Política de Águas e Educação Ambiental

Page 39

CAPÍTULO 1 - Enfoques Metodológicos para Eventos e Atividades Dialógicas

37

O 1º Seminário como um exercício teórico e prático: forma e conteúdo em sintonia Qual o sentido de uma Educação Ambiental crítica no campo das Águas? Com o diagnóstico acima exposto, a construção do diálogo passa a ter um sentido como princípio político e metodológico, como forma e conteúdo ao mesmo tempo. O 1º Seminário de Educação Ambiental no SINGREH, ocorrido em 2009, em Salvador, ao propiciar que pelo menos uma pessoa de cada um dos 150 comitês de bacias hidrográficas brasileiras estivesse presente, gerou um momento importante de troca e, portanto, de construção compartilhada, não de um único sentido da Educação Ambiental na Gestão das Águas, mas de diversos sentidos e de uma nova forma de construção. Ao optar por uma metodologia tanto inovadora quanto ousada, que oferecia estímulos sobre um tema (uma reflexão curta de um especialista) e, posteriormente, estimulava o debate em grupos de conversas sobre o tema, sentimos que o objetivo da construção de diálogos era mais importante do que a conclusão sobre qualquer dos temas apresentados. Esta é uma opção política importante e significativa. Em primeiro lugar, porque tira dos conteúdos a primazia do processo de formação. A educação centrada prioritariamente nos conteúdos tende a se tecnicizar, ou seja, transformar-se num processo de transmissão de informações que muitas vezes pouco dialogam com quem as recebe, descontextualizando-as. A educação que foca nos conteúdos frequentemente dificulta o diálogo com os conteúdos dos educandos, inferiorizando-os. Como consequência, esta concepção de educação considera os educandos como “público alvo” e não como parceiros num processo mútuo de formação. Sem querer tirar a importância dos conteúdos no processo educativo, o problema está em sua priorização ou preponderância sobre outros aspectos, o que leva a concepções conservadoras de educação. Em segundo lugar, porque esta metodologia afirma, politicamente, que todos têm saberes sobre os assuntos tratados e merecem oportunidades de expressão. Afirma, também, que o mais importante é o exercício do diálogo com pessoas desconhecidas (mas interessadas num mesmo tema), o exercício da escuta, o exercício da compreensão de uma ideia diferente da própria. Em terceiro lugar, há uma afirmação político-pedagógica ao longo do seminário na direção do que é educação: ao invés de ser um processo de domesticação, um processo de transmissão de conteúdos, um processo de construção de referências externas a nós (os especialistas), sem as quais não nos sentimos preparados para pensar e agir, o seminário afirma que educar é oferecer um espaço de autoconstrução de cada participante a partir do encontro, do embate, do diálogo sobre a questão das Águas, fortalecendo cada um que participou para seus próprios processos. Educar, neste sentido é oferecer condições para que cada pessoa seja mais forte e mais potente naquilo que acredita ser o mais justo, agindo num sentido individual e coletivo ao mesmo tempo. Só o diálogo levado com prioridade pode permitir este processo. Neste sentido, o seminário se transformou num primeiro e seguro passo para o aprendizado do diálogo, do respeito à alteridade, objetivos difíceis de alcançar, mas fundamentais para o enfrentamento da maior das questões socioambientais: a invisibilização e submissão do “outro” (seja o “outro” natural, seja o “outro” humano).


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.