Ambientalização dos Bancos e Financeirização da Natureza

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todos os projetos financiados pelo Banco, e não apenas para aqueles realizados no âmbito da Copa do Mundo de 2014;

populações atingidas no campo, na cidade ou na floresta. A Rede Brasil, ao longo dos seus 17 anos de atuação, se pautou

não financiar empresas com ações tramitando na justiça, e

pela construção dos caminhos da transparência, do controle

a suspender suas atividades fins, não se limitando aos casos

social e da incidência, tendo como aliados atores políticos

de empresas condenadas em última instância; financiar

nacionais, como os movimentos sociais e o Parlamento, e redes

massivamente a agricultura familiar e campesina, a diversificação

internacionais, de modo a escrutinar, denunciar e resistir às

da matriz energética e produtiva do país, a infraestrutura social

formas de implementação do modelo neoliberal pelo Banco

de transporte e saneamento públicos, o micro e pequeno

Mundial e suas consequências.

empreendimento e os empreendimentos da economia solidária.

Já o BNDES não tem política de informação suficiente sobre sua carteira de projetos. Não tem mecanismos de participação

Considerações finais

e transparência na discussão e construção de sua política socioambiental. Esta foi resultado de uma condicionante de

O Banco Mundial nunca teve salvaguardas para o seu projeto

um empréstimo do Banco Mundial para eficientizar a gestão

neoliberal. Soube muito bem capturar a crítica da sociedade civil e

ambiental no Brasil. Tal como o Banco Mundial se reinventou

neutralizá-la em processos de consulta, participação, construção

e se recapitalizou com o discurso da crise climática e a

e tentativas frustradas de uso de mecanismos complexos de

preocupação ambiental, e agora se fortaleceu assim como o

transparência e responsabilidade (accountability), bem como criar

FMI com a crise financeira, o BNDES segue a mesma cartilha.

os caminhos para desviar-se da sua própria burocracia para a

Cresce privilegiando grandes conglomerados de corporações

execução de projetos polêmicos e o aprofundamento do modelo

nacionais e aprofundando o modelo agroexportador

de “desenvolvimento”, entre eles o repasse de recursos para outras

extrativista, ao mesmo tempo que cria novos fundos e

instituições financeiras como o BNDES.

produtos financeiros para lucrar com os mercados da escassez

Através da sua capacidade de formulador de opinião, de

os grande projetos desenvolvimentistas nacionais, como

aceitação social às suas teses, velhas ou novas. Atua nesse

a exploração do pré-sal, e geram ativos e saúde financeira

sentido desde a disseminação da ideologia dos pós-guerra,

para o Banco, assim como para estas próprias corporações

passando pelos processos de privatização e liberalização da

que têm, por força das políticas públicas de nova geração

economia, pela maquiagem do desenvolvimento sustentável

recomendadas, entre outros pelo Banco Mundial, obrigação

e, mais recentemente, pela forçada união de setores e classes

de adquirir títulos no mercado para a compensação de seus

em nome da proteção ambiental e do enfrentamento da crise

impactos sociais e ambientais não evitados pela burocrática

do clima. Também é parte do modus operandi do Banco a

política de salvaguardas.

forçosa tentativa de conciliação contraditória entre crescimento

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ambiental. Estes fundos captam recursos no exterior e com

pensamentos e de políticas liberais, forjou consensos e a

Cria-se, assim, um complexo círculo vicioso, que não

econômico, degradação ambiental e aumento da lucratividade

dispensa uma intrincada arquitetura financeira e de

com a escassez dos serviços ambientais dos bens comuns,

comunicação para maquiar a realidade de verde e impor

promovida pela economia verde. O Banco atua também

uma tênue, porém eficaz, aceitação social, apresentada como

com o claro propósito de invisibilizar a luta e a emergência e

suposto consenso e capaz de abafar, neutralizar e invisibilizar

convergência de novas classes, para além dos trabalhadores

conflitos latentes e a resistência à imposição do modelo

formalizados, como mulheres, indígenas, camponeses e

neoliberal sobre os territórios e a vida das pessoas.


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