O Poder do Mito

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O PODER DO MITO _____________________________________ CAMPBELL: É uma questão de planos de consciência. Não tem nada a ver com o que tenha acontecido. Existe o plano de consciência em que você pode se identificar com o que transcende os pares de opostos. MOYERS: Que vem a ser...? CAMPBELL: Inominável. Inominável. Transcende todos os nomes. MOYERS: Deus? CAMPBELL: “Deus” é uma palavra ambígua, em nossa língua, pois parece referir alguma coisa conhecida. Mas o transcendente é desconhecido e incognoscível. Deus, em suma, transcende qualquer coisa, mesmo o nome “Deus”. Deus está além de nomes e formas. Mestre Eckhart disse que a suprema e mais alta renúncia é abandonar Deus por Deus, abandonar a noção de Deus por uma experiência daquilo que transcende a todas as noções. O mistério da vida está além de toda concepção humana. Tudo o que conhecemos é limitado pela terminologia dos conceitos de ser e não ser, plural e singular, verdadeiro e falso. Sempre pensamos em termos de opostos. Mas Deus, o supremo, está além dos pares de opostos, já contém em si tudo. MOYERS: Por que pensamos em termos de opostos? CAMPBELL: Porque não podemos pensar de outro modo. MOYERS: Essa é a natureza da realidade em nosso tempo. CAMPBELL: Essa é a natureza de nossa experiência da realidade. MOYERS: Homem mulher, vida morte, bem mal... CAMPBELL: ...eu e você, isto e aquilo, verdadeiro e falso – tudo tem o seu oposto. Mas a mitologia sugere que sob essa dualidade existe uma singularidade em relação à qual a dualidade desempenha um papel de jogo de sombras. “A eternidade está apaixonada pela produção do tempo”, diz o poeta Blake. MOYERS: Que significa isso de a eternidade estar apaixonada pela produção do tempo? – 59 –


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