O CDS e a Democracia Cristã (1974-1992)

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Momento emblemático deste clima foi o cerco ao I Congresso do CDS, que se realizou no Porto em Janeiro de 1975115. Todos os episódios vividos pelo CDS até ao 25 de Novembro, aos quais não faltam sedes pilhadas ou comícios interrompidos por manifestantes, contribuíram para criar a sensação de que o CDS era um partido à direita e não um partido do centro116. Em quarto lugar, o facto de o CDS ter sido fundado apenas em Julho, não tendo por isso integrado o I Governo Provisório, deu espaço ao PPD para, por um lado, cativar o eleitorado moderado e de centro, e por outro, chamar as figuras mais emblemáticas e representativas desse eleitorado117. Em quinto lugar, o facto de o PPD, e até o PS, terem envidado vários esforços para se demarcar do CDS, procurando, com isso, encostar o CDS à direita. Com esta estratégia, o PPD poderia afirmar-se como um partido de centroesquerda, apto a captar os votos do centro-direita118, tornando o CDS menos

Para um referência mais detalhada a este episódio, cfr. DIOGO FREITAS DO AMARAL, ob. cit., pág. 303-305 e 4 Anos CDS – A Força de um Futuro Melhor, Águeda, 1978, pág. 11 e ss. 116 Cfr. DIOGO FREITAS DO AMARAL, ob. cit., pág. 257 e ss e 287 e ss. 117 A atitude de Diogo Freitas do Amaral em não avançar com a fundação de um partido político assim que teve a primeira sugestão nesse sentido viria por este a ser considerada como o seu maior erro político, em virtude do qual o CDS se veria afastado do arco governativo, não beneficiando por isso dessa legitimidade, cfr. DIOGO FREITAS DO AMARAL, ob. cit., pág. 167. 118 Diogo Freitas do Amaral relata nas suas memórias políticas alguns dos episódios que demonstram alguma incapacidade de relacionamento entre o CDS e o PPD, como um convite que dirigiu a Carlos Mota Pinto para um almoço político, o qual fez condicionar a resposta positiva de deliberação nesse sentido da Comissão Política Nacional do PPD, cfr. DIOGO FREITAS DO AMARAL, ob. cit., pág. 391-392, e 234, sendo que por variadas vezes esses factos eram levados ao conhecimento do Congresso do CDS, in A Democracia-Cristã em Portugal ... , pág. 73 e 113. Em 2 de Dezembro de 1974, por exemplo, o PPD emitiu um comunicado em que afirmava que a “sua situação no xadrez político nacional é bem diferente da do CDS”, afirmando depois que o “PPD, por último, percebe que alguns receios possam existir nos representantes do CDS pelos ataques de que tem sido alvo, mas a marcação política do PPD já é suficientemente clara e distinta para que iguais tratamentos se dirijam a partidos que nada têm de comum”, citado por JOSÉ RIBEIRO E CASTRO, A Bipolarização e o Anti-Fascismo, Lisboa, 1978, pág. 3. Numa intervenção em 1979, Francisco Lucas Pires sintetizaria as preocupações do CDS, dizendo que o CDS, ao recusar-se ser a muleta do PSD, estava a empurrar o PSD “para a esquerda e a fazerlhes alargar o seu campo à esquerda e não à direita. Porque o campo em que é legítimo que os sociais democratas pesquem é um campo de esquerda e não um campo de direita”. Mais 115

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