Reestruturação do Ensino Médio

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reestruturação do ensino médio

que “a práxis em sua essência e em seus efeitos espontâneos é o fator decisivo da autoeducação humana”. Para Lukács, o trabalho é o modelo de toda práxis social, isto é, o trabalho é a primeira resposta teórico-prática do homem em busca de produzir sua existência e garantir a reprodução desta. Mas essa primeira resposta gera novas demandas de outra natureza, diferentes daquelas estritamente vinculadas ao complexo da produção material da existência, demandas essas que exigem respostas também distintas da resposta laborativa. Essas novas respostas, que são também outras formas de atividade humana, que envolvem posições teleológicas distintas das posições teleológicas do trabalho, mas que o têm como modelo e condição ontológica são práxis. O trabalho abre um processo social que se denomina como o progressivo “afastamento das barreiras naturais” (Lukács, 2010); ele dispara o movimento que se sustenta, em última instância, no trabalho, mas que se complexifica e cria outras esferas da vida social mais distanciadas da esfera produtiva, indiretamente vinculadas a ela, ontologicamente dependentes dela, mas que são efetiva e diretamente postas em movimento pela práxis, e não pelo trabalho. A formação humana, consequentemente, tem no trabalho sua condição ontológica fundamental, mas não pode ser resumida a ele. A formação humana é um processo constante e contínuo de transformação do ser social que se deve a todo o intercâmbio humano não só com a natureza, mas com os outros homens. A formação humana deve-se ao processo de transformação provocado pela transformação da natureza para produzir materialmente a existência, mas deve-se também ao intercâmbio geral entre os homens, no qual uns atuam com e/ou sobre os outros em busca de determinar seus modos de pensar e agir. Fundamentalmente a diferença entre trabalho e práxis é que o primeiro é condição para todas as possíveis formas de atividade humana; envolve um intercâmbio entre homem e natureza; tem como objeto causalidades espontâneas. Já a práxis envolve o intercâmbio dos homens entre si; tem como objeto causalidades postas e tem no trabalho sua condição e modelo. Trabalho e práxis são diferentes, mas juntos são as categorias fundamentais para a compreensão das bases ontológicas da formação humana. 108


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