Revista Livro Zero numero 3 - Forum do Campo Lacaniano SP

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[Joyce escreve] não a identidade de um som e sim o desvio, ou seja, justamente essa dimensão do equívoco, não para dizer que o sentido está posto de lado, mas que ele suscita uma pergunta (p. 120).

Vemos como Lacan vai-se dando conta no decorrer do seminário de que é preciso um nó ex-sistente para que os outros três se sustentem juntos. É isso que caracteriza a cadeia borromeana: separa-se um elo, todos necessariamente se separam. Se no começo ele pensa no imaginário como consistência, no simbólico como furo que insiste e no real como ex-sistência, acrescenta depois a esta ideia o fato de que todos os elos são homogêneos, não há prevalência de um sobre o outro, não é possível distingui-los em sua função na cadeia, uma vez que os três têm uma consistência, um furo pelo qual entram ou saem uns dos outros enodando-se e é por um ex-sistir em relação aos outros que esses outros se amarram. Tal constatação é muito clínica e permite pensar uma série de fenômenos que podem aparecer no falasser quando, por exemplo, um nó se desata. É esta intrusão do ex-sistente que temos nas alucinações, nos delírios e também nas epifanias e em momentos de muita angústia numa estrutura neurótica, por exemplo. Lacan insiste em que os nós criam as relações, não as ilustram. Portanto, saber amarrar seu sinthoma, seu nó, é algo que se espera num final de análise. Segundo Granon-Lafont: É nó todo entrelaçamento de fios que necessita de um corte para que ele desapareça. Do mesmo modo, o corte conduz, topologicamente, ao nó: há cortes sobre a superfície que criam nós. O resultado da operação de corte é um nó (p. 110). [...] com o nó borromeano coloca-se a questão da criação do sentido e de suas relações com o inconsciente e o sintoma (p. 137).

Percebemos aqui que Lacan propõe com os nós um operador para pensarmos o papel da interpretação como corte na clínica psicanalítica. Com ele podemos acompanhar as transformações contínuas na mesma estrutura, suas equivalências, o que pode significar – por exemplo, numa torsão – um lugar vazio que aparece cernido (amarrado ou não), como um evento pode produzir uma desarticulação que desencadeia uma estrutura aparentemente organizada e, especialmente importante para nós, como nota Darmon, Essas cirurgias podem dar conta muito bem, por exemplo, dos efeitos sobre toda a estrutura de uma interpretação analítica concebida como

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