Prevenção
Câncer de mama também pode atingir homens Andrea Vaz/Jornalismo Uniso “Quando raspei a cabeça, após iniciar o tratamento, um amigo me encontrou e perguntou por que eu estava careca. Bem humorado, respondi que tinha passado na Medicina. Cheio de euforia, meu amigo começou a dar-me os parabéns, dizendo que eu era um grande exemplo para seus filhos. Mas antes que ele pudesse concluir, expliquei: Passei pela Medicina e ela me disse que estou com câncer; comecei a fazer quimioterapia”, conta Julio Rolim, 64, que foi diagnosticado com câncer de mama. Câncer de mama masculina? Poucas pessoas sabem de sua existência. É o caso de Juan Miguel, 22, cursando Direito, que mostrou espanto ao ouvir que homens podem ter essa doença e ficou preocupado. O estudante de Filosofia Fábio Rosa, 19, também não sabia que o câncer de mama pode se manifestar em homens. Ele afirma ter cuidados com a saúde de forma geral, mas acha incoerente dizer que se preocupa com o câncer, já que é fumante. Porém acredita que mais pra frente tomará mais medidas preventivas. A desinformação sobre esse tema pode custar muito caro. O tratamento em homens é o mesmo feito em mulheres, mas os resultados não. Embora o carcicoma, como é cientificamente chamado, tenha um percentual de 80 a 90% de cura (muito superior a outros tipos de câncer, como o de intestino e fígado, em que esse índice não passa de 15%), muitos homens morrem por não terem informações a respeito. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca) atualmente não existem programas de prevenção e rastreamento de câncer de mama em
Julio Rolim afirma que a fé foi fundamental em seu tratamento
O psicólogo e professor Pedro Zille Dutra destaca a importância do acompanhamento da família
Saiba mais: O artigo Câncer de mama em homens: aspectos epidemiológicos, clínicos e terapêuticos, de Luis Henrique da Silva Leme e Gustavo Antonio de Sousa, no site da Pontifícia Universidade Católica, traz informações importantes: · Ainda não se sabe muito sobre a doença, mas a literatura médica observa que ela vem aumentando nos últimos anos. · Fatores como hereditariedade, tabagismo, alcoolismo, obesidade e tumores nos testículos são influentes no desenvolvimento do carcicoma. · A maioria dos casos ocorre em homens com mais de 60 anos e, geralmente, o diagnóstico é tardio, o que atrasa a cura e dificulta o tratamento. · Não existe um estudo exato sobre a taxa de reincidência do carcicoma, porém sabe-se que ter tumor em uma das mamas, aumenta significativamente as chances de ter na outra. · No Brasil, apesar de não haver uma contabilidade exata sobre os casos, observa-se uma maior frequência em estados do Sul. · No mundo, a predominância de casos é na Ásia. · Nos EUA, o número anual de novos casos de câncer de mama masculina na década de 70 era em média de setenta novos casos; atualmente esse número chega a 1500.
JORNAL IPANEMA - 11 de dezembro de 2010
O mastologista Heleno de Sousa explica que o principal motivo da pouca incidência de câncer de mama masculina é a baixa quantia de tecido mamário homens, pois a incidência é rara, uma em homens para cada cem em mulheres. O homem deve buscar atenção médica caso perceba alguma alteração na mama”. O que levou Rolim ao médico foi o aparecimento de uma berruga no mamilo. Embora desconfiasse que pudesse ser um câncer devido ao histórico familiar, ainda demorou dois anos para procurar ajuda. Esse atraso na confirmação do diagnóstico e início do tratamento fez com que o tumor alcançasse o sistema circulatório e formasse dezesseis linfomas na região das axilas. Diagnóstico e tratamento O mastologista Heleno de Sousa diz que o principal motivo da pouca incidência de câncer de mama masculina é a baixa quantia de tecido mamário. “O câncer de mama, tanto em mulheres como em homens, é uma doença silenciosa, por isso, é indispensável o autoexame das mamas e a visita ao médico ao sinal
de qualquer alteração, como berrugas, massa palpável e sangramento. Detectadas essas alterações, o primeiro procedimento é o exame da apalpação, depois, exames de ultrassonografia, mamografia e, em alguns casos, ressonância magnética. Posteriormente, é feito uma biopsia, em que se realiza um exame anâtomo patológico, que é o estudo das células do tumor, para verificar se são malignas ou não. Após a confirmação do caso, fica a critério médico a escolha do tratamento mais adequado”, explica o médico. Geralmente, em casos mais avançados, antes da cirurgia são necessárias algumas seções de quimioterapia. A cirurgia remove a mama total ou parcialmente, dependendo também da gravidade. Sousa lembra ainda que atualmente a quimioterapia já contém medicamentos para os incômodos mais comuns do tratamento, as náuseas e os enjôos, permitindo que o paciente continue com sua rotina, que ele acredita ser indispensável na recuperação. Foi o que aconteceu com Rolim, que passou por quatro seções de quimioterapia antes da cirurgia para a remoção do tumor. Fé e família Ele conta também que encarou o diagnóstico com naturalidade e levou tudo com muita fé em Deus e na brincadeira. “A confirmação de uma doença tão grave como o câncer pode provocar todo o tipo de reação, desde uma grande força para a cura, até a depressão. Nesse caso, a psicologia entra como ferramenta na autoaceitação do indivíduo e no trabalho de sua autoestima”, afirma o psicológo Pedro Zille. Zille ressalta a importância da família do portador de câncer ter acompanhamento, para que entenda que o doente possui limitações, mas não é um coitadinho. Como o câncer de mama masculino ainda é visto com reservas, a terapia em grupo é muito usada, para que a troca de experiência ajude na autoaceitação e na quebra do preconceito. O psicólogo reforça a importância de o paciente continuar com suas atividades normalmente, na medida do possível. Rolim, que não teve problemas em continuar cuidando de sua livraria no Centro de Itapetininga, apesar do tratamento, fazia o tratamento pela manhã e à tarde estava arrastando estante de livros. Ele acha importante a divulgação não só do câncer de mama, mas principalmente do câncer de próstata. Sempre bem humorado, brinca: “o homem deve parar de querer morrer virgem e fazer o exame do toque”. Sousa também acredita na necessidade de esclarecimento para os homens e não se esquecer também das mulheres, já que a incidência é maior. www.jornalipanema.com.br
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