Nova edição do suplemento Rússia

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250 anos e no topo

SHUTTERSTOCK/LEGION-MEDIA

Hermitage é eleito melhor museu da Europa e ultrapassa Louvre e D’Orsay, entre outros P.3

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Este suplemento é preparado e publicado pelo jornal Rossiyskaya Gazeta (Rússia) sem participação da redação da Folha de S.Paulo. Concluído em 10 de outubro de 2014. Publicado e distribuído com The New York Times (EUA), The Washington Post (EUA), The Daily Telegraph (Reino Unido), Le Figaro (França), La Repubblica (Itália), El País (Espanha), La Nacion (Argentina) e outros.

Extremismo Estado Islâmico ganhou atenção mundial ao divulgar vídeos de jornalistas internacionais decapitados na Síria

Contra todos (e vice-versa) Rússia não se opõe a campanha iniciada pelos EUA contra Estado Islâmico (EI), mas requer que essa seja direcionada ao alvo certo.

Compromisso com curdos no combate ao EI é justificado para evitar tropas americanas

GUEVORG MIRZAIAN, NIKOLAI SURKOV

O Oriente Médio vive uma situação extremamente rara para a região: surgiu um inimigo comum a todos. “O EI é uma séria ameaça para a segurança de todos, até mesmo para países da região que têm hostilidades entre si. Os adversários Irã e Arábia Saudita dizem isso abertamente, a Jordânia e a Turquia admitem-no de modo menos acentuado, enquanto o Iraque e a Síria já estão, no geral, em guerra com o EI”, diz a analista política Tatiana Tiukaeva. “O grupo tem uma ideologia muito radical, que se contrapõe a todos os Estados sun it a s c o m obj e t iv o d e conquista do poder no mundo muçulmano. Para o xiita Irã, o grupo sunita EI é também um inimigo por definição: seguidores fieis da história do conflito entre xiitas e sunitas na região, seus militantes aniquilam maciçamente os xiitas no seu território.” Assim, os Estados Unidos obtiveram a oportunidade única de construir uma ampla coalizão de países para combater o EI, fato que já foi relembrado repetidas vezes pelo secretário de Estado norte-americano John Kerry e pelo presidente Barack Obama. CONTINUA NA PÁGINA 2

GETTY IMAGES/FOTOBANK

ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

Bilateral Primeiros embarques brasileiros devem ocorrer ainda em 2014 Diversificação da pauta

Mercado lácteo se agita com demanda para exportar Além de cinco marcas do Brasil autorizadas pelos russos, outras já estão aguardando concordância entre os dois governos. GIOVANNI LORENZON ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

Simplificação A Rússia abriu mão de algumas exigências imediatas e adequou o Certificado Sanitário Internacional. “O Brasil não precisará do documento de Zona Livre de Brucelose e Tuberculose, mas mantiveram as regulamentações quanto às condições físico-químicas, microbiológicas e de embalagem”, diz Costa. “Eles sabem que o Brasil está livre de problemas sanitários há muito tempo”, diz o presidente do Sindileite de São Paulo, Carlos Humberto Mendes. O Estado representado por Mendes é um dos que mais tem a ganhar com a nova janela na Eurásia, pois concentra muitas processadoras.

AP

Os embargos russos a fornecedores europeus e americanos está levando as indústrias lácteas brasileiras a tentar fechar suas primeiras exportações ao país até o final do ano. Ao contrário das carnes, cujas portas estão abertas, os derivados de leite só passaram a ter chances na Rússia nas últimas semanas. Itambé, Tirolez, Polenghi, Confepar e Brasil Foods (BRF) já estão habilitadas, liberadas a toque de caixa pelo Rosselkhoznadzor (Serviço Federal de Vigilância Veterinária e Fitossanitária). Cerca de dez novas companhias deverão ser autorizadas nos próximos dias, assim que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento concluir a

análise dos documentos e condições de qualidade e enviar os ofícios à Rússia, segundo Marcelo Costa, diretor-executivo da Associação Brasileira de Laticínios, também con he cida como Viva Lácteos.

Brasil teve necessidade de certificados abolida pela Rússia

Destino inverso O Brasil é um importador líquido (importa mais que exporta) de lácteos desde 2008, quando as vendas externas nacionais atingiram um ápice de US$ 540 milhões. Em 2013, a balança comercial teve um déficit de US$ 478,3 milhões: enquanto importou US$ 595,2 milhões (159,1 mil toneladas), exportou apenas

US$ 116,9 milhões (42,4 mil toneladas). Mas, segundo Costa, a questão não tem importância, já que as importações, em litros, representaram apenas 3,2% da produção nacional - que não vem acompanhando o alto consumo interno dos últimos anos. Além disso, existe pressão para que os produtores evitem o excesso de oferta.

Em 2014, a resposta no campo é mais positiva, “especialmente pelo crescimento dos Estados do Sul”, explica Mendes. Também se verificam melhores preços pagos ao produtor e estagnação no consumo interno. Além disso, a oferta de importados vem caindo. De janeiro a agosto houve uma queda de 21,2%, chegando aos US$ 291,4 milhões, e de 33,6% em volume, totalizando-se 69,2 mil toneladas, em comparação com o mesmo período no ano anterior. Agora, as exportações da indústria láctea brasileira podem se tornar mais diversificadas, tanto em produtos, quanto em destinos. Até então, a pauta era dominada pelo leite em pó (em torno de 70%), queijos e creme de leite (concentrado e não concentrado), e alcançava basicamente países em desenvolvimento A aposta da Viva Lácteos está nos queijos, manteigas e soro (usado sobretudo na produção de iogurte). A Polenghi e a Tirolez, por exemplo, são exclusivamente focadas em queijos e outros itens pasteurizados. “A demanda russa veio na hora certa, pois temos mais leite para processar e uma

indústria apta em qualidade e variedade”, diz o presidente do Sindileite. Mendes também compara a situação dos lácteos à das carnes nacionais, que, há 20 anos, não tinham posição relevante no mercado mundial.

Manteiga e ativos A maior beneficiária da mudança de ventos no mercado russo será a mineira Itambé, líder tradicional nos embarques internacionais brasileiros. Terceira maior indústria láctea do país, com faturamento de US$ 2 bilhões em 2013, ela detém 50% das exportações, com leite em pó integral e leite condensado no topo das vendas externas. A manteiga da Itambé já está sendo negociada com os russos, em fase mais adiantada que o leite em pó, de acordo com o diretor de gestão e relações institucionais da empresa, Ricardo Cotta. Os contatos começaram antes me s mo d a aut or i z aç ão oficial. Nesse cenário, o mercado se deparou com uma situação curiosa: a gigante BRF vendeu sua área de lácteos à francesa Lactalis, dona da Parmalat, mas o processo de transferência dos ativos ainda não foi concluído.

Sob pressão, economia do país recua Intensificação de sanções por parte dos EUA e da UE já afeta crescimento econômico e inflação russa. DAVID MILLER, SAM SKOVE ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

A economia russa está enfrentando crescentes turbulências com inflação, queda dos preços do petróleo e deflação do rublo. Nos primeiros sete meses do ano, o crescimento econômico foi de cerca de 0,7%, já que a manufatura foi ampliada, de acordo com estatísticas do governo. Mas há a crença de que as piores consequências das sanções ainda não chegaram. Ainda no final de agosto, o chefe do departamento de planejamento no Ministério da Economia russo, Oleg Zasov, disse a agências de notícias nacionais que “a economia está perto da recessão”. Estados Unidos e Europa acometeram a Rússia com sucessivas rodadas de sanções neste ano à medida que o conflito na Ucrânia foi ganhando maiores proporções. CONTINUA NA PÁGINA 3

Leia as notícias mais fresquinhas no site: g a ze t a r u s s a .co m . b r E N ÃO D E I X E D E CO N F E R I R N O SSA P R ÓX I M A E D I Ç ÃO I M P R E SSA E M 2 9 D E O U T U B R O


Política e Sociedade

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OPINIÃO

O quebra-cabeça da ofensiva contra o EI

Uma frente de nações contra o EI? Vladímir Sôtnikov ANALISTA POLÍTICO

anto os EUA quanto a Rússia devem levar em conta a ameaça imposta pelo Estado Islâmico em suas estratégias de política externa de longo prazo. E há sinais de que isso já esteja acontecendo. O chanceler russo Serguêi Lavrov anunciou recentemente o apoio da Rússia à iniciativa francesa de realizar uma conferência internacional sobre o Iraque, bem como apoio a todas as resoluções da ONU autorizando os EUA a realizar ataques aéreos no Oriente Médio e no Norte da África. O Estado Islâmico (EI), antes chamado de Estado Islâmico do Iraque e do Levante, surgiu a partir da orga n i zação ter ror ista Al-Qaeda, no Oriente Médio, e controla atualmente 30% do território sírio, assim como algumas áreas do território iraquiano. Ao todo, o território que o EI ocupa é do tamanho da Bélgica, e o grupo possui até 90 mil membros ativos em unidades armadas. Apesar de alguns especialistas opinarem que a ameaça imposta pelo grupo é superestimada, o Estado Islâmico já intimida tanto os Estados Unidos como a Rússia. Os EUA já começaram a bombardear as posições do EI, mas a iniciativa não vai resolver o problema sozinha. As autoridades americanas também pretendem convocar a coalizão internacional que estão criando, incluindo alguns Estados no Oriente Médio, para enfraquecer ou eliminar essa ameaça terrorista - o que significa, provavelmente, delegar operações ter restres para parceiros do grupo. Isso poderá, contudo, causar enormes perdas. A operação dos EUA contra o EI terá longa duração – de alguns meses e, possivelmente, até um ano. E a colaboração entre os EUA e a Rússia será essencial para essa operação. No momento, os dois países não conseguem chegar a um consenso na questão da Síria. Enquanto os EUA estão constantemente acusando a Rússia de apoiar o regime de Bashar al-Assad, a Rússia alega que o apoio

T

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Efeito inverso Mírski afirma que o Estado Islâmico só pode ser derrotado por meios militares, e que medidas econômicas e políticas não são suficientes para conter o grupo. Agora, porém, não haveria condições adequadas para a realização de uma operação militar terrest r e c ont r a o s r ad ic i a s islâmicos. “A sociedade ocidental está farta de guerras, por isso é preciso evitar o envio de grandes contingentes de infantaria ao Iraque. O retorno dos norte-americanos ao país aumentaria o número de

AFP/EASTNEWS

Segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguêi Lavrov, a comunidade internacional deve “se unir contra a ameaça do terrorismo internacional e lutar sem padrões duplos”. O chanceler russo afirma ainda que a posição do Ocidente é inviável, uma vez que os países ocidentais ajudam a combater os guerrilheiros do Estado Islâmico no Iraque, mas na Síria apoiam os combatentes que lutam contra o regime de Bashar al-Assad. De acordo com o pesquisador-chefe no Instituto de Economia Mundial e Relações Internacionais da Academia de Ciências da Rússia, Gueórgui Mírski, o Estado Islâmico é uma “ameaça mortal” que obriga relegar para segundo plano todos os outros conflitos, incluindo o que ocorre na Ucrânia. “Os combatentes falam sobre a recuperação do império do Islã desde a Espanha até Bukhara em todas as suas declarações. Se os jihadistas do Estado Islâmico receberem acesso ao petróleo curdo, eles terão todos os recursos para a expansão. Invadirão a Jordânia e a Arábia Saudita. Podemos falar de um verdadeiro califado”, disse Mírski à Gazeta Russa.

Grupo surgiu a partir da organização terrorista Al-Qaeda no Oriente Médio e controla atualmente 30% da Síria

Moscou aprovou todas as resoluções da ONU autorizando ataques aéreos nos locais do grupo

adeptos ao Estado Islâmico querendo lutar contra americanos, judeus e xiitas. Assim, o compromisso com os curdos agora é justificado. Mas isso não é suficiente, porque o Estado Islâmico também tem bases na Síria. É preciso estabelecer contatos com Bashar al-Assad”, acredita Mírski.

Organização terrorista ameaça também a Rússia e Moscou pragmática fala em iniciar guerra Em entrevista à Gazeta no Cáucaso do Norte Russa, o senador e presiden“Combatentes falam em recuperar império do Islã da Espanha até Bukhara”, explica especialista

te do Comitê para Assuntos Internacionais do Conselho da Federação Russa (câmara alta), Mikhail Marguelov, disse que o país “está disposto a participar da luta contra os radicais islâmicos no Oriente Médio, mas os Estados Unidos não querem o envolvimento da Rússia”. O senador baseia essa crença na declaração da porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Jen Psaki, de que

terrorista. A Rússia não mudou sua posição. É preciso união para lutar contra os terroristas. No entanto, enquanto existem terroristas ‘amigos’ e ‘inimigos’, isso é impossível”, completa.

“existe uma série de países que poderiam ser mais construtivos [do que a Rússia] nessa situação”. Marguelov acredita também que o Estado Islâmico ainda não se tornou uma verdadeira dor de cabeça para os Estados Unidos. “As negociações com os terroristas e a condenação verbal de suas ações é uma tarefa inútil. A Rússia ajuda de uma maneira mais concreta: fornecemos armamento moderno às forças armadas iraquianas, inclusive os caças Su-25”, diz. O senador acrescenta ainda não estarem claros os parâmetros sobre quem poderia e nt r a r n a “c o a l i z ão antijihadista”. “Conversamos muito sobre isso, especialmente depois do 11 de setembro. Naquela época, Rússia e Estados Unidos estavam dispostos a se unir contra qualquer ameaça

Coordenada com a ONU De acordo com o vice-chanceler russo, Mikhail Bogdanov, Moscou é a favor da “consol id aç ão do s e sfor ço s internacionais para combater os grupos terroristas na Síria, Iraque e outros países do Oriente Médio com estrito respeito pela soberania dos Estados da região e em coordenação com os seus governos legítimos”. Assim, como os EUA e o governo de Bashar al-Assad não entram em acordo, a realização da operação teria de ser convocada pelo Conselho de Segurança da ONU e ter seus parâmetros claramente formulados.

Guerra da informação Medida vem na esteira de supostas sanções a jornalistas e agências russas

Duma restringe participação estrangeira nas comunicações

pontos, citava-se a possível inclusão de agências de notícias e jornalistas russos às listas de sanções da UE por sua suposta cobertura propagandista da situação no leste da Ucrânia e da reintegração da Crimeia à Rússia. “Sublinhamos novamente serem absurdas e inaceitáveis semelhantes interpretações dos acontecimentos na Ucrânia”, declarou sobre o episódio Konstantin Dolgov, representante do Ministério das Relações Exteriores da Rússia para questões de direitos humanos e democracia.

Investidores estrangeiros não poderão abrir veículos de comunicação na Rússia e poderão deter apenas 20% em empresas já existentes.

EI levou a sério as lições que a Primavera Árabe deu sobre o poder da internet, e já está em busca de partidários na principal rede social russa, o Vkontakte tite do público por outra guerra prolongada no Oriente Médio não deve ser exagerado. Além disso, qualquer grande operação militar vai exigir um financiamento significativo, que o Congresso norte-americano pode não estar pronto a aprovar. Os militantes do EI são uma ameaça não só para os EUA, mas também para a Rússia. Os extremistas já ameaçaram “libertar a Tchetchênia” e iniciar uma guerra no Cáucaso do Norte. Também estão envolvendo ativamente usuários de grandes redes sociais russas, incluindo a mais popular delas, o VKontakte, para promover suas ideias. Os líderes do grupo parecem ter levado a sério as lições do papel da internet na organização de ativistas durante a Primavera Árabe, que, entre 2011 e 2013, levou à derrubada de vários regimes no Oriente Médio e no Norte da África, incluindo Egito, Tunísia, Iêmen e Líbia. Vladímir Sôtnikov é pesquisador no Instituto de Estudos Orientais da Academia de Ciências da Rússia.

Separação Milhares de km fortificados

Ucrânia constrói muro na fronteira com a Rússia

GAZETA RUSSA

KOMMERSANT

Junto à nova lei, Kremlin reforça investimentos em mídia estatal voltada ao exterior

o principal jornal econômico do país, o Izvêstia, e outras publicações da Sanoma Independent Media, que publica as versões russas de revistas como Bazaar, Cosmopolitan, Esquire etc. Canais de TV como o Disney Channel e o Eurosport também sofrerão os efeitos da nova lei.

Objeto de desejo “O mercado russo é objeto de desejo de investidores ocidentais em meios de comunicação. Ninguém irá largá-lo tão facilmente. Serão criados esquemas escusos e ilegais de

pressão sobre os veículos russos. A nova lei irá gerar disputas pela propriedade dos meios de comunicação, além de corrupção, o que é o mais grave”, diz o professor da Escola Superior de Economia Dmítri Evstáfiev. Para o ex-editor-chefe da rádio Kommersant-FM, Konstantin Eggert, a medida reflete o modo como as autoridades encaram a função do jornalismo na sociedade russa. “Sua função foi delegada à propaganda, e não ao quarto poder, nem ao controle independente

sobre a atividade do governo. A lei dá continuidade aos ataques à liberdade de expressão e aos meios de comunicação independentes na Rússia”, diz.

Sanções jornalísticas A aprovação da lei ocorre semanas após a polêmica gerada com a publicação de trechos da reunião do Comitê de Representantes Permanentes dos países-membros da União Europeia, em 10 de setembro, pelo jornal alemão “Junge Welt”. No protocolo, entre outros

Junto às restrições impostas à propriedade de meios de comunicação, Moscou está reforçando seus investimentos na mídia estatal. Assim, a partir de 2015, o canal “Russia Today”, considerado o principal porta-voz do Kremlin no exterior, passará a contar com 15,38 bilhões de rublos (US$ 380 milhões), ou seja, um orçamento 30% superior ao de 2014. A agência Rússia Hoje, criada em 2013 pelo presidente Vladímir Pútin com base na união das já existentes Ria-Nôvosti e Voz da Rússia, deverá receber mais 6,48 bilhões de rublos (US$ 160 milhões). Segundo a editora-chefe da agência, Margarita Simonian, os recursos adicionais deverão ser destinados à abertura da TV em alemão e francês, com seus devidos sites e redes sociais, e até mesmo um estúdio em Paris e estruturas adicionais em Berlim. Segundo declarou ao “Wall Street Journal” Dmítri Kisiliov, diretor da agência Rússia Hoje e um dos figurões russos efetivamente sancionados pela União Europeia, a função das novas estruturas é “acabar com o monopólio anglo-saxão sobre o fluxo de informações”.

REUTERS

Guerra da informação?

GALIÁ IBRAGUÍMOVA, MARINA DARMAROS

A Duma de Estado (câmara dos deputados na Rússia) aprovou, no final de setembro, um projeto de lei que limita a participação estrangeira na propriedade de meios de comunicação no país. De acordo com o documento, cidadãos estrangeiros não poderão fundar meios de comunicação no país e, caso se associem a investidores locais, sua parte não poderá ultrapassar os 20%. O projeto de lei vem na esteira da “guerra da informação” desencadeada pela crise ucraniana, mas também é apontado por especialistas como uma maneira de pressionar veículos independentes. A medida foi aprovada com 430 dos 432 votos possíveis. Apesar de a lei passar a valer no início de 2016, os proprietários de veículos de comunicação terão até 1 de fevereiro de 2017 para se adequar à lei. Anteriormente, estrangeiros podiam ter uma fatia de no máximo 50% em empresas de comunicação. Com a medida, uma série de veículos deverá ser afetada, como

oferecido pelos americanos aos grupos de oposição para combater o EI esconde, na verdade, a intenção de derrubar o regime de Bashar. Ambos os lados devem se concentrar, no entanto, em encontrar formas concretas de cooperarem no combate ao EI. Os Estados Unidos não podem deixar de responder à ameaça representada pelo EI. Os vídeos com decapitações de americanos, junto com os saques perto da Embaixada dos EUA em Bagdá em meados do ano, foram uma espéc ie de i n s u lt o pa r a o s americanos. De acordo com informações divulgadas na imprensa, 61% dos norte-americanos apoiam a decisão de Obama de realizar uma operação militar no Iraque e na Síria. Mas o ape-

Barreira física tem objetivo de bloquear o fluxo de combatentes e armas através da fronteira com país vizinho. THE MOSCOW TIMES

O primeiro-ministro ucraniano, Arsêni Iatseniuk, anunciou o início da construção de um muro para separar a Ucrânia da Rússia no começo de setembro. As linhas de defesa vão incluir um trecho de 60 quilômetros de barreira sem explosivos, e outros milhares de quilômetros de trincheiras para militares, veículos blindados e linhas de comunicação, além de 4.000 abrigos subterrâneos para o Exército. Segundo Iatseniuk, o pro-

jeto ocorre porque o país precisa de uma nova doutrina militar, “definindo claramente quem é o agressor e quem representa uma ameaça”. “Na nova doutrina militar, a Rússia deve ser reconhecida como a única ameaça e como um agressor que ameaça a integridade territorial da Ucrânia”, disse. De acordo com publicação do Comando das Forças Antiterroristas da Ucrânia em sua página no Facebook, a construção se dá por ordem do presidente ucraniano Petrô Porochenko. “Foram planejadas duas linhas de defesa, e seu principal objetivo é impedir que o adversário se infi ltre no território da Ucrânia”, lê-se na postagem da organização.


Economia e Negócios

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NIKOLAY KOROLYOFF

ENTREVISTA VLADÍMIR POTÂNIN

‘Nos voltamos não ao Oriente, mas às chances’ DIRETOR DA NORILSK NICKEL FALA SOBRE COMO CONSEGUIU FAZER DA EMPRESA A MAIOR PRODUTORA DE NÍQUEL DO MUNDO ALEKSÊI LOSSAN GAZETA RUSSA

Um dos empresários mais ricos da Rússia, Vladímir Potânin tem um patrimônio avaliado em US$ 12,6 bilhões. Coproprietário e diretor da maior produtora de níquel do mundo, a Norilsk Nickel, Potânin conversou com a Gazeta Russa sobre as mudanças de estratégia da empresa e as implicações das sanções ocidentais à Rússia. No ano passado, você vendeu vários ativos nos EUA e na Austrália. Por que a empresa decidiu sair desses mercados? Estamos nos livrando de ativos não estratégicos que impeçam o desenvolvimento da empresa. Decidimos sair de todos os projetos de investimento na Austrália, mantendo apenas uma licença no país. Agora, estamos avaliando a possibilidade de sair dos

projetos na África. A saída desses ativos foi incluída em nossa estratégia de longo prazo muito antes da turbulência política.

levam a uma derrota política. Quando os políticos introduzem sanções, ou seja, reduzem o valor dos ativos, isso significa que algo está errado.

Mas essa turbulência influenciou o trabalho da empresa? A Norilsk Nickel é uma empresa privada que age de acordo com a legislação russa. A empresa é controlada por todos os sistemas de regulação, e estamos representados nas bolsas de valores internacionais. Os produtos da nossa empresa têm uma grande importância na economia. Em particular, fornecemos níquel para a indústria de aço europeia. A tensão geopolítica não deve influir na nossa empresa, que está profundamente integrada aos processos econômicos mundiais. Mas as sanções são uma arma prejudicial para todas as partes. Elas prejudicam todos os parceiros e sempre

A Norilsk Nickel está ligada a consumidores europeus e americanos. Como as sanções podem prejudicar a empresa? A Norilsk Nickel comercializa ativamente seus produtos na Europa e nos Estados Unidos. Fornecemos paládio para catalisadores de ônibus, por exemplo. O mercado de paládio terá um déficit estrutural durante os próximos anos, o que, provavelmente, levará a um aumento nos preços. Mesmo assim, somos leais aos consumidores, assinamos contratos em longo prazo que são mutuamente vantajosos. O paládio é utilizado na produção de coletores de emissão de dióxido de carbono. É um elemento pequeno, mas importante para os fa-

RAIO-X IDADE: 53 ANOS

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FORMAÇÃO: ECONOMIA ESTADO CIVIL: CASADO

bricantes de automóveis. Sem um catalisador, cujo preço não ultrapassa os US$ 1.000, um carro que custa US$ 30 mil não pode ser vendido. Não acho que as sanções ou quaisquer outras medidas de pressão política e econômica poderão nos afetar. Mas temos um plano alternativo, que prevê a diversificação de moedas e a reorientação da nossa e mpr e s a ao s me r c ado s asiáticos.

Foi vice-premiê entre 1996 e 1997, durante o governo de Boris Iéltsin2013, foi classificado em 7° lugar na lista dos homens mais ricos da Rússia da revista Forbes, além de figurar entre os 500 mais influentes do mundo da revista Foreign Policy. É conhecido por sua participação ativa em projetos filantrópicos.

Não há temor de que caia a demanda por seus produtos nos mercados ocidentais? A maioria dos nossos produtos é comercializada nas bolsas de valores e pode ser redirecionada de um mercado para outro. Não se trata de um produto de consumo, vestido, sapatos ou um carro. A indústria siderúrgica europeia e as empresas americanas estão acostumadas ao níquel de

alta qualidade produzido por nossa empresa. Quais são as realizações mais importantes da nova estratégia elaborada por você em 2013? Em primeiro lugar, conseguimos controlar os custos de produção. Em segundo, melhoramos todos os procedimentos corporativos. Em particular, introduzimos um sistema de comitês de investimento, aprovamos as regras de organização de licitações. Também mostramos uma margem Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização] de 44%. Além disso, melhoramos significativamente os contatos com bancos e agências de rating e reestruturamos os empréstimos banc á r io s, pr olon g a mo s o período de empréstimos, eliminamos os empréstimos hipotecários e melhoramos a flexibilidade na gestão de carteira. A decisão de realizar uma parte dos pagamentos em dólares de Hong Kong foi parte dessa estratégia? Sim, decidimos reorientar o negócio aos mercados asiáticos quando Vladímir Strjalkóvski era diretor da empresa. Então, tentamos entrar no mercado chinês, abrimos diversos novos escritórios. Assim, nossa presença nos mercados asiáticos aumentou muito. Mas eu não chamaria esse processo de reorientação do Ocidente para o Oriente. É uma busca de novas oportunidades. Devido à turbulência geopolítica, porém, tivemos que acelerar esse processo. Além disso, temos planos de construir uma usina de mineração e processamento em Bístrinski, na região de Transbaikal, que vai produzir concentrado de minério de ferro e minério de cobre. A China será um consumidor natural desses produtos.

Economia começa a sofrer efeitos das sanções CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1

Inflação deve ultrapassar previsões

© RIA NOVOSTI

“As sanções são ruins porque estão elevando o custo de capital em um momento em que a economia russa já está cambaleando”, diz Erik Jones, diretor de Estudos Europeus e Eurasiáticos na Johns Hopkins University. Dados do segundo trimestre sugerem que “os efeitos não foram enormes”, diz Jones. “Já os números do terceiro trimestre irão revelar mais sobre o impacto real”, acrescenta. O governo da Rússia cancelou seu sétimo leilão de obrigações do rublo em 2 de setembro, após o aumento das tensões internacionais em torno da Ucrânia. Em uma declaração concisa e curta publicada em seu site, o Ministério das Finanças culpou as “condições desfavoráveis de mercado” pelo cancelamento. Bloquear o acesso ao financiamento internacional para os grandes bancos russos irá,

em tese, acabar chegando ao dia a dia dos cidadãos comuns, já que os empréstimos se tornam mais difíceis, desacelerando a atividade empresarial. “Os custos para empréstimos terão grande impacto na vida cotidiana, porque vão diminuir o ritmo da produção e da atividade, além de exercer maior pressão sobre o desemprego. As pessoas terão menos dinheiro no bolso: é assim que vai se mostrar”, explica Jones.

O Ministro do Desenvolvimento Econômico, Aleksêi Uliukaiev, anunciou suas previsões para a inflação neste ano e em 2015. “Acredito que a inflação em 2015 será menor do que a deste ano, quando tivemos a combinação de muitos fatores: a forte influência do efeito pass-through [a desvalorização do rublo - IF], as sanções e a simples oscilação dos preços dos

alimentos. Acho que no próximo ano os fatores gerais de correlação não serão tão severos”, disse o ministro. “O risco de ultrapassarmos os 5,5% é bastante alto, mas acredito que a dinâmica será, de qualquer modo, descendente”, acrescentou Uliukaiev. A projeção oficial da inflação para 2014 é de 7,5% e, para 2015, de 5,5%.

como “definitivamente negat iv a” o u “ b a s t a nt e negativa”. Na me s m a p e s qu i s a , porém, 35% disseram acreditar que os preços dos alimentos já estavam subindo em resposta às restrições. Outros 41% afirmaram que os valores provavelmente subiriam com o tempo, enquanto apenas 15% disseram acreditar que não haveria impacto sobre os preços.

Na corda bamba

Causa e efeito A relação causa e efeito das sanções poderá ser difícil de discernir para os consumidores médios. “Vai ser difícil para os cidadãos russos entender o quanto isso se deve à política europeia e o quanto é devido à desaceleração generalizada da economia russa”, diz Jones. Moscou reagiu às sanções ocidentais restringindo as importações de produtos agrícolas europeus e ameri-

canos para o setor de varejo, em expansão na Rússia. A importação de produtos alimentícios como queijos europeus e aves americanas está proibida por um ano. Mas essa medida também atinge os consumidores russos, impedindo seu acesso a marcas estrangeiras e elevando os preços de alguns itens. Assim, eles ficam mais propensos a sofrer os efeitos de imediato.

Até agora, as pesquisas de opinião pública sugerem que a maioria dos russos apoia a proibição das importações. Em estudo realizado no final de agosto pelo Centro Levada de Moscou, 78% dos entrevistados disseram que a decisão do governo de bloquear os bens importados estrangeiros era “definitivamente positiva” ou “bastante positiva”, contra os 13% que qualificaram a iniciativa

No momento, a economia russa parece estar se equilibrando no limite entre expansão e contração. Apesar do crescimento global positivo observado no primeiro semestre, o Ministério da Economia detectou que o produto interno bruto começou a entrar em declínio na metade do ano, com queda de 0,2% em julho, em relação ao ano anterior, e de 0,1% em junho.

As sanções podem tornar a campanha do Banco Central da Rússia contra a inflação ainda mais desafiadora. O banco tem mantido sua taxa básica de empréstimo a 8% neste ano para combater a persistente inflação. Um estudo da Reuters com 15 analistas conduzido no final de agosto prevê que a Rússia não atingirá sua meta de inflação de 5% para 2014, acabando com uma taxa de inflação de 7,2%. A análise também estima que a economia russa cresça apenas 0,3% neste ano. Nem todas as notícias recentes para a economia russa têm sido desagradáveis, contudo. O setor industrial do país cresceu pelo segundo mês consecutivo em agosto, de acordo com dados divulgados pelo banco britânico HSBC. O índice Purchasing Manager do HSBC atingiu 51,0 em agosto. Qualquer pontuação acima de 50 indica expansão. Valores abaixo de 50 indicam contração.

Comércio exterior Órgão poderá aplicar multas, mas não tem poder real para cancelar as sanções impostas contra a Rússia

País aciona OMC sobre medidas dos EUA e da UE Moscou argumenta que medidas proibitivas impostas por EUA e UE são contrárias às regras da Organização Mundial do Comércio. ALEKSÊI LOSSAN GAZETA RUSSA

A Rússia tomou as primeiras medidas para entrar com uma ação judicial na Organização Mundial do Comércio acerca das sanções impostas por Est ado s Un ido s e Un i ão Europeia. “Nossa resposta às medidas unilaterais impostas por EUA, UE e outros países foi equilibrada e em consonância com os direitos e obrigações da Rússia no âmbito de

acordos internacionais, incluindo os da Organização Mundial do Comércio”, disse o ministro russo dos Negócios Exteriores, Serguêi Lavrov, em entrevista à Gazeta Russa. EUA, UE e Rússia são membros da OMC, e as sanções podem ir contra as normas da organização. “A OMC tradicionalmente se abstém de envolvimento direto em conflitos com motivação política”, diz o analista-chefe da companhia de investimentos UFS IC, Iliá Balákirev. “Se a OMC estipulasse que o embargo de alimentos da Rússia é ilegal, então, a legitimidade das sanções antirrussas seria questionável tam-

bém”, completa Balákirev. Mas a OMC não tem poder real para cancelar as sanções impostas. Na melhor das hipóteses, o órgão poderá aplicar multas.

Atire a primeira pedra Em 20 de agosto, o governo polonês enviou um pedido à Comissão Europeia para avaliar a proibição da Rússia às importações agrícolas europeias no âmbito da OMC. De acordo com as autoridades polonesas, as perdas oficiais do país com a proibição imposta pela Rússia chegarão aos US$ 970 milhões. “Para a Polônia, a situação é particularmente dramática,

NÚMEROS

2

anos se passaram desde que a Rússia se tornou membro da OMC, depois de 18 anos de negociações.

98% do comércio mundial é controlado pelas regras da Organização Mundial do Comércio.

pois seus produtos agrícolas tinham sido afetados por uma proibição sanitária antes mesmo de essa história assumir uma escala tão grande, e o país esperava receber da União Europeia uma compensação por suas perdas, como é de costume em casos como esse”, explica Balákirev.

Chances de sucesso Embora tenha havido casos menos graves envolvendo sanções na história da OMC, medidas proibitivas em grande escala nunca foram aplicadas a um Estado-membro. “Os Estados-membros da OMC podem introduzir sanções em algumas situações, por exemplo, no caso de uma guerra ou de uma situação de emergência nas relações internacionais, servindo ao interesse da segurança nacion a l ”, d i z o c h e f e d o departamento de negociações comerciais do Ministério de Desenvolvimento Econômico russo, Maksim Medvedkov.

No entanto, quando EUA, UE e Canadá introduziram as sanções no início deste ano, nenhum país estava em guerra com a Rússia, segundo ele. A organização reúne atualmente 160 Estados-membros, e tem 98% do comércio

Moscou poderá desistir de processo se Ocidente não impuser novas sanções, diz ministro mundial sob controle de suas regras. “Ao aderir à OMC, os Estados-membros assumem a obrigação de se abster de impor restrições comerciais contra os demais. O principal objetivo da organização é encontrar soluções positivas para disputas comerciais. Aqui não é lugar para resolver questões teóricas. É um sistema prático, destinado a assegurar o equilíbrio do

mercado”, diz o conselheiro do Departamento de Assuntos Jurídicos da OMC, Jorge Castro. As disputas no âmbito da OMC costumam ser resolvidas rapidamente. Dos 481 processos iniciados dentro da orga n i zaç ão, ape n a s 268 terminaram em um painel de discussão, e somente em 18 casos foram emitidas decisões finais. Durante uma coletiva de imprensa em Moscou em 28 de agosto, o ministro do Desenvolvimento Econômico russo, Aleksêi Uliukaiev, adiantou que a Rússia poderia desistir dos planos de entrar com um processo na OMC se o Ocidente não propusesse novas sanções. “A situação é dinâmica e depende do comportamento dos nossos parceiros. Se eles mostrarem certo abrandamento, vamos nos abster de tais medidas; caso contrário, v a m o s a c e l e r á - l a s ”, declarou.


Em Foco

RÚSSIA O melhor da Gazeta Russa http://gazetarussa.com.br

RECEITA

Museu Eleito melhor da Europa pelo TripAdvisor

Bolo de smetana para preguiçosos Anna Kharzeeva ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

O bolo “Smetannik” nada mais é que uma homenagem à smetana, ingrediente também conhecido em outros países como sour cream ou creme de leite azedo. Esse produto lácteo é tão amado na Rússia que serve de acompanhamento para sopas, panquecas, pão e saladas durante todo o ano. O “Smetannik” leva creme de leite azedo tanto na massa, como no recheio. Claro que não é o tipo de doce para uma semana de “detox”, mas é bem fácil de preparar - o que é ótimo se você é do tipo preguiçoso, como eu.

Maior acervo de artes da Rússia, Hermitage deixa para trás museus da Academia de Belas Artes de Florença e o parisiense d’Orsay. ILIÁ KROL, GUEÔRGUI MANAEV, DMÍTRI ROMENDIK GAZETA RUSSA

GEOPHOTO

Hoje, museu conta com novos prédios e fliais no exterior...

Casa dos ermitões

ALAMY/LEGION MEDIA

Hoje, o museu preserva 96 desses quadros adquiridos por Catarina e que, inicialmente, ficavam distribuídos, um tanto perdidos, pelas salas do palácio. Foi precisamente essa disposição que deu nome ao museu, já que, no francês, muito utilizado pela nobreza russa de então, a palavra “ermitage”, sign i f ica “habitação do(s) solitário(s)”. Há muito que a coleção deixou de ser privada e ficar escondida em meia dúzia de salas. Além de o visitante precisar reservar alguns dias para poder apreciar com atenção a enorme coleção, o Hermitage conta ainda com filiais no exterior. Sua primeira ramificação estrangeira foi inaugurada no

ano 2000, no centro cultural Somerset House, em Londres, e ali ficou até 2007. Já em 2001, foi aberta outra filial, em Las Vegas, seguida pelas de Amsterdã e Veneza. Mas a principal conquista do museu aconteceu na própria São Petersburgo, sua cidade natal. Foi ali que a instituição recebeu um donativo especial: o edifício do antigo Estado-Maior, fundado em 1829, e que fica bem em frente ao palácio que abriga suas coleções.

no abre uma larga vantagem do museu sobre outros. “A coleção do Louvre, por exemplo, pode até ser mais valiosa, mas está em um edifício de linhas severas e pouco atrativas, enquanto o interior do soberbo Palácio de Inverno, que acolhia os tsares russos, é impressionante. A atenção dos visitantes estrangeiros se prende, por ve ze s, m a i s ao interior que à coleção, que também é, sem dúvida, uma das melhores do mundo”, diz.

Escandaloso

Novos tempos

Hoje, o novo prédio abriga exposições de grande ressonância. É ali que são montadas as exibições das obras modernas que o prédio principal do Hermitage, com sua política um tanto conservadora, deixava de expor. Em 2012, por exemplo, os americanos Jake e Dinos Chapman montaram ali sua “Fim do Regozijo”, na qual exprimiram, de forma caricatural, sua visão de Auschwitz. Já no ano passado, foi a vez da exibição “Arte Moderna do Japão”, que contou, entre outros, com um enorme labirinto de sal de Motoi Yamamoto. “Manifesta”, a Bienal Europeia de Arte Moderna, marcou 2014. “Nunca a Rússia presenciou debates de tal nível e significado”, diz o diretor do Her m itage, M ik hai l Piotrôvski. Já a historiadora de arte Natália Semiónova destaca o pioneirismo do museu em abrir seu acervo ao público, com visitas guiadas, conferências e palestras. “Nenhum museu russo, exceto o Hermitage, tem seu acervo aberto ao público, que pode contemplar uma quantidade enorme de obras de arte, antes guardadas a sete chaves.” Para o jornalista norte-americano John Varoli, radicado na Rússia há 13 anos, o fato de o Hermitage estar sediado no Palácio de Inver-

Para celebrar seu 250º aniversário, que completará no dia 7 de dezembro, o Hermitage terá uma diversidade de projetos. “Vamos abrir tudo. A ala oriental do antigo Estado-Maior, o novo edifício em Stáraia Derévnia, instalações do Pequeno Hermitage, o edifício secundário do Palácio de Inverno, ao lado do Teatro do Hermitage”, promete Piotrôvski. A curto prazo, o museu deverá receber as exposições “Arqueologia no Hermitage”, “Novas Aquisições”, “Restauração no Hermitage” e “Vitrines e história do design arquelógico”. A longo prazo, porém, os objetivos do Hermitage não visam aos lucros, segundo seu diretor. “Os critérios de êxito de um museu são frequentemente associados a resultados financeiros. Na realidade, o êxito deve ser medido pelo número de pessoas que compartilham da vida do museu. E o Hermitage é uma instituição cultural muito democrática: reúne muita gente em torno de si, e é acessível a todos. Por mais diferentes que sejam, as pessoas sempre podem encontrar nele pontos de interesse comuns”, diz Piotrôvski.

Catarina 2° iniciou coleção em 1764 com 225 pinturas.

GEOPHOTO

No ano em que celebra seu 250° aniversário, o Hermitage foi eleito o melhor museu da Europa pelos usuários do TripAdvisor, deixando para trás os museus da Academia de Belas Artes de Florença e o parisiense d’Orsay. O ranking foi divulgado em setembro pelo site, que é o maior portal turístico do mundo e conta com as opiniões dos usuários para construir bases de dados sobre destinos turísticos e infraestrutura. Um dos museus mais antigos do mundo, o Hermitage talvez só tenha alcançado tanta glória nos tempos de sua fundadora, Catarina 2°. A imperatriz deu início à coleção em 1764, ao adquirir de um comerciante de Berlim 225 pinturas holandesas, flamengas e italianas.

LORI/LEGION MEDIA

250 anos, e com cereja no bolo

... mas edifício principal é um dos maiores atrativos.

NÚMEROS

2,5 milhões

3 milhões

2.500

de pessoas visitam o Hermitage todos os anos

de peças fazem parte da coleção do museu

pessoas estão empregadas na instituição

leia mais em: gazetarussa.com.br/ 27737

LORI/LEGION MEDIA

Smetana ou creme azedo: Para preparar a smetana, é preciso colocar leite integral ou creme de leite (não pasteurizados e com teor de gordura de 3% a 6%) em um recipiente de vidro, adicionar uma colher de iogurte ou bactéria de iogurte, cubrir com um morim (pano de coar) e deixar descansar em temperatura ambiente de um dia para o outro. Se você tiver usado leite, retire a parte de cima do creme, que é a smetana. Se usar creme de leite, então todo o conteúdo resultante será smetana. Ela pode ser mantida na geladeira por alguns dias. Massa do bolo de smetana: Ingredientes: · 3 ovos; · 1,5 xícara de açúcar; · 1,5 xícara de smetana; · 1,5 xícara de farinha; · 1,5 colher de chá de bicarbonato de sódio; · 1 colher de chá de extrato de baunilha.

WWW.RBTH.RU E-MAIL: BR@RBTH.RU TEL.: +7 (495) 775 3114 FAX: +7 (495) 775 3114 ENDEREÇO DA SEDE: RUA PRAVDY, 24, BLOCO 4, ESCRITÓRIO 720, MOSCOU, RÚSSIA - 125993 EDITOR-CHEFE: EVGUÊNI ABOV; EDITOR-CHEFE EXECUTIVO: PÁVEL GOLUB;

EDITOR: DMÍTRI GOLUB; SUBEDITOR: MARINA DARMAROS; EDITOR-ASSISTENTE: ALEKSANDRA GURIANOVA; REVISOR: PAULO PALADINO DIRETOR DE ARTE: ANDRÊI CHIMÁRSKI; EDITOR DE FOTO: ANDRÊI ZAITSEV; CHEFE DA SEÇÃO DE PRÉ-IMPRESSÃO: MILLA DOMOGÁTSKAIA; PAGINADOR: MARIA OSCHÉPKOVA

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· 3 a 4 colheres de chá de cacau em pó.

Modo de preparo: Bata os ovos com o açúcar. Adicione a smetana e a farinha, misturando bem. Acrescente o bicarbonato e a baunilha. Separe a massa em duas partes, e acrescente o cacau a uma delas. Preaqueça o forno a 180°C e coloque a massa para assar por cerca de 40 minutos. Quando o tempo acabar, abra um pouco o forno para o ar quente sair. Recheio: Ingredientes: · 700 ml de smetana; · Açúcar a gosto; · 1 a 2 colheres de chá de suco de limão.

Modo de preparo: Misture bem todos os ingredientes. Experimente para verificar se há necessidade de adicionar mais açúcar. Priátnogo Appetita!

CALENDÁRIO CULTURA E NEGÓCIOS 38° MOSTRA INTERNACIONAL DE CINEMA DE SÃO PAULO

7° SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA CULTURAL DE 11 A 14 DE NOVEMBRO, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

DE 16 A 29 DE OUTUBRO

Cinco títulos russos compõem o programa: “Amigos da França”, “As noites brancas do carteiro”, “Corpo estranho”, “Leviatã” e “O idiota” › www.mostra.org

SIMEXPO - SCIENTIFIC INSTRUMENT MANUFACTURING EXPO EXPEDIENTE

Pela tradição, você deve assar três camadas de massa e, em seguida, cortar cada uma em duas partes, recheando de smetana entre elas. Como acho isso um pouco demorado, porém, costumo assar apenas duas camadas e cortar cada uma pela metade. Assim, tenho quatro camadas em vez de seis. O “Smetannik” tradicional também vem com um glacê de chocolate na cobertura, mas prefiro frutas vermelhas ou quaisquer outras frescas, que o tornam um pouco menos doce e muito mais saudável!

DE 5 A 7 DE NOVEMBRO, EXPOCENTER, MOSCOU - RÚSSIA

A feira e as conferências são dedicadas à instrumentação científica, equipamentos e componentes. › www.simexpo.ru

O simpósio conta neste ano com programa especial sobre a Rússia: “História cultural russa: um desafio brasileiro”, sob a coordenação de Bruno Barreto Gomide (USP) e Sonia Branco Soares (UFRJ). Extenso, o programa trata dos mais diversos temas, desde o cinema de Eisenstein até a representação feminina em pôsteres de propaganda soviéticos. › http://gthistoriacultural.com.br/ VIIsimposio

MAIS EM: www.gazetarussa.com.br

O SUPLEMENTO “RÚSSIA” FAZ PARTE DO PROJETO INTERNACIONAL RUSSIA BEYOND THE HEADLINES (RBTH), QUE É SUBSIDIADO PELO JORNAL RUSSO ROSSIYSKAYA GAZETA. A PRODUÇÃO DO SUPLEMENTO NÃO ENVOLVE A EQUIPE EDITORIAL DA FOLHA DE S.PAULO. O RBTH É FINANCIADO TANTO POR RECEITAS DE PUBLICIDADE E PATROCÍNIO, COMO POR SUBSÍDIOS DE AGÊNCIAS GOVERNAMENTAIS RUSSAS. NOSSA LINHA EDITORIAL É INDEPENDENTE. O OBJETIVO É APRESENTAR, POR MEIO DE CONTEÚDO DE QUALIDADE E OPINIÕES, UMA GAMA DE PERSPECTIVAS SOBRE A RÚSSIA E O MUNDO. ATUANDO DESDE 2007, TEMOS O COMPROMISSO DE MANTER OS MAIS ALTOS PADRÕES EDITORIAIS E APRESENTAR O MELHOR DO JORNALISMO RUSSO. POR ISSO, ACREDITAMOS PREENCHER UMA IMPORTANTE LACUNA NA COBERTURA MIDIÁTICA INTERNACIONAL. ESCREVA UM E-MAIL PARA BR@RBTH.RU CASO TENHA PERGUNTAS OU COMENTÁRIOS SOBRE A NOSSA ESTRUTURA CORPORATIVA E/OU EDITORIAL. A FOLHA DE S.PAULO É PUBLICADA PELA EMPRESA FOLHA DA MANHÃ S.A., ALAMEDA BARÃO DE LIMEIRA, 425, SÃO PAULO-SP, BRASIL, TEL: +55 11 3224-3222 O SUPLEMENTO “RÚSSIA” É DISTRIBUÍDO NA GRANDE SÃO PAULO, INTERIOR DE SÃO PAULO, RIO DE JANEIRO E BRASÍLIA, COM CIRCULAÇÃO DE 157.988 EXEMPLARES (IVC FEVEREIRO 2014)

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