Comentário à Regra da Militia Sanctae Mariae - 14 de julho de 2015

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MILITIA SANCTÆ MARIÆ Província de S. Nuno de Santa Maria - Portugal Capítulo de 14 de julho de 2015

Leitura da Regra: CAPÍTULO XVIII DOS DEVERES DO CAVALEIRO PARA COM O PRÓXIMO 2. Para com o seu dever de estado profissional, os cavaleiros devem medir exactamente a extensão das exigências da sua vocação. Mostrem-se pois cristãos perfeitos, desejosos de imitar Cristo na sua vida laboriosa de Nazaré, a fim de oferecer a Deus o seu trabalho e o dos outros em sacrifício de louvor. Como Cristo, amarão o trabalho bem feito que procede do amor. Os que tiverem o cargo de serem chefes serão de uma honestidade e de uma integridade perfeitas, porque a balança falsa é um horror para o Senhor, mas o peso justo lhe é agradável162. Serão sempre justos e equitativos, vigiarão por dar a cada um segundo as suas necessidades163. Amarão acima de tudo a verdade; nada de lisonjas nos seus discursos ou no seu comportamento, porque o Apóstolo disse: Se procurasse agradar aos homens, não seria servo de Cristo164. É por isso que amarão verdadeiramente os seus companheiros de trabalho, procurando sinceramente o bem comum e lembrando-se sem cessar da palavra de S. Paulo: Que a vossa caridade seja sem hipocrisia165. Resolver-se-ão enfim a aplicar integralmente e a fazer aplicar a doutrina social da Igreja tal qual se encontra nas encíclicas do Soberano Pontífice.

162

Prov. XI, 1 Actos IV, 35 164 Gal. I, 10 165 Rom. XII, 9 163


Comentário: “Não podemos substituir com presentes religiosos aquele que é o dever ao próximo, adiando uma verdadeira conversão". (Papa Francisco).

Na homilia da missa solene que marcou o início oficial de seu pontificado o Papa Francisco apelou à defesa dos pobres, dos idosos e dos mais fracos e na celebração da Eucaristia que teve lugar na paróquia de Todos os Santos, em Roma, no dia 7 de Março 2015, afirmou que o comportamento do cristão tem de ser coerente entre a oração e o exercício da caridade e justiça, dizendo que não se pode entrar na casa do Senhor e rezar ao mesmo tempo que se tem comportamentos contrários à exigência da justiça, da honestidade e da caridade para com o próximo e que a liturgia é “um meio privilegiado para ouvir a voz do Senhor, que guia pela estrada da retidão e perfeição cristã”. O amor da Igreja pelos pobres e o dever de ajudar o próximo constitui um dos fundamentos da doutrina social da Igreja, inspirando-se no Evangelho das bem-aventuranças, e é também um dos motivos do dever de trabalhar, para que se possa ter algo para partilhar com quem tiver necessidade. A obrigação de ajudar o próximo e servi-lo activamente é assim tanto mais urgente quando este fica mais carente: “Todas as vezes que fizestes a um destes meus irmãos menores, a mim o fizestes”(Mt. 25, 40). “Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram”. Quando damos aos pobres as coisas indispensáveis, não praticamos com eles um acto de grande generosidade pessoal, mas apenas nos limitamos a devolver o que é deles, cumprindo não tanto um acto de caridade, mas um dever de justiça. Assim o Cavaleiro deve agir de acordo com a consciência, consciência esta regulada pelos valores cristãos - o amor ao próximo como projecto inerente à sua missão, devendo colocar no “centro das preocupações” os mais desfavorecidos, servindo os mais fracos em vez de se servir deles, contribuindo desta forma, para uma sociedade mais justa e solidária, onde os pobres, os fracos e os marginalizados estejam no centro das suas preocupações e das suas acções diárias, adoptando como valores maiores, “a dignidade de cada pessoa humana e o bem comum”. A este propósito atente-se nas palavras do actual Santo Padre, quando diz: “Incomoda que se fale de ética, incomoda que se fale de solidariedade mundial, incomoda que se fale de distribuição dos bens, incomoda que se fale de defender os postos de trabalho, incomoda que se fale de dignidade dos fracos, incomoda que se fale de um Deus que exige um compromisso em prol da justiça”. Uma vez que a trave mestra que suporta a vida da Igreja é a misericórdia, na bula “Misericordiæ Vultus” (Rosto de Misericórdia), refere o Papa Francisco que “Misericórdia não é uma palavra abstrata, mas uma forma para reconhecer, contemplar e servir”, exortando-nos a abrir “o coração àqueles que vivem nas mais variadas periferias existenciais”, chamando a atenção para as inúmeras situações de precariedade e sofrimento presentes no mundo atual, dizendo: “Quantas feridas gravadas na carne de muitos que já não têm voz, porque o seu grito foi esmorecendo e se apagou por causa da indiferença dos povos ricos”


O Miles ao não esquecer os fins da cavalaria: “honrar os pobres, defender os fracos e desprotegidos e defender a Igreja”, deve despertar a sua consciência, entrando no coração do Evangelho, onde os pobres, os mais fracos e os desprotegidos são os privilegiados da misericórdia divina. A MSM-Portugal está em festa. Recebemos hoje na nossa comunidade um novo irmão como freire de armas, vamos pedir ao Senhor Jesus Cristo e a Maria nossa Suserana, a intercessão por este nosso novo irmão, por cada um de nós, pelas nossas famílias e por todos os Miles espalhados pelo mundo, fazendo com que tenhamos sempre presente, os nossos deveres para com o próximo, baseados na justiça, na equidade e na verdade em prol do bem comum. Como hoje é o último capítulo antes das férias, aproveitemos para reflectir nestas palavras do Papa Bento XVI: “Todo o bom cristão sabe que as férias são um tempo oportuno para relaxar o corpo e também para alimentar o espírito com tempos maiores de oração e meditação, para crescer na relação pessoal com Cristo e conformar-se cada vez mais com os seus ensinamentos.” __ Ponte de Lima, 12 de Julho de 2015 e dia de S. João Gualberto, fundador da Ordem dos Monges Beneditinos de Vallombrosa José Aníbal Marinho Gomes, escudeiro donato


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