Revista Livro Zero numero 3 - Forum do Campo Lacaniano SP

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Cena V Porque o real encontra-se nos emaranhados do verdadeiro. E se foi possível chegar à ideia do nó – diz Lacan que entretanto já tinha apontado que isso lhe serve-cerra –, se foi possível é porque o verdadeiro se autoperfura e que isso é sugado pelo que faz furo à consistência do corpo: a boca enquanto suga, o ponto cego do olhar, e onde se recolhe que “o objeto que chamei de pequeno a é, com efeito, apenas um único e mesmo objeto. Eu lhe atribuí o nome de objeto em razão do seguinte: o objeto é ob, obstáculo “expansão imaginário concêntrico, isto é, englobante” (LACAN, Ibid., p. 83). O objeto é uma arma... de arremesso. Esse obstáculo, que é o objeto a, é o que permite uma orientação. Lembremos que a orientação não é o sentido. O a está aí para impedir a copulação do imaginário e o simbólico, ou melhor para tropeçá-la. A orientação do real foraclui o sentido. E me parece ser por essa razão que o ob, do objeto a, ao impedir o sentido, permite “atingir” os fragmentos de real da lalangue. O real é um fragmento, um caroço (LACAN, Ibid., p. 119). Assim também o chamava Freud: núcleo patogênico. É algo que não se enoda com nada. Cria as condições dos artifícios, mas não enoda com nada. O humés tenta copular as pegadas do inconsciente e com isso as apaga. O analista ao faire semblant de objeto a aponta um real, não se constata (não se toca!!!), a. escreve-se: S1 A simples introdução dos nós bo sugere que eles sustentam um osso. Isso sugere, se posso dizer assim, suficientemente alguma coisa que chamarei, nessa ocasião ossobjeto. É isso que caracteriza efetivamente a letra com que faço acompanhar esse ossobjeto, a saber, a letra pequeno a. Se reduzo esse ossobjeto a esse pequeno a é precisamente para marcar que a letra, nesse caso, apenas testemunha a intrusão de um a escrita como outro (autre) com um pequeno a (LACAN, Ibid., p. 141).

Quinta suspeita: O objeto a é letra que faz borda entre o saber inconsciente e o que causa. Isso se lê no produto que temos entre o discurso do mestre (onde o produto é o a) e o seu avesso, isto é, o discurso do psicanalista (onde o produto é S1).

O objeto a no Seminário XXIII: ainda h(a)eresis

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