O CDS e a Democracia Cristã (1974-1992)

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considerar democratas cristãos31. E os desenvolvimentos do “caso Bispo do Porto”, entretanto exilado, causaram larga agitação junto dos chamados católicos progressistas, o que levou a sucessivas tomadas públicas de posição de padres e conhecidos leigos32, demonstrando a existência de uma geração atenta e politicamente empenhada. Ao mesmo tempo, a Editora Moraes, sob a direcção de António Alçada Baptista e, um pouco mais tarde, a revista O Tempo e o Modo33, também sob a primeira direcção de António Alçada Baptista, encarregaram-se de dar voz aos pensadores personalistas e democratas cristãos, propiciando um fórum de difusão de ideias onde se reuniram os nomes mais significativos da geração de católicos em oposição ao regime34. Outros católicos, um pouco mais tarde, tentaram estabelecer uma via de compromisso, colaborando na medida do possível com o regime de Marcello Caetano, formando o chamado grupo dos tecnocratas35, ou formando uma oposição parlamentar, a comummente designada Ala Liberal36. A Ala Liberal, não sendo um grupo nem coeso nem organizado37, conseguiu mesmo assumir um importante protagonismo de oposição ao regime, que ajudou a sedimentar um carisma e prestígio que vieram a ser determinantes na

Disto mesmo se dá conta Salazar, na carta que escreve ao Núncio Fernando Cento, em Roma, relatando o impacto da carta do Bispo do Porto e onde contesta a manutenção da Acção Católica Portuguesa se esta, no seguimento da acção do Bispo do Porto, se convertesse em partido político democrata cristão, o que não seria permitido nos termos da Constituição, cfr. MANUEL BRAGA DA CRUZ, O Estado Novo e a Igreja Católica, Lisboa, 1998, pág. 118. 32 Entre os quais se contavam António Alçada Baptista, João Bénard da Costa, Gonçalo Ribeiro Telles, Nuno Teotónio Pereira, Maria de Jesus Serra Lopes, Augusto Ferreira do Amaral, José Manuel Galvão Teles, Helena Cidade Moura, Francisco Sousa Tavares, José Pedro Pinto Leite, Helena Vaz da Silva ou Sophia de Melo Breyner Andresen, entre tantos outros. 33 Sobre a actividade da revista O Tempo e o Modo, NUNO ESTÊVÃO FIGUEIREDO MIRANDA FERREIRA, O Tempo e o Modo. Revista de Pensamento e Acção, in Lusitania Sacra, Lisboa, 1994, pág. 129 e ss, e JOÃO BÉNARD DA COSTA, ob. cit., pág. 56-57 e 77 e ss. 34 Ainda que participassem também não católicos, cfr. JOSÉ ADELINO MALTEZ, ob. cit., pág. 53-54. 35 Composto, entre outros, por Maria de Lourdes Pintasilgo, João Loureiro, Freitas do Amaral e Valentim Xavier Pintado. 36 Formada, entre outros, por João Pedro Pinto Leite, Magalhães Mota, Francisco Sá Carneiro e João Pedro Miller Guerra. 37 Cfr. NUNO MANALVO, Sá Carneiro – Biografia Política, sl, sd, pág. 24. 31

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