Comunicação, Jornalismo e Fronteiras Acadêmicas

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Já em outra passagem, o pintor brasileiro Victor Meirelles em 1866 “se quejaba por la falta de sentido histórico del gobierno imperial, que no tiene um fotógrafo contratado para documentar la Guerra contra Paraguay y las glorias nacionales” (CUARTEROLO apud TURAZZI, 2000, p. 118). Ora, se D. Pedro II foi um grande entusiasta da fotografia chegando mesmo a ser fotógrafo e o primeiro brasileiro a ser fotografado, com a chegada do daguerreótipo4 no Brasil, além de admirador das ciências e das artes e que deixou um dos maiores acervos fotográficos do país, guardados na Biblioteca Nacional, faz sentido os questionamentos descritos. Uma hipótese seria a de que não havia interesse do Império na divulgação daqueles fatos através da fotografia, pois a opinião pública oscilava a favor ou contrária à guerra. É aceitável que o Imperador sabia muito bem do poder da fotografia na representação dos acontecimentos ou, pelo menos, como representação verossímil de que a guerra custava para a sociedade brasileira e, portanto, mostrar a guerra pela fotografia para uma sociedade que tinha nesse tipo de imagem a crença de verdade absoluta e inquestionável era o mesmo que dar um tiro no próprio pé. É uma possibilidade que não tivesse fotógrafo porque não interessava ao Império a representação fotográfica do conflito, ainda mais pela fotografia com seu poder de realismo e caráter de verdade que se acreditava naqueles tempos. Cabe ressaltar que a imagem pode sofrer diferentes abordagens dependendo daqueles que podem fazer uso dela. Sontag (2003, p. 52) atenta para o fato de que

A invenção da fotografia fora feita em 1839 pelo francês Louis Jacques Mande Daguerre. Colocou seu nome na novidade em que chapas de metal era o suporte, como são os filmes hoje. O daguerreótipo era aquisição para poucos devido a seus altos custos e ainda não tinha a capacidade de reprodutibilidade, ou seja, eram chapas únicas que não podiam ser reproduzidas ao infinito. Pedro Vasquez (2002, p. 08) ressalta que a chegada da fotografia ao Brasil foi em 1840, pelo ábade francês Louis Compte, e logo o jovem imperador brasileiro se interessou pelo advento. Assim define Vasquez a daguerreotipia: “a imagem era formada sobre uma fina camada de prata polida, aplicada sobre uma placa de cobre e sensibilizada em vapor de iodo. Era apresentado em luxuosos estojos decorados [...] em passepartout de metal dourado em torno da imagem e a outra face interna dotada de elegante forro de veludo [...]” (2002, p. 55-6). 4

captar uma morte no momento em que ocorre e embalsamála para sempre é algo que só as Comunicação, Jornalismo e Fronteiras Acadêmicas | 161


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