Hell Divine Magazine 05

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vivo, é claro que temos uma banda completa. Em shows, só podemos chegar à intensidade máxima com uma banda, com pessoas tocando como se suas vidas dependessem disso. Não tem como termos um show eficaz com uma bateria eletrônica e um sampler, mas para a gravação, nós apenas não queremos ter outras pessoas envolvidas. Não queremos que outras pessoas fiquem nos dizendo o que tocar ou como tocar, isso aqui não é uma democracia para nós dois. Então, outros membros seria apenas fazer o que Mick (Irrumator) já faz. Estamos felizes com os resultados que alcançamos neste caminho, mudar por quê? Enquanto nossos fãs estão curiosos para ver o que aconteceria se outras pessoas estivessem envolvidas, não acho que eles queiram que a gente perca o nosso foco. Apesar de que – é claro –, muitas vezes, temos aparições de outras pessoas, convidados – como tivemos Barker na bateria, Shane Embury no baixo, guitarras solo convidados, inúmeras cantoras – e, obviamente, se você quiser nos ouvir com uma banda completa, há inúmeros vídeos ao vivo e etc... Há uma versão de ensaio da música “Drug Fucking Abomination” no Youtube que um amigo nosso filmou no estúdio. É um pouco escuro, mas você pode ouvir o efeito da banda completa. HELL DIVINE: Uma coisa que sempre me chamou a atenção na banda foi a arte de seus lançamentos. Vocês têm um artista preferido ou trabalharam com um monte de artistas? Para “Passion”, quem foi o artista responsável pela capa do álbum e o que vocês desejam passar para seus fãs nessa arte? Dave Hunt: A obra de arte é sempre feita por Mick. Às vezes, a ideia é uma colaboração, ou com base em outra obra de arte, mas sempre foi Mick quem fez. Ele é um artista muito talentoso e trabalha com uma variedade de técnicas: computadores, óleos e assim por diante. Ele vem fazendo um monte de pinturas recentemente e os resultados que eu vi são muito impressionantes. Para “Passion”, baseamos em uma imagem que vimos quando estávamos em turnê passando por Praga no museu de tortura. Uma xilogravura medieval de uma pessoa sendo serrada ao meio, enquanto suspensa pelos pés. A razão para a suspensão dela foi para que ela pudesse ficar consciente o maior tempo possível. Eu acho que a coisa mais horrível sobre isso não é que a sua dor teria sido feita para durar mais tempo, mas que eles viriam entender o que estava acontecendo com eles. Isso faz parte da ideia do horror conceitual que atravessa este álbum – o conhecimento e a compreensão do objeto do horror. E à direita da xilogravura foi uma serra real, de modo que era uma imagem muito poderosa e quando estávamos discutindo a arte pensamos nela. Eu tinha uma cópia da imagem semelhante em um dos meus livros, então eu mandei para Mick e ele produziu uma interpretação dela. Não acho que ele leu “Kafka”, mas eu chamaria isso de uma interpretação muito kafkiana – sem rosto, sem nome, algozes sem contexto – a única identidade na imagem é a figura em agonia. Nenhuma explicação, nenhuma humanidade.

HELL DIVINE: Misantropia, ódio, religião. Esses sempre foram temas na música do Anaal Nathrakh, sempre cuspindo ódio em nossos ouvidos. Vocês conseguem explicar isso ou é simplesmente normal para vocês? Dave Hunt: Essas coisas são apenas parte de como eu vejo o mundo – eles são parte da minha realidade. Mick e eu estávamos conversando sobre trabalhar em algumas pinturas, onde eu escreveria um monte de ideias e ele escolheria as que ele gostasse. Então, poderíamos falar sobre essas ideias específicas e ver se elas funcionariam em alguns quadros, usando-as como a inspiração. Este foi apenas alguns dias atrás, então comecei a escrever coisas que estava pensando, ideias que tive. Somente quando eu li de novo o que tinha escrito que percebi muito bem que eu era algo horrível. Acho que o fundamental é que essas coisas horríveis estão sempre em nossas cabeças. Eles não são a motivação para cada ação de cada dia, mas elas estão sempre lá no fundo. Eu vejo o mal diabólico, vejo demônios em toda parte, o tempo todo. E, às vezes, com o Anaal Nathrakh sinto que eu sou um deles. Assim, mesmo sendo pessoas razoáveis e bastante normais, quando trabalhamos juntos, toda a misantropia e horror vêm à tona. Às vezes as pessoas falam sobre a consciência como uma voz em sua cabeça. Talvez não literalmente, mas como uma espécie de voz dizendo “não faça isso, é errado”. Bem, uma das vozes na minha cabeça é o Anaal Nathrakh e odeia tudo e todos. Assim, acho isso muito normal para nós. HELL DIVINE: No disco “Domine Non Es Dignus”, vocês têm uma intro chamada “I Wish I Could Vomit Blood On You... People” e parece que naquela época alguma coisa estava realmente deixando vocês muito irados. Pode nos dizer alguma coisa sobre isso? Dave Hunt: Você já viu o filme “Se7en” onde Kevin Spacey é o psicopata que age com os sete pecados capitais em uma série de assassinatos? Lembro-me de uma parte onde ele falava que estava em um trem andando e alguém falou com ele. A pessoa em si não disse nada de escandaloso, mas ele ficou tão espantado com tudo aquilo que vomitou sobre ela. Bem, com esse título eu não estava realmente pensando sobre o filme, mas era a mesma ideia. Nós não somos assassinos em série, é claro, mas do ponto de vista que vem do Anaal Nathrakh, funciona dessa forma. Lembro-me de ver as coisas, ver as pessoas fazendo as coisas ao meu redor que eu não conseguia entender. Seres humanos, que têm a capacidade de criar grandes obras de arte, de construir monumentos brilhantes, concepção das filosofias mais lindas. As coisas que vi me fizeram pensar que devo estar a olhar para um tipo diferente de criatura. Parecia que vomitar sangue sobre eles seria a única coisa que expressasse um nível adequado de repulsa. Você não pode viver assim o tempo todo, ou você acabaria como o personagem psicopata de um filme, mas às vezes tenho flashes de memória, quase como uma fotografia mental, onde eu vejo o mundo através dos olhos de Anaal Nathrakh, e assim foi um desses momentos.

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