Ambientalização dos Bancos e Financeirização da Natureza

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governamentais e do parlamento e as grandes corporações

que se verifica, além da ausência de diálogo e transparência, a

empresariais (nacionais/transnacionais), a exemplo da relação

falta de negociação prévia de projetos de remoções populacionais

entre o setor elétrico do governo – Ministério de Minas e Energia

compulsórias, bem como das alternativas existentes. Inclui-

(MME), Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e Eletrobrás –

se, em relação aos demais casos no Brasil, o processo de

e grandes construtoras, como Odebrecht, Camargo Corrêa e

licenciamentos por órgãos ambientais de EIAs “incompletos

Andrade Gutierrez . Vale destacar também que as construtoras

e distorcidos da realidade como base para a realização de

ocupam, juntamente com o setor celulósico, mineradoras

audiências públicas” que têm apenas caráter protocolar (e não de

e siderúrgicas, lugares privilegiados no ranking dos grandes

sério e democrático debate público), conforme exaustivamente

doadores para campanhas eleitorais a cargos executivos e

denunciado pelos movimentos sociais. Incluem-se, ainda,

proporcionais. Os favorecimentos decorrentes destas relações

as desconsiderações dos parcos resultados das audiências

são viabilizados pela ausência de transparência e de vigilância

na tomada de decisões sobre a viabilidade ambiental, social

social, situação esta que se agrava “quando se tem, por um

e econômica dos empreendimentos em questão, bem como

lado, a hipertrofia do poder de algumas corporações e, de

o descumprimento das já insuficientes condicionantes

outro, a fragilidade do sistema brasileiro de financiamento de

determinadas nos EIAs, mesmo estas sendo apresentadas sempre

campanhas, abrindo brechas para que tais favorecimentos sejam

de modo subestimado nos relatórios.”Inúmeras denúncias,

recompensados por apoios de campanha, declarados ou não”

apelos, demandas e preocupações dos povos indígenas e dos

(BADIN, PINTO, TAUTZ & SISTON, 2010, p. 7) . A sobreposição

movimentos sociais são ignoradas pelo governo”, denuncia o

de interesses privados sobre os públicos torna-se ainda mais

Movimento Xingu Vivo16.

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incidente se considerarmos a realidade local, de maior fragilidade

Dentre as violações envolvendo os projetos relativos à

institucional, em que, na maioria dos casos, as prefeituras

Copa e às Olimpíadas, são simulados estudos ambientais e

municipais são carentes de recursos e as possibilidades de

processos de licenciamento ambiental, em um procedimento

controle social são ainda mais frágeis.

de exceção que revela clara infração ao estado de direito

Observa-se, portanto, que em todos os casos aqui

vigente, segundo denúncias feitas pela Articulação Nacional

apresentados as decisões no planejamento das implantações

dos Comitês Populares da Copa e das Olimpíadas (Ancop),

destes megaprojetos “são tipicamente orientadas mais por

que reúne organizações populares das doze cidades-sede da

uma lógica privada do que critérios de eficiência econômica,

Copa, Segundo o “Dossiê Megaeventos e Violações de Direitos

justiça social e sustentabilidade ambiental, ou seja, interesses

Humanos no Brasil”, verificam-se “(...)atropelos legais, aportes

públicos estratégicos, consagrados no arcabouço legal a partir da

adicionais de recursos públicos, irregularidades nos processos

Constituição Federal de 1988” (Movimento Xingu Vivo Para

de licenciamento de obras e inconsistência e incompletude de

Sempre, Carta para Dilma, 8 de fevereiro de 2011).

alguns projetos licitados sem qualquer segurança econômica,

É bastante grave a falta de acesso à informação e de

ambiental e jurídica”. Esta situação repercute nas “violações de

participação informada das populações locais e, ainda, a

direitos dos trabalhadores nas obras dos estádios e dos projetos

ausência de diálogo entre o governo e a sociedade civil no

de infraestrutura,(...) a despeito das cifras milionárias destinadas

planejamento destes setores econômicos, o que constitui outro

às obras”. Por estas e outras violações envolvendo as obras para

comportamento padrão em todos os estudos de caso abordados

a Copa e as Olimpíadas, constata-se que o padrão de violações

aqui. Nesse sentido, cabe destaque para o caso das obras de

perpetradas no campo é reproduzido no espaço urbano.

infraestrutura para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, em

Tal procedimento revela a total desconsideração e abandono 23


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