeno almoço no acolhedor Cafe Belke e a caminhada ate à central de camionagem, ali perto, onde um autobus da Alsa nos transportou de volta a Lisboa. Com vontade de voltar. Oficina do peregrino - Canon PowerShot G12 1/40 sec at f / 2,8 ISO 800, 42°52’49” N 8°32’46” W, altit 261,1 m


Catedral de Santiago de Compostela - Canon PowerShot G12 1,0 sec at f / 5,6 ISO 200, 42°52’49” N 8°32’46” W, altit


Testemunhos de uma Viagem - Canon EOS 7D 0,5 sec at f / 16 ISO 100, , altit


Próximo de Tineo - Canon PowerShot G12 0,4 sec at f / 8,0 ISO 80, 43°21’35” N 6°23’6” W, altit 742,8 m

Santiago. De novo. Foi em 2004, para celebrar os meus 50 anos, que lá fui a primeira vez, pedalando pelo percurso pedestre desde S. Jean-Pied-Port. Mas não foi uma peregrinação, foi sobretudo a superação de um desafio, uma forma de afirmar a vontade de entrar com energia no segundo "meio século". Mas o fascínio deste Caminho ficou bem dentro de mim. As paisagens, a história, os monumentos, e o espirito, qualquer coisa de indefinido que emanava de todos aqueles sítios e dos inúmeros peregrinos que ia ultrapassando. Eu não o imaginava, mas tinha contraído um vírus desconhecido da medicina, e para o qual não são conhecidas curas. Não foi uma viagem em autonomia, encontrava-me à noite com a Graça, e os meus filhos. Eles seguiam de carro e acampávamos juntos. No final da viagem voltamos ao nosso trabalho. Ela disse-me, com um brilho bem meu conhecido no olhar: temos que lá voltar... A pé! Dois anos depois, em Dez 2005 ela reformou-se, e em Dez 2006 saí eu. Cinco meses foi quanto bastou para preparar a nossa primeira peregrinação - em 21 de Maio de 2007 estávamos a dar o primeiro passo em S. Jean. Em 28 dias, depois de alguns sofrimentos próprios de uma primeira vez, tínhamos feito 830km e as lágrimas vinham-nos aos olhos na Praça do Obradoiro. Lágrimas por muitos motivos, mas um deles era seguramente por aquilo acabar, pelo regresso a casa. Poucos dias antes, uma senhora que nos serviu umas empanadas memoráveis, despedia-se de nós dizendo: até à próxima, quem faz este Caminho, volta sempre. Sorrimos e avançamos. Sem saber ainda que daí em diante todos os anos peregrinaríamos a Santiago. E foi o chamado do Santo que nos trouxe mais uma vez ao Campo de Estrelas, neste Ano da Fé, 2013.



O caminho perto de Porciles, Astúrias - Canon PowerShot G12 1/160 sec at f / 5,6 ISO 80, 43°17’49” N 6°36’6” W, altit 774,2 m

Natureza, ruralidade e história de mãos dadas num dos mais belos percursos que levam ao túmulo do Apóstolo, desde Oviedo a Santiago. Venha connosco!


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