Minhas Lembranças de Leminski de Domingos Pellegrini

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LEMINS -KI

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© João Urban

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LEMINS -KI Domingos Pellegrini

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Copyright © 2014 by Domingos Pellegrini 1ª edição — Março de 2014 Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009 editor e publisher

Luiz Fernando Emediato diretora editorial

Fernanda Emediato produtora editorial e gráfica

Priscila Hernandez

Assistente Editorial Carla Anaya Del Matto Produção Editorial Isabella Vieira

auxiliar de

capa, projeto gráfico e diagramação

Megaarte Design

preparação de texto

Sandra Martha Dolinsky revisão

Antonio M. Leria Daniela Nogueira imagem de capa

Vilma Slomp

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Pellegrini, Domingos Minhas lembranças de Leminski / Domingos Pellegrini. — São Paulo : Geração Editorial, 2014. ISBN 978-85-8130-220-1 1. Leminski, Paulo, 1944-1989 2. Poesia brasileira 3. Poetas brasileiros – Biografia 4. Poetas brasileiros – Crítica e interpretação I. Título. 14-00520 CDD-928.6991

Índices para catálogo sistemático: 1. Poetas brasileiros : Biografia 928.6991 GERAÇÃO EDITORIAL Rua Gomes Freire, 225 – Lapa CEP: 05075-010 – São Paulo – SP Telefax : (+55 11) 3256-4444 E-mail: geracaoeditorial@geracaoeditorial.com.br www.geracaoeditorial.com.br Impresso no Brasil Printed in Brazil

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A Alice Ruiz, テ「rea e Estrela Leminski, e a Samuel Ferrari Lago, pela motivaテァテ」o, e ao Paulo pelo tesテ」o.

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Toda joia um dia jรก foi lava, todavia condensou-se e lapidada cada faceta irradia sua luz poliedra: pedra que se fez poesia.

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FACETAS

© Dico Kremer

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O Poliedro

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O Mestiço

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O Noviço

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O Anfitruão

45

O Estrategoísta

65

O Cerebrelétrico

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O Polinguista

101

O Polivivente

115

O Anarquista

139

O Estoico

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O Mito

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Posts

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Š Vilma Slomp

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O POLIEDRO

Biografia é muito convencional! Em 1964, em Londrina, um rapazola lê com espanto e encanto um artigo de um tal Paulo Leminski na revista concretista Invenção. Alguns anos depois, o londrinense conhecerá o curitibano Leminski, e depois de algumas rusgas e rugas, serão amigos, tratando-se como Polaco e Pé Vermelho. Pé Vermelho novamente se espantará com Leminski ao saber que ele é uma mistura de polonês com mulata, neto de negro, índio e português. E também se encantará com sua poesia, mistura de cult e pop, truques concretos e resquícios românticos, artifícios formais e caprichados relaxos coloquiais, doce amargura e cáustica alegria, erudição e simplicidade, maluquice e mágica. Polaco e Pé Vermelho se encontrarão muitas vezes, em Florianópolis, Curitiba, Londrina e São Paulo, amarrando uma amizade de duas décadas e dezenas de garrafas. Mas Pé Vermelho deixará de procurar Polaco quando

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MINHAS LEMBRANÇAS DE LEMINSKI

passar por Curitiba, não mais conseguindo ver como ele foi destiladamente se matando. Então, Pé Vermelho estará em Porto Velho, Rondônia, e verá Leminski na televisão do restaurante. “O que será que o Polaco está inventando”, pensará, aumentando o volume para ouvir que ele consumou o que chamara de “minha última obra”. Pé Vermelho ficará com raiva de Lelé, como também chamava o Polaco. Um ano depois, em mesa redonda no evento Perhappiness, homenagem a Leminski em Curitiba, Pé Vermelho não conseguirá falar e passará todo o tempo chorando, para espanto de Haroldo de Campos, a seu lado. Duas décadas e meia depois, uma editora convidará Pé Vermelho para escrever uma biografia de Leminski, e imediatamente o fantasma do Polaco aparecerá: “— Biografia é muito convencional, eu não mereço algo melhor?” Pé Vermelho, então, lembrará daquele primeiro artigo que leu de Leminski, uma misturança de gêneros e gênesis, idiomas e gírias, signos e sacadas. Como ele era uma mistura de raças. Como sua literatura era uma mistura de erudição e sacação, português e inglês, tensão e relaxo, carne e espírito. Pé Vermelho dormirá pensando nisso, e sonhará que faz uma sopa com Leminski. Acordará, ligará ao editor: — Biografia do Polaco já foi feita. Outro livro sobre ele tem de ser mistura de informação e romance, erudição e conversa, realidade e sonho, água e pedra, história e festa, uma lifestory! 12

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O POLIEDRO

Desligará o telefone e pensará em voz alta: “— Espero estar certo, Polaco.” Ribombará um trovão, tremelicarão os copos na cristaleira, Pé Vermelho entenderá: — Não gostou, é? Então me ajude! Daí, olhará, sobre a mesa, uma pedra catada em riacho há décadas. Côncava, era um cinzeiro rústico usado apenas por raras visitas fumantes. Mas Leminski fumava, e gostava de pedras, tratou delas em vários poemas. E toda pedra é, mesmo que rusticamente, um poliedro, multifacetado como foi o poeta do Pilarzinho. Pé Vermelho resolverá que o livro será um passeio pelas facetas polié­ dricas de Leminski. Então, como ele fazia, rabiscará num guardanapo: “Toda joia já foi pedra um dia”. O Polaco, lá quando leu o primeiro livro de poesia de Pé Vermelho, ainda nos anos 1970, um volume mimeografado na onda da chamada “geração marginal” (Conversa Clara, 1974), sentenciou: — Não está ruim, mas você faz uma poesia aforismática. — Pois é — Pé Vermelho retrucará 40 anos depois —, e o livro que vou escrever sobre você, cara, começará com uma poesia aforismática. Começará a escrever enquanto cai a tempestade, lembrando-se do amigo a olhar pela vidraça alisando os bigodões: “— Acho lindo tempestade, é o tempo em alta voltagem! Como foi Paulo Leminski.”

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O MESTIÇO

Mestiço, já nasci futurista! Ego sum Paulo Leminski, nome de santo e de imigrante polonês, mestiço até nisso, e acabo de fazer levantar da cama um amigo que não vejo desde que viajei para virar mito, para ele me fazer mais uma vez renascer, quando o danado já estava pensando em abandonar o navio, jogar a toalha, pedir arrego, desistir, virar escrevedor de mim, mas eu lhe apareci de novo em sonho e falei não, os galos garganteando como se falando por mim, nãããããoooo, cara, nããããããããoooooooo, você vai levantar, ligar aquela sua maquininha que eu nunca tive o sortilégio de usar, e ligar principalmente esses seus velhos neurônios que estão precisando brincalhar, e sem nem tomar café como eu fiz tantas vezes, tocado só pelo fogo da criação, antenado nas estrelas para falar de uma estrela, você vai dizer, entredantes, que eu não tenho culpa de ter(em) me transformado em uma estrela, como ninguém de nada tem culpa nem desculpa para não fazer o

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