Revista OUSH! Brasil - Capa Segurança Pública - Ano IV - Edição 12

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ENTREVISTA ESPECIAL

28 Existe uma Por Márcio Mrotzeck

Alagoas possui os piores índices educacionais do país ao mesmo tempo que um de seus municípios é destaque no IDEB. Porque há tanta distorção e o que fazer para que os números se tornem positivos de médio e longo prazo? Estado com o maior porcentual de analfabetismo do País, com 21,8%, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2012, Alagoas amarga mais um índice negativo, desta vez com o pior desempenho brasileiro nas três áreas avaliadas pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes – PISA. De acordo com os dados divulgados no último dia 03 de dezembro, os estudantes alagoanos de 15 anos ficaram em último lugar do Brasil em matemática, com 342 pontos, leitura (355) e ciências (346), alcançando uma média de 347,7637 pontos. Espírito Santo, que encabeça a lista brasileira, teve 423,248 pontos de média. Para tentar reverter a situação do Pisa, a Secretaria de Educação Lançará em 2014 o Programa de Correção de Fluxo, que conta com uma série de ações, entre elas a compra de R$ 1,1 milhão em livros didáticos. No primeiro ano, porém, o esforço só contemplará 10,4 mil alunos, o que corresponde a cerca de um quarto do total de estudantes que está fora da faixa de escolaridade. “Sabemos que é pouco, mas é um passo importante”, disse Ana Márcia. O Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Alagoas – Sinteal, há pelo menos cinco anos denuncia a necessidade de concurso público para preenchimento de pelo menos 3,5 mil vagas deixadas por professores que se aposentaram no serviço público. Sem concurso público há oito anos, a educação alagoana tem de se valer do esforço dos 3,4 mil profissionais para cobrir toda a rede pública. Sobre o assunto, conversamos com o diretor do CEB-COC Maceió, José Romero Nobre de Carvalho. Pós-Graduado em Administração e História do Brasil e especialista em Educação, com mestrado pela Universidade Moura Lacerda, de Ribeirão Preto/SP, José Romero analisou a atual situação da educação, apontando problemas pontuais e também algumas soluções. Para ele, investimentos por si só não resolvem o problema. É preciso ir além e fazer com que escola e sociedade passem a interagir; que a estratégia seja local, levando em consideração as características dos alunos e do meio em que vivem e; principalmente, que o professor seja mais valorizado, essa é sua principal aposta. Educadores motivados representam a maior força neste processo de melhorias necessárias. Engajados, eles poderão mudar o quadro atual de forma bem mais rápida do que acontece hoje. O raciocínio lógico pode até levar a conclusão de que o problema está na falta de recursos, afinal, eles seriam os responsáveis pela falta de motivação. Mas, José Romero nos explica porque a solução tem um outro viés. OUSH - Porque a questão da educação sempre recai na

justificativa da falta de investimentos? José Romero Nobre - Ai está uma questão interessante.

Passei a minha vida toda de universitário e de educador escutando que mais verbas para a educação era a solução. Hoje tenho minhas dúvidas. O PNE (Plano Nacional de Educação) tem como meta destinar, até 2020, 7% do nosso PIB para educação. Hoje já são destinados 6,1%, segundo o governo. O movimento social organizado reivindica 10% do PIB e o governo da presidenta Dilma prometeu mais recentemente que recursos do pré-sal serão destinados à educação (50% do royalties) e o Senado Federal aprovou um projeto que garante R$ 2 bilhões por ano, a partir de 2014, à educação. Tudo isso significa que , segundo estimativas, R$ 4,8 bilhões por ano entre 2014 e 2022. Será que é suficiente? Ora, e a gestão desses recursos? OUSH - Qual seria o melhor caminho? José Romero Nobre - Para mim, a questão passa mais por uma gestão competente e recursos. Na iniciativa privada uma gestão orçamentária consegue prever e estimar recursos e garantir gestão do que se tem. Acredito que precisamos hoje é de um “choque de gestão” na maneira de gerir as escolas públicas. OUSH - Significa dizer então que o problema da educação

brasileira não está na falta de investimentos? José Romero Nobre - Não é bem assim. Há uma limitação de

recursos atualmente, mas isso não pode ser o fator preponderante. Veja, Um aluno de escola pública, do ensino fundamental tem destinado a ele em média R$ 300 por mês. Seria o custo-aluno em média para um estudante da rede pública. Na escola privada, a mensalidade média o dobro e em alguns casos o tripulo. Se observarmos o comportamento do investimento por aluno na educação básica, temos no Brasil aproximadamente US$ 1,5 mil ao ano, contra US$ 9,7 mil nos EUA. O Chile, pais que respeito muito no se refere ao projeto educacional investe aproximadamente US$ 2 mil por estudante. Portanto precisamos melhor o investimento, mas não é só isso. OUSH - O que falta então? José Romero Nobre - Como eu disse uma gestão mais

eficiente de recursos, com mais autonomia para as Unidades de ensino, envolvimento da comunidade no processo de manutenção e interação com a escola, dando mais aderência à escola junto a comunidade, motivação e valorização do educador. Falta um projeto político pedagógico mais realista, de acordo com a cultura e a realidade da comunidade onde a escola está inserida e acima de tudo uma vontade política de ser fazer uma educação transformadora e não reprodutora de valores elitistas desconectados da realidade da comunidade. Uma revista com a cara do Nordeste


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