Número 5 - Ano I

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titucional. Em 1999, o Ministério da Defesa foi criado com a missão de reorganizar a Defesa Nacional. Oito anos se passaram até que o novo ministério se consolidasse. Depois de reiterados diálogos entre o governo e o Congresso, foi aprovada em dezembro de 2008 a Estratégia Nacional de Defesa, enfim um documento de Estado para servir de referência na reestruturação das Forças Armadas e da indústria setorial. A nova missão seria hercúlea. Por essa época, devido ao longo isolamento do setor da agenda nacional, o Brasil perdera capacitação técnica e industrial e continuava dependente do mercado externo. A maioria das empresas quebrou e recursos humanos de alta qualificação migraram para outras atividades produtivas. Começar de novo A conta da omissão política é claramente abissal. Afinal, duas décadas é tempo suficiente para projetar, desenvolver e operar, por exemplo, um caça de primeira linha – de que o país necessita na defesa da soberania aérea. Ou um submarino para proteger suas riquezas marítimas. Ou, ainda, sistemas inteligentes para monitorar as fronteiras. Mas, como o país nada fez nesse sentido durante longo período, a conta cai agora no colo da presidente Dilma Rousseff. Não há como tergiversar. O país está aos frangalhos em termos de infraestrutura. Seguidos governos esqueceram o compromisso que assumiram com o futuro do país, por questões de cunho político-ideológico. Houve presidente da República que

além de não fazer nada pelo escudo protetor do Brasil ainda quis acabar com o pouco que restara nesse campo e não respondia sequer ao cumprimento militar. A responsabilidade pela defesa do país voltou a ser uma atividade de mentirinha. Por sorte, o país não sofreu nesse período nenhuma agressão externa, embora ameaças existissem. Esse tempo de revanchismo político passou. Agora é pegar nos tijolos e erguer a obra de infraestrutura. A presidente Dilma, que entrou para a história como a primeira mulher brasileira a comandar esta grande nação, tem tudo para se revelar também como estadista. Os megaeventos que se aproximam exigirão as reformas necessárias. A oportunidade é excelente e a equação das demandas será um triunfo para o governo -- como jamais visto no país. O volume de obras e gastos é enorme. A estabilidade econômica, a consolidação democrática e a maturidade política são os grandes aliados. No campo da defesa nacional, o esforço não é menor. O aparelhamento das Forças Armadas não é para amanhã, ainda leva de dois a três anos para ser disparado com a ajuda da indústria nacional. Até lá, iniciativa privada e governo terão de trabalhar em conjunto e arcar com pesados investimentos, sobretudo em capacitação industrial. A realidade é que, em maioria, as empresas não têm capacitação individual, não estão certificadas plenamente e enfrentam dificuldades para contratar mão de obra técnica. Sem isso, não há como engajá-las nesse novo processo. O governo precisa re-

ver com urgência suas práticas administrativas, sobretudo na parte de legislação tributária para facilitar a consumação dos programas estratégicos. Afinal, ele próprio é o único cliente da indústria de defesa. O governo pretende investir nas duas próximas décadas cerca de US$ 270 bilhões no reaparelhamento das Forças Armadas. Esses recursos correspondem a cerca de um terço do total a ser gasto pelos EUA em 2011 na manutenção de sua maquina militar (US$ 549 bilhões) e manter presença no exterior, principalmente no Iraque e no Afeganistão (US$159 bilhões). Os industriais da defesa sabem que, como Mauá, precisam romper paradigmas, em maior ou menor grau, e adotar novas práticas de mercado que raramente adotaram, em favor do conjunto industrial. O ministro Nelson Jobim deu uma dica nesse sentido: criar conglomerados, a exemplo do que ocorre nos EUA e na Europa, sugestão dada em outubro passado, na abertura do seminário “Reaparelhamento das Forças Armadas”, promovido pela Fiesp, na capital paulista. A Associação Brasileira das Indústrias de Materiais de Defesa e Segurança (Abimde) e a Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil (Aiab), com o apoio das federações das indústrias do Sul e do Sudeste, devem atuar sintonizadas; ainda há dissimulada queda de braço no setor. O governo sabe disso e trabalha no sentido de harmonizar o conjunto para que todos participem dos programas eleitos segundo suas potencialidades individuais. DEFESA LATINA

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