Ambientalização dos Bancos e Financeirização da Natureza

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A chantagem locacional também é um dos aspectos do comportamento padrão destes projetos. Ela é efetivada por meio da

se incluir o alto consumo de água pelas plantações e fábricas

fábula da geração de empregos e de “(...) informações distorcidas e

de celulose e a consequente redução de água disponível nas

enganosas sobre os empreendimentos, caracterizando-se como

comunidades vizinhas devido à rápida secagem de rios, córregos

uma espécie de panaceia para os problemas de desenvolvimento

e lagos, resultante dos cultivos de eucalipto. Alguns anos depois

regional, como se, em um passe de mágica, os empreendedores

do plantio, as plantações de monocultura têm um impacto

fossem capazes de zerar um déficit histórico de políticas públicas

considerável sobre a recarga hídrica na superfície e no lençol

(...)” (Carta da Aliança em Defesa dos Rios Amazônicos

freático (REVISTA SCIENCE, 2004)25. “(...) Os rios e lagos que restam

para Dilma Rousseff; 8 de fevereiro de 2012)23 e a produção de

estão envenenados por causa do uso de veneno na plantação”,

desigualdades econômicas e sociais.

afirmam moradores da comunidade de Ponto Maneca, município

As localizações destes empreendimentos, que na sua maioria

de Eunápolis, na Bahia. É fato que a implantação da Veracel, nesta

obedecem a uma lógica de intervenções físicas de grande

região, causou uma considerável redução da sociobiodiversidade,

envergadura, resultam basicamente de escolhas que se dão

atingindo milhares de pessoas, entre indígenas, agricultores

conjuntamente ou com o aval dos governos federal, estaduais

familiares, quilombolas e pequenos povoados26.

e municipais. São áreas de vulnerabilidade social (situações de pobreza, privação social e vulnerabilidade institucional diante

Nos casos que envolvem as atividades da empresa Vale, por exemplo, são alarmantes os níveis de poluição atmosférica

da precarização de políticas públicas), áreas de vulnerabilidade

com particulados provenientes de ferro e de emissões de CO2: a

socioambiental no território, áreas com populações já

Companhia Siderúrgica do Atlântico (TKCSA), uma joint venture

enraizadas desprovidas de regularização fundiária e áreas onde

da Vale com a ThyssenKrupp, “vem causando inúmeros impactos

aparecem como primeiras vítimas povos indígenas, ribeirinhos,

negativos na saúde, no meio ambiente e na renda de cerca de

comunidades de pescadores, quilombolas, entre outras. Foi assim

8.000 famílias de pescadores artesanais e centenas de famílias

em Moçambique, na Baía de Sepetiba, no extremo sul da Bahia e

residentes em Santa Cruz, no Rio de Janeiro” (Campanha

assim continua, sucessivamente, a acontecer. Esta mesma lógica

‘PARE A TKCSA!’, 2012). Segundo o Instituto de Geociências da

está em pleno curso nas cidades brasileiras que sediarão a Copa

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), esta companhia

2014 e no Rio de Janeiro, que também sediará as Olimpíadas

causou um aumento de 600% na concentração média de ferro

2016. Para estas populações, o eixo central das violações de seus

no ar na área de sua influência em relação ao período anterior

direitos está no “direito de ficar”, que se desdobra em um amplo

ao início da pré-operação. Este crime ambiental foi constatado

espectro de violações dos direitos humanos e ambientais.

e denunciado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro em abril

A contaminação química (efluentes, dejetos e emissões

26

intensivo de agrotóxicos e formicidas24. Nessa conta, devem-

de 201227. De acordo com dados da própria empresa, a TKCSA

industriais,) dos solos, das águas e do ar faz parte deste vasto

também elevará em 76% as emissões de CO2, o que significa mais

espectro, comprometendo a segurança alimentar, a saúde das

de 12 vezes o total da emissão de todo o município. Reforçando as

comunidades no entorno e a própria vida nessas terras. Essa

críticas feitas pelos moradores da região, a Fiocruz constatou um

é a realidade, há décadas, nas áreas onde se estabeleceram

aumento de 1.000% 28 na concentração de ferro no ar da região”

as indústrias de celulose a partir da apropriação de largas

(Relatório de Insustentabilidade da Vale 2012). Isso

extensões de terras para o cultivo de monoculturas de eucalipto.

revela que a “CSA, sozinha, produzirá 9,7 milhões de toneladas

Nelas, é grande a contaminação química do solo, das águas

de dióxido de carbono (CO2)”, de acordo com informações do

e dos trabalhadores (especialmente os terceirizados) pelo uso

Departamento de Geografia da Universidade Federal Fluminense


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