Revista Livro Zero numero 3 - Forum do Campo Lacaniano SP

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pela via da homofonia. O declínio da prevalência do imaginário fantasmático promovido pela interpretação apofântica correspondia, logicamente, à mostração, ao trazer à luz o objeto, olhar causa do desejo, agora despido da significação fantasmática. I saw Bill não queria dizer nada, apenas revelava o objeto que ele tinha se feito para o Outro para fazê-lo existir. Com a queda da fantasia, Bill deprimiu. Posição depressiva coerente com esse tempo de atravessamento. Não poderíamos consentir, portanto, que com essa posição, Bill desse por encerrada sua análise. Não ainda. Após um tempo de luto, no qual se manifestava certa agressividade transferencial pela perda da significação fálica que revelava a verdade mentirosa da fantasia, Bill começa a brincar com os múltiplos sentidos oriundos do jogo homofônico e homonímico possibilitado pelos equívocos possíveis entre o inglês e o português na frase I saw Bill. Ele passou a usar o sentido até gastar: Eu sou Bill. Aaaiii, só Bill... Eu sou bio! Aiii, só. Bill! Eu sol Bill! Eu disse bico. Eu serro o bico! E assim por diante. A fobia, nesse momento já não o atrapalhava com a mulher desejada e amada. Ele aprendera a se virar com seu sintoma, a ponto de dizer, brincando, que estava pensando em montar um viveiro de aves em seu sítio. Para além dos ditos, um dizer. Mais além da letra, o gozo do viveiro no analfabe(s)tismo. Um dia, Bill chega muito decidido e senta-se na poltrona, dizendo: não venho mais! Agora quando tenho medo, eu ASSOBIO. A analista encarou-o um pouco atônita: I saw Bill. Agora, como uma ave, ASSOBIO.

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