Revista Plumas e Paetês 2013 - Homenagem a Chiquinha Gonzaga

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Editorial PRA TUDO NÃO SE ACABAR NA QUARTA-FEIRA.

F

oi num cenário pós-carnaval como esse. Pensando no árduo e incessante trabalho dos anônimos - os que, acima tudo, se dedicam a fazer parte do grande enredo carnavalesco por um ideal muitas vezes inexplicável - que tivemos a absoluta certeza da falta que fazia um evento para reunir e festejar aqueles que proporcionam tanta diversão, alegria e emoções para milhares de pessoas. Junto com o Prêmio Plumas e Paetês Cultural, veio a intenção de homenagear grandes personalidades da cultura brasileira, como tema do evento anual e inspiração para a criação dos troféus dedicados aos profissionais que mais se destacassem em suas funções no carnaval carioca. Assim, foram afinidades como a ousadia, a coragem e a determinação, que fizeram de Chiquinha Gonzaga a homenageada da 9ª edição do nosso prêmio. A compositora e maestrina exigia respeito à sua condição de mulher independente, abrindo alas para as fantásticas conquistas femininas do último século do milênio passado e nas décadas que se sucederam. Chiquinha usava a música, a manifestação artística brasileira que mais acentuadamente revela e descortina a riqueza de nossa diversidade cultural, para representar e apresentar seus ideais a uma sociedade que começava a se transformar de maneira irreversível. Ao desafiar os costumes de sua época e ousar agregar ritmos instigantes, como os africanos, às suas composições musicais, ela se posicionava de forma transgressora e revolucionária (e essa não é uma das características que deveriam continuar a nortear do nosso carnaval?), transpondo para o universo cultural da então capital da nova república brasileira uma inquietação que persistirá e instigará a trajetória feminina daquela época até os dias atuais. Se Chiquinha é a primeira, muitas outras grandes mulheres: Marias, Eneidas, Zicas, Vilmas e Rosas, se destacam por suas atuações nos caminhos que nos conduzem até o sucesso, reconhecido mundialmente, da maior festa popular do planeta: o carnaval carioca. Depois dela, vieram tantas outras, conhecidas ou não, seguindo o refrão: “Ô abre alas, que eu quero passar, eu sou da lira, não posso negar...” Elas deixam suas marcas e constroem o legado que hoje nos serve de inspiração e tema para agraciar e reconhecer o talento de homens e mulheres, artesãos geradores da energia necessária para re-criar, a cada ano, um inestimável leque de ideias e ações que permitem a evolução e a diversificação do fazer carnavalesco, mola propulsora do incrível espetáculo que encanta o mundo a cada verão carioca.

José Antônio


Sumário

HOMENAGEM

12

Felipe Ferreira | Luiz Carlos Magalhães | Luiz Carlos Araújo | Luis Fernando Vieira | Maria Vitória Souza Guimarães Leal | Camila Soares | Graça Porto.

GESTÃO DE CARNAVAL

22

Fábio Fabato | Nilcemar Nogueira | Gustavo Melo | Amebrás | Tiago Ribeiro | Valéria del Cueto | Carlos Fernando Andrade | Luiz Carlos Prestes Filho.

38

OPINIÃO Lei Maria da Penha por Jandira Feghali

CATEGORIAS PREMIADAS

40

Grupo Especial | Grupo Série A | Escolas Mirins | Grupo AESCRJ | Bloco Carnavalesco e Premiações Especiais

GALERIA 2012 Melhores momentos da 8ª Edição do Prêmio Plumas & Paetês

VEM DE LÁ...

46 48

Paratíssima 2013 “Mostra Carnevale di Rio” | Brasileiras: Mulheres Mil | Carnaval em São Luis

BASTIDORES 2013 GUIA CULTURAL MAR - Museu de Arte do Rio abre suas portas

DISPERSÃO Crônica de Valéria del Cueto

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Expediente Revista Plumas & Paetês 4ª Edição - abril 2013 Tiragem da 4ª Edição : 20.000 exemplares Circulação Gratuita - Venda proibida www.plumasepaetescultural.com.br

DIRETOR EDITORIAL: José Antônio R. Filho COORDENADOR DE PATRIMÔNIO: Gustavo Luiz COORDENADORA ADMINISTRATIVA: Elisa Santos COORDENADOR OPERACIONAL: Izaquis de Paulo PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO: Levi Cintra JORNALISTA: Tiago Ribeiro - Reg. 4412/RJ FOTOGRAFIAS: Acervo Riotur, Henrique Matos, Marcelo O’ Reilly, Bárbara Alejandra, Lucia Mello, Valéria del Cueto, Gustavo Luiz, Emilson Mendes, Ana Keslen, Vania Laranjeira, Jorge Campana, Ricardo Almeida e Welington Jorge TEXTOS - Jorge Castanheira, Antônio Pedro Figueira de Mello, Luiz Carlos Prestes Filho, Graça Porto, Camila Soares, Jandira Feghali, Luiz Carlos Araújo, Luis Carlos Magalhães, Carlos Fernando Andrade, Fábio Fabato, Gustavo Melo, Marcia Moreschi, Tiago Ribeiro, Luiz Fernando Vieira, Maria Vitoria S. G. Leal, Felipe Ferreira, Nilcemar Nogueira e Valéria del Cueto REVISÃO DE TEXTOS: Lília Gutman, Gustavo Luiz e equipe editorial IMPRESSÃO: GRAFICA MEC, Rua Visconde de Santa Isabel, nº 420 - Vila Isabel - Rio de Janeiro - CNPJ Nº 42.459.891/0001-99

CAPA

Teatro Municipal do Rio de Janeiro, teste de luzes da faixada - foto de Vânia Laranjeira

CIRCULAÇÃO - A Distribuição da Revista será nas Instituições de Ensino, Centros Culturais, Secretarias de Cultura, bibliotecas, seminários, Cidade do Samba, oficinas de artes, escolas de samba, no Sambôdromo e nos eventos ligados a economia criativa.

AGRADECIMENTOS: Luiz Gustavo Mostof, Américo da Costa Borges, Marcelo Veríssimo, Jorge Castanheira, Ivana de Siqueira, Claudia Castro, Celia Domingues, Miro Ribeiro, Thatiana Pagung, Célia Andrade, Regina Lúcia Sá, Glória Salomão, Lydia Rey e todos os que contribuíram para a realização da 9ª edição do Prêmio Plumas & Paetês Cultural.

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Mensagem Antônio Pedro Figueira de Mello, Secretário de Turismo da Cidade do Rio de Janeiro

Conhecido mundialmente por sua hospitalidade e simpatia, o carioca espera o ano inteiro pela hora de vestir a fantasia, aprender os sambas enredo e curtir as festas que os blocos organizam nas ruas. Quando chega aqui, o turista percebe que, além dos mais belos cartões postais de visitas do mundo, o Rio tem muito, muito mais do que belas paisagens para oferecer. Especialmente quando ele chega em pleno carnaval.

Este ano, pra ficar melhor, a festa na Sapucaí começou mais cedo: os grupos de acesso A e B se uniram e ganharam força, visibilidade e expressão, e abriram a maratona de desfiles já na noite de sexta-feira, estendendo o calendário na Marquês de Sapucaí. Além disso, deixaram a terça-feira gorda para as crianças brincarem de construir o carnaval do futuro.

Quem teve disposição também encontrou uma festa animada pelos quatro cantos da cidade durante o dia. É o nosso carnaval de rua, que já há alguns anos está de volta com força total – e com apoio irrestrito da Prefeitura para que a folia aconteça de forma organizada e boa tanto para quem brinca nos blocos como para quem mora ou trabalha no entorno onde os desfiles acontecem.

Nesta época em que o Rio de Janeiro recebeu mais de 1 milhão e 200 mil turistas, tendo um impacto na economia da cidade de mais de US$ 840 milhões, foi com muita satisfação que a cidade ofereceu o maior palco de sua festa – o Sambódromo - remodelado, ainda mais confortável para receber os 72.500 foliões, entre cariocas da gema, de coração e estrangeiros que assistiram à maior ópera popular do planeta. Aproveitem bem o ano, que a Cidade os espera para mais um espetáculo grandioso em 2014!

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Mensagem Jorge Castanheira, Presidente da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro

Um novo desafio, um novo Carnaval. Assim foram os desfiles de 2013, no Sambódromo. O novo modelo de apresentação dos desfiles das Escolas de Samba, aumentando para cinco dias as atividades na Passarela do Samba, deu certo. E mostrou que a tendência, agora, é evoluir e aumentar mais e mais a capacidade das agremiações no sentido de realizarem grandes espetáculos. A união dos antigos grupos de acesso A e B, na Série A, com 19 Escolas de Samba desfilando na sexta-feira e no sábado de Carnaval, só seria possível, como foi, com o apoio das entidades organizadoras, da Riotur e de todos os órgãos públicos, além da contribuição da TV Globo que transmitiu os desfiles para o Rio de Janeiro, obtendo um ganho de audiência que mostrou o acerto da decisão. É claro que alguns problemas aconteceram. Mas o resultado final foi excelente. E ratificado na Quarta-Feira de Cinzas com a vitória do Império da Tijuca, agremiação que participará do Grupo Especial no Carnaval de 2014. No Grupo Especial também pudemos verificar o alto nível da competição entre as 12 Escolas que o compõem. Avaliações criteriosas e muita expectativa marcaram o dia da apuração das notas dos julgadores. Consagrou-se campeã a Unidos de Vila Isabel, Escola que encerrou as apresentações já na manhã da terça-feira. Aliás, na Terça-Feira também fomos brindados com a apresentação das Escolas de Samba Mirins. As escolas que trazem os sambistas de amanhã fizeram bonito. Desfilando para um Sambódromo lotado de admiradores, parentes e amigos, nossos pequenos sambistas se exibiram com muita garra e dedicação, mostrando que estão aptos a ocupar, no futuro, segmentos importantes nas agremiações dos diversos grupos do nosso Carnaval. Por tudo isso, gostaríamos de, neste momento, expressar nossos sinceros agradecimentos a todos os que, com seu trabalho e dedicação, contribuíram para o êxito do Carnaval 2013.

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A

região do Porto da cidade do Rio de Janeiro nunca passou por tamanha transformação. No momento em que se redesenha a geografia dessa área da Saúde, Santo Cristo e Gamboa, o Rio de Janeiro só tem a ganhar. Terá galpões culturais, museus (como o MAR, já em funcionamento), uma Escola do Olhar – projeto pioneiro de educação para as Artes, da Secretaria Municipal de Educação, pontos históricos como o Cais do Valongo, restaurantes e bares que, aos poucos, consolidam um pólo de referência para turistas e cariocas. E outros projetos arrojados de arquitetura e design também estão em construção, hotéis, o Museu do Amanhã, prédios inteligentes voltados para Business...Não faltarão oportunidades para empreendedores e produtores culturais na criação de uma expressiva agenda cultural para todos esses equipamentos, aumentando, e muito, o potencial da área. Nesse contexto, a Cidade do Samba está instalada em área privilegiada, sendo uma das “âncoras” do Porto Maravilha, com 114.000m2. Conta com instalações administrativas, barracões de cada uma das escolas de samba do Grupo Especial e uma praça central de eventos. Artistas consagrados e grupos em ascensão consideram este palco como um espaço de divulgação e de tradição, que mantém vivo o nosso genuíno patrimônio: o samba! O Plumas & Paetês Cultural sente-se honrado em realizar, na Cidade do Samba, mais uma edição de seu Prêmio, dedicado aos empreendedores e artistas do carnaval, homenageando, neste ano de 2013, Chiquinha Gonzaga.

CIDADE DO SAMBA: Destaque no Porto Maravilha



// HOMENAGEM

Chiquinha Gonzaga Mulher de fibra e coragem

Texto de Graça Porto* Sua história começa bem antes do seu nascimento, quando sua mãe Rosa

pais tiveram mais três filhos: José Basileu Filho (conhecido médico e

Maria de Lima, mulher pobre e mestiça, casou-se grávida com o general

escritor Gonzaga Filho), José Carlos e Feliciano.

do Exército Imperial Brasileiro, José Basileu Neves Gonzaga que, contrariando as decisões de sua família, acolheu a menina como filha. Seu nome Francisca Edwiges Neves Gonzaga foi escolhido em homenagem a São Francisco e Santa Edwiges, mais tarde e para sempre conhecida como Chiquinha Gonzaga. Nasceu no dia 17 de outubro de 1847, na Rua Nova do Príncipe, atual Senador Pompeu, freguesia de Santana, no Rio de Janeiro, e faleceu no dia 28 de fevereiro de 1935, às 18 horas de uma quinta-feira, antevéspera de carnaval em seu apartamento no Edifício Segreto, na Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro.

Aos 16 anos, por imposição da família do pai, no dia 5 de novembro de 1863, casou-se com Jacinto Ribeiro do Amaral, oito anos mais velho, oficial da Marinha Imperial Brasileira. No dia 12 de julho de 1864, nasce seu primeiro filho, João Gualberto. Um ano depois, no dia 12 de novembro de 1865, nasce Maria do Patrocínio e em 1867 seu terceiro filho, Hilário. Jacinto não aceitava que ela se envolvesse com a música, além das humilhações que sofria. Em 1868, Chiquinha, resolve separar do marido, o que foi um escândalo na época. Poucas mulheres ousavam desafiar seus pais e maridos. Seu pai a deserda,

Chiquinha Gonzaga foi educada numa família de pretensões aristocrá-

considerando-a morta. José Basileu obriga Chiquinha a abandonar a

ticas (seu padrinho era Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias).

filha e o filho mais novo. Sai de casa levando o filho João Gualberto.

Ela conviveu bastante com a rígida família do seu pai. Fez seus estu-

Passa a viver modestamente, sem ajuda da família, no bairro de São

dos normais com o Cônego Trindade, um dos melhores professores da

Cristóvão, na Rua da Aurora, hoje General Bruce. Consegue sobrevi-

época, e musicais com o Maestro Lobo, um fenômeno da música. Seus

ver lecionando piano e tocando em bailes.


// HOMENAGEM Reencontra um amigo da juventude, o engenheiro João Batista de Carvalho Junior, o casal vai morar em Minas Gerais. Lá ela engravida e nasce no dia 24 de agosto de 1876 a menina Alice Maria. Viveu muitos anos com ele, mas Chiquinha não aceitava suas traições. Separa-se e mais uma vez perde uma filha, João Batista fica com a guarda da menina. Chiquinha volta para o Rio

Chiquinha compôs as músicas de 77 peças teatrais, tornando-se responsável por cerca de 2.000 composições nos mais variados gêneros: polca, tango brasileiro, valsa, choros, habanera, schottisch, mazurca, modinha, lundus, maxixes, fados, quadrilhas e serenatas.

de Janeiro, com seu filho João Gualberto. Em 1890 nasce Valquíria

Primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil. Maior per-

sua primeira neta, filha de João Gualberto.

sonalidade feminina da história da música popular brasileira e

A convite do famoso flautista Joaquim Antônio da Silva Callado, passou a integrar o Choro Carioca como pianista, tocar em festas e frequentar o ambiente artístico da época.

uma das expressões maiores da luta pelas liberdades no país, promotora da nacionalização musical, primeira pianista de choro, introdutora da música popular nos salões. Fundadora da primeira sociedade protetora dos direitos autorais, depois de encontrar

Em 1899, aos 52 anos, após muitas décadas sozinha, mas vivendo

em Berlim, várias partituras suas, reproduzidas sem autorização,

feliz com a música, conheceu o músico português João Batista

em 1916, o Congresso Nacional aprova uma lei sobre propriedade

Fernandes Lage, um jovem de 16 anos, cheio de vida e talentoso

artística e literária. Em setembro de 1917, após anos de campanha,

músico, por quem se apaixonou. João é sócio do clube Euterpe-

liderou a fundação da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais-

-Estudantina, formado por rapazes interessados em música, que

-SBAT, sociedade pioneira na arrecadação e proteção dos direitos

organiza concertos e cursos. Chiquinha torna-se sócia honorária,

autorais. É fundadora, sócia e patrona, ocupando a cadeira nº

e isso os aproxima. Ele também se apaixonou perdidamente por

1. Foi uma ativa participante do movimento pela abolição da

ela. A diferença de idade era muito grande e causaria mais pre-

escravatura, vendendo suas partituras de porta em porta, anga-

conceito e sofrimento na vida de Chiquinha. Para não enfrentar o

riando fundos para a Confederação Libertadora. Com o dinheiro

moralismo da época, Chiquinha registrou João Batista como seu

arrecadado na venda de suas músicas, comprou a alforria de José

filho. Mudaram-se para Lisboa, em Portugal, e foram viver felizes

Flauta, um escravo músico. Participou ativamente do movimento

morando juntos por alguns anos longe do falatório da gente do

pela libertação dos escravos e depois pela Proclamação da Repú-

Rio de Janeiro.

blica. Foi uma das pioneiras no feminismo no Brasil, numa época em que mulher não tinha profissão, ela abriu caminhos e ajudou

Chiquinha vive os últimos anos recolhida em seu apartamento na

a definir os rumos da música brasileira. Foi renegada pela família,

Praça Tiradentes. Único lugar que gostava de ir era na sede da

mas viveu intensamente a vida.

SBAT, que frequentava assiduamente. Chiquinha nunca assumiu de fato seu romance, que só foi descoberto após a sua morte

Chiquinha Gonzaga já foi retratada como personagem no cinema

através de cartas e fotos do casal. Ela morreu ao lado de João

e na televisão. na minissérie Chiquinha Gonzaga (1999), na TV

Batista Lage, seu grande amigo, parceiro e fiel companheiro, seu

Globo, No cinema, no filme "Brasília 18%" (2006), e O Xangô

grande amor.

de Baker Sreet. A compositora também foi homenageada no

Sofreu com os preconceitos da sociedade daquela época. Mas nunca parou de lutar.... Chiquinha Gonzaga, compositora, pianista, regente brasileira. Inicia, aos 11 anos, sua carreira de compositora com uma música natalina, “Canção dos Pastores”. Seu primeiro sucesso, com 29 anos, foi a composição "Atraente", um animado choro. Chiquinha estreou no teatro compondo a trilha da opereta de costumes "A

carnaval carioca, no ano de 1985, com o enredo Abram alas que eu quero passar pela escola de samba Mangueira, e em 1997, com enredo Eu Sou Da Lira, Não Posso Negar... pela Imperatriz Leopoldinense. Documentário em vídeo: A Maestrina Chiquinha Gonzaga Série 500 anos de História do Brasil - Guilherme Fontes Filmes - GNT, 1999. Em maio de 2012 foi sancionada a Lei 12.624 que instituiu o Dia Nacional da Música Popular Brasileira, a ser comemorado no dia de seu aniversário.

Corte na Roça", de 1885. Foi autora da primeira marchinha de carnaval "Ó abre alas" em 1899. A peça de teatro "Forrobodó", musicada por Chiquinha, em 1912, e apresentada em um bairro

*Graça Porto é pedagoga, produtora cultural, escritora e pesquisadora.

pobre do Rio de Janeiro, torna-se um sucesso, atingindo 1500 apresentações. Em 1914, seu tango Corta-Jaca foi executado pela primeira-dama do país, Nair de Teffé, em recepção oficial no Palácio do Catete, causando escândalo político. Em 1933, Chiquinha Gonzaga escreveu a última partitura da opereta "Maria".

Fontes: DINIZ, Edinha. Chiquinha Gonzaga: uma história de vida. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2005. MUGNAINI Jr., Ayrton. A jovem Chiquinha Gonzaga. São Paulo: Nova Alexandria, 2005. DINIZ, Edinha. Mestres da música no Brasil - Chiquinha Gonzaga. São Paulo: Moderna, 2001. LAZARONI DE MORAES, Dalva - "Chiquinha Gonzaga - Sofri, chorei. Tive muito amor". Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1995.


// HOMENAGEM

Na Seresta e no Carnaval: Chiquinha Gonzaga Texto de Maria Vitória S. G. Leal*

FOI EMOCIONANTE RECEBER a notícia de que a Compo-

Será uma honra poder apresentar esta nossa Chiquinha para os

sitora Chiquinha Gonzaga seria a homenageada, em 2013,

profissionais do carnaval. Apesar de estarmos um pouco teme-

pelo Projeto Cultural Plumas & Paetês. Esta decisão traz

rosos, por conta da expertise que o carnaval tem para criar todo

para o universo dos profissionais do Carnaval Carioca a

tipo de esculturas e bonecos.

imagem de uma mulher que construiu o Brasil de hoje. Neste momento de aproximação entre a seresta e o carnaval, O projeto Integrar, da Unigranrio, que desde 2002 realiza

devemos aproveitar a oportunidade para fortalecer os dois mo-

o Festival de Seresta Chiquinha Gonzaga, jamais teria ca-

vimentos. Por um lado, nós podemos contribuir com o canto e

pacidade de chegar ao público que esta premiação atinge:

um repertório específico. Os profissionais de carnaval, por sua

aderecistas, artesãos, figurinistas, desenhistas, escultores,

vez, podem nos ajudar a fazer - do ambiente de onde se realiza

costureiras, carpinteiros, pintores, maquiadores, eletricis-

o festival - um espaço encantado como é o dos desfiles a que

tas, entre outros. Nossa estrutura é modesta, nossos instru-

assistimos neste ano, na Marquês da Sapucaí.

mentos musicais e a voz feminina de nossas concorrentes não têm a potência sequer de uma bateria de uma escola

Importante lembrar que o Festival Chiquinha Gonzaga surgiu

de samba. Realizamos um trabalho silencioso de devoção à

do Festival Sílvio Caldas, onde competiam juntos homens e mu-

canção de amor no pequeno distrito turístico de Barra do

lheres. Insistimos neste formato até o 4° festival, mas a partici-

Piraí, Ipiabas, no interior do Estado do Rio de Janeiro.

pação feminina sempre era pequena. Assim, nos motivamos a promover uma cisão: separar homens e mulheres.

Interessante presenciar este momento, quando uma mulher que sofreu todo o tipo de preconceitos, por conta de sua

No dia 30 de março de 2002, realizamos o 1° Festival de Seresta

coragem de romper com padrões sociais e estéticos esta-

Chiquinha Gonzaga. O número de candidatas cresceu e a plateia

belecidos, obter reconhecimento até mesmo junto à classe

também. Até 2008, o festival acontecia no Palácio de Cristal,

trabalhadora. Suas obras musicais são hoje reconhecidas

que, com o sucesso, ficou pequeno para o público. No início de

pelos grandes historiadores e críticos musicais. Mas como

2009, o festival foi transferido de Petrópolis para Ipiabas, ga-

deve ter sido difícil para ela realizar esta conexão – carna-

rantindo as condições tecnicamente necessárias a todas as par-

val/seresta - no final do século XIX e início do XX!

ticipantes.

Foi o especialista em Economia da Cultura, Luiz Carlos

A mulher, com sua voz e dignidade, fez surgir este nosso evento.

Prestes Filho, quem deu a ideia de criar a boneca Chiquinha

Por isso, será uma honra presentear as mulheres vencedoras do

Gonzaga. Na Casa das Bonecas de Panos de Ipiabas, conse-

Projeto Cultural Plumas & Paetês com uma de nossas Chiqui-

guimos uma apoiadora, a artista Leila Reis, que desenvol-

nhas. Mulheres criativas, trabalhadoras e belas vão receber a

veu e realizou a mesma. Em tecido estampado e com muitas

imagem de uma brasileira que atravessou a vida sem abrir mão

rendas, segurando uma pequena bolsa, esta boneca é hoje

de ser criativa, trabalhadora e bela.

o mascote do nosso evento. Todas as finalistas do nosso festival ganham uma dessas bonecas, após a realização do

Chiquinha Gonzaga vive!

evento, e o público as adquire na própria loja. Portanto, são centenas e centenas de Chiquinhas Gonzaga que já estão encantando prateleiras de livros, cristaleiras e mesas de centro de muitos lares.

* Maria Vitória Souza Guimarães Leal é Coordenadora do Projeto Integra, onde está a Academia da Seresta, entidade responsável pelos Festivais de Serestas Sílvio Caldas e Chiquinha Gonzaga.


// HOMENAGEM

Novas Chiquinhas Gonzaga – Nossas Chiquinhas Gonzaga Texto de Camila Soares*

CADA UMA DAS 17 ESCOLAS DE SAMBA MIRINS do Rio de

Lembro aqui estes detalhes biográficos da homenageada des-

Janeiro tem sua escola mãe - as escolas dos adultos do Grupo

te ano pelo Projeto Cultural Plumas & Paetês, porque vejo nas

Especial e da Séria “A”. Algumas agremiações, inclusive, ainda

mulheres do carnaval mirim a mesma coragem de enfrentar

não têm razão social própria. Apesar de realizarem desfiles com

qualquer desafio - pessoal ou profissional. A dedicação des-

total independência e competência, contam com apoio adminis-

tas nossas mães, avós e tias para com as oficinas de criação

trativo, jurídico e financeiro das grandes escolas.

de fantasias, de carros alegóricos e de samba-enredo é fantástica.

São, principalmente, as mulheres que levam seus filhos, sobrinhos ou netos regularmente para os ensaios e para o próprio

Mas como qualificar estas mulheres?

desfile na terça-feira de Carnaval na Marquês da Sapucaí. Sem o apoio e o incentivo destas mães, avós e tias seria difícil rea-

No caso da Pimpolhos da Grande Rio temos hoje 200 adultos

lizar o nosso desfile com 30 mil crianças e adolescentes. Para

voluntários, divididos nos seguintes departamentos: Carna-

elas o Carnaval é inclusão social, é uma maneira eficiente de

val, Música, Estrutura, Patrimônio e Eventos. Com esses ami-

consolidar os conhecimentos adquiridos por suas crianças nas

gos trabalhamos ao longo de todo o ano. Considerando que

salas de aula. Destaque, salas de aulas de escolas públicas.

todas as escolas mirins têm suporte parecido de voluntários, podemos afirmar que são mais de três mil adultos que ofe-

Existem vários exemplos, como o da família Ribeiro dos San-

recem os serviços de segurança, para que nenhuma criança

tos, que nos últimos dez anos viu seus jovens se transformarem

corra qualquer risco no trajeto entre a casa e a quadra; entre

em profissionais do Carnaval, tanto na área de criação artística

a quadra e a Passarela do Samba; e na volta. Estes profis-

como na de gestão. No caso da família citada, as irmãs Paula e

sionais realizam complexas atividades de logística durante a

Kirce foram de tudo um pouco: passista, destaque em carros

concentração, o desfile e a dispersão; acompanham o trans-

abre-alas, intérprete e rainha de bateria. Hoje a primeira, que

porte – embarque e desembarque - das crianças e dos ado-

teve apoio de bolsa de estudos da Pimpolhos da Grande Rio,

lescentes em centenas de ônibus e vans; realizam serviços de

domina a língua inglesa (trabalha com turismo) e é dançarina.

distribuição de alimentação e de bebidas.

A segunda, também dançarina profissional, se especializou em produção, trabalha diretamente na estruturação dos desfiles, e

Escrevo adultos, mas para ninguém é segredo que entre es-

está fazendo o vestibular em Produção Cultural na a Universi-

tes, 80% são mulheres. Todas, com o mesmo perfil desbrava-

dade Federal Fluminense (UFF).

dor da Chiquinha Gonzaga.

A compositora Chiquinha Gonzaga no início do século XX teve

Seria muito interessante aproveitar esta homenagem do

a coragem de romper com os seus inúmeros casamentos no

Plumas & Paetês e desenvolver um projeto específico para

momento em que o amor acabava, época quando a mulher tinha

a profissionalização das mães, avós e tias do Carnaval. Multi-

que ser servil ao homem. Ela se apaixonou em idade madura por

plicar este mundo de generosidade e potencializar os futuros

um jovem de dezesseis anos e enfrentou abertamente as intri-

carnavais.

gas e os preconceitos, viveu o seu amor. Foi autora de marchas para o carnaval, quando seus pares compositores reproduziam a linguagem musical europeia, se mantendo distantes das tradições populares.

*Camila Soares é Tecnóloga em Cinema pela Universidade Estácio de Sá; MBA em Gestão Empresarial (FGV); pós-graduação em Gestão do Entretenimento (ESPM); e Presidente da ONG Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba Mirim Pimpolhos da Grande Rio


// HOMENAGEM

Carnaval no Feminino Texto de Felipe Ferreira*

O ANO É 1899. JÁ CONSAGRADA NO ALTO DE SEUS

lheres detinham algum poder or-ganizando as refeições festivas

MAIS DE CINQUENTA ANOS, Chiquinha Gonzaga desa-

nos salões e liderando os ataques no chamado entrudo familiar,

fiava mais uma vez os costumes e compunha uma canção

com o advento do carnaval moderno, a partir dos anos 1850,

para o grupo carnavalesco Rosa de Ouro, que, segundo

o homem passa, definitivamente, a comandar a lógica da folia

dizem, costumava passar sob a janela da casa da compo-

carioca. A chegada da moda dos bailes ao gosto de Paris e dos

sitora, ali no Andaraí, nos dias de carnaval. O bairro, ha-

desfiles das sociedades vai impor ao carnaval a predominância

bitado pela burguesia de então, era um reduto da moral

masculina. Quem comanda os bailes, quem organiza os grupos

carioca (servindo, inclusive, meio século depois, como

jocosos, quem cria as decorações dos salões e as alegorias,

palco de muitas das peças do dramaturgo Nelson Rodri-

quem organiza os desfiles das sociedades são basi-camente

gues). Acostumada a romper com os códigos que consi-

homens. O endeusamento da figura feminina, marcado pela ex-

derava ultrapassados, Chiquinha ousava meter a colher

posição das mu-lheres sobre os carros alegóricos ou pela lou-

(ou melhor, a batuta) num espaço dominado pela lógica

vação exacerbada de sua delicadeza ou be-leza nos bailes, são

masculina: a folia carnavalesca. Sua capacidade criati-

exemplos claros do predomínio do olhar masculino. As deusas

va e sua musicalidade acabariam

diá-fanas envoltas em ricas fanta-

presenteando o povo da cidade

sias, nos salões, ou as mundanas

com um dos seus principais hinos

sedutoras expondo, sobre as ale-

que, não por acaso, reafirmava o

gorias, partes de seu corpo ao de-

desejo de criar um novo espaço

sejo dos homens são duas faces de

e chamar a atenção para outros

uma mesma moeda que procurava

tempos que estavam por vir. Os

transformar a mulher num objeto a

versos que abrem a música, co-

ser dominado.

nhecidos de todo brasileiro – “O abre alas que eu quero passar” –,

Chiquinha rompe com este padrão

possuíam forte caráter afirmati-

de forma contundente em sua obra

vo. Mais que um pedido, ou um

e em sua própria vida. Ao compor

desejo, soam hoje como um aviso,

uma canção para uma manifesta-

como uma forma doce e feminina

ção carnavalesca típica das ruas,

de dizer que é bom sair da frente

ela reafirma sua aliança com um

porque atrás vem gente.

mundo no qual a participação feminina não sofre tantos constran-

Esse movimento simbólico de Chiquinha pode ser entendido como um momento de virada do carnaval brasileiro que, desde o expurgo do velho entrudo na primei-

Aos 47 anos de idade, usando o broche contendo os primeiros compassos de sua valsa Valquiria, presenteado por colegas, e a medalha recebida pela oficialidade do navio francês Duquesne em 1894.

gimentos quanto os das festas mais prezadas pela elite. Organizados mui-tas vezes a partir de reuniões familiares, este estes grupos carnavalescos populares (co-nhecidos como

ra me-tade do século XIX, vinha se

ranchos, cordões, blocos ou clubes)

consolidando como um espaço de

contavam com considerável inves-

grande predomínio masculino. Se, no tempo dos limões

-timento de mulheres que, em muitos casos, dividiam a organi-

de cheiro e das batalhas de água nas ruas caracterís-

zação e a participação na brincadeira com seus maridos, pais,

-ticas do período entrudístico no Rio de Janeiro, as mu-

filhos ou vizinhos. Mesmo estando longe de repre-sentar espa-

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“Maria Augusta, Rosa Magalhães e Lícia Lacerda, assumiriam, a partir de finais dos anos 70, a responsabilidade de criar o carnaval de uma escola de samba desde a elaboração do enredo ate o desenho de alegorias e fantasias. O resultado foram desfiles memoráveis que marcaram a história do carnaval na União da Ilha, Império Serrano, Estácio de Sá, Beija-Flor, Salgueiro, Imperatriz Leopoldinense e Tradição.”

do pela contundente participação de Marie Louise Nery na criação de enredo e figurinos para a escola de samba Acadêmicos do Salgueiro, em 1959. A atuação, como figurinista, da artista plástica Beatrice Tanaka no carnaval da Portela em 1966, por sua vez, já anunciava a chegada de um time de notáveis criadoras provenientes da Escola de Belas Artes da UFRJ. Após trabalharem como assistentes em diferentes escolas, Maria Augusta, Rosa Magalhães e Lícia Lacerda, assumiriam, a partir de finais dos anos 70, a responsabilidade de criar o carnaval de uma escola de samba desde a elaboração do enredo ate o desenho de alegorias e fanta-

ços de igualdade entre os sexos, a inclusão de representantes

sias. O resultado foram desfiles memoráveis que marcaram

do sexo femini-no nesses grupos era marcada, entretanto, por

a história do carnaval na União da Ilha, Império Serrano,

uma relativa liberdade.

Estácio de Sá, Beija-Flor, Salgueiro, Imperatriz Leopoldinense e Tradição.

Anos depois, o caminho apontado por Chiquinha seria ocupado por poucas, mas importantes, mulheres que marcariam o

O pós-feminismo iria liberar a mulher da necessidade de

mundo do carnaval e da sociedade brasileira. Representantes

impor-se no espaço masculino e abrir perspectivas de no-

da organização matriarcal africana, as famosas “tias baianas”

vas formas de afirmação ligadas à graça e beleza assumida-

instaladas na região da Praça Onze, no centro do Rio de Janei-

mente femininas. Surgem as rainhas de bateria ao mesmo

ro, teriam um papel preponderante no surgimento e divulgação

tempo em que as porta-bandeiras reafirmam seu papel de

do ritmo samba e dos grupos de samba de morro nos anos 20,

grandes representantes da escola. Esta liberdade teve seu

que dariam origem às escolas de samba na década de 1930. A

preço e poucas mulheres assumiram posição de comando

capacidade de reunir, nas salas e quintais de suas casas, re-

de uma escola de samba, como Terezinha Monte, na Cabu-

presentantes das culturas populares de forte teor negro com

çu, Pildes Pereira, na Vila Isabel ou Regina Duran, no Sal-

a intelectualidade mais avançada da época, impulsionaria a in-

gueiro. Nos barracões as exceções são o breve florescimen-

tegração cultural que simbolizaria o país a partir de então. Íco-

to de Lilian Rabelo e a louvável persistência de Márcia Lage.

ne máximo deste movimento, Tia Ciata iria se destacar como a imagem do diálogo entre “morro” e “asfalto” que forjaria o

A semente plantada por Chiquinha Gonzaga, entretanto,

sucesso das escolas de samba. Estas, reunindo pequenos gru-

mostrou que a persis-tência e a criatividade são capazes de

pos de pessoas nos seus primeiros anos, se tornariam a gran-

romper muitas barreiras. Acreditamos que o car-naval con-

de atração do carnaval brasileiro a partir dos anos 50 ao se

tinuará sendo um espaço de integração capaz de nos trazer

apresentarem como uma espécie de espetáculo síntese do país.

novas surpresas e abrir alas para novas mulheres dignas do

Este momento de virada, contaria com o envolvimento de mu-

espírito e da criatividade de Chiquinha Gonzaga.

lheres na criação artística das escolas de samba. O pioneirismo da figurinista francesa Ded Bourbonais (que, segundo o artista plástico e carnavalesco Fernando Pamplona, teria colaborado com os carnavais da Portela na década de 1950) acabou eclipsa-

*Felipe Ferreira, é professor e coordenador do Centro de Referência do Carnaval, na UERJ


// HOMENAGEM

Chiquinha, a indomável Texto de Luiz Carlos Magalhães*

QUE MARCAS TERÁ DEIXADO EM NOSSA GEN-

século. Como dimensionar tal decisão se localizarmos nossa

TE UMA MULHER TÃO FORMIDÁVEL?

heroína como filha de um oficial do exército imperial brasileiro,

Que marcas poderia muito mais deixar se todas as nossas novas gerações tivessem acesso a filmes, especiais ou novelas que revelassem todo o esplendor de sua tão intensa vida? Homenagens não lhe bastaram em nossos dias, tal como aqui em nossa festa de agora. Sua data natalícia transformada em dia nacional da música, que bela homenagem!

casada com um comandante da marinha imperial brasileira, tão inserida na conservadora sociedade carioca a ponto de ser afilhada do militar mais representativo do exército brasileiro, um certo Duque de Caxias, só isto... Não sei o quanto nem o quê admirar mais em Chiquinha, se sua obra ou sua coragem de ir de encontro a ela. Só com seu talento Chiquinha iria longe, tal como a maestrina que foi. Só como mulher arrojada e corajosa teria ido parar em algum ponto de destaque na história brasileira, mestiça que era, filha de mãe

Uma ruazinha, pena que tão escondida e modesta,

negra, como se destinada a provar que nossa “raça” tudo pode

no bairro do Lins, domínio da gloriosa Unidos do

superar.

Cabuçu, bem ao lado da Rua Sinhô. Uma minissérie inesquecível vivida por Regina Duarte, quem esquecerá?

Pois é aliando ambas as qualidades que Chiquinha torna-se a heroína que abdicou de uma vida burguesa, confortável, previsível, pela esperança e determinação de realizar sua arte; a

Será lembrada certamente por suas milhares de

missão de deixar no coração do povo brasileiro toda a beleza de

músicas compostas, entre elas a primeira específi-

suas canções, tal como tão bem a Mangueira de 1985 fez ecoar

ca para o carnaval, Ô Abre Alas de 1899; quem es-

pela avenida do carnaval:

quecerá, mesmo os que como nós, de outra época, a ouvimos ainda e a ouviremos sempre em cada um dos nossos carnavais? Será lembrada por suas peças compostas para dezenas, quase centena, de operetas que incendiavam

“desprezou a burguesia e o requinte dos salões abraça a boemia e deixa na boca do povo mais de mil canções.”

o Rio de Janeiro pulsante de seu tempo. Por ser abolicionista corajosa, dedicada republicana, certamente alguém lembrará; mas eu, do alto de minha

Pois foi assim que Chiquinha foi à luta, em uma época sem rá-

admiração incontida tenho e dedico a ela um outro

dio, sem discos, sem TV, sem cinema; passa a viver e sustentar

olhar, envolto em curiosidade especial.

seu filho vendendo partituras de suas músicas nas casas que comercializavam pianos no Rio de Janeiro.

Fico pensando como deve ser difícil em nossos dias uma moça, reconhecendo a cada dia seus incontro-

Isto aos 20 anos, já vivendo entre lundus e umbigadas e já par-

láveis dotes musicais separar-se de seu pai, de seu

tindo para seu segundo e igualmente fracassado casamento.

marido para dedicar-se à sua vocação, ir de encontro a seu destino.

Marca sua vida familiar, mesmo grande boêmia, com firme e constante presença junto a seus filhos; marca seu nome no te-

Fico pensando na potencialização de tamanha di-

atro musicado brasileiro ao musicar a opereta Forrobodó as-

ficuldade, de tamanhos obstáculos, se tal atitude

sinalando uma permanência inatingível de 1500 apresentações

datasse de um tempo já decorrido há quase meio

ininterruptas.

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Quem diria ... Ela mesma que no século anterior já impunha novos ritmos e rumos ao compor para o “Cordão Rosa de Ouro”, do Andarhaí, a primeira música de carnaval, ou melhor... a primeira música “para” o carnaval brasileiro. De nossa parte, sambistas que somos, que bom que a Imperatriz Leopoldinense de 1997 tenha desfilado com um samba tão bonito:

Aos 78 anos, quando recebeu homenagem consagradora da SBAT. No semblante, um ar vitorioso.

“Piano me diz quem é A maxixeira Piano me diz quem é A pioneira Rosa de Ouro nunca foi de brincadeira”

Ela que um dia moldou o som do piano ao gosto comum fazenMarca a história do país ao escandalizar a jovem república,

do-se assim a primeira compositora popular abrindo caminho

acompanhada ao violão pela a primeira-dama Nair de Teffé,

para tantas outras referências brasileiras. Ela que amada e re-

esposa do Marechal (Hermes) de Ferro, ao cantar o maxixe

alizada nos deixaria nos primeiros dias de 1935, três ou quatro

“Corta Jaca” em sarau em pleno Palácio do Catete, provocando

dias antes de o carnaval começar.

o repúdio do senador Rui Barbosa imortalizado no samba da Ilha de 1981:

“Rui barboseava No Senado Dizendo ser grosseira A música popular brasileira”.

Já passada dos cinquenta Chiquinha escandaliza mais, inclusive a tantos de nós se possível fosse, ao se apaixonar por um jovem

E o Brasil inteiro caia na folia ao som de uma das mais de mil canções por ela deixadas na boca de seu povo. Mais do que nunca o folião carioca foi para as ruas centrais da cidade cantando como sempre cantou... Como sempre cantará...

“Ô abre alas Que eu quero passar Eu sou da lira não posso negar Rosa de Ouro é quem vai ganhar”

aprendiz de 16 anos, vivendo a seu lado até o fim de seus dias. E seguiu compondo polcas, valsas, tangos, cançonetas, maxixes, mazurcas e habaneras até falecer, décadas depois, naquele ano histórico de 1935 quando o desfile das nascentes escolas de samba era oficializado pela prefeitura; eram os novos rumos do

*Luiz Carlas Magalhães, é colunista do site O Terminal e pesquisador de carnaval.

carnaval carioca.

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// HOMENAGEM

Essa Mulher, sou eu... Texto de Luiz Carlos Almeida de Araújo*

PIONEIRA...ESTA A QUALIFICAÇÃO que lhe deu o

música que refletisse um caudal cultural híbrido, mistura da

multifacetado Geysa Bôscoli –aliás seu parente –, no

belle époque tropical que se vivia na época com uma emergente

título de uma das primeiras biografias a ela dedicada.

vontade de querer-se ser “nacional”. Eclética, a “Chica Polca”,

E muitas outras vieram a seu respeito, escritas por

como também era conhecida no métier, tanto enveredava pe-

pesquisadores conceituados como Marisa Lira, Edinha

los gêneros musicais europeus, mais formais, como viabilizava

Diniz, Cleusa de Souza Millan e Dalva Lazaroni. Várias

“saracoteios” escandalosos no palco, através dos maxixes que

teses universitárias, cada uma enfocando alguns dos

compunha. Uma curiosidade: meu contato direto com o traba-

diversificados aspectos que possuía, principalmente

lho de Chiquinha deu-se no apartamento do saudoso musicólo-

os artísticos sem, contudo, deixar de lado os pessoais,

go João Batista Siqueira, na Glória, lá nos idos dos anos 70/80.

referentes ao seu comportamento (muitas das vezes in-

Num álbum de sua propriedade, que reunia partituras antigas,

justamente “censurável”) dentro da sociedade. Escolas

lá estava “A Bahiana”, da Revista “O Esfolado”, escrita em 1907,

de samba fizeram dela seus enredos. Solistas e grupos

em Lisboa, que não figura em nenhum trabalho sobre ela. São

musicais divulgaram suas composições. Ó, abre alas! E,

quatro páginas deliciosas de um “maxixe brazileiro”, bem ao seu

então, a mídia finalmente a redescobriu: em 1985, Ro-

estilo. Perdi o paradeiro da partitura original uma vez que, an-

samaria Murtinho a interpretou no teatro; e quatorze

tes de nos deixar, o referido musicólogo entregou o álbum a

anos depois, Gabriela e Regina Duarte, protagoniza-

alguém(?), conforme informações da viúva do mesmo. Resta-

ram, respectivamente, a musicista quando jovem e na

-me, ainda, esta valiosa fotocópia, que aparece aí na foto, e que

fase madura, em minissérie televisiva da Rede Globo,

pretendo usar como fonte de investigação no meu trabalho de

com direito a também enfatizar o lado audacioso da

Doutorado...

mulher/personagem, nos seus envolvimentos amorosos com músicos de renome como o flautista Joaquim Antônio da Silva Callado e o maestro Antônio Carlos Gomes, bem como Carolina Ferraz que, laço no cabelo, atrahente, “vestiu-se” dela de corpo e alma, num vídeo documentário produzido pela Fontes Filmes/GNT, comemorativo dos 500 anos de História do Brasil. Antiescravagista, foi também precursora da questão dos direitos autorais em nosso país, liderando a criação da SBAT (Sociedade Brasileira de Autores Teatrais) em 1917, tendo ao lado Bastos Tigre e Luiz Peixoto, seus conhecidos companheiros de empreitadas artísticas, entre outros. Estamos falando de Francisca Edwiges Neves Gonzaga ou, simplesmente, Chiquinha Gonzaga. Carioca da gema, nascida em 1847, filha de pai militar aparentado com o Duque de Caxias e de uma mãe descendente de escravos, a figura amulatada e tipicamente brasileira da moça não poderia deixar de produzir uma

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* Luiz Carlos Almeida de Araujo – Músico (multinstrumentista, compositor, arranjador e maestro), Jornalista, Poeta, Artista Plástico, Animador Cultural e Pesquisador (Membro da Associação Nacional de Pesquisadores da MPB). Formado em Licenciatura em Música, cursou ainda Composição e Regência (incompletos) também pela UFRJ, além de ser graduado em Administração de Empresas pela UERJ. Doutorando em Musicologia pela Universidade Nova de Lisboa, dedica-se atualmente à produção e roteirização de espetáculos ligados às danças de salão. É filiado à SOCINPRO e à GDA.


// HOMENAGEM

Chiquinha Gonzaga, Pioneira na Vida e na Arte Texto de Luis Fernando Vieira*

QUANDO ESTAMOS PRÓXIMOS DO CARNAVAL, lembramos

Casada em segunda núpcias com João Batista, engenheiro, separa-

da música, cantada em quase todos os blocos e bailes, a mar-

-se ao sentir a rejeição da sociedade ao voltarem para a cidade, de-

chinha “Ó Abre Alas”, a primeira música escrita para o carna-

vido ao seu passado, depois de viverem numa fazenda. Seu marido

val, a pedido do Rancho “ Rosa de Ouro”, para a vanguardista

até então afável e carinhoso, torna-se hostil, ríspido e distante, a

Chiquinha Gonzaga.

ponto de levar outra mulher às escondidas para dentro de casa, ocasião em que é flagrado pela companheira.

Temos que observar a formação familiar desta compositora popular, nascida em berço nobre no “Solar dos Gonzaga; na

De novo sozinha, é a primeira mulher da aristocracia a trabalhar

rua Príncipe, atual Senador Pompeu, portanto longe do“povão”,

fora. Estudava piano e música, tendo apoio dos maestros Henrique

que curte a folia, e criada dentro dos padrões rígidos, de um pai

Mesquita, e de Arthur Napoleão, até conhecer Joaquim Antonio com

militar, o marechal de campo José Basileu Neves Gonzaga e da

quem forma conjunto e trabalha em teatro.

prendada sra. Rosa Maria de Lima Gonzaga. Participa de peças teatrais, escrevendo e tocando piano, compõe Criada com todo conforto que a riqueza pode proporcionar, es-

para flauta, cello, canto, cordas, pequenas orquestras, bandas, gran-

tudou em casa com preceptores, que passaram ensinamentos

des orquestras. Não há gênero musical que não escreva, sendo re-

didáticos, e aulas diárias de piano.

conhecida por sua criatividade, e competência como maestrina.

Logo que se fez moça, arranjaram-lhe um marido mais velho,

Personalidade forte, nada contém seu espírito liberto, fuma em pú-

o comandante da Marinha Mercante, José Basileu Ribeiro do

blico (charuto), usa calça comprida nos salões da sociedade, e de-

Amaral, e aos quatorze anos casa-se, começando, dessa forma,

pois de idas e vindas á Europa, onde chegou a fixar residência em

uma convivência de privações. A primeira delas é a proibição

Lisboa (Portugal); ao vir para o Brasil, chega em companhia de João

de tocar piano, instrumento esse dado por seu pai, como pre-

Batista, que apresenta como filho, ele com dezesseis anos, ela com

sente de núpcias; a seguir, embarca toda a família no navio, em

mais de cinqüenta anos de idade.

que é sócio, transportando material, para frente de guerra no Paraguai.

Sucesso como artista, fez mais de mil e quinhentas apresentações de sua peça “Forrobodó”, em parceria com Luis Peixoto, é autora de

Sem música e isolada de tudo e de todos, só resta uma saída: a

mais de 2000 musicas e peças teatrais.

de abandonar o marido, fato este que desagradava a seus familiares, e a sociedade da época. É o começo de muitas dificulda-

Com o companheiro João Batista, fica casada por mais de cinqüenta

des, principalmente a financeira.

anos, até sua morte, aos 88 anos, em 1935. Durante todo esse tempo em perfeita e exemplar harmonia, Francisca Edwiges Gonzaga, Chi-

Tendo que criar os filhos, e sem apoio, passa a lecionar piano

quinha Gonzaga, por tudo isso pioneira na vida e na arte.

e a tocar em bailes populares, recursos que mal davam para sobreviver, seu padrão de vida cai vertiginosamente, seus trajes passam a ser pobres e simples, com as portas da sociedade fechadas, restam apenas sua garra e altivez, desta força e destemor, tira energia para enfrentar a vida, trabalhando e estudando com obstinação. * Luiz Fernando Viana, é professor da Faculdade Hélio Alonso, pesquisador de música brasileira e atuou no curso de Gestão de Eventos e Festas Carnavalescos da Universidade Estácio de Sá.

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// GESTÃO DE CARNAVAL

Tripé do

Carnaval por Carlos Fernando Andrade

Plumas e paetês. Aço e madeira. Voz e tambor... São muitas as matérias primas do Carnaval, mas que nada seriam, além disso, se talento e inventividade não fizessem diferença. Não estou dizendo nada de novo. Quem lida com tecnologia sabe que ela é a conjunção de um tripé: mão de obra, matéria prima e técnica (saber fazer). Talvez o Carnaval seja a maior demonstração dessa triangulação, ainda que não se tenha escrito nada sobre isso, mas que pelo tamanho do resultado, já se possa configurar o limite de sua demanda. Crescimento exige maturidade, ou teremos um paquiderme lidando com cristais. A mão de obra pode ser farta ou escassa, dependendo de como a economia se comporte. A matéria prima existe. Na China ou na Casa Turuna... Pode estar cara ou barata. Depende do dólar, do real, do yuan (que não varia, mas avaria...). Até recentemente eu nem saberia dizer qual é a moeda da China... Mas o que, de fato, faz diferença? E o que, uma vez criado, não se perde? O saber fazer. A habilidade. O conhecimento que não se sabe exatamente de onde veio, até porque ainda não está sistematizado, o que parece ser uma tarefa urgente. Como já disse, o crescimento gera providências. O “Plumas e Paetês” parece sinalizar para isso há algum tempo. Premiar os profissionais do Carnaval, mais do que distribuir méritos, aponta para a necessidade de que Políticas Públicas formatem, fortaleçam e disseminem essas formas de saber. Entender o Carnaval como resultado da trilogia tecnológica – coisa, jeito e gente – parece tarefa urgente. Este prêmio indica gente com jeito que sabe fazer a coisa. Veio pra ficar.

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Carlos Fernando Andrade é Arquiteto e Doutor em urbanismo 2013



// GESTÃO DE CARNAVAL

O discreto charme FEMININO da arte dos pés por Fábio Fabato

EU NÃO TINHA NEM DEZ ANOS DE IDADE quando vi Luciana

grador. Ela e tantas outras, com lata d’água na cabeça ou não,

Sargentelli – filha do maior apreciador de mulatas que este país já

mas bambas da arte que perdeu sua força na maquinaria de

teve, Oswaldo Sargentelli –, sambar, suar e sangrar na condução

uma festa que tem renegado sua matéria-prima.

de sua Estácio de Sá ao apogeu e glória no carnaval. Uma das cenas da minha vida, era 1992. Lá estava a figura da passista, a simbologia

Não se sabe o que fizeram do tripé campeão do Estácio [“Se

maior da festa, no alto de um tripé que ajudava a contar um enredo

alguém quer matar-me de amor...”] – a burrice memorial rei-

sobre o Modernismo. Tal qual o movimento histórico de 1922, a

nante em nossa cultura não permitiu que o emoldurassem no

vanguarda, o resgate e o avesso. O destaque [necessário, mesmo

museu do carnaval que jamais saiu do papel –, mas aquele foi o

que nas amarras de uma varanda] para quem mantém na “orali-

maior altar que uma passista já teve no altar-mor do carnaval.

dade” do pé o registro para algo que os livros jamais conseguirão

O panteão dos deuses, o congá dos orixás da curimba, o platô

guardar. Sozinha e inconscientemente, Luciana homenageou todas

supremo que ficou maior do que a posição de qualquer desta-

as mulheres que dedicaram suas vidas ao sonho de dizerem com

que de luxo. Uma revolução feminista com certeza [à base do

dança a história de nosso povo.

ofício do artista, e que não deve ser confundido com vulgaridade] e sem a necessidade de incendiarem sutiãs na Praça da

E aí me vem à mente o dia em que Fernando Pamplona, pai do

Apoteose com dancinha em roda. Passista é beleza pura da

carnaval contemporâneo, e que acaba de lançar a sua autobiografia

mulher, sagrada. O discreto charme feminino da arte dos pés

foliã – “O encarnado e o branco” (Editora NovaTerra 2012) – me

que se entrelaçam e riscam no asfalto um tipo de sabedoria.

contou sobre Narcisa [eterna passista do seu Salgueiro], quando esta sambou descalça no asfalto borbulhante por onde passou

Infelizmente, as mudanças conceituais e estéticas a que as-

o indescritível e campeoníssimo “Bahia de Todos Os Deuses”

sistimos na Sapucaí, notadamente, a partir da década de 1990,

[Salgueiro, 1969]. Certamente, Narcisa se sentiu homenageada por

produziram um enxugar nas alas de passistas, que, além de

aquela endiabrada Sargentelli, tantos anos depois, sangrando e

tudo, passaram a desfilar a mil por hora. Nas transmissões de

transcendendo no alto do tripé paradoxalmente limitador e consa-

hoje em dia, por exemplo, está difícil encontrarmos os precio-

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sos minutos de samba no pé com o selo “comunidade” de qualidade. Em março de 1973, a Revista Manchete publicou o seguinte comentário sobre Paula do Salgueiro, considerada a maior entre todas as passistas: “(...) não é destaque apenas de sua escola. Ela é mais do que isso, porque simboliza o carnaval e em sentido mais largo o próprio espírito do povo carioca. Com a sua alegria vestida de rendas, com a sua pele feita de noite, a famosa passista não precisa vencer para ser ela própria, uma vitória do morro humilde que fabrica o samba, e um momento de glória para a sua raça. (...)”.

Esta característica de representatividade que estava aglutinada ao passo das cabrochas, em algum momento, perdeu parte do seu encanto e verdade. Sim, elas ainda resistem, só que agora sambando mais escondidas e apressadas, um pouco sem fôlego ante a grandiosidade e o alçar de voos mil que a dita “modernidade” trouxe para o espetáculo. Que a bandeira de Sargentelli, erguida com sangue no alto da alegoria, possa contaminar a pista e resgatar o valor que as passistas têm para o carnaval. Só as vulgariza quem as nega, só as discrimina quem não entende todo o fundamento e poesia existentes no requebrado e no legítimo samba no pé.

Fábio Fabato é jornalista e comentarista de carnaval, autor do livro As Três Irmãs – Como Um Trio De Penetras “Arrombou a Festa” (Editora NovaTerra, 2012), sobre as histórias de Mocidade Independente, Beija-Flor de Nilópolis e Imperatriz Leopoldinense.


// GESTÃO DE CARNAVAL

Damas do Samba “Pior que ser pobre é se entregar e não saber tirar de si mesmo a força que faz a vida valer a pena. A minha valeu”. Esta frase expressa bem a personalidade de Euzébia Silva de Oliveira, Dona Zica, e aponta a energia feminina que fez do samba uma das maiores manifestações populares. No ano de seu centenário, peço licença para saudar as guerreiras do samba por meio dessa grande dama. por Nilcemar Nogueira APRESENTAR O MATRIARCADO DO SAMBA POR MEIO DE

celebrar os orixás em sua casa na Praça Onze e depois

D. ZICA é fazê-lo de forma emblemática e vai ao encontro das

das festas religiosas se armava um pagode. Pelo Telefone,

teorias antropológicas do século XIX, que apontavam para a

explosão musical de 1917, tido como o primeiro samba com

existência do matriarcado como a mais remota forma de orga-

autoria registrada e gravado em disco, nasceu na casa de

nização social conhecida. O mais singular defensor da teoria

Tia Ciata.

do matriarcado foi o antropólogo suíço J.J Banhofen. Contudo, pesquisas antropológicas, feitas no século XX, concluíram que jamais houve uma sociedade matriarcal. Isso não significa negar que em várias tribos ou civilizações as mulheres fossem altamente consideradas responsáveis pela transmissão de cultura e valores sociais, e vale aqui ressaltar a força feminina que se constituiu em torno do samba, onde as mulheres exercem uma liderança silenciosa na transmissão e sustentação de uma cultura tão carente de reconhecimento de seus valores

A mulher negra ao longo de sua história foi a “espinha dorsal” de sua família, que muitas vezes constitui-se dela mesma e dos filhos, especialmente na pós-abolição. Nos morros, as mulheres, novas tias, mães de santo e rezadeiras abrigavam em seus terreiros as rodas de samba e organizavam blocos. Nessa época, a tradição da brincadeira de rua já existia havia muito tempo durante o carnaval, mas sem nenhum tipo de organização. Foram justamente os blocos, ranchos e cordões que deram unidade musical a um desfile

intrínsecos.

até então caótico. A trajetória do samba carioca na cultura nacional, sua origem e sua evolução em solo brasileiro, vem sendo objeto de crescente estudos e pesquisas. A origem do samba ainda hoje é discutida. Seu nome, segundo alguns autores, provém de “semba” que quer dizer “umbigada” – união do baixo ventre.

No surgimento das escolas de samba, as referências são masculinas. A Deixa Falar, primeira Escola de Samba a ser fundada em 1928, nascida no bairro do Estácio tem em Ismael Silva, seu fundador, a maior referência. Também nesse ano foi fundada a Estação Primeira de Mangueira, escola de

Pode-se afirmar que a música africana entrou no país com os

Cartola e Carlos Cachaça.

primeiros escravos negros. As escolas de samba, consideradas grandes organizações O samba carioca, como dança, foi lançado na Pedra do Sal,

socio-político-culturais, foram celereiros de bambas, como

no Bairro da Saúde. O gênero musical surgiu na casa de Tia

já eram chamados os compositores, mas tinham na figura

Ciata. Mulher de grande iniciativa, tornou-se, com outras tias

feminina seu maior esteio, principais vozes dos terreiros e

baianas de sua geração, a iniciadora da tradição das baianas

dos primeiros desfiles. As escolas no início de sua criação

quituteiras do Rio de Janeiro. Ciata, festeira, não deixava de

eram formadas por pequenos grupos. As pastoras eram res-

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ponsáveis pela sustentação do canto, ao lado da figura do compositor, as baianas constituíam o corpo máximo das escolas e, indiretamente, também ajudavam a manter a cadência com o arrastar de seus tamancos. Apesar da invisibilidade do trabalho feminino no samba, algumas mulheres podem ser consideradas exceção por seu protagonismo, na Portela, Tia Vicentina, Tia Doca, Tia Surica, Tia Dodô, na Padre Miguel, Tia Nilda, no Império, Tia Eulália, Dona Ivone Lara e tantas outras mais. No samba, a mulher é provedora, é guardiã da ancestralidade, responsável pela transmissão, dos principais símbolos dessa matriz cultural: dança, música, culinária. Hoje em dia, é também em parte responsável pela manutenção do ritmo, da dança, com mulheres cantoras, compositoras e ritmistas. São mulheres que cuidam da casa, trabalham fora, ajudam a comunidade. São intérpretes, costureiras, carnavalescas, baianas, porta-bandeiras, passistas, fontes de inspiração para poetas... deixo aqui meu axé para velhas e novas guerreiras do samba, e torço pelo resgate do verdadeiro sentido da que chamamos de “Damas do Samba”, mulheres que vibram, unem, exercem uma força e referência positiva e lutam por suas comunidades.

Nilcemar Nogueira . Doutoranda em Psicologia Social - UERJ . Mestra em Bens Culturais e Projetos Sociais - FGV. Atua como coordenadora do plano de salvaguarda do Rio de Janeiro no Museu do Samba Carioca. Fundadora do Centro Cultural Cartola.

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// GESTÃO DE CARNAVAL

Mulheres Negras:

dupla jornada de carnaval

por Luiz Carlos Prestes Filho

Nos barracões e nas quadras das escolas de samba do Rio de Janeiro e da região metropolitana, trabalham centenas de pesquisadoras, costureiras, aderecistas, bordadeiras, cozinheiras, compositoras e maquiadoras, entre outras profissionais do Carnaval. A presença da mulher negra neste universo é predominante. São elas descendentes diretas da determinação e da criatividade de uma Tia Ciata e – claro – de uma Chiquinha Gonzaga.

ESTE LADO FEMININO ÉTNICO na produção do maior evento cultural do Brasil chama especial atenção quando analisamos os resultados de uma pesquisa de 2012, realizada pela Organização Internacional do Trabalho (1) (OIT): “As mulheres trabalham mais horas do que os homens”. Os dados apresentados constam do relatório Perfil do Trabalho Decente no Brasil: um Olhar sobre as Unidades da Federação. Os números dizem que os homens têm jornada de 52,9 horas semanais. As mulheres, de 58 horas, 5,1 horas a mais do que o sexo oposto – o que equivale a 20 horas adicionais por mês, cerca de dez dias a mais por ano. E a situação é grave, pois 90,7% das mulheres que estão no mercado de trabalho também realizam atividades domésticas – percentual que cai para 49,7% entre os homens. No trabalho elas gastam, em média, 36 horas por semana; eles, 43,4 horas. Em casa, por outro lado, elas gastam 22 horas semanais. Os homens, 9,5 horas. Portanto, é importante a homenagem à Chiquinha Gonzaga que este ano está sendo feita pelo Projeto Cultural Plumas & Paetês. Iniciativa que traz à luz um tema que não pode ser desconsiderado: a mulher nos bastidores do Carnaval. Até porque, muitas

das pesquisadoras, costureiras, aderecistas, bordadeiras, cozinheiras, compositoras e maquiadoras se transformam em passistas e ritmistas ou em destaques e musas durante os desfiles. Ou seja, elas têm dupla jornada de Carnaval! A compositora Chiquinha Gonzaga foi, através de seus atos, uma mulher desbravadora. Rompendo com os preconceitos de sua classe social, frequentou as rodas de jongo, lundu e de barrigada. Nos terreiros santos, buscou o som brasileiro, a linguagem musical dos ritmos das rodas dos escravos. Participante ativa da campanha abolicionista, trazia em seu coração profunda revolta por seus ancestrais maternos terem sido escravos. Não existe registro, mas bem que seria possível imaginar Chiquinha Gonzaga na Casa da Mãe de Santo Tia Ciata, centro da Pequena África, localizado na Praça Onze, berço do Samba de Sambar e do Carnaval Carioca.


O professor da UERJ, Osvaldo Munteal (3) , reconhece que existe uma “coisificação” evidente da mulher no carnaval: “Onde a mesma aparece como grande produto nas prateleiras dos meios de comunicação. A mulher é consumida nos meios de comunicação como uma espécie de commodities (produtos minerais e agrícolas comercializados no mercado internacional), como soja. Se consome no olhar. Não é um consumo só objetivo, físico. É um consumo do voyerismo, que atinge diversas camadas da sociedade brasileira e mundial”. O prêmio Plumas & Paetês que vem – todos os anos – retirando do anonimato centenas de profissionais do Carnaval, nunca antes lembrados no meio da euforia da festa, está contribuindo para modificar esta visão predominante do papel da mulher no carnaval. Ao agregar valor à sua expertise, através da homenagem à compositora Chiquinha Gonzaga, e ao premiar os profissionais do Carnaval, inclusive dezenas de mulheres negras, seus coordenadores estão abrindo espaço para o reconhecimento da mulher brasileira, definitivamente. Todas merecem, afinal, e devem ser tratadas de igual para igual com os homens.

Fundadora da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (2) (SBAT), criada para defender os direitos autorais, inclusive musicais, ela deixou um legado impressionante neste campo para os dias de hoje. Quando o desenvolvimento econômico dos países do primeiro mundo é definido pela capacidade destes na gestão de seus bens intangíveis: marcas, patentes e direitos do autor. Nos barracões das escolas de samba, as mulheres - destaque para as mulheres negras - sofrem todo o tipo de discriminação. Na maioria dos casos, não têm carteira de trabalho assinada; não recebem auxílio-maternidade; não têm apoio para matricular seus filhos em creches ou escolas; etc. Aquelas que são autoras musicais, não são orientadas para gestão eficiente dos seus direitos autorais. Pela cabeça das passistas ou musas nem passa a ideia de defender os seus direitos de imagem. Esta situação pode e já está mudando. A Liga Independente das Escolas de Samba (LIESA) tem incentivado a implantação de projetos sociais nas escolas de samba para atender as demandas femininas. Mangueira, Beija-Flor, Portela, Grande Rio, Vila Isabel e Imperatriz têm apresentado bons resultados. Mas estas atividades poderiam ser articuladas de maneira mais orgânica. A valorização do sangue, do espírito e da identidade das mulheres negras, que fizeram o Carnaval carioca ser o Carnaval do Brasil, é uma missão.

Luiz Carlos Prestes Filho é Assessor da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviços do Rio de Janeiro (SEDEIS) e autor do livro Cadeia Produtiva da Economia do Carnaval.

Notas: 1.

2.

3.

Organização Internacional do Trabalho (OIT) é a agência das Nações Unidas que tem por missão promover oportunidades para que homens e mulheres possam ter acesso a um trabalho decente e produtivo, em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade. Fonte: www.oit.org.br Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT) é uma sociedade de utilidade pública sem fins lucrativos que arrecada e distribui direitos autorais de seus associados; também atua recolhendo os direitos de autores de outros países encenados no Brasil e, através das sociedades estrangeiras, os direitos de autores brasileiros encenados no estrangeiro. Fonte: www.casadoautorbrasileiro.com.br/sbat Texto “Historiador destaca conquistas da mulher nas diversas áreas da sociedade”, de Alana Gandra, Agência Brasil, 08/03/2012


// GESTÃO DE CARNAVAL

É nos ensaios que dirigentes, componentes e ritmistas, assim como os apaixonados pelo carnaval, se reencontram. E ali, na pista e nas arquibancadas, comemoram o ano novo, agradecendo a chance de, mais uma vez, poderem participar direta ou indiretamente do espetáculo. Este agradecimento vem em forma de música, canto, dança e alegria. Pura e simplesmente. Segundo Elmo dos Santos, diretor de carnaval da LIESA, o primeiro ensaio aconteceu anos antes, quando ele era presidente da Mangueira, com os ônibus que traziam os componentes fazendo às vezes de “alegorias” para dividirem os setores. Depois, a Estácio entrou na dança, a Beija-flor veio para a festa... até que o Capitão Guimarães,

Ensaios Técnicos, Apoteose do Povo por Valéria del Cueto

presidente da Liga das Escolas de Samba do Grupo Especial da época, foi dar uma olhada no acontecimento e viu o tamanho da brincadeira. Foi ele que, em 2002, oficializou o evento na Liesa. De lá pra cá, muitos já deram palpites e ideias. Algumas pegaram, outras foram derrubadas antes de atrapalharem os objetivos iniciais da proposta. Já sugeriram que as pas-

A reabertura d a Passarela do Samba, na Marquês de Sapucaí, Rio de Janeiro, para a temporada de ensaios técnicos marca o início de uma festa realmente popular . A partir daí, durante os finais de semana até o carnaval, as escolas dos Grupos Especial e de Acesso levam seus componentes para realizarem uma passagem de ajustes na pista do desfile principal. Dizem que depois da construção do Sambódromo, os ensaios técnicos foram a melhor sacada do mundo do carnaval carioca (a Cidade do Samba só veio depois). O momento em que o povo do samba pode estar mais próximo se confraternizar. Ver e participar diretamente da maior festa popular do planeta. Detalhe: sem pagar um único centavo.

sagens das escolas que acontecem aos sábados e domingos fossem cobradas, que sonorizassem a avenida inteira, em vez de usarem os carros de som que deixam o canto dos componentes ser ouvido... Explica-se o olho grande de alguns e a colher furada de outros: no dia de ensaio das mais queridas as arquibancadas e espaços liberados para o povo ficam lo-ta-dos. Graças a Deus e ao bom coração dos dirigentes da Liesa, essas intenções estapafúrdias nunca pegaram e, até hoje, os ensaios ainda são espetáculos do povo, para o povo. Que assim seja, e siga sendo, para alegria geral da nação do carnaval que só espera uns dias depois da virada do ano para tomar conta da sua avenida, a passarela do samba

Ano após ano aumenta o número de assistentes e participantes

carioca.

desses alegres encontros semanais que animam o verão da Cidade Maravilhosa. A cada ensaio as escolas procuram aprimorar o “espetáculo”, valorizando o canto e a dança, normalmente escondidos sob o regulamento rigoroso dos dias oficiais do desfile carnavalesco.

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Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “É Carnaval”, do SEM FIM… delcueto.cia@gmail.com


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// GESTÃO DE CARNAVAL

As Imortais

da academia do Samba

Nada de sexo frágil. Ao contrário. Por mais de oitenta carnavais, as escolas de samba têm reafirmado a garra e a força das mulheres em diversas agremiações. Mas em uma escola em especial a presença feminina é ainda mais marcante. Essa escola é o Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, que completou 60 anos no dia 5 de março de 2013.

por Gustavo Melo

É O SALGUEIRO DE PAULA, A NEGRA QUE ENCANTOU

Outra grande personalidade feminina na Academia do Samba foi Dona Ma-

A AVENIDA DESDE OS ANOS 50. O título de passista,

ria Romana, liderança no morro do Salgueiro e primeira diretora da ala das

que hoje é dado hoje aos artistas da dança do samba na

baianas da escola. Baluarte que começou a desfilar ainda na Praça Onze

avenida, nasceu da ginga tão peculiar que a consagrou.

pela Depois Eu Digo, uma das escolas que deram origem aos Acadêmicos

Performances que encantaram o público, os jurados e os

do Salgueiro. Em 1979, Dona Maria Romana foi agraciada com o Estandar-

cronistas de carnaval ao longo de mais de cinco décadas

te de Ouro de personalidade ao completar 50 anos de desfiles.

de apresentações pela Academia do Samba. O Salgueiro revelou ainda na história do carnaval a bela Narcisa, vencedoEscola também de Isabel Valença, a maior destaque da his-

ra do Estandarte de Ouro de 1985 como a melhor passista. Hoje presi-

tória do carnaval carioca, que interpretou com fantasias

dente de uma das mais tradicionais alas da escola, a sambista foi uma das

monumentais tantas mulheres inesquecíveis reveladas

personalidades do histórico desfile “Bahia de Todos os Deuses”, quando

nos enredos salgueirenses. Isabel foi muitas na avenida.

o Salgueiro entrou na avenida às 11h30min de uma manhã de verão que

Foi Xica da Silva (sua maior personagem), Rainha Rita de

passou dos 40 graus. No meio do calor escaldante da avenida Presiden-

Vila Rica, Dona Beja – A Feiticeira de Araxá, Marquesa

te Vargas, a sandália de Narcisa arrebentou. Ela desfilou heroicamente

de Santos, Tia Ciata, Maria de Médicis da França, Rainha

descalça até que outra passista, a mangueirense Anik Malvil, emprestou

de Sabá e tantas outras. Foi também a primeira negra e

o próprio calçado para que Narcisa desse um show e esquentasse ainda

destaque de escola de samba a vencer o grande concurso

mais o desfile campeão salgueirense.

de fantasias do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em 1964, fato que a transformou em um mito na história do

Salgueiro que deu uma virada na própria trajetória com a chegada de

carnaval carioca.

Elizabeth Nunes. Ela assumiu a escola em meio à maior crise que a agre-

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miação enfrentou, logo após carnaval de 1985. Sem dinheiro para levar para a avenida o carnaval de 1986 em homenagem a

Uma escola de samba e de gestão

Fernando Pamplona, Elizabeth Nunes ocupou a presidência da

Uma das marcas da administração de Regina Celi, que está no

escola e aproximou da agremiação o patrono Miro Garcia, fato

segundo mandato, é a excelência na gestão das finanças do Sal-

que mudaria a história da escola. Miro e Elizabeth fizeram um

gueiro. Os profissionais e artistas da escola ressaltam o respeito

grande investimento financeiro e promoveram a união entre os

que faz com que a agremiação seja hoje uma das grandes po-

diversos segmentos da vermelha e branca. Com grande lideran-

tências do carnaval carioca. Além do compromisso com a saúde

ça entre a comunidade, a primeira “presidenta” da história do

financeira salgueirense, a presidente acredita em um modelo de

Salgueiro comandou a escola com pulso, sem perder o carinho,

administração democrática. “Eu confio muito na minha diretoria

marcando seu nome na agremiação.

e nos meus componentes. Por isso, cada um pode opinar. Boas

A era Regina Celi

ideias são sempre bem-vindas”, destaca Regina. A atual presidente do Salgueiro revela que está vivendo um

O Salgueiro vive hoje um momento especial com a administra-

grande momento à frente da escola. “Estou realizando um sonho.

ção de Regina Celi Fernandes, a quem a história da agremiação

Vamos inaugurar em breve a Sede Administrativa e Cultural

já reserva um capítulo à parte. Sambista de carteirinha, Regina

Acadêmicos do Salgueiro. Quero que a agremiação seja sempre

começou a frequentar a quadra da escola ainda nos anos 80.

motivo de orgulho para o salgueirense. Tudo o que faço é para

Mas foi a partir do ano 2000 que os laços com a vermelha e

perpetuar a história da agremiação. Temos muitos degraus a

branca se estreitaram: Regina se tornou primeira-dama da

subir nessa escada”.

escola, na gestão do ex-marido Luiz Augusto Duran (conhecido como Fu). Passou a ser uma das destaques de luxo da

Os bons ventos que sopram em terras salgueirenses são hoje

escola e continuou desfilando no alto dos carros alegóricos

resultado do trabalho de uma comunidade coesa, que tem entre

até 2008, quando o Salgueiro apresentou o enredo “O Rio de

seus grandes nomes, personalidades femininas. Figuras que

Janeiro Continua Sendo”. Pouco antes do carnaval daquele ano,

assinam o nome com orgulho na calçada da fama do carnaval,

o ex-presidente Fu adoeceu e o casal se separou. Mesmo com

com muita arte, trabalho, dedicação e, por que não, um toque de

os problemas familiares, Regina assumiu a administração da

sensibilidade próprio das mulheres. Afinal, são todas um pouco

escola, que acabou conquistando um vice-campeonato com

de mães de todos nós. E como bons filhos que somos, a elas agra-

sabor de título.

decemos por trazerem a nossa Academia do Samba na alma e no coração. Porque o vermelho do Salgueiro também é tingido pelo

Para o carnaval de 2009, a pedido de um grupo de salguei-

sangue dessas guerreiras.

renses, Regina abraçou o desafio de se tornar candidata à presidência. Venceu a eleição e logo no primeiro ano foi a comandante da conquista de um título que não vinha há 18 anos. Com o enredo “Tambor”, o Salgueiro ganhou seu nono carnaval, num momento de reencontro da escola com a sua comunidade. Uma vitória que veio coroar a excelente relação da presidente com os componentes, os segmentos salgueirenses e as demais agremiações do carnaval carioca.

Gustavo Melo é jornalista e Diretor Cultural do G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro

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// GESTÃO DE CARNAVAL

AMEBRAS completa 15 anos!

Instituição tem como filosofia a inclusão social através do Carnaval e atua na capacitação profissional e geração de trabalho e renda por Jean Cláudio É um desfile campeão no quesito inclusão social. E nota dez em

entre elas. Com a entrada de Célia Domingues na presidência, a

evolução, ao transformar a vida de milhares de pessoas por meio

instituição passou a ter como prioridade a capacitação de pesso-

da arte, do trabalho e da geração de renda. O original enredo

as para os ofícios dos bastidores do Carnaval, e como filosofia o

une o Carnaval à cidadania e, com ele, a Amebras (Associação de

resgate de habitantes de comunidades em situação de risco, que

Mulheres Empreendedoras do Brasil) está completando 15 anos de

viviam às margens da sociedade, para uma posição de protagonistas

vida, com uma trajetória marcada pelo pioneirismo e por conquistas

das próprias histórias, principalmente mulheres vitimas de violência

dignas de comemoração.

doméstica e Social.

Em 27 de maio de 1998 a Amebras deu início a suas atividades,

“O Carnaval tem uma função social muito poderosa e que não po-

primeiro com o objetivo de reunir mulheres empreendedoras a fim

demos perder de vista. A grandiosidade do espetáculo dá oportuni-

de promover o desenvolvimento comum e uma rede de negócios

dade para milhares de artistas anônimos que, provavelmente, jamais

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“Amebras 15 anos transformando vidas através das oportunidades de qualificação e trabalho” teriam seu talento reconhecido se não fossem os incontáveis postos de trabalho existentes nos bastidores dos barracões e ateliês”, analisa Célia Domingues, empresária do ramo de confecções. Mais de 20 mil pessoas já foram beneficiadas pelos cursos oferecidos pela Amebras, como adereço, chapelaria, acessórios, bordado, figurino, modelagem, corte e costura, customização, cenografia, decoração, marcenaria, percussão, entre tantos outros. Deste total, 70% dos alunos passaram a ter trabalho e renda a partir da capacitação realizada. Alguns transformaram-se em instrutores da própria instituição e hoje replicam o aprendizado, além de terem se estabelecido profissional e socialmente. O reconhecimento do pioneirismo e o alcance do projeto chamaram a atenção do poder público federal. Em 2007, uma parceria com os Ministérios do Turismo, trabalho e a Fundação Banco do Brasil resultaram na criação do Armazém do Samba, centro de formação profissional localizado na Cidade do Samba cedido pela Liesa, e que oferecia 15 (quinze) técnicas

Em 2010, Ministério do Trabalho e Emprego instituiu o Planseq do Carnaval (Plano Setorial de Qualificação Profissional na Indústria do Carnaval). Na ocasião, atuando com parceiros, a Amebras coordenou a qualificação de cinco mil jovens, adultos e idosos em 23 municípios do Rio de Janeiro.

Banco de negócios e internacionalização – O sonho de Célia Domingues sempre foi levar a Amebras ao patamar de instituição autossustentável. Há exatos dois anos, graças a uma mudança estratégica, o objetivo foi alcançado. “A Amebras focava toda atuação em formação de mão de obra em larga escala. Hoje, nossos cursos estão voltados muito mais para o aperfeiçoamento dos talentos descobertos. Nosso foco maior é desenvolver a Área de Negócios e Oportunidades”, revela Célia Domingues. Estas ações tem permitido a geração de trabalho para os artesãos oriundos dos projetos de qualificação da Amebras e cadastrados em seu Banco de Oportunidades. O Show de abertura e encerramento dos XV Jogos Pan Americanos de 2007 contou com o trabalho de centenas desses artesãos, que confeccionaram figurinos e alegorias e já ganharam vários prêmios. A filosofia de inclusão já capacitou cerca de 500 argentinos que viviam em situação de pobreza na província, ao longo de quatro edições do Carnaval do Rio em San Luis. “Olhar para trás e relembrar nossa trajetória nesses 15 anos chega a emocionar. Eu lembro de muitas mulheres que chegaram até nós, muitas vezes deprimidas, sem esperanças e conseguiram recobrar sua estima, encontrando um novo sentido para seguir em frente”, conta Célia Domingues.

em modernos equipamentos de trabalho. Destruído pelo incêndio que atingiu a Cidade do Samba em 2011, o espaço foi

“Amebras 15 anos transformando vidas através das oportunidades

desativado, mas voltará a funcionar neste ano de 2013.

de qualificação e trabalho”

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A festA mAis queridA do pAís merece mAis que 4 diAs de foliA. Ainda bem que, no SESI Cultural, o samba e o carnaval acontecem o ano inteiro com o Samba & Outras Coisas, Dia Nacional do Samba, A Febre do Samba, Samba de Quadra e muito mais. São 365 dias com muita música. Afinal, é dessa forma que o SESI Cultural estimula o crescimento da indústria do carnaval em todo o estado do Rio. Confira a nossa programação: www.firjan.org.br/sesicultural

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// GESTÃO DE CARNAVAL

Folia de

verbas

DURANTE O MÊS DE JANEIRO deste ano, cinco prefeituras (Paraty,

por Tiago Ribeiro

Cabo Frio, Petrópolis, Teresópolis e Itatiaia) resolveram cancelar ou adiar parte dos seus carnavais. Algumas destas cidades abdicaram, inclusive, de seus tradicionais desfiles de escolas de samba. Em alguns casos, a justificativa, segundo seus representantes do poder executivo, foi a de destinar a verba para outros setores, como a saúde. Em tempos de inclusão digital, os internautas vibraram. Um ano atrás, a grande vilã foi a Marquês de Sapucaí. A obra de implantação do projeto original do sambódromo possibilitou a criação de novos setores de arquibancadas e aumentou em mais de 12000

Passada a folia, nos deparamos com os números do carnaval

lugares a capacidade de público. Por mais que a obra fora totalmente

carioca. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de

bancada por uma cervejaria, portanto de iniciativa privada, muitos

Hotéis (ABIH-RJ) a ocupação dos hotéis da capital chegou a 87,25%.

foram os que acharam injusto o aumento do número de assentos da

Além disso, segundo a prefeitura, a receita obtida pela cidade com

Passarela do Samba e não o de leitos nos hospitais.

o carnaval 2013 somou US$848 milhões, o que equivale a aproximadamente R$ 1,650 bilhões, ou seja, lucrando quase que 50 vezes

Em 2011, a verba extra destinada às agremiações atingidas pelo in-

o valor investido pelo município.

cêndio que destruiu 4 barracões na Cidade do Samba, um mês antes do carnaval, também rendeu críticas. Assim como muitos acham

Quando os números nacionais são analisados, o resultado é im-

absurdas as verbas milionárias que cada escola de samba gasta para

pressionante: segundo dados da Federação das Indústrias do Rio

colocar a folia na rua. Para se ter uma ideia, o Rio de Janeiro é a ca-

de Janeiro (FIRJAN), o carnaval garante 10 milhões de empregos no

pital que mais gasta com carnaval no país, totalizando R$ 35 milhões

Brasil. Além disso, a chamada economia criativa, que inclui o car-

em 2013.

naval, responde por até 4% do Produto Interno Bruto (PIB) do país e movimenta quase R$ 100 bilhões por ano.

Na verdade, essa crítica ao dinheiro gasto com o carnaval vem de décadas. Um dos grandes obstáculos para a construção do sambódro-

Diante desses números, fica claro que o carnaval é uma atividade

mo foi justamente este pensamento de que uma festa que dura menos

altamente rentável, que gira a economia brasileira e que, principal-

que uma semana não merecia tamanho investimento. A solução foi

mente, alimenta muito mais os cofres públicos do que os seus. Um

construir a Passarela do Samba como um espaço multiuso, com salas

empreendimento que reduz o desemprego, que forma a sua própria

de aula e uma Praça da Apoteose para shows ao longo do ano.

mão-de-obra, que gera receita o ano inteiro, e que ainda destina sua renda para projetos sociais que são amplamente reconhecidos.

Após esta ilustração, surgem questionamentos: se uma prefeitura se

Em suma, a festa não é mais uma atividade amadora, as agremia-

vê obrigada a cortar verba de turismo/cultura para destinar à saúde,

ções se tornaram empresas, e enquanto não conseguirem gerar

ela está correta ou está evidenciando que não está sabendo admi-

para si toda a renda necessária para se sustentar, merece todo o

nistrar sua receita? A cultura é um direito de todos os cidadãos ou é

investimento público e privado que recebe.

supérfluo que deve esperar o país ficar sadio para, então obter conhecimento? Uma empresa privatizada deve ser criticada se investe em cultura e não em saúde?

Tiago Ribeiro é jornalista e publicitário


// OPINIÃO

Uma Lei que precisa ser integralmente implementada por Jandira Feghali Quando o projeto chegou à Câmara dos Deputados, tive a honra de ser designada como relatora na comissão de mérito. A partir de minha indicação, estive presente em audiências públicas nas Assembleias Legislativas do Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Norte (conjunta com Paraíba e Ceará), Espírito Santo e Bahia. As Assembleias Legislativas do Acre e de Goiás realizaram também audiências públicas e propostas de alteração foram apresentadas durante a realização do Seminário “Violência Contra a Mulher: Um Ponto Final”. O evento foi realizado por seis comissões permanentes da Câmara dos Deputados. As principais demandas das mulheres vieram desses encontros e foram contempladas no texto da Lei. Exigiam proteção para elas e para os filhos; decisões imediatas sobre distância do agressor ou separação de corpos, habitação, alimentação, alimentos; e garantia de inquérito e punição ao agressor para a superação da impunidade. Uma grande dificuldade que se concretizou em importante conquista foi o convencimento da necessidade de alterar o projeto original para que os crimes de violência doméstica

A Lei 11.340/06, conhecida como Lei Maria da Penha, teve início a partir da criação de um Grupo de Trabalho Interministerial criado pelo Decreto n° 5.030, de 31 de março de 2004, integrado por diversos órgãos do executivo federal. O anteprojeto elaborado pelo grupo foi encaminhado ao Consórcio de Organizações Não-Governamentais Feministas, sendo amplamente discutido com representantes da sociedade civil.

não fossem considerados no rol dos crimes de menor potencial ofensivo. Enfrentamos uma resistência enorme, mas estava convencida de que os Juizados Especiais Criminais (JECrims), criados pela lei 9099/95, apesar de significarem uma conquista da sociedade para desafogar as diversas varas do Poder Judiciário e acelerar decisão sobre diversos delitos, não foram criados para tratar crimes de violência contra a mulher. Hoje, a Lei Maria da Penha é uma das leis mais assimiladas pela população. Seu conteúdo pode não ser integralmente

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conhecido, mas o principal todos incorporaram: violência

O mesmo estudo aponta que entre os homens, só 14,3% dos incidentes

contra a mulher é crime que não se paga mais com cestas

aconteceram na residência ou habitação. Já entre as mulheres, essa

básicas. O texto é internacionalmente reconhecido como um

proporção eleva-se para 41%.

dos grandes avanços no combate à violência doméstica contra a mulher. Seus efeitos já são sentidos em várias dimensões.

Dados da Central de Atendimento à Mulher: Ligue 180/ SPM apontam que, em 2010, foram registrados 108.026 relatos de violência, mais da

A atitude de mulheres e homens vem mudando, as denúncias

metade foram ocorrências de lesão corporal. De janeiro a outubro de

crescem exponencialmente, vários governos ampliaram seus

2011, outros 58.512 relatos de violência, sendo que as violências moral

orçamentos, juizados de violência doméstica começam a se

e psicológica atingem, juntas, o percentual de 34,9% dessas ligações.

multiplicar, vidas estão sendo salvas e agressores punidos.

A maior parte das mulheres que entrou em contato com o Ligue 180

Mas estamos longe de ver sua aplicação nacionalizada. Não

e que também é vítima da violência tem de 20 a 40 anos (26.676) e

observamos milhares de prefeituras priorizando orçamentos

convive com o agressor por 10 anos ou mais. Dos registros auferimos

e estruturas de acolhimento. Tão pouco a mobilização dos 27

que 66% dos filhos presenciam a violência e 20% sofrem violência junto

governos estaduais, por meio de suas instituições e secreta-

com a mãe.

rias ou a necessária capacitação de suas polícias. A necessária criação, pelos Tribunais de Justiça, dos Juizados Especiais de

A Lei traz os instrumentos necessários para prevenir e reverter esse

Violência Doméstica não é uma realidade em todos os Estados

quadro, mas após 6 anos de vigência da Lei Maria da Penha os desafios

e os diversos entes federais ainda não cumprem suas respon-

para sua efetivação se dão no campo de sua aplicação. A norma não é

sabilidades legalmente estabelecidas. Enquanto isso nossas

apenas punição aos agressores, mas um esforço para coibir a violência

estatísticas permanecem assustadoras.

doméstica contra a mulher e instrumentos para amparar as vítimas deste tipo de violência. Para a Lei sair do papel, vários desses instru-

De acordo com o estudo “Mapa da Violência 2012 - Homicídio

mentos precisam de investimentos. O texto obriga a criação de centros

de Mulheres no Brasil”, realizado por Julio Jacobo Waiselfisz,

de atendimento psicossocial e jurídico, casas abrigo, delegacias espe-

entre 1980 e 2010 foram assassinadas no país acima de 92 mil

cializadas, núcleos de defensoria pública, serviços de saúde, centros

mulheres, 43,7 mil só na última década. O número de mortes

especializados de perícias médico-legais, centros de educação e de

nesse período passou de 1.353 para 4.465, o que representa

reabilitação para os agressores. Esta estrutura precisa ser priorizada

um aumento de 230%, mais que triplicando o quantitativo de

no orçamento e não pode ser alvo de cortes.

mulheres vítimas de assassinato no país. Elaborar e aprovar leis constituem conquistas fundamentais, mas não As armas de fogo continuam sendo o principal instrumento

podemos dar trégua na luta para que interfiram de fato na realidade

dos homicídios, tanto femininos quanto masculinos, só que

social. A violência precisa ser enfrentada culturalmente, preventiva-

em proporção diversa. Enquanto os masculinos representam

mente, mas também com a devida punição.

quase 3/4 dos incidentes, os femininos não chegam à metade. Objetos cortantes, penetrantes, contundentes, sufocação etc., são mais expressivos quando se trata de violência contra a mulher, o que pode ser indicativo de maior incidência de violência passional.

Jandira Feghali é médica, deputada federal pelo PCdoB/RJ e foi relatora da Lei Maria da Penha

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// CATEGORIAS PREMIADAS

Grupo Especial (LIESA) Aderecista: Cristiano Bara (Beija-Flor) Artesão: Orlando Sergio Junior (Beija-Flor) Carnavalescos: Fran Sergio, Victor Santos, André Cezari e Ubiratan Silva (Beija-Flor) Carpinteiro: Arapuã (Imperatriz) Compositores: Martinho da Vila, André Diniz, Arlindo Cruz, Tunico da Vila e Leonel (Vila Isabel) Fábio Ricardo

Coreógrafo: Alex Neoral (Imperatriz) Costureiro: João Victor (São Clemente) Desenhistas: Fran Sergio, Victor Santos, André Cezari e Ubiratan Silva (Beija-Flor)

Cristiano Bara

Destaque Performático: Maurício Pina (Salgueiro) Destaque de Luxo Masculino: Nelcimar Pires (Salgueiro e Imperatriz) Destaque de Luxo Feminino: Maria Helena Salum Cadar (Salgueiro) Diretor de Carnaval: Wagner Tavares de Araújo (Imperatriz). Diretor de Harmonia: Décio Bastos (Vila Isabel) Escultor: Rossy Amoedo (Beija-Flor e Vila Isabel) Ferreiro: João da Costa Lopes (Grande Rio)

Décio Bastos

Figurinista: Fábio Ricardo (São Clemente) Iluminador / Eletricista: Renato Ribeiro (Salgueiro) Gestor de Ateliê: Edmilson Lima (Unidos da Tijuca) Maquiador Artístico: Ricardo Denis (Imperatriz) Pesquisador: Alex de Souza (União da Ilha) Pintor: Kennedy Morais (Beija-Flor)

Nelcimar Pires

Rossy Amoedo

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Maria Helena Salum Cadar

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Matinho da Vila, André Diniz, Arlindo Cruz, Tunico da Vila e Leonel Alex Neoral

João Victor Fran Sergio, Victor Santos, André Cezari e Ubiratan Silva

Edmilson Lima

Wagner Tavares

Renato Ribeiro

Maurício Pina

Ricardo Denis

Alex de Souza

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// CATEGORIAS PREMIADAS

Grupo Série A (LIERJ) Aderecista: Raphael Santana (Estácio de Sá) Carnavalesco: Júnior Pernambucano (Império da Tijuca) Carpinteiro: Paulo Roberto Pinto Nogueira “Rabicó” (Cubango) Compositores: Samir Trindade, Serginho Aguiar, Tião Pinheiro, F. Araújo e Alexandre Moreira (Império da Tijuca) Coreógrafo: Junior Scapin (Império da Tijuca) Costureira: Indiara Soares Bráz (Cubango) Desenhista: Jack Vasconcelos (Estácio de Sá) Diretor de Carnaval: Thiago Monteiro (Império da Tijuca)

Silvio Cunha

Diretor de Harmonia: Thiago Alemão (Império da Tijuca) Ferreiro: João Manoel da Silva (Rocinha)

Marcelo Castilho

Ronaldo Puchinelli

Figurinista: Silvio Cunha (Santa Cruz) Iluminador: Marcelo Castilho (Império Serrano) Gestores de Ateliê: Leonardo Leonel e Leandro santos - Ateliê Aquarela Carioca (Unidos de Padre Miguel, Paraíso do Tuiuti e Estácio de Sá) Maquiadora Artística: Ivete Dibo (Estácio de Sá) Pesquisadores: Junior Pernambucano e Diego Martins Araújo (Império da Tijuca) Pintor: Ronaldo Puchinelli (Império Serrano) Artesão: Ronaldo Moraes (Unidos de Padre Miguel)

Leonardo Leonel e Leandro santos Junior Scapin

Junior Pernambucano

Jack Vasconcelos

Revista Revista Plumas Plumas & & Paetês Paetês

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Raphael Santana

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// CATEGORIAS PREMIADAS

Grupos B, C e D (AESCRJ) Melhor compositor da AESCRJ EM 2013 : Jr. Escafura, Alyson Oliveira, Edson Batista e Tião Pinheiro (Arranco do Engenho de Dentro)

Grupo Acesso B Carnavalesco: Severo Luzardo (Arranco do Engenho de Dentro) Coreógrafo: Junior Ryokoy (Unidos da Villa Rica)

Alexandre costa, Lino Salles e Marcus do Val

Pesquisador: Alexandre costa, Lino Salles e Marcus do Val (Rosa de Ouro) Aderecista: Flávia Lopes Ferreira (Império da Praça Seca) Costureiro: Thiago Matias (Império da Praça Seca) Grupo Acesso C Carnavalesco / Pesquisador: Valério Guidinelle (Boca de Siri) Coreógrafo: Carlos Fontinelle (Unidos de Bangu) Aderecista: Ricardo Paulino (Unidos de Bangu) Grupo Acesso D

Flávia Lopes Ferreira

Junior Ryokoy

Carnavalescos: Eduardo Gonçalves, Gabriel Haddad, Leonardo Bora, Rafael Gonçalves, Vítor Saraiva (Mocidade Unida do Santa Marta) Coreógrafo: Dino Nogueira Cruz (Unidos de Manguinhos ) Pesquisadores: Alexandre Costa, Lino Salles e Marcus do Val (Chatuba de Mesquita)

Carlos Fontinelle

Valério Guidinelle Severo Luzardo

Eduardo Gonçalves, Gabriel Haddad, Leonardo Bora, Rafael Gonçalves e Vítor Saraiva

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// CATEGORIAS PREMIADAS

Grupo Mirim (AESMRJ) Anderson Abreu

Grupo AESM RIO Carnavalesco: Anderson Abreu (Aprendizes do Salgueiro) Coreógrafo: Carlinhos do Salgueiro (Aprendizes do Salgueiro) Costureira: Arlete Miranda Ferreira (Aprendizes do Salgueiro) Pesquisadores: Comissão Artística: Edmilson Nunes, Joana Bueno, Lívia Diniz, Marcos Cardozo e Otávio Avancini (Pimpolhos da Grande Rio).

Prêmios Especiais Jornalista: Denise Carla Radialista: Dalila Vila Nova Fotógrafa: Barbara Alejandra Colunista: Lucia Mello Divulgadora: Regina Célia Veloso

Carlinhos do Salgueiro

Personalidade do Carnaval: Maria Augusta (Carnavalesca)

Tia Nilda da Mocidade Mulheres de Chico

“Eu Sou o Samba”: A Baiana (Nilda da Silva – Mocidade)

Barbara Alejandra

A Passista (Narcisa Macedo – Salgueiro) A Porta Bandeira (Vilma Nascimento – “O Cisne da Passarela”) Gestor de Mídia - “Site de Carnaval”: Simone Fernandes (Site Tudo de Samba) Melhor Bloco de Carnaval: Mulheres de Chico (Produtora Vivian Freitas)

Denise Carla

Maria Augusta

Edmilson Nunes, Joana Bueno, Lívia Diniz, Marcos Cardozo e Otávio Avancini

Agradecemos a todos os que integraram o corpo de jurados junto à equipe do Plumas e Paetês deste ano de 2013, o nosso muito obrigado. Saber julgar é uma arte e cabe a nós valorizar o olhar atento de vocês às nuances de cada artesão: Lygia Santos, Helena Theodoro, Felipe Ferreira, Fábio Fabato, Luiz Carlos Magalhães, Wellington Peçanha, Carlos Rezende, José Maurício Tavares, Roberto Vilaronga, Tiago Ribeiro, Eliandro Penteado, Vanessa Prata, Rosângela Padilha e Lana Monsores.

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// GALERIA 2012

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Muitos foram os momentos especiais vividos na Cidade do Samba, durante a premiação do Plumas & Paetês 2012, em homenagem a Donga. Revista Plumas & Paetês

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// VEM DE LÁ...

Paratíssima 2013 lança a “Mostra Carnevale di Rio”, de Valéria del Cueto, na Itália

A FÁBRICA DE SONHOS: matéria prima que se transfor-

A exposição que percorrerá as maiores cidades italianas, como

ma nas mãos mágicas dos artesãos do carnaval é o tema

Roma, Milão e Nápoles, e será lançada na Paratissima 2013.

da exposição. O registro foi feito em dezenas de sessões

O evento de multiartes acontece em Turim, Itália, no mês de

fotográficas realizadas no barracão da Mocidade Inde-

novembro. Fotos, vídeos, figurinos, plantas do projeto e uma

pendente de Padre Miguel, na Cidade do Samba, durante

performance coletiva, com participação de coordenadores do

a criação e o desenvolvimento do enredo "Parábola dos

Plumas e Paetês, que customizará objetos carnavalescos, com-

Divinos Semeadores", do carnavalesco Cid Carvalho, em

põem o trabalho que será apresentado na Europa.

2011, os ensaios técnicos e o desfile. Estes são os temas da "Mostra Carnevale di Rio" da fotógrafa, jornalista e gestora de carnaval, Valéria del Cueto.

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A artista: Valeria del Cueto

Um público estimado de 100.000 pessoas visitará a Paratíssima 2013 e terá acesso à mostra brasileira, produzida pela Sportnet Webmarketing and Tourism Consultancy e apoiada pela Mocidade Independente de Padre Miguel, o Centro de Referências do Carnaval da Universidade Estadual do Rio de Janeiro - UERJ, a AMEBRAS, o Plumas e Paetês e a del Cueto - assessoria e produção.

alista e cineasta, formada em Valeria del Cueto é fotógrafa, jorn do Carnaval, da Universidade EsGestão de Carnaval pelo Instituto de realização do carnaval do Rio tácio de Sá. Estudiosa do processo e uma pesquisa fotográfica sobr de Janeiro, desenvolve desde 2011 dos barracões. formato de uso e espacialidade te ta, desde 2005 é corresponden Repórter, cronista e documentaris a idad na Sapucaí. Em 2010, conv e trabalha como fotógrafa de pista Padre Miguel, começou acompapela Mocidade Independente de s no barracão verde e branco. nhar a construção dos carnavai

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// VEM DE LÁ...

Brasileiras:

Mil Mulheres “Ó abre alas que eu quero passar.” Francisca Edwiges Novaes Gonzaga, nossa estimada Chiquinha Gonzaga, foi primeira em tudo na vida: autora da primeira canção carnavalesca, primeira pianista de choro, fundadora da primeira sociedade protetora dos direitos autorais. Mulher de fibra, que com seu talento musical deixou-nos sua marca de mulher que faz, empreendedora.

Por Marcia Moreschi A convite do famoso flautista Joaquim Antônio da Silva Callado (1848-1880), que dedicou a ela uma polka intitulada “Querida por Todos”, passou a integrar o Choro Carioca como pianista, tocar em festas e freqüentar o ambiente artístico da época. Compositora de marchinhas carnavalescas e musicais de teatro de revista da Praça Tiradentes, intérprete, esta mulher deixou-nos sua marca no campo da música. Também em sua vida privada também foi corajosa, casou-se aos 16 anos e logo depois separou-se. Imaginem só?! Isso no fim do século XIX. Estando à frente de seu tempo, ela foi e é uma referência para outras mulheres mil de nossos tempos. Muitas são as brasileiras que se aventuram a realizar coisas difíceis ou fora do comum, inovar a execução de um trabalho, renovar. A mulher é corajosa, guerreira e tem uma capacidade ímpar de tomar a seu cargo a administração da

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casa, a educação dos filhos, o seu próprio negócio. Muitas o fazem intuitivamente, outras se prepararam profissionalmente, mas a grande maioria das mulheres ainda se encontra excluída, sem oportunidades, vítimas de preconceitos e violência, sem que a sociedade acredite na sua capacidade produtiva em função de sua baixa escolarização. Entretanto são muitos os exemplos de superação, mães e chefes de família que garantem o sustento de seus filhos com suas atividades muitas vezes informais e de baixa rentabilidade. A partir desses exemplos inspiradores, o Programa Mulheres Mil surge como garantia do direito ao acesso à educação, aliado ao trabalho digno e voltado para a diminuição de problemas sociais em comunidades de baixo índice de desenvolvimento humano. Outra premissa é desenvolver


“Entretanto são muitos os exemplos de superação, mães e chefes de família que garantem o sustento de seus filhos com suas atividades muitas vezes informais e de baixa rentabilidade.” ações de inserção no mundo do trabalho, estimulando o empreendedorismo, as formas associativas solidárias e a empregabilidade.

trabalho por meio de iniciativas empreendedoras próprias, de formação de cooperativas, associações, trabalhos com economia solidária ou mesmo através de empregos formais em empresas. O Empreendedorismo tem sido preponderante no Programa Mulheres Mil, pois os negócios sociais integram a lógica dos diferentes setores econômicos e oferecem produtos e serviços de qualidade à população excluída do mercado tradicional, ajudando a combater a pobreza e diminuir a desigualdade, além de serem economicamente rentáveis.

O programa Mulheres Mil é coordenado pela Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da A opção do Programa pelo recorte de gênero se deu pelo Educação (Setec/MEC), tendo a Organização dos Estados caráter multiplicador que a mulher assume diante de sua fa- Ibero-americanos (OEI) como membro do Comitê Nacional, e mília e de sua comunidade. Isso se confirmou na implantação está sendo desenvolvido em todo o território brasileiro pela do projeto piloto em 2007: as mulheres formadas passaram Rede Federal de Institutos Educação Profissional, Científica a contribuir com a permanência dos seus filhos na escola e e Tecnológica, contando de com 17.814 matrículas, em 210 conseguiam multiplicar os conhecimentos adquiridos nos Núcleos. O programa também contribui para o alcance do cursos repassando-os a outras mulheres da comunidade e Projeto Metas Educativas 2021: a educação que queremos muitas vezes convocando-as para participar do Programa. para a geração do bicentenário, ao oferecer oportunidades de acesso à educação ao longo da vida e meios de superação A oferta de formação do Programa é criada de acordo com a de toda forma de discriminação. identificação da experiência não-formal adquirida pela mulher ao longo da vida e de acordo com os anseios pessoais e O céu – iluminado pela estrela de Chiquinha Gonzaga - é o profissionais dela, criando um itinerário formativo personali- limite para essas Mulheres Mil, que buscando realizar seus zado. Além disso, o acompanhamento dessas mulheres pelas sonhos constroem a história da mulher brasileira. instituições de educação profissional é realizado constantemente, desde a identificação da comunidade beneficiada até o seu ingresso e permanência no mundo do trabalho. Temas como cidadania, direitos da mulher, higiene pessoal, meio ambiente, empreendedorismo, cultura, etc., compleMarcia Moreschi é Gerente de Projetos mentaram a formação contribuindo para a sua autonomia Organização dos Estados Ibero-americanos e empoderamento, possibilitando o ingresso no mundo do

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// VEM DE LÁ...

Carnaval do Rio em San Luis, um espetáculo que transforma vidas na Argentina

Três empresas cariocas são protagonistas do evento que, há quatro anos, tem levado cultura, inclusão social e desenvolvimento à província Quem poderia supor que um povo embalado pelo ritmo do tango seria justamente aquele que faria do samba uma de suas maiores paixões? É possível imaginar que o maior rival do Brasil no futebol seja seu maior aliado no Carnaval? Embora improvável, foi na Argentina que aportou o maior espetáculo do planeta, provocando uma verdadeira revolução cultural, social e econômica na província de San Luis, distante 800 km de Buenos Aires e localizada no Centro-Oeste do país de Maradona e Evita Perón. A forte integração acontece a partir do Carnaval do Rio em San Luis, realizado pelo quarto ano consecutivo e já considerado o maior desfile promovido por brasileiros fora do Brasil. Trata-se de uma mega produção em que os protagonistas são

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três empresas cariocas que abrigam artistas, sambistas e gestores com vasta experiência e reconhecimento no Carnaval do Rio de Janeiro. A Gangazumba Produções, do ator Antonio Pitanga, é a produtora oficial do evento, que junto aos parceiros e da produtora executiva Leila Medina, organiza e supervisiona todas as ações necessárias para o sucesso do evento. A Amebras (Associação das Mulheres Empreendedoras do Brasil), presidida por Célia Domingues, que responde pela coordenação técnica geral do evento, é responsável pelas oficinas de inclusão social na província argentina. E a AMI 7 - formada por nomes já conhecidos no carnaval carioca, entre eles Alcione Barreto, Elias Riche e Amauri Wanzeler - cuida da arregimentação dos componentes junto às escolas de samba, da logística da viagem e da parte técnica dos desfiles em San Luis. Tudo começou a partir dos contatos da Deputada Federal Benedita da Silva com o então governador da província de San Luis Alberto Rodriguez Saá, um dos mais importantes políticos da Argentina na atualidade. Saá revelou a Benedita o grandioso sonho de ter um Carnaval na província. Em 2010,


Equipe da Amebras com artesãos de San Luis produziram 750 fantasias para o carnaval de 2014 na província

mil sambistas de escolas de samba do Rio percorreram os mais de 3.500 km que separam a Cidade Maravilhosa e San Luis, dando início à realização do sonho. Nos dois anos seguintes, foram dois mil sambistas. E uma novidade: em 2012, foi criada a primeira escola de samba da província, a Sierras Del Carnaval. O atual governador, Claudio Poggi, deu continuidade a realização do sonho, e na edição deste ano, 1.500 componentes brasileiros dividiram a cena com 750 “sambistas” da agremiação hermana, que passou pelo sambódromo local com mestre-sala e porta-bandeira, rainha de bateria, ritmistas e foliões, todos puntanos (denominação do habitante local) em alas das “comunidades”. O Carnaval do Rio em San Luis não é a mera “exportação” de um espetáculo. O evento é baseado em uma filosofia mais complexa, que inclui uma forte ação social junto aos cidadãos da província. Pessoas que antes não tinham trabalho passaram a participar de oficinas de capacitação técnica para confecção de adereços e fantasias. A ação social é coordenada pela Amebras desde a primeira edição dos desfiles e já formou, até hoje, mais de 500 artesãos puntanos em ofícios carnavalescos. “A valorização do samba, a integração cultural na América Latina e a inclusão social por meio do Carnaval formam o tripé que sustenta o projeto”, conta Célia Domingues, que no Brasil é responsável pelos projetos sociais da Cidade do Samba e, à frente da Amebras, coordenou no Rio de Janeiro o Planseq do Carnaval, projeto do Ministério do Trabalho e Emprego implantado em 2010.

“É o samba entrando em um país que tem o tango como orientador. Isto só tem sido possível porque a base foi a humanização e a inclusão social e não apenas o capital; não trouxemos um espetáculo pronto mas que precisou todo o tempo do envolvimento dos habitante locais”, analisa Antônio Pitanga, da Gangazumba. Para Leila Medina, da Gangazumba, “é o carnaval sob uma outra ótica, a do intercâmbio cultural. Da internacionalização de uma cultura que transcende a realização da festa. A experiência vivida pelas empresas envolvidas e pelo enorme contingente de brasileiros levados por estas ao carnaval em San Luis é uma oportunidade ímpar para agregar aprendizado e atualizar conceitos”. Os resultados econômicos também não tardaram. O Carnaval do Rio em San Luis já é o principal evento turístico-cultural da província e alcançou, em 2013, cem por cento de ocupação nos hotéis e pousadas da região, segundo dados do Ministério de Turismo e das Culturas de San Luis. A qualidade dos desfiles tem sido determinante para o êxito. “Este espetáculo é uma extensão do Carnaval do Rio de Janeiro, porque trouxemos nossos sambistas, que são únicos”, afirma Álvaro Caetano, da AMI 7. O trabalho da empresa, que conta ainda com Elmo José dos Santos, diretor de carnaval da Liesa, Moacyr Barreto, diretor de carnaval da Lierj e Edson Andrade, engenheiro técnico da Liesa, mobiliza dezenas de profissionais para viabilizar a formação das duas escolas de samba em que são distribuídos os foliões brasileiros, recrutados junto às agremiações do Grupo Especial e da Série A.

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// BASTIDORES

CAMAROTE Plumas & Paetês 2013 A

lgo mais do que um simples desfile na Sapucaí. No espaço ambientado por nossa equipe acontece no carnaval o encontro de pessoas que, além de acompanharem as escolas dos grupos Especial e da série A, também compartilham informações e impressões sobre o fazer carnavalesco. Faça parte dessa turma e aprenda a valorizar e reconhecer o que nós cariocas e brasileiros sabemos produzir melhor: a maior e mais animada festa popular do planeta.

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// BASTIDORES

VIVA Donga!

Paulo Alcântara, interpretou Donga em uma cena do musical de abertura em Homenagem a Donga pela Cia de Artes Plumas e Paetês na premiação 2012.

Comemoração! Comemoração do aniversário do radialista e parceiro Miro Ribeiro na Rádio 94 FM e divulgação da premiação 2013.

Encontro Especial Registro do encontro especial de Levi Cintra com a porta-bandeira Vilma do Nascimento, o Eterno Cisne da Passarela, e sua filha, Daniele Nascimento

MEDALHA TIRADENTES

FEIJOADAS A presidente da Amebras, Célia Domingues, recebeu no dia 15 de março a Medalha Tiradentes, a mais alta distinção concedida pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ). Presença da diretoria da BPW-RJ (Business Professional Women - Associação de Mulheres de Negócios e Profissionais)

Augusto Carazza e Regina Lúcia de Sá são autores do “GUIA DE FEIJOADAS DAS ESCOLAS DE SAMBA DO RJ”, da editora Reptil, e têm feito um circuito de lançamento em diferentes locais, com muito sucesso.

CARNAVAL EXPORTAÇÃO

Parabéns!

No dia 25 de março deste ano, quando o Salgueiro ao completava seus 60 anos de existencia, foi realizada em sua quadra uma grande cerimonia para três grandes acontecimentos: Seus gloriosos anos de desfiles, o aniversario de sua madrinha de bateria Viviane Araujo e contratação da bela Porta Bandeira Marcella Alves, que irá defender mais uma vez o pavilhão da escola, desta vez com o mestre-sala Sidclei.

A Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, recentemente recebeu Jaime Cesário para palestras e workshops, visando à realização do primeiro desfile de carnaval na cidade, em junho/2013. O Museu de Artes de Iowa adquiriu para seu acervo uma fantasia criada pelo carnavalesco, a ser exposta entre outras obras de arte da cultura latino-americana.

Escritos Carnavalescos Lançamento do mais recente livro “Escritos Carnavalescos” de Felipe Ferreira aconteceu no Museu de Folclore Edison Carneiro, no Catete. Prestigiaram o evento, os amigos Luiz Carlos Prestes Filho, Luiz Fernando Vieira, José Antonio Rodrigues e Sayonara Pontes.

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// GUIA CULTURAL

Museu de Arte do Rio

abre suas portas com quatro exposições simultâneas Em seu primeiro mês, novo equipamento cultural da cidade, localizado na Zona Portuária, recebeu 57 mil visitantes. Entrada é gratuita às terças-feiras para o público em geral.

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CARIOCAS E TURISTAS JÁ PODEM COLOCAR na agenda mais uma atração cultural: o Museu de Arte do Rio abriu suas portas no dia 5 de março, com quatro exposições simultâneas, em um complexo de 15mil m², em plena Praça Mauá, reunindo um acervo que vai desde Aleijadinho a Tarsila do Amaral. O MAR chegou à Praça Mauá como o primeiro grande equipamento cultural entregue à cidade, dentro do projeto de revitalização da Zona Portuária. O Museu tem o Rio de Janeiro como grande tema. As salas de exposições estão espalhadas por quatro andares do Palacete Dom João VI. De estilo eclético e tombado pelo Patrimônio Histórico, o palacete tem em cada um dos andares um tema diferente. O público tem acesso ao palacete pelo prédio anexo, atravessando uma ponte que leva ao último andar, que liga o edifício da Escola do Olhar ao Palacete de Dom João VI. No terceiro andar, está a primeira exposição a ser visitada: “Rio de Imagens: Uma Paisagem em Construção”, que reúne aproximadamente 400 peças e mostra a evolução da cidade ao longo de quatro séculos. No segundo andar, a exposição “O Colecionador: Arte Brasileira e Internacional na coleção” apresenta 136 peças da coleção particular do marchand Jean Boghici. De forma lúdica, a mostra propõe um mosaico da nossa arte e história no século XX. Entre pinturas e esculturas, O Colecionador reúne obras de Di Cavalcanti, Brecheret, Guignard e Kandinsky, entre outros cerca de 70 artistas. O primeiro andar, a exposição “Vontade Construtiva na Coleção Fadel” possui em torno de 230 peças. A mostra exibe um expressivo e histórico conjunto de obras produzidas por artistas plásticos brasileiros representantes dos movimentos concreto e neoconcreto, desenvolvidas entre as décadas de 1950 e 1960. A exposição também apresenta obras pertencentes ao acervo do MAR, adquiridas ou doadas recentemente, como o São José de Botas, de Aleijadinho. No térreo, a última etapa do circuito de exposições termina com a mostra “O Abrigo e o Terreno - Arte de Sociedade no Brasil”, que propõe explorar questões como as relações de inclusão e exclusão no contexto urbano, através das obras de Antonio Dias, Antonio Manuel, Bispo do Rosário, Helio Oiticica, Lucia Koch, Lygia Clark, Lygia Pape, Marepe, Raul Mourão, entre outros. O complexo inclui oito salas de exposições, em cerca de quatro mil metros quadrados, divididos em quatro andares. O acesso ao Palacete é feito pelo prédio anexo, onde está a Escola do Olhar, sede do programa educativo do MAR. O complexo ainda agrupa uma área do antigo Terminal Rodoviário da Praça Mauá.

Serviço Museu de Arte do Rio - MAR Terça a domingo, 10h às 17h Praça Mauá - Centro | Tel. 2203-1235 Ingressos: R$ 4 (meia) | R$ 8 (inteira). Entrada gratuita às terças-feiras www.museumar.com

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// DISPERSÃO

As águas rolaram, o povo cantou… o santo abençoou!

texto e foto Valéria del Cueto

ESTAVA INDO, MAS ACABEI FICANDO por que o tempo

O aguaceiro afeta a vida, mas não a interrompe. Alguns hábi-

está virando de novo. Será praga de madrinha esse janeiro

tos se transformam, outros sobrevivem e superam as intempé-

carioca, totalmente encharcado? São Pedro parece decidido a

ries ignorando a “molhação”.

fazer uma lavagem geral pra entrar na Era de Aquário livre de Rodei, arrodeei, mas sei onde quero chegar, igual a essa chuva

impurezas.

persistente de pancadonas e pancadinhas, decidida a desE nós aqui, valorizando os guarda-chuvas e as capas imper-

manchar a cinematográfica e turística imagem solar do verão

meáveis, evitando os sapatos delicados e pedindo a Deus

radiante carioca.

proteção para as chapinhas e escovas. Semana passada, matei o ensaio técnico das escolas de samba, Sei não... só sei que os camelôs acabam se dando bem e as

na Sapucaí, no sábado – estava chovendo(!), mas não fugi da

sombrinhas com imagens de pontos turísticos do Rio, como

raia no domingo, dia de São Sebastião e do ritual da lavagem

o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar e o bom, velho e, agora,

do Sambódromo Darcy Ribeiro pelas maravilhosas baianas ca-

inoperante Maracanã passeiam sobre as cabeças que tentam

riocas, herdeiras de Tia Ciata e tia Bebiana, da Pequena África

se proteger da água que os céus nos mandam com abundância

e tia Sadata, da Pedra do Sal. A cada ano, o cortejo fica maior e

e intermitência nas últimas semanas.

mais emocionante!

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Lá fui eu, com meu kit “pode cair o mundo”, rezando pra que os deuses do samba e do carnaval protegessem ao menos o equipamento. Fotografia é assim, um vício delicioso em que a gente procura registrar de um jeito diferente o que está ali, pra todo mundo ver. Só que não é fácil fazer duas coisas ao mesmo tempo: ver e registrar. Ainda mais quando tudo embaça, ou fica coalhado de respingos teimosos... Os atabaques nem precisaram soar e o céu já estava caindo, desafiando os fotógrafos a protegerem seus equipamentos, ou arriscarem suas lentes, naquela que pode ser a foto derradeira. Quando os tambores firmaram descia água sem dó nem

Corri pra onde todo mundo correu e, é claro, não havia proteção pra tanta gente. Voltei pra baixo d’água, conformada com minha sina de pinto molhado e temendo que a festa fosse prejudicada. Era tempestade. Foi quando ouvi. Um canto. O canto. De todos! Sem amplificação, só dos pulmões, com a pureza de milhares de corações musicais. Das almas que se juntavam num só voz, se sentindo abençoadas e fazendo questão absoluta de manifestarem, por meio dos clássicos do samba entoados, a fé na manifestação religiosa que ali acontecia. Larguei de mão todos os meus medos, o receio de perder minha única câmera fotográfica, a que usarei durante o carnaval que se aproxima. Se, ali, cada um representava seu papel, o meu era de registrar aquela sintonia celestial. E se havia - e há – a famosa proteção, as bênçãos dos santos guiariam pela tempestade, afinariam o olhar e dariam passagem para as imagens emocionantes que se dobravam, refletidas na pista molhada da avenida do desfile principal, a Marquês de Sapucaí. E assim aconteceu com muita gente que, como eu, com fé e oração, se deixou lavar pelas águas purificantes do santo padroeiro do Rio de Janeiro, São Sebastião, no dia 20 de janeiro do ano da graça de 2013.

Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “É Carnaval”, do SEM FIM… delcueto.cia@gmail.com

By Izaquis

piedade.


Venha para o melhor carnaval fora de época

Q

ue tal assistir a três noites de desfiles de blocos e escolas de samba numa moderna passarela do samba, com conforto e, o que é melhor, de graça? Se você se interessou, marque aí na sua agenda. De 26 a 28 de abril, a Prefeitura de Campos vai promover o Campos Folia, maior carnaval fora de época do Norte Fluminense e uma das mais importantes festas populares do estado do Rio. Além das entidades carnavalescas de Campos, participam escolas de samba cariocas especialmente convidadas. O palco do Campos Folia é o Cepop – Centro de Eventos Populares

Osório Peixoto, um espaço inaugurado pela Prefeitura de Campos em 2012 para oferecer maior conforto e segurança ao público. Localizado na Avenida Alberto Lamego e com capacidade para receber até 40 mil pessoas, o Cepop tem cinco blocos de arquibancadas, dois blocos de camarotes, pista com 280 metros de extensão, estacionamento para 520 veículos e o maior palco fixo para eventos públicos da América Latina. Este ano, o Campos Folia prestará uma homenagem especial ao escritor campista José Cândido de Carvalho, imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL) e autor de vários livros – en-

tre eles, o clássico “O Coronel e O Lobisomem”. Além da homenagem a José Cândido, a passarela do samba terá o nome de Manoel Tancredo, conhecido sambista de Campos. Com o novo espaço, o carnaval de Campos cresceu em qualidade e passou a atrair mais pessoas – inclusive carnavalescos do Rio, que em 2012 estiveram no Cepop para prestigiar o desfile e se encantaram com a boa infraestrutura e organização do Campos Folia. Para a Prefeitura de Campos, investir na cultura é resgatar a cidadania, oferecendo o melhor à população. Participe desta festa! Estamos esperando você!


Desfile no Campos Folia em 2012 (acima) e arquibancadas do Cepop (esquerda): conforto e segurança para o público


// FICHA TÉCNICA & PRODUÇÃO

9ª Edição do Prêmio Plumas & Paetês Cultural PRODUÇÃO PREMIAÇÃO Produzido por Plumas & Paetês Cultural DIREÇÃO GERAL DE PRODUÇÃO: José Antônio R. Filho ASSISTÊNCIA DE PRODUÇÃO: Gustavo Luiz, Elisa Santos, Izaquis de Paulo, Levi Cintra, Lília Gutman, Regina Lúcia Sá, Glória Salomão, Lydia Rey, José Maurício Tavares, André Rambo, Jorge Luiz Alves, Wellington Pessanha, Beth Santos, Lucy Pinto Ribeiro, Maria Cristina Chaves CENOGRAFIA: Levi Cintra EXECUÇÃO CENOGRAFIA: A CENOGRAFIA IMPRENSA: Tiago Ribeiro ILUMINAÇÃO: Ricardo Lopes - RICMOM MUSICOS: Bruno Maia e Banda Cais, Bloco Saias na Folia, Bloco Mulheres de Chico, Mary Araújo, Vivi Araújo, Grupo Só Damas, Marina Andrade, Hugo Andrade, Banda da Polícia Militar do Rio de Janeiro – sob a regência do Maestro Sub.Ten. Paulo Cézar – e Maestro Haroldo Braga (gravação) COORDENAÇÃO DE PALCO: André (Rambo) APRESENTADORES: Miro Ribeiro e Thatiana Pagung ASSISTENTES DE PALCO: Clara Paixão

Ruidglan

Paulo César

MODELISTA: Denilda Pereira

ESPETÁCULO “CHIQUINHAS”

MAQUIAGEM & CABELO: Rosangela Pereira, Alexandra Ro-

DIREÇÃO ARTÍSTICA: Ruidglan Barros

drigues, Ilouri Conceicao Oliveira, Luciene da Silva, Edilaine

PRODUÇÃO ARTÍSTICA: Paulo Cesar Alcântara

Souza e Ieda Albuquerque

PRODUÇÃO EXECUTIVA: Zuri Monteiro, Luciana Andréia, Wagner di

CAMAREIRA: Ecilene Gomes Dias e Geovana Marnet

Carvalho e Renira Araújo da Silva

REALIZAÇÃO: Cia Artística Plumas & Paetês Cultural

CONTRA-REGRA: George Santos e Kelly Regis

ELENCO: Aline Lima, Cintia Alves, Fábio Santana, Carlos

CENÁRIOS, FIGURINOS E ADEREÇOS: Gilmar Oliveira

Alves, Flávia Leal, Rodrigo Baiano, Marcella Paes, Dou-

EXECUÇÃO CENÁRIOS: Futica, Suely Sanz e Cássio Carvalho

glas Lima, Amanda Rocha Correia, Michelle Sandes, Hugo

EXECUÇÃO FIGURINOS: By Izaquis - ateliê de arte em tecidos COSTUREIRAS: Edna Santos, Luana Oliveira, Viviane Silva de Paulo e Ruth Sodré

Revista Plumas & Paetês

Lopes, Sofia Kern, Laís Ribeiro, Kian Kirnikkouwa, Rogério Madruga, Jorge Vasconcelos, Paulo Cesar Alcantara, Leandro Massaferri, Plácido Leite, Neide Moreira e Charles Fernandes

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