Campo de Provas: sobre Nietzsche e o test-drive, por Avital Ronell

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condições”.8 Seu tom, se não é totalmente apocalíptico, permanece enfático sobre a tarefa à mão: “este repensar... não deve ser adiado, ele é imediato e urgente”.9 Quando o mestre diz imediato e urgente, eu atendo o chamado. Não menos iludida que o Abraão de Kafka, aqui estou como se o chamado fosse destinado a mim.10 Respondendo ao chamado, desejo ligar o que Derrida chama de provação da democracia ao nome de Nietzsche – outro nome para uma justiça indefinidamente nãosatisfeita – e ao momento da democracia pelo qual ele clama: “esta democracia por vir é marcada no movimento que sempre carrega o presente além de si, torna-o inadequado a si mesmo”.11 Para Nietzsche, ou para um ou dois dos signatários em Nietzsche, aquilo que carrega exemplarmente o presente além de si é a ciência. Em 8  Idem. 9  Idem. 10  A referência aqui é a parábola de Kafka, “Abraão”, sobre a qual escrevi em Stupidity (University of Illinois Press, 2002). Kafka multiplica Abraão em uma série de personagens hipotéticos, um dos quais é a mais tapada das crianças na sala de aula. Colado na última fileira – o corredor da morte acadêmico – ele pensa ouvir seu nome chamado no dia da formatura, quando o prêmio para o pupilo mais inteligente está para ser entregue. Escutando seu nome ser chamado, ele se levanta para receber o prêmio. Bem, se ele pensa que foi destinado a ele, talvez o seja. Kafka, derrubando assim o urpatriarca. 11  Ibidem, 252.


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