O Poder do Mito

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O PODER DO MITO _____________________________________

MOYERS: E quanto à felicidade? Se eu fosse um jovem e quisesse ser feliz, que me diriam os mitos a respeito da felicidade? CAMPBELL: O caminho para descobrir alguma coisa a respeito da sua própria felicidade é concentrar a atenção nesses momentos em que você se sente mais feliz, em que você está realmente feliz – não excitado, não simplesmente emocionado, mas profundamente feliz. Isso exige um pouquinho de auto-análise. O que é que o torna feliz? Não arrede pé daí, não importa o que as pessoas digam. Isso é o que chamo de “perseguir a sua bem aventurança”. MOYERS: Mas o que diz a mitologia a respeito do que me torna feliz? CAMPBELL: Ela não lhe dirá o que o torna feliz, mas o que acontece quando você se põe no encalço da sua felicidade, quais são os obstáculos que você terá de enfrentar. Por exemplo, existe um motivo, nas histórias de índios americanos, que eu chamo de “a recusa de pretendentes”. Temos uma jovem, bela e formosa, e um jovem lhe propõe casamento. “Não, não”, ela diz, “não há ninguém suficientemente bom para mim, por aqui.” Aí aparece uma serpente; ou, se for um rapaz que não quer nada com as moças, aparece a serpente rainha do grande lago. Assim que recusa os pretendentes, você se eleva acima do nível comum e se coloca num nível de poder mais alto, de perigo maior. A questão é: você está preparado para enfrentar o desafio? Outro motivo dos índios americanos envolve a mãe e dois meninos. A mãe diz: “Vocês podem brincar em volta das casas, mas não vão na direção norte”. É para o norte que eles vão. Eis o aventureiro. MOYERS: O que você conclui daí? CAMPBELL: Com a recusa de pretendentes, com a ultrapassagem de uma barreira, começa a aventura. Você adentra num terreno desconhecido, novo. Não pode haver criatividade a menos que você abandone o delimitado, o fixo, todas as regras. Existe uma história iroquesa que ilustra o motivo da rejeição de pretendentes. Uma garota vivia com a mãe numa barraca, no limite da aldeia. Era uma garota muito bonita, mas extremamente orgulhosa, e não aceitaria nenhum dos rapazes. A mãe vivia terrivelmente aborrecida com ela. Certo dia, elas estavam colhendo madeira bem longe da aldeia, quando uma escuridão ameaçadora se abateu sobre elas. Pois bem, não era o escuro da noite. Quando uma escuridão daquelas ocorre, há sempre a artimanha de um mágico por detrás. Então, diz a mãe: “Vamos juntar alguns gravetos e fazer uma pequena barraca para nós; vamos colher madeira e passar a noite aqui,”. – 171 –


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