Revista Movimento Médico - N 04

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que investir

CAI A

Para vocĂŞ. Poro todos os brasileiros. GOVERNO f!DERAL


N° 04°Ano 02 o Mar/Abr/Mai 2005

Editorial

m sua quarta edição, a revista Movimento Médico destaca, numa reportagem especial de capa, os 4S anos de fundação do Imip, que passou a ser o Instituto Materno Infantil de Pernambuco Professor Fernando Figueira, numa homenagem ao seu idealizador. Concebido para cuidar da saúde das mulheres e das crianças pobres do Estado, o Imip ganhou destaque e logo cruzou as divisas de Pernambuco, tornando-se referência nacional. Foi o primeiro hospital a ganhar o título de "Amigo da Criança", concedido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância e a Juventude (Unicef). Movimento Médico traz também uma entrevista exclusiva com o governador Jarbas Vasconcelos sobre a rede de saúde do Estado, o desenvolvimento econômico e outros temas de âmbito político. Outra abordagem interessante que está na revista, no espaço da Sociedade de Medicina de Pernambuco, Somepe, é a pesquisa do psiquiatra José Francisco de Albuquerque, professor adjunto de Psiquiatria da UFPE, sobre médicos dependentes de droga. Nas páginas do Sindicato dos Médicos (Simepe), a posição da entidade sobre a reforma sindical, que está em tramitação no Congresso Nacional, e uma entrevista com o ex-presidente Adaílton Vidal sobre a reestruturação do Simepe. Mas não é só isso. Movimento Médico traz também uma reportagem especial sobre a riqueza cultural encontrada no Mercado de São José, no centro do Recife, e a fonte de pesquisa que existe no Museu de Arqueologia de Pernambuco, que fica na rua do Hospício, no centro da cidade. E, para rir um pouco, não deixe também de ler os casos engraçados de Apolo Albuquerque, na página dedicada ao humor.

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Capa: Foto de Hans Manteuffel

EXPEDIENTE Conselho Editorial Cremepe Presidente: Ricardo Paiva Vice-presidente: Carlos Vital Assessoria de Imprensa: Joane Ferreira· DRT/PE 2699

Símepe Presidente: André Longo Vice: Mário Fernando Lins Assessoria. de Imprensa: Chico Carlos - DRT/PE 1268 Somepe Presidente: Jane Lemos Vice: Bento Bezerra Coordenação: Sirleide Lira Assessoria de Imprensa: Elisabeth Porto - DRT/PE 1068 Fecem Presidente: Eduardo Montezuma Assessoria de Imprensa: Mônica Holanda

APMR Presidente: Adriana Marques Vice: Marizon Armstrong

Trauma Coordenação: João Veiga e Fernando Spencer

Damuc/UFPE Coordenação: Tiago Emmanuel de Oliveira e Berta Maria Brunet

DA/UPE Coordenação: Renan Eboli Lopes

e Carlos Tadeu Leonidio

Redação, publicidade, administração e correspondência:

Rua Conselheiro Portela, 203, Espinheiro,

CEP 52.020-030 - Recife, PE

Fone: 81 3241.5744

Edição Geral: VERBO Assessoria de Comunicação.

Fone 81 3221.0786. - verbo@verbo.com.br.

Jornalistas responsáveis: Beto Rezende e Lula Portela

Projeto Gráfico/Arte Final: Luiz Arrais - DRT/PE 3054

Reportagem : Joanne Ferreira, Etiene Bahé e Roberta

Vasconcelos.

Tíragem : 15.000 exemplares

Impressão: Intergraf

Coordenador Editorial: José Brasiliense Holanda

Cavalcanti Filho

Todos os direitos reservados.

Copyright © 2005 - Conselho Regional de Medicina

Seção Pernambuco


Sumário

4 Entrevista Jarbas fala do seu governo

7

Capa IMIP: 45 anos de trabalho sério e dedicado

Seções

12 Científica

Editorial

01

Os mistérios de um continente gelado

Opinião

03

Entrevista

04

:IA

capa

07

História

Científica

12

Museu Arqueológico tem mais de 4 mil peças

História

14

Cremepe

18

24

Simepe

22

CBHPM

Somepe

26

Trauma

30

Fecem -

32 --

Médicos retomam luta

26 Drogas

APMR

33

Diretórios

34

Cultura em Foco

35

35

40

Cultura em foco

,

Ultima página

Dependência química é realidade entre médicos

Os 130 anos do irresistível Mercado de São José


Opiniao Or. carlos Vrtal*

Pela dig idade

do ser humano

A

os atos médicos, de diag­

prolifera o exercício ilegal da medicina,

nóstico e prescrição terapêu­

muitas vezes, com o beneplácito de estra­

tica das doenças, como ter­

tégias governamentais, orientadas por

mos contraídos da expressão,

uma visão limitada, de caráter orçamen­

atos profissionais de médicos, na lei não

tário, sob o prisma do débito e crédito.

há restrições de alcance. Não há 'meio

Valores absolutos, como a manutenção da

médico' ou 'parte de médico'.

vida e da saúde, são alvos das políticas

Na medicina, em um sentido integral,

partidárias de causas menores. A irredu­

os seus agentes disputam um maior cam­

tível dignidade do ser humano é desres­

po de trabalho, com divergências nas deli­

peitada.

mitações das suas áreas de competência.

equidade e justiça social!

Aos Editores da Movi­

mento Médico, Parabenizo a excelente ini­ ciativa em editar a re\~sta Movimento Médico, fo­ mentando na sociedade o debate de temas essenciais, que, além do caráter peda­ gógico, buscam a ética e a cidadania.

O povo brasileiro clama por

Não há um diálogo profícuo, conci­

Nesses parâmetros circunstanciais de

liatório entre os Conselhos regulamenta­

desordem e reivindicações, a aprovação

dores das profissões dedicadas à assistên­

de um projeto de lei que consolide de

cia à saúde. São publicadas resoluções em

maneira específica, a instituição do ato

um confronto gerador de processos

privativo do profissional médico, é de

prolongados, com definição do mérito em

extrema relevância à assistência à saúde

decisões judiciais, emitidas por tribunais

do nosso povo.

de instância superior.

O exercício laborativo do profissional

O Projeto de Lei 25/2002, atualmente em estudos na Comissão de Assuntos So­

médico dispõe de regulamentação distri­

ciais do Senado, determina de maneira

buída em vários diplomas dotados de po­

si mples e pragmática, os atos privativos

sitivismo jurídico, nos quais se afirmam o

do profissional médico, observando com

diagnóstico e a prescrição terapêutica das doenças como atos privativos dos médi­ cos, habilitados ao desempenho da ativi­ dade hipocrática. Prerrogativas reafirma­

rigor os ditames regulamentadores das outras profissões da área de assistência à

das, de modo coerente, em acervo jurisprudencial transitado em julgado. Não obstante, na práxis médica con­

saúde. Não há substrato técnico, jurídico ou moral para posições contrárias, apenas compreendidas como fruto de uma política anti-social e corporativista. A caracterização do diagnóstico e da

temporânea, as normas existentes, por sua

prescrição terapêutica das doenças, como

dispersão e antiguidade, não evitam as

atos privativos dos médicos, é um míster

questões judiciais e os trâmites processu­

de lei e sensibilidade social.

ais a respeito das competências profissio­ nais. As discórdias ocorrem em detrimen­

* Vice-presidente do Creme!:..e~_ _ _ _ __

to dos cuidados oferecidos, mormente, à

Leia na página 19. mais sobre o Projeto de Lei do

parcela maior e mais pobre da população.

Ato Médico

No âmbito dos conflitos de interesses,

Cartas

Virgínia Pilllm/e! (Advogada) - Reei fe

Prezados editores,

o

Centro Josué de Castro agradece pelos exemplares presenteados à nossa entida­ de, da terceira edição da re­ ,~sta

Movimento Médico,

onde a matéria de capa traz Josué de Castro com enfo­ que na sua trajetória médica, na sua atuação na área da nullição inclusive. Já começamos a distlÍbuir aos programas que o CJC atua e já presenteamos algu­ mas pessoas espeCIaIS. Que bom saber que contri­ buímos com um trabalho de tão boa qualidade. Mana do Céo Galindo Agm Centro Josué de Cnstro ­ Comunicação

Na edição anterior, (!t: tlfímem 3, fui um er/rJ na página 25. A paluvra lIegociClfão &1á gra­ játla de fOr/l1a eJ7yula. Nossas dcsctllpas aos leitores. Atenciosamente, os editores.


ENTREVISTA

larbas Vasconcelos

,

~

"E rgente a aprovaçao da Reforma Política" Governar um Estado como Pernambuco não é tarefa fácil. Estado rico culturalmente, com um belo litoral, mas com uma região metropolitana problemática, Pernambuco tem ainda muitos desafios a superar. Jarbas Vasconcelos, em seu segundo mandato, sabe muito bem disso. Nesta entrevista a Movimento Médico, o governador, uma das maiores lideranças do PMDB nacional, fala dos desafios de ser administrador e de como vê o Brasil hoje. Fala também das suas realizações, do Porto de Suape e de dois grandes empreendi mentos que deverão vir para Pernambuco: o estaleiro da Camargo Correia e a refinaria de petróleo.

ovimento Médico - A Lei sancionada pelo senhor, que regulamenta a relação médicos/operadoras de planos de saúde, serviu como base para o encaminhamento de um projeto de Lei Federal em tramitação. Politicamente, como o senhor vê a possibilidade dessa lei ser aprovada no ãm.bito federal? Governador Jarbas Vasconcelos

M

alguma modificação após a sanção desta lei? É evidente que uma Lei como essa

serviço e passaram a recorrer ao SUS.

precisa de tempo para ser implantada de forma completa, mas creio que as coisas começaram a entrar nos eixos, principalmente por causa da mobilização dos próprios usuários e dos médicos.

pulação pernambucana?

Até recentemente, o pólo médico do Recife foi referência tanto no âm­ - Sei que existe um projeto de lei, de bito técnico como na geração de autoria do deputado federal Inocêncio empregos diretos. Atualmente, ele se Oliveira (Projeto de Lei N° 3.466/04), encontra em sérias di:6.culdades. Existe com este objetivo em tramitação na alguma política no sentido de ajudar Câmara dos Deputados. Acho esse setor? essencial a implantação da Pelas características desse tipo de Classificação Brasileira Hierarquizada atividade, a forma de incentivo para o de Procedimentos Médicos pólo médico depende mais das (CBHPM), tanto que Pernambuco iniciativas no âmbito da Prefeitura do foi o primeiro Estado a implantar nas Recife. No entanto, a própria quatro modalidades de planos de implantação da CBHPM permite saúde (por meio da Lei estadual uma maior estabilidade para o setor. O 12.562/04). que ocorre é que com as dificuldades da economia nacional, antigos usuários Enquanto usuário do sistema pri­ dos planos de saúde, clientes do pólo vado de saúde, o senhor tem percebido privado, não puderam mais pagar o 4 Movimento Médico

Como o senhor avalia os serviços de saúde pública oferecidos à po­ No âmbito das responsabilidades do Governo do Estado estamos trabalhando para melhorar esse aten­ dimento. Recentemente, a Secretaria de Saúde divulgou o resultado do concurso público realizado em dezembro do ano passado. Serão ocupados cargos de nível superior e médio em hospitais de todo o Estado. Agora, este é um trabalho contínuo, que terá uma etapa-chave em 2005. Para que o SUS funcione, da forma proposta, é preciso que todos os municípios assumam a sua competência dentro deste processo.

Existe alguma política efetiva que cobre dos gestores municipais a utilização orçamentária destinada à saúde de forma racional e resolu­ tiva, de forma que evite a super­ lotação nos hospitais de alta com plexidade? Quando as unidades de saúde


economia: garanta regras estáveis.

Para Jarbas Vasconcelos, atuação conjunta melhora atendimento

do interior, e até mesmo da capital, começarem a receber os pacientes de baixa complexidade, somente encaminhando os casos graves para as emergências dos grandes hos­ pitais, o sistema vai funcionar sem os percalços que hoje ocorrem. Não sei se você sabe, mas cerca de 50% dos casos recebidos pela emergência do Hospital da Restauração não de­ veriam ser atendidos lá, mas numa policlínica municipal. Casos mais simples ocupam os leitos de pacien­ tes com problemas mais compli­ cados, de risco de morte. São ques­ tões nas quais precisamos atuar de forma conjunta, unindo Governo Federal, Estado e municípios.

Como o senhor avalia o mo­

mento político no país, com o PT sem representação na Mesa Dire­ tora da Câmara Federal? Quais são os reflexos disso na política esta­ dual, principalmente depois da vitória de Severino Cavalcanti (PP)? Eu acredito que a primeira lição que temos para tirar da eleição da Mesa Diretora da Câmara é de que é urgente a aprovação da Reforma Política. Esta é uma questão que vem se arrastando há anos, mas o atual quadro de fragilidade parti­ dária mostra que as mudanças pre­ Cisam ser implementadas para assegurar a estabilidade política. O que precisamos é que a Reforma Política faça pelas instituições polí­ ticas o que o Plano Real fez pela

Como o senhor está vendo o momento econômico atual de Per­ nambuco, diante da possibilidade de termos um estaleiro e uma refinaria de petróleo? A conquista desses empreendi­ mentos que você citou, entre tantos outros, é o maior reconhecimento do trabalho realizado em Pernambuco, a partir de 1999. O Governo tem procurado atuar em equipe, de forma disciplinada, para coordenar o mais audacioso programa de investimentos estruturadores da história de Pernambuco. Hoje, os per­ nambucanos não lamentam mais que perderam este ou aquele investimento para os Estados vizinhos. Muito pelo contrário. Um dia desses estava lendo na Imprensa do Ceará que Pernambuco tem estado à frente, nos últimos anos. Não criamos a infra­ estrutura de Pernambuco, ela já existia. Mas fizemos uma atualização, uma grande melhora. Entre 1999 e 2004, o Governo do Estado investiu R$ 755 milhões de reais na construção e restauração de estradas. Além disso, cerca de 70% dos investimentos reali­ zados em Suape ocorreram neste Governo. Suape hoje é considerado pelos especialistas como um porto­ modelo no Brasil.

A vinda da refinaria para Pernambuco é uma luta de vários partidos. Isso abre boas perspectivas de relacionamento entre PMDB e PT, já que o senhor prega oposição ao governo do presidente Lula? O próprio presidente Lula me disse que os critérios técnicos é que definiriam a localização da nova refinaria. Isso nos deixa tranqüilos, pois Pernambuco e Suape dispõem das melhores condições para re­ ceber esse empreendimento. A missão técnica da PDVSA (estatal Movimento Médico 5


ENTREVISTA Para o governador Jarbas Vasconcelos, é preciso saber separar as questões polfticas das questões ad ministrativas

venezuelana do petróleo, sócia da Petrobras no projeto) esteve aqui no início do ano e saiu satisfeita com o que encontrou. Esta é uma luta de muitos anos, mas o Governo está convicto de que fez bem a sua parte. Quanto à questão do relacionamen­ to entre administrações de partidos diferentes, temos q ue separar a questão político-partidária da ques­ tão administrativa . Isso faz parte da democracia. A população não qu er A triplicação da PE-15, uma das principais obras do governo de Jarbas Vasconcelos

6 Movimento MédiCO

saber de brigas de partidos, ela quer se r bem atendida pelo pod er público. E é isso que a gente precisa busca r.

Governador Jarbas: depois de mais de seis anos de mandato, o se­ nhor se sente realizado politica­ mente? M e sinto. Eu iria mais longe: quem não se sentiria rea lizado em administrar um E stado como Per­

nambuco ou uma cidade como o Recife? Por onde ando, repito que este é um governo que tem a co ra­ gem de explicar à população porque es te ou aquele problema ainda não foi resolvido. Não sou daqueles que acham que tudo está às mil maravilhas. Se for preciso mudar, mudamos. M as, ao mesmo tem po, também temos o reconhecimento da maioria dos pernamb ucanos ao trabalho que iniciamos em 99.


Imlp ­

o Imip começou a ser construído em 1960

45 anos de vida dedicados as crianças Para Antônio Carlos Figueira, o hospital é hoje orgulho para Pernambuco Etiene Bahé*

á 45 anos, um grupo de

H

médicos de Pernambuco, liderado pelo pediatra Fernando Figueira, teve a idéia de criar um hospital filantrópico para atender crianças e mulheres pobres do Estado. Nascia assim, no bairro dos Coelhos, no Recife, o Ins­ tituto Materno - Infantil de Per­ nambuco, o Imip. Para o superintendente do Imip, Antonio Carlos Figueira, filho do idealizador do complexo hospitalar, o segredo do sucesso está atrelado à capacidade de liderança empre­ endedora tida pelo seu pai. "Ele teve a felicidade de congregar um grande grupo de pessoas de ambições gene­ rosas. Por isso, o Imip é hoje um or­ gulho para Pernambuco", afirma. "A força impulsionada pelo profes­ sor Fernando Figueira permitiu que o

Imip se transformasse em referencial de medicina pernambucana e nacio­ nal, apoiada pelo tripé: ciência, huma­ nismo e ética", acrescenta Bertoldo Kruse, presidente do Imip. O instituto está credenciado pelo Ministério da Saúde como Centro Nacional de Re-

Antonio Carlos Figueira, superintendente

ferência para Programas de Assis­ tência Integral à Saúde da Mulher e da Criança, além de ser Centro Cola­ borador para o Desenvolvimento da Gestão e Assistência Hospitalar. São 540 leitos ativos e 110 consultórios. Meio milhão de pacientes são atendi-

Bertoldo Kruse, presidente do Imip

Movimento Médico 7


Atençao com mAese bebês éuma marca registrada do

Imip

o Banco de Leite Humano atende a 30 mil mães por ano

dos anualmente pelos serviços de Pe­ diatria Clinica e Cirúrgica, Clínica Neonatológica e Cünica Obstétrica e Ginecológica do hospital. Só o Banco de Leite Humano do Imip atende uma média de 30 mil lactantes e mães por ano, o que lhe rendeu o titulo de "Hospital Amigo da Criança", concedido pela Organi­ zação Mundial de Saúde (OMS) e pelo U nicef Este titulo tem o obje­ tivo de premiar os hospitais que cum­ prem os "10 Passos para o Aleitamen­ to Materno". Numa área de 600m 2 disponibilizada para o programa Mãe Canguru, já passaram três mil crian­ ças prematuras. O Mãe Canguru é um modelo de assistência, importado da Colômbia e adaptado pelo Imip, onde a mãe e o filho prematuro ficam juntos, pele a pele, 24 horas, até a alta hospitalar. "Faz 21 dias que estamos aqui, eu e minha filha . Vitória nasceu de seis meses com apenas 850 gramas, agora está com o dobro do peso. Ela sobreviveu graças à assistência do lmip", diz Veneranda Alvarenga Lins. Centro de tratamento de doenças renais pediátricas no Norte-Nordes­ te, o Departamento de Nefrologia Infantil do Imip é o único da região apto a realizar transplantes renais em crianças. O complexo hospitalar tam­ bém é credenciado pelo Ministério da Saúde como Centro de Referência Nacional para Aids e no tratamento de fissuras labiopalatais e outras de­ formidades craniofaciais, além de ser destaque no tratamento do câncer in­ fantil . O Serviço de Oncologia Pediá­ trica atende com suspeita ou diag­ 8 Movimento Médico


nóstico de câncer pessoas entre Oe 21 anos. A média anual é de 110 novos casos de câncer. Só as leucemias re­ presentam cerca de 40% do total. 84% das crianças tratadas no Imip são curadas. O Imip também oferece apoio em áreas especializadas como Odontolo­ gia, Nutrição, Fisioterapia e Saúde Mental. Sem falar na atividade de ex­ tensão comunitária, criada em 1983. São mais de 70 mil pessoas de oito co­ munidades carentes do Recife e Olin­ da beneficiadas pelo Projeto de Ações Básicas de Saúde para a População de Baixa Renda. O programa, realizado pelos agentes comunitários de saúde, tem por objetivo prevenir doenças mais graves com informações básicas sobre saúde e higiene.

Humanização - O Imip é refe­ rência nacional e internacional no re­ quisito humanização. Em reconheci­ mento do seu trabalho de humani­ zação, recebeu do Ministério da Saú­ de o titulo de Instituição Humaniza­ dora e, ano passado, o Prêmio N acio­ nai Professor Fernando Figueira, nas categorias UTI e Assistência Pediá­ trica. Como destaque, pooemos citar a criação do Espaço Aconchego - um novo conceito de atendimento a ges­ tantes. Os leitos têm nomes de flores para tornar o ambiente ainda mais aconchegante. O hospital foi pioneiro no Estado a instituir o programa da Mãe Acompanhante. A Unidade de Pediatria dispõe da Cadeira da Mamãe, desenvolvida para oferecer mais conforto à mãe acom-

Fundador começou

carreira em Alagoas

"Conscientemente ou nÍÍIJ, o homem somente se 1-eaüza pÜ'1Ulmente quando se esquece de sua individualidade, se ele'1Ja e se projeta como parte integrante do imenso corpo social ao qual pertence': (Dr. Fernando Figueira) fundador do Instituto Materno Infantil de Pernambuco (Imip), professor Fernando Jorge Simão dos Santos Figueira, faleceu aos 84 anos no dia 10 de abril de 2003. Diplomado em 1940 pela Faculdade de Medicina do Recife, iniciou sua vida profissional como clínico geral em Quebrangulo, interior de Alagoas. Em 48, foi médico do Hospital das Clínicas e assistente da Cadeira de Clínica Pediátrica, na Universidade de São Paulo (USP). Nove anos depois voltou ao Recife. Adquiriu experiência profissional como professor visitante nos Estados Unidos, México e na França. Através de concurso, assumiu a cátedra da disciplina de Pediatria da UFPE em 1960, e em seguida o cargo de Professor Titular da Facul­ dade de Ciências Médicas. Na área científica, publicou seis livros e mais de 100 trabalhos. Foi também secretário de Saúde no governo Eraldo Gueiros. Além do IMIP, criou várias outras instituições, a exemplo da Fundação de Saúde Amaury Medeiros (Fusam). Recebeu diversos prêmios, condecorações e homenagens durante sua carreira, sempre voltada à medicina social. Destaca-se a Medalha Nacional da Ordem do Mérito Médico e o título de Cidadão Honorário de Alagoas, pelos serviços prestados àquele Estado. Em homenagem ao seu idealizador, o Imip hoje se chama Instituto Materno Infantil de Pernambuco Professor Fernando Figueira.

O

MOv'imento Médico 9


panhante. A presença dos pais e fami­

liares é contínua na UTI de Neonata­

logia e UTI Pediátrica. Crianças com

permanência de mais de uma semana

no hospital têm reforço escolar, além

de serem beneficiadas com a Biblioteca

Viva - mediação de leitura para pa­

cientes internados.

Ensino e pesquisa - Para desen­

volver suas atividades de ensino e in­

vestigação científica, o Imip conta

com o intercâmbio e a parceria técnica

de organizações nacionais e internaci­

onais. É o único a oferecer mestrado

na área materno-infantil na região

Nordeste. Desenvolve, também, ativi­

dades de graduação em medicina, en­ fermagem, nutrição e dietética, odon­ tologia, psicologia, serviço social, fisio­ terapia, fonoaudiologi.a, bioquímica e farmácia. Na área de pós-graduação, dispões de residência médica em pe­ diatria, terapia intensivista, imagi.nolo­ gia, tocoginecologi.a, cirurgia pediátri­ ca, anestesiologia, neonatologia, repro­ dução humana, saúde da família, residência de enfermagem em obstetrí­ cia, ginecologia e pediatria, assim co­ mo residência em nutrição e dietética. Cerca de 20 mil profissionais tiveram estágios na casa, que anual­ mente recebe uma média de 800 es­ tudantes de graduação e 200 médi-

No Imip, as crianças são atendidas por médicos com alta capacitação, o que faz do hospital referência nacional e intemacional

cos residentes. Em agosto do ano passado, recebeu a certificação de Hospital de Ensino pelos minis­ térios da Saúde e da Educação. Em 1987, criou a Diretoria de Pesquisa para coordenar, orientar e dar apoio material e financeiro no desenvol­ vimento das atividades institucio­ nais, sociais e humanas. Da Dire­ toria de Pesquisa fazem parte os grupos de Saúde da Mulher, Saúde da Criança, Avaliação de Serviços de Saúde e Estudos da VIOlência. *Etiene Bahé é jornalista

Trajetória registrada em livro A edição do livro-texto Fernando Figueira - Pediatria do lmip, lançada ano passado, é um importante trabalho feito na área da pediatria. A obra, publicada pela editora Guanabara Koogan e organizada pelo doutor em medicina João Guilherme Bezerra Alves, e pelos mestres Otelo Schwambach Ferreira e Ruben Schindler Maggi., projeta o trabalho de pesquisa científica do InstitutoMaterno Infantil de Pernambuco em todo o país. São 1.500 páginas dedicadas à nutrição, neonatologia, infectologia e nefTologia, entre tantas outras especialidades. Mais de 200 profissionais, médicos, doutores, mestres e especialistas, do Brasil e do mundo, contribuíram para a montagem do livro que proporciona ao leitor uma visão apurada do trabalho médico desenvolvido em Pernambuco. Atualmente, o Imip tem 21 títulos publicados e é considerado referência no campo das publicações científicas. 10 M OVImento MédICO

Veja como ajudar o Imip

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• Para ajudar no tratamento de crianças com câncer (doações da capital) e com outras patologias (doações do interior), ligue para 2122.4709 ou 2122.4715 •Depositando doações na conta corrente: Banco Real, Ag. 0757, conta 4731474-3 • Fazendo doações por te!emarketing (o Imip entra em contato com você) •Comprando os produtos da grife IMIp, que estão à venda na Fundação Alice Figueira ou na Lojinha da FAF, no Shopping Guararopes 'Colocando um cofrinho do IMIP em estabelecimentos comerciais (Informações pelo 2122.4709) •Tornando-se um voluntário da Fundação (Informações pelo 2122.4131) •Divulgando o nome e o trabalho da Fundação •Participando dos bazares da Fundação. doando ou comprando objetos •Adotando o Selo Empresa Solidária, informações no número 2122.4174 •Participando da Campanha de Cartões de Natal do Imip

Serviço Instituto Matemo Infantil de Pernambuco IMIP Rua dos Coelhos, 300 - Boa Vista Recife-PE - Brasil - CEP 50070-550 Te!. (81) 2122.4100 - Fax: (81) 2122.4703 E-mail: imip@imip.org.br Caixa Postal 1393 www.imip.org.br


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Praia onde fica a Estação, em foto feita de madrugada

Etiene Bahé* profissão de médico exige muita responsabilidade. Imagine quando o exercício dessa profissão é feito na Antártida, continente gelado, situado a 850 milhas ao sul da América do Sul. Sebastião Vieira de Freitas Filho, cardiologista, formado pela U niversi­ dade Federal de Pernambuco e atual­ mente diretor do Hospital Naval do Recife, viveu essa experiência. Ele as­ segura que é o brasileiro que mais tem­ po passou na Antártida. Foram dois anos e meio de convívio com o frio e com o isolamento. ''As minhas quatro temporadas na Antártida foram im­ portantes para meu crescimento pesso­ al e profissional. Lá, aprendi a ser mais solidário; a valorizar o básico; a supor­ tar o frio; a viver isolado; a tomar deci­ sões rápidas e sensatas; a correr contra o tempo", relata. Para Vleira, a escassez de recursos humanos, os poucos recursos diagnós­ ticos e terapêuticos, a decisão diagnós­ tica e terapêutica obrig-atoriamente rá­ pida devido às condições climáticas, o isolamento e restrições ao deslocamen­

A

12 Movimento Médico

to, a especificidade dos transportes, e a pressão psicológica decorrente da im­ possibilidade de dividir responsabili­ dades, são os principais fatores que complicam a vida de um médico na vastidão gelada do sul. "Nesse contexto geográfico, social, profissional e político eu vivenciei as três grandes emergências médicas ocorridas na estação brasileira da An­ tártida: dois casos de apendicite e uma morte súbita"conta o médico. Em dezembro de 88, aconteceu o primeiro

caso. No dia de Natal, sem o auxílio de ultrassonografia, Vieira agiu rá­ pido. Mandou remover de helicóptero para a estação chilena "Presidente Frei", única que possui um pequeno hospital, um paciente com suspeita de apendicite. O paciente foi operado por uma equipe internacional. "O diag­ nóstico estava certo. Se tivesse de­ morado a tomar a decisão, ele teria morrido", lembra. Seis anos depois, o doutor salvou mais uma vida. Outro caso de apendicite. ~

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1

Francisco Nazareno, o segundo agachado da esquerda para a direita, foi salvo de uma crise de apendicite


Para trabalhar na Antártida, Sebastião Vieira fez curso de sobrevivência, alpinismo e de combate a incêndio Seleção para Antártida - A Esta­ ção Antártica Comandante Ferraz (EACF), operada pela Marinha do Brasil, é composta por 10 pessoas, sen­ do um profissional da área de saúde. Para ocupar o cargo é necessário passar por várias etapas. O médico, da Mari­ nha, recebe treinamento de dois meses. Aprende técnicas de prevenção e tratamento de urgências odontológicas, operação de aparelhos de raio-x, reve­ lação das radiografias, emergências em anestesiologia, cardiologia e ortopedia, inclusive imobilização com gesso e utilização de alguns quites bioquírrúcos para exames laboratoriais básicos. Além de realizar curso de sobre­ vivência, de alpinismo e de combate a

incêndio, o candidato também precisa passar no psicotécnico que, em média, elimina 70% dos participantes. "O médico na EACF é dentista, farmacêutico, enfermeiro, laboratolo­ gista, anestesista e até operador de agências de correios. Se houver algu­ ma dúvida, não existe junta médica, mas é possível discutir os casos com os médicos das estações de outros países instaladas na mesma ilha, porém a con­ versação deve ser em inglês e espa­ nhol" explica Vieira. A estação mais próxima é ''Arctowski'' (Polônia), que fica a cerca de 1O Km da EACF, do outro lado da baía do Almirantado, e nem sempre a travessia por mar é pos­ sível, já que depende de visibilidade,

Acima: Or. Vieira na beira do mar congelado

no inverno de quinze graus negativos.

Abaixo: Or. Vieira com um filhote recém­

nascido de foca no mar antártico

regime de ventos (as condições mete­ orológicas na Antártida são as mais adversas do planeta) e do estado da supemcie do mar, que pode congelar. *Etiene Bahé é jornalista

Saiba mais sobre a Antártida

continente antártico é um vasto deserto rochoso coberto de gelo, onde 98% dos seus 14 milhões de qui­ lômetros permanecem quase sempre desérticos, sob domínio exclusivo de neve. Por isso, não se sabe ao certo o tamanho da fauna antártica. Desde 1982, o Brasil vem desenvolvendo um substancial programa de pesquisas científicas. O Programa Antártico Brasileiro (Proantar) vai garantir a participação brasileira no proc so decisório rela­ tivo ao futuro do continente antártico, situado a 50 milhas ao sul da América do Sul, e que tem enorme influência sobre o nosso clima e sobre o regime dos mares brasileiros. Vale salientar, que a maior parte da expor­ tação do Brasil é feita por mar. "Só pa­ ra esse ano estima-se a movimentação de R$136 bilhões ', informa Vieira.

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Hoje, a Estação Antártica Coman­ dante Ferraz conta com 64 módulos, podendo acomodar um Grupo de Apoio de 10 militares da Marinha do Brasil, além de 24 pesquisadores no verão e 7, no inverno. A estação possui laboratório de biologia; módulos de ciência da atmosfera; aquanos; metereologia, ionosfera e triagem; lancha de pesquisa; botes infláveis; computadores; e impressoras.

Ecologia - O Protocolo ao Tra­ tado da Antártida sobre Proteção ao Meio Ambiente (Protocolo de Ma­ dri) estabeleceu diversos procedi­ mentos a serem seguidos na execução de pesquisas científicas e no apoio lo­ gístico a proteção da flora e fauna na

região. O Brasil tem adaptado suas atividades às regulamentações do Protocolo, estando na vanguarda dos fatos, pelo exemplar manejo ambiental na EACF, que inclui o trata­ mento de dejetos e a retirada do li'(o produzido, e por ter apresentado, em conjunto com a Polônia, a proposta que reconhece a Baía do Almirantado, onde fica a Área Antártica Espe­ cialmente Gerenciada (AAEG). O Tratado da Antártida, que entrou em vigor desde 1961, tem um regime jurídico que estende a outros países, além dos 12 iniciais, a possibilidadede se tornarem Partes Consultivas nas discus­ sões que regem o "status" do conti­ nente, quando esses países demonstra­ rem que não têm interesse em explorar economicamente a Antártida. (E.B)

Movimento Médico 13


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Museu mostra Pernambuco através de rico acervo Localizado na rua do Hospício, Museu Arqueológico tem 4 mil peças *Ricardo Moraes - Especial para Movimento Médico

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onhecer ao vivo parte da história de Pernambuco é o que pode ser feito ao visitar um casarão de dois andares, porta larga de entrada, três janelas e varanda, com cerca de 1.000 metros quadrados, localizado na rua do Hospício, bairro da Boa Vista, no Recife. É o Museu do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano.

14 Movimento Médico

o espaço, desconhecido pela maio­ ria da população, abriga um dos mais ricos acervos do Estado. Ao todo, são mais de 4.000 peças, entre móveis de famílias ilustres, pinturas, espadas, jar­ ros de porcelana, peças numismáticas (moedas e medalhas), leques, espe­ lhos, canhões, espingardas, quadros dos últimos três séculos, alocados em nove salas temáticas que estão em e~'P0sição permanente.

Logo na entrada, um dos maiores destaques do local. É o marco divisó­ rio entre as capitanias hereditárias de Pernambuco e de Itamaracá, assenta­ do em 1535, quando da visita do então donatário português Duarte Coelho ao porto, depois chamado de Pernam­ buco Velho. Trata-se de uma coluna cilíndrica em pedra lioz medindo cerca de 2,5 metros com o brasão e a coroa real


Detalhe do interior do Museu

portuguesa. É monumento nacional tombado pelo Insti­ tuto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), tendo sido oferecido ao Mu­ seu, em 1888, por Francisco Cavalcanti, senhor do Enge­ nho Tabatinga, localizado em Igarassu. A peça tem um signifi­ cado histórico enorme para Pernambuco, que foi, ao lado de São Vicente, a capitania que mais prosperou. Nelas, haviam ocorrido experiências de ocupação agrícola desde o período da colonização aci­ dental (portugueses em contato com índios). Apesar de enfrentarem pro­ blemas comuns aos das demais, Duarte Coelho e Martim Afonso de Sousa obtiveram sucesso, conseguin­ do maior número de colonos, esta­ belecendo alianças com grupos nati­ vos. A capitania de Pernambuco tinha 60 léguas, e estendia-se desde o rio Igarassu até a foz do São Francisco. Isso foi o começo da rica histórica do nosso Estado. N o período colonial, Pernambuco tornou-se um grande produtor de açúcar e dmante muitos anos foi responsável por mais da me­

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tade das exportações brasileiras. Essa riqueza foi alvo do interesse de outras nações. N a sala à direita ao marco histórico de Pernambuco, podem ser observados dois grandes painéis representando a Batalha dos Guararapes. Há, ainda, gravuras do Conde João Maurício de Nassau Sie­ gen, bem como figuras importantes da soberania portuguesa no Nordeste: João Fernandes Vieira, André Vidal de Negreiros, Henrique Dias e D. Antô­ nio Filipe Camarão. Entre as peças curiosas, está um lenço delicado de mulher bordado com as iniciais J.C.C.J. Dizem que foi apanhado pelo imperador Dom Pedro II numa rua de Goiana, em 1859, quando da sua visita. Outros objetos a serem citados são o óculos de vidros verdes que pertenceu ao capitão José de Barros Lima, "O Leão Coroado", a bandeira da Revolução de 1817 e a espada com a qual ele deflagrou o mo­ vimento, ao matar o Brigadeiro Bar­ bosa, no dia 06 de março. Outro objeto de grande importân­ cia para a história pernambucana está localizado no pátio do Museu. Trata­ se do canhão de bronze utilizado na

Batalha dos Guararapes, pesando 2,5 toneladas, fundido em Amsterdã (Holanda) em 1629, por Assuerus Koster. Essa peça conservou-se em Pernambuco graças à ação do Institu­ to Arqueológico, que conseguiu junto ao Ministério da Defesa, em 1866, permanecer com a posse dele - o outro canhão foi para o Rio de Janeiro. Quanto à coleção de moedas, des­ tacam-se as comemorativas à Abolição da Escravatura (1888); Cinqüentená­ rio do Instituto (1912); Centenário da Revolução Republicana (1917); Cen­ tenário da Confederação do Equador (1924); Centenário do Instituto (1962); Centenário do falecimento do Conde da Boa Vista (1970); e Ses­ quicentenário do arcabuzamento de Frei Caneca (1975). E, para manter tudo em ordem, é necessário investimento. José Gomes, diretor de acervo do Instituto, destaca que as dificuldades são enormes, mas com o empenho de todos os 50 sócios efetivos comandados por Luzilá Gon­ çalves, (historiadores, psicólogos, peMovimento Médico 15


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Objetos de grande valor histórico

podem ser encontrados no Mudeu do

InstitutoArqueolÓQico, Histórico e

Geográfico Pernambucano

dagogos, geógrafos, antropólogos, geólogos, arqueólogos, museólogos e escritores) consegue angariar doações de instituições privadas e organizações não-governamentais. U ma dessas é a Fundação Vitae, de São Paulo/Sp, que através de convênio repassou, aproximadamente, R$ 70 mil. Esse montante está sendo utili­ zado nos trabalhos de catalogação e higienização da Biblioteca, que conta com acervo importante e obras raras. ''A catalogação será informatizada e a higienização é fundamental para evitarmos perdas nos exemplares cau­ sadas por cupins", completa Gomes. 16 Movimento Médico

Biblioteca - São aproximada­ mente 65 .000 processos (inventários, crimes, falências etc), e ainda coleções de jornais do Século XIX, como, por exemplo, Diabo a Quatro, que satiri­ zava por meio de desenhos assuntos de interesse da época (política e economia). Além disso, lá encontra­ se coleção de ordens régias desde o século XVIII e atas da Câmara dos Vereadores do Recife desse mesmo período. Na biblioteca, todos os dias tem gente de outros Estados e de outros países, em busca de documentos. Um dos exemplos é Sandro Gama,

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paulista, que está fazendo mestrado na área de História pela U ni­ versidade de São Paulo (USP). Ele ressalta a qualidade do acervo. "Depois de viajar por várias cidades, consegui encontrar no Recife do­ cumentos importantes e relativos ao período do meu estudo, que é sobre a libertação dos escravos", diz. Sobre o objetivo dos que fazem o espaço, José Gomes informa que a meta é oferecer às pessoas uma visita simples e desprovida de es­ tética. "A intenção é transmitir ao público a importância da história", afirma.

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Profissão ainda não

é regulamentada

A profissão de museólogo foi sancionada em 18 de dezembro de 1984, pelo então presidente da República, João Baptista Figueiredo, por meio da Lei nO 7.287. Ainda não é regulamentada no Brasil, o que faz com que exista discussão a respeito de quem pode se responsabilizar por pesquisa arqueológica ou assinar laudo arqueológico (resultado de pel~tagem em sítio). Cabe ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) autorizar uma pesquisa arqueológica e, nesse caso, são levadas em consideração a experiência e a formação do profissional para que seja concedida autorização. O profissional dedica-se à classificação, restauração, organização e exposição de peças de valor histórico, artístico, cultural ou científico, além de planejar e executar tarefàs de documentação, arquivamento e conservação de objetos. Também faz aquisições, administra acervos, divulga as coleções e faz intercâmbios de peças com outros museus, visando a organização de mostras e exposições. T'llnbém pode trabalhar em universidades, centros comunitários e sítios arqueológicos. José Gomes, diretor de acervo do Museu do Instituto Arqueológico, HistÓl~CO e Geográfico Pernambucano, diz que a pessoa tem de apresentar características como boa memória, atenção a detalhes, meticulosidade, iniciativa, facilidade de lidar com o público, organização, senso artístico. É preciso obter o registro no Conselho Regional de Museologia. A dificuldade em se tornar museólogo começa no longo caminho que deve ser percorrido até a obtenção do título. No Brasil, não existe atualmente graduação na área. Hoje, para quem deseja ser este tipo de profissional no Brasil, o caminho mais fácil é fazer uma graduação em alguma área das ciências humanas ou da biologia, e depois fazer mestrado em Arqueologia.

Comenta-se que o Museu teve suas origens a partir das críticas feitas pelo Imperador D. Pedro lI, quando da sua vinda ao Recife, em 1859, sobre o descaso e a indiferença dos intelectuais pernambucanos quanto ao passado histórico do Estado. Daí, um grupo de estudiosos decidiu criar a instituição, passando a recolher qual­ quer tipo de doação. O Museu do Instituto Arqueo­ lógico, Histórico e Geográfico Per­ nambucano é o segundo mais antigo do Brasil, tendo sido fundado em 27 de janeiro de 1862, através da iniciativa privada. Só abriu suas portas

à visitação em 1866 com o nome de "Sociedade Arqueológica". Inicialmente, funcionou na Bi­ blioteca Provincial do Convento do Carmo, passando pela Biblioteca Pública do Convento de São Fran­ cisco, Palácio da Província (hoje Palácio do Campo das Princesas), Ginásio Pernambucano, até que no Governo Manoel Borba, em 1920, passou a ter sua sede na rua do Hospício, onde permanece até hoje. Vale salientar que, naquela época, os museus recebiam qualquer tipo de doações, devendo recolher as "curiosi­ dades" ou "raridades". Foi aí onde

apareceram cascos de tartarugas g1­ gantes, chifre de rinoceronte, costela de baleia, e até mesmo uma pedra an­ ti-diluviana. ·Ricardo Moraes é jornalista. Serviço: Museu do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano Local: rua do Hospício, nO I 30, Boa Vista. Horário: Segunda a sexta-feira, 13 h

às 17h. Sábados, 08 h às 12 h. Preço: R$ 1,00. Telefone: 3222-4952

Movimento Médico 17


CREMEPE Primeira visita foi a Petrolina, Sertão do

São Francisco

Luciana Cardoso*

Caravana Cremepe

põe o pé na estrada

Conselho Regional de Medicina de Pernam­ buco deu início, em mar­ ço, a um projeto inédito. Trata-se da Caravana Cremepe, na qual representantes da instituição, em parceria com o Ministério Público, visitarão um terço dos municípios do Estado. Diversos fatores sociais serão observados e fiscalizados, especial­ mente a área da saúde. Cerca de 60 municípios foram es­ colliidos, entre eles Petrolina, Arcover­ de, Caruaru e toda a Região Metro­ de três cartilhas produzidas com a par­ politana do Recife. Mas antes de colo­ ticipação do Cremepe. Uma delas car o pé na estrada, a equipe do Cre­ aborda o Programa de Humanização mepe se mobilizou para organizar a da Saúde, que objetiva o maior envol­ execução do projeto. Todos os setores vimento dos profissionais de saúde da instituição ficaram responsáveis por com os pacientes. Outra expõe os di­ tarefas específicas, que compreendiam reitos dos pacientes, e a terceira tem a pesquisas, escolhas logísticas, divulga­ intenção de prevenir os erros médicos. ção e confecção de material educativo. Depois de visitar cada município, a Os participantes da Caravana vão equipe se reunirá para juntar as infor­ trocar informações com a população mações colliidas, produzindo, assim, dos municípios visitados. Entre os um balanço geral. Os resultados da Ca­ pontos a serem questionados estão o ravana Cremepe serão debatidos com o abastecimento de água e de energia, a Governo do Estado, prefeituras, Mi­ educação, as atividades comerciais, os nistério Público e o Poder Judiciário, serviços de saúde dos hospitais e a sobre as dificuldades e pontos positivos eficiência dos Programas de Saúde da das localidades. Em seguida, as dis­ Família (PSF). O diagnóstico de cada cussões serão ampliadas à sociedade. lugar será produzido a partir de quei­ Com duração de 4 meses, o projeto xas e, principalmente, da observação foi dividido em três etapas. O roteiro feita pela Caravana. começa pelos municípios do Sertão e O grupo também vai reforçar, no segue em direção aos da Região interior de Pernambuco, a divulgação Metropolitana do Recife. Também es-

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Notas Oportunidades no Rio A Clínica de Oncologia-Hematologia

tá programada uma visita ao arqui­

pélago de Fernando de Noronha. Os dez primeiros municípios da lista são Petrolina, Ouricuri, Parnamirim, Sal­ gueiro, Belém do São Francisco, Flo­ resta, Serra Talhada, Triunfo e Afo­ gados da Ingazeira. A pedido do Ministério Público, os municípios de Manari e Águas Be­ las entraram no roteiro. A escolha se justifica: são duas das 11 localidades em Pernambuco que estão abaixo do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). "O trabalho a ser desen­ volvido pela Caravana é grande, mas não assusta seus participantes. Muito pelo contrário, é um desafio que tem recompensa: melhorar a qualidade de vida de inúmeros cidadãos pernam­ bucanos" disse o presidente do Cremepe, Ricardo Paiva. -Da Assessoria de Imprensa do Cremepe.

Hematologia Pediátrica, Hematologia e

Ou pelo e-mail. O número do fax da

Oncologia. Os médicos interessados em

clínica é o (21) 2568-7080. Outras infor­

se associar devem enviar cartas com

mações sobre a clínica estão no site

e-mail o currículo para ricardoteixeira@infolink.com.br.

www.ricardoteixeira.med.br.

Curso de capacitação

Dr. Ricardo Teixeira, no Rio de Janeiro,

Outra opção é por carta para a rua

está formando uma rede de médicos nas

Siqueira Campos, 59/604, Copacabana,

O Cremepe promove curso de

Rio de Janeiro - RJ. O CEP é 22031-070.

capacitação para os seus conselheiros.

especialidades de Oncologia Pediátrica,

18 Movimento Médjco


PROJETO DE LEI DO ATO MÉDICO - 25/2002 Dispõe sobre o exercício da Medicina.

Programa voltado a população presta serviços essenciais em áreas diversas oi iniciado no dia de março o se­ F minário Programa de Humaniza­ 31

ção do Hospital das Clínicas da UFPE. No auditório da Faculdade de En­ rermagem, houve a Mesa de Abertura, com representantes da diretoria do Hospital das Clínicas, reitoria da UFPE, Secretaria Estadual Saúde, Secretaria Municipal de Saúde do Recife, e do Cremepe. Em seguida, às 9hJO, o programa de humanização foi apresentado pela responsável do serviço social do Hospital das Clínicas, Cristiane Valença. Aconteceu ainda uma atividade com o tema "Auto-conhecimento e qualidade de vida: proposta de grupo reflexivo", coordenado por Marluce Tavares, Cleide Neves, Edna Malheiros e Kátia Saraiva. Segundo Jurandir Brainer, coordenador do Programa de Humanização da Saúde do Cremepe,

o Departamento Jurídico da instituição organizou o curso em quatro módulos. Nas três primeiras etapas, as aulas abordam desde uma sindicância até o julgamento de um processo ético­ profissional (PEP) em sessão plenária. Na última etapa, serão realizados um julgamento simulado e a avaliação

"as atividades têm a finalidade de apoiar os grupos de trabalho de humani.7..ação já existentes e, principalmente, sensibilizar o médico a participar desses grupos de trabalho". No hall da portaria do Hospital das Clínicas, aconteceu a Feira da Saúde, com stands sobre doenças sexualmente transmissíveis, vacinação, hanseníase, saúde da mulher, direitos sociais. Houve ainda exposição sobre os programas O Caminho, dos estudantes de medicina, Programa de Hu­ manização da Saúde do Hospital das Clínicas e Terapia Comunitária, com os respectivos responsáveis explicando o objetivo desses programas. Quem visitou a feira pôde ainda participar de atividades com Zefinha da Sulanca, oficinas de reciclagem e terapia comunitária.

final. O objetivo do curso é ampliar o conhecimento jurídico dos conselheiros do Cremepe. Ouvidoria A ouvidoria do Cremepe funciona às segundas e quintas-feiras das 13 às 16h (para a população em geral) e às

O Congresso Nacional decreta: Art. 1° - O médico desenvolverá suas ações no campo da atenção à saúde humana para: I - a promoção da saúde; 11 - a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das doenças; IH - a reabilitação dos enfermos. Parágrafo único - São atos privati­ vos de médico a formulação do dia­ gnóstico médico e a prescrição tera­ pêutica das doenças. Art. 2° - Compete ao Conselho Fe­ deral de Medicina definir, por meio de resolução, os procedimentos médicos experimentais, os aceitos e os vedados, para utilização pelos médicos. Art. 3° - São privativas de médico as funções de coordenação, chefia, di­ reção técnica, perícia, auditoria, su­ pervisão e ensino vinculadas, de for­ ma imediata e direta, a proce­ dimentos médicos. Parágrafo único - A direção admi­ nistrativa de serviços de saúde e as funções de direção, chefia e super­ visão que não exijam formação mé­ dica não constituem funções priva­ tivas de médico. Art. 4° - A infração aos dispositivos desta Lei configura crime de exer­ cício ilegal da Medicina, nos termos do art. 282 do Código Penal (Decreto-Lei nO 2.848, de 7 de dezembro de 1940).

terças e quartas das 9 às 12h (para a classe médica). O serviço foi criado pela atual ges­ tão para receber e encaminhar críticas, sugestões e denúncias. A ouvidoria do Cremepe atende através do 0800-99-57-44.

Movimento Médico 19


CREMEPE

Médico da família Durante o exame, o ambiente era de total silêncio e de completo respeito Rostand Paraíso*

amo era a medicina exercida no Recife, nos meados do século passado? Antes de mais nada: uma medicina - não somente do ponto de vista tec­ nológico e terapêutico, mas, inclusive, sob o aspecto filosófico - bem mais romântica e mais desprendida, muito diferente da atualmente praticada. U ma medicina mais pura e menos prostituída, não tão sujeita às pressões de poderosos grupos industriais que colocam, acima de tudo, seus interesses mercantilistas. As transformações foram de tal modo importantes que custa acreditar que elas tenham se passado em apenas 50 anos. Isso nos deixando maravi­ lhados e, ao mesmo tempo, apreensi­ vos, principalmente em função dos extraordinários avanços da engenharia genética, que não nos permite sequer sonhar com os caminhos que o futuro nos reserva. Debruço-me sobre mim mesmo e olhando para trás, anos 40 e 50, vem­ me à lembrança a consideração com que, escolhido em regime de absoluta

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20 MOIimento Médico

liberdade pela família, o médico era tratado ao atender um paciente em domicilio. O ato médico era sagrado: ao penetrar na intimidade de uma familia, ele iria, às vezes, tomar conhe­ cimento de segredos sobre os quais, em obediência ao juramento hipocrático, seus lábios deveriam, para sempre, permanecer cerrados. Por mais humilde que fosse a casa, havia sempre, pendurada ao lavatório, uma toalha limpa e um sabonete virgem (geralmente um Phebo), às vezes ainda no seu invólucro, para a lavagem tradicional das mãos, antes e depois do exame. E, não havendo água fluindo com abundância pela torneira, ali estaria uma jarra de louça, cheia d'água, alguém se encarregando de segurá-la e deixar cair seu conteúdo sobre as mãos sagradas do médico. ] unto à cama do enfermo, uma toalha de pano fino, bem passada, para o caso (tão comum) em que ele preferisse usá-la, em vez do estetoscópio, para a ausculta direta dos pulmões e do coração. Termômetro e uma colher-de­ sopa (para servir de abaixador de

língua) eram apetrechos que se tinha o cuidado de ter à mão, caso o doutor os solicitasse. Enquanto o médico con­ doia o exame, preparava-se, na cozi­ nha, um cafezinho a ser servido, ainda fumegante, numa bandeja recoberta com um pano de linho, junto a um copo d'água fresca, de água de coco ou de suco de frutas. Durante o exame, o ambiente era de total silêncio e de completo respeito, os cachorros presos, as crianças afas­ tadas, o rádio desligado, num gritante contraste com o que ocorre hoje em dia, quando é preciso se pedir que a televisão seja desligada ou, ao menos, tenha o som climinoido, às vezes dei­ xando-se ficar a imagem para que os familiares e o próprio doente, indife­ rentes à importância do ato médico, não percam o capítulo da novela. Um outro complicador, recentemente in­ troduzido, é o que diz respeito aos tele­ fones celulares, a interromper, com fre­ qüência, a consulta clínica, quer em casa quer no consultório. O lugar reservado numa mesa ­ caneta, tinteiro e bloco de papel pau­ tado para o ato final da prescrição ­ bem caracterizava a deferência toda es­ pecial àquela figura, verdadeiro semi­ deus, que era o médico. Deferência em grande parte perdida por conta do pró­ prio profissional, antes sempre bem barbeado, com roupas limpas e bem cheirosas, paletó e gravata - se não alvas e engomadas batas - a compor a imagem, altamente positiva, do médico daquela época, que o tornava um dos profissionais mais respeitados e queri­ dos na comurúdade. Hoje não mais preocupado, negligente até, com sua aparência. *Rostand Paraíso é cardiologista


Uma reflexão sobre aborto e eutanásia Durante anos, estes temas não têm sido Objeto da atenção da sociedade Ricardo Paiva*

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gora que chegamos ao 5° ano do terceiro milêcúo e com a nossa sociedade ansiosa para a construção de uma nova ética social, é tempo de dis­ cutirmos desapaixonadamente duas questões fundamentais para o ser hu­ mano: a legalização do aborto e a euta­ násia. Evidente que todas as forças vivas da sociedade precisam interagir, debater e canalizar para o parlamento, com fundamentação e articulação que temas tão polêmicos requerem. Quanto ao aborto, recentemente relatório do IBGE nos informa que 30% das gestações não se transfor­ mam em parto. A maior parte termina em maternidades do SUS em inter­ nações por complicações infecciosas. Estima-se que, no Brasil, cerca de 1

milhão de abortos são realizados anualmente de forma ilegal, quando em alguns países o aborto já foi des­ criminalizado. É preciso que se forme um grupo multiprofissional, aí incluídos, não apenas profissionais da saúde, mas também ela área do direito, antropo­ logia, sociologia e movimentos de mu­ lheres, para que sejam criadas con­ dições para levar à sociedade na forma de plebiscito. Assim como a legislação permite a gestante fruto do estupro e quando, do risco de vlda materna, e mais recente­ mente no caso de anencefalia, é possí­ vel a discussão para a interrupção até o fim da 3a semana de embriogênese. Quanto à eutanásia, abstraindo-se as

injunções de ordem religiosa que devem ser seguidos pelos que a professam, o direito de um paciente que externe seu posicionamento ante a dor e ao sofrimento sem perspectivas de saúde, e assistido e consensuado por equipe médica, psicólogos, membros do Ministério Público e família, não res­ peitar esta decisão é impor ao que sofre o desígnio dos que não sentem a dor. Durante anos estes temas não têm sido objeto da atenção de toda a socie­ dade e seria importante ouvi-la em plebiscito, já que, de outra forma, é es­ tigmatizar os que defendem o debate pelos que admitem o controle da ética da moral da sociedade pelas religiões. ·Ricardo Paiva é presidente do Cremepe

Movimento MédiCO 21


SIMEPE

Reforma preocupa classe médica

Reforma em tramitação no Congresso está longe de obter o consenso da maioria sindical Por Chioo Carlos* Governo Federal enca­ minhou no último dia 03 de março ao Congresso Nacional o projeto de re­ forma sindical negociado há quase um ano com entidades sindicais e pa­ tronais, no âmbito do Fórum Nacional do Trabalho (FNT). A proposta de reforma sindical consiste em um Projeto de Lei (PL) e uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) prevendo modificações nos artigos 8, 11, 37 e 114 da Constittúção Federal. Em síntese: acaba a unicidade sindical, organização sindical dentro das em­ presas, composição de conflitos eco­ nômicos através da conciliação, me­ diação e arbitragem e criação de um Conselho Nacional de Relações do Trabalho (CNRT), que terá, entre outras atribuições, comprovar a repre­ sentatividade das entidades sindicais. Outro exemplo é a questão da con­ tribuição obrigatória (o Imposto Sindi-

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22 Movimento Médico

cal), pela qual todos os trabalhadores precisam descontar um dia de trabalho

Na verdade, a democracia sindical não pode ser diferente da democracia de qualquer outra associação civil. É inadimissível estabelecer exigências aos sindicatos que não sejam as exi­ gências do ordenamento democrático do nosso país. Repudiamos a ausência de democracia do Governo Federal, no encaminhamento da discussão sobre a reforma sindical. Os con­ sensos ficaram restritos aos integrantes do Fórum Nacional do Trabalho (FNT). Alertamos aos trabalhadores e, em especial, a classe médica, que a reforma sindical em tramitação no Congresso está longe de obter o consenso da maioria do movimento sindical, e aponta para a fragmentação e o enfraquecimento das organizações dos trabalhadores, com conseqüências imprevisíveis. Não há dúvidas que essa reforma produzirá um nível excessivo de ingerência do Estado na organização si.ndical, e as centrais sindicais ficarão com superpocleres. Podem até criar sindicatos caso os que já existam não satisfaçam os interesses dos trabalhadores e das centrais. A reforma tem em seu contexto uma concepção divisionista, com intlÚto de pulverizar e aniquilar a maioria das entidades sindicais existentes no País. Se depender de nós, o Simepe vai continuar existindo, cada vez mais fortalecido, lutando e defendendo os interesses da categoria médica. O

em favor de seus sindicatos de classe. Particularmente, em relação a esse imposto, o Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) vem se preparando para sobreviver, exclusiva­ mente, das contribuições associativas (voluntárias) com o crescente número de associados, através de campanhas de sindicalização. Sobre os outros pontos, esta­ mos estarreci­ Projeto do Governo modifica quatro dos. Se preva­ artigos da Constituição Federal lecer o fim da Sindicato está mobilizado, fazendo representação por categoria, o Simepe, gestões juntos aos deputados federais com 73 anos de luta, história e e as autoridades em geral. O objetivo tradições, se e>..'tinguirá. Podemos até é manter sua identidade, história e nos organizar de outra forma, isto é, tradição em defesa dos médicos e da como ramo, sendo uma entidade sociedade pernambucana. Não abdi­ ligada ao setor de Saúde. No entanto, caremos dessa luta! essa decisão deve ser de nossa base, e nunca por uma lei empurrada de cima para bai.;>(o.

"Chico Carlos é jomalista


Resgate histórico sindical Por Chico Carfos*

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médico-cirurgão Adailton de Alencar Vidal, ex-presidente do Simepe avalia que, para o Jonu:d do Média; chegar hoje a sua 30 a edição e consolidar sua posição, no cenário do movimento sindical, teve que enfi-entar dificuldades políticas e financeiras. Por conta do trabalho em suas gestões ­ 1993 a 1998 - calcadas em responsa­ bilidade, seriedade e austeridade em duas gestões - Adailton Vidal foi um dos grandes responsáveis pela reestru­ turação e credibilidade do Simepe junto aos médicos e a sociedade em geral . Aqui ele lembra as lutas do Simepe. Crise e Junta Govemativa "Com o fim do mandato da gestão de Bernadete Antunes e não tendo sido realizada a eleição, o Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe) ficou acéfalo. Mergulhado numa crise sem precedentes, a entidade sindical te­ ve até que negociar o mirneográfo para pagar os salários atrasados dos fun­ cionários. Era um momento de difi­ culdades. O número de associados era insignificante. Havia um funcionário (cobrador) que mensalmente fàzia a cobrança aos poucos médicos associa­ dos. Uma situação insustentável. De um lado, o Simepe sem diretoria, de outro sem dinheiro e com apenas cinco funcionários - Braz, Wanderley, Teresa e os advogados Elio Siqueira e Luiz Dias. Foi quando surgiu a Junta Co­ vernativa, em 01/10/92 até 17/11;93, para tentar remediar a situação, ou seja, 'juntar os cacos' do que restava"

Insolvência e eleição "Essa J unta era fonnada pelos médicos Flávio Lins, Gláucia Maria, José Mendes, Gerson Ferraz (in memo­ riam),José Falcão e João Mário Correia de Araújo. Eles ficaram por algum

Adailton Vidal é ex-presidente do Simepe

tempo e não conseguiram reverter o quadro caótico. Com o patrimônio ameaçado, sem recursos financeiros, foi inclusive marcada uma reunião para discutir a dissolução do Sindicato dos Médicos. O caminho de alguns era de ir para o Sindsaúde. Participamos da reunião e naquele momento apresenta­ mos a proposta para que não fosse tomada essa decisão. Sugerimos que a Junta continuasse seu trabalho e nos integramos aos companheiros. Planeja­ mos objetivos e definimos a eleição de Diretoria com a volta do sistema presidencialista Fomos eleitos e começa­ mos a trabalhar, com disposição e vontade direcionadas para os médicos. Não aceitávamos a imposição do Simepe como um "Sindicatão da Saúde".

Compromisso e luta " Tínhamos história e tradição de luta. Nossa diretoria era composta por pes­ soas sérias, comprometidas, sem qual­ quer sectarismo político. Estabelecemos que o Sindicato não teria qualquer conotação/vinculação político-partidá­ ria. O Simepe jamais deveria (ou deve) ser uma entidade de coloração partidária. Evidente que os diretores teriam suas opções. Isto foi muito importante. Outra medida foi a nossa desfiliação da C UT, mesmo reconhe­ cendo sua importância como central sindical. Avançamos e vieram os emba­ tes históricos contra a Secretaria de Saú­ de do Estado no Governo Joaquim

Francisco, bem como contra as Pre­ feituras do Recife, Olil1da e Jaboatão. Conquistamos e seguimos em frente, a classe médica retomou ao nosso sin­ dicato, contribuindo através do descon­ to em folha. Uma verdadeira redenção. Começamos a fàzer um trabalho nos hospitais públicos e, principalmente, nas clínicas e hospitais da rede privada. Abrimos a negociação salarial e ingressamos na DRT com l° Dissídio Coletivo, através do advogado Fran­ cisco Vitório. Depois foi implantada a contribuição assistencial que também ajudou financeiramente o sindicato" .

Mudança e credibilidade "Partimos para mocl.i.fi.cações nas áreas fisica e estrutural do sindicato. Conse­ guimos a doação de um PABX do Cremepe (gestão Silo Holanda). Mas, a nossa comunicação era deficiente, improvisada. Apenas urna velha má­ quina de escrever, nada de computador ou de jornal informativo. lIabalhamos com os pés no chão pautando nossas ações com seriedade, credibilidade e equihbrio. Houve o retomo da Mídia. Investimos na contratação de um jornalista (Chico Carlos), onde cons­ truúnos um canal de comunicação entre a classe médica, o movimento sindical e a sociedade em geral. Um trabalho consistente e de equipe. Re­ tomamos oJonu:d do Simepe que passou a ser oJonu:d do Média;, em 1997com uma linha editorial mais definida, abrangendo vários segmentos Saúde, com padrão técnico de qualidade. Esse trabalho teve continuidade nas duas gestões de Ricardo Paiva e na atual de André Longo, tomando-se um veículo de comunicação imprescindível para a classe médica. Salientamos que não foi fácil chegar neste caminho. Acredito que foi por conta da responsabilidade e, sobretudo, do compromisso de quem saiu e de quem assumiu o Simepe. Desejo que o nosso sindicato continue dessa forma". Movimento Médico 23


SIMEPE

Em 2004, médicos pemambucanos deram exemplo de unidade para o pais

Luta pela CBHPM

pode ser retomada

Mobilização feita ano passado pode se repetir em 2005 presidente do Sindicato dos Mé­ O dicos, André Longo, disse que os usuários de seguradoras de saúde, particularmente Sul América e Bradesco, estão sob ameaça de wn novo movimento de atendimento médico somente por reembolso. O problema focalizado pela categoria diz respeito ao impasse entre os médicos e essas empresas que ainda não foi solucionado, o que pode acabar em um novo protesto, como ocorreu em 2004, e que durou cinco meses. Do ponto de vista da relação com as operadoras de saúde suplementar (planos de saúde e seguradoras), a principal reivindicação da categoria ainda é a implantação da Classilicação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM). Na verdade, foi por conta da recusa por parte das operadoras em adotar a CBHPM que, em abril de 2004, foi deflagrado o atendimento somente por 24 Movimento i\~édico

reembolso, atingindo as empresas de seguro-saúde. A decisão do movimen­ to foi suspender o atendimento normal dos consumidores que, por contrato, teriam o direito de pagar pela consulta e outros procedimentos e, depois, soli­ citar reembolso. Em nosso Estado, a Sul América e a Bradesco Saúde são as operadoras que concentram maior nú­ mero de usuários que se enquadravam nessas características. Houve a adesão de especialidades como cardiologia, pedia­ tria, ortopedia, radiologia, entre outros. O Simepe ingressou na Justiça contra as operadoras Bradesco Saúde e Sul América, reivindicando a aplicação de novos preços por consulta e a ex­ pansão do rol de procedimentos médi­ cos. A ação visa cobrar a aplicação da Lei estadual nO 12.562/04, sancionada em abril de 2004 para regulamentar a CBHPM. A nova lista exigida pelos médicos contempla os usuários do se­ tor privado, incluindo 1,4 mil novos

serviços. Mesmo assim, as seguradoras continuaram se negando a adotar a CBHPM. Ameaçadas de também serem atingidas pelo movimento, as empresas ligadas à Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abrarnge) - que possuem características diferentes das seguradoras tanto em relação ao atendimento ao usuário, como na relação com médicos e prestadores de serviço - e à União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde (Unidas) acabaram fechando acordo e assum1ram o comprom1SSO de implantar a Classilicação, gradativa­ mente, nos próximos dias.

Avaliação do movimento - Por sua vez, a Comissão Estadual de Ho­ norários Médicos (CEHM) esteve reunida no último dia 27/0 1 com representantes das entidades médicas e sociedades de especialidade do Estado de Pernambuco. Em pauta: avaliação e acompanhamento da implantação da Classilicação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM), quando os presidentes das entidades médicas em nível nacional - CFM, AMB e Fenam ­ aprovaram as alterações do substitutivo do projeto de lei 3466/04, realizadas pelo relator, deputado Rafael Guerra. Os médicos entendem a necessidade de intensificar este traballio uma vez que, durante os últimos dois anos, as remunerações dos 5.000 procedimentos médicos, por parte das operadoras de planos de saú­ de, não apresentaram nenhum reali­ nhamento de valores. Um exemplo é a consulta médica. Hoje, um médico credenciado recebe R$ 15,00 por aten­ dimento. As operadoras de planos de saúde aplicaram reajustes exorbitantes aos usuários, chegando a 250% para o mesmo período.


De olho na notícia

Sindicalizada ganha prêmio O presidente do Simepe, André Longo, entregou, no último dia 03/02, um Paim One Zire 72 à médica Roseane Campos Callado - CRM 08818, pediatra do Instituto Materno Infantil de Pernambuco (lmip). A ganhadora participou da promoção "Sindicalizado em dia ganha em dobro", através de sorteio pela Loteria Federal (10 Prêmio), em 16/10/04. É mais uma promoção do Simepe que visa incentivar a participação de todos os associados.

Médicos prestigiam posse de João Veiga O médico-cirurgião e novo secretário de Saúde de Olinda,João Veiga, recebeu em sua posse os médicos Mozart Sales (ve­ reador do Recife - PI), Silvio Rodrigues, Carlos Eduardo Padilha e Marcelo Falcão, da Diretoria do Sindicato dos MédicosIPE. Votos de êxito neste novo desafio profissional e político. Revitalização na sede do Simepe Cores modernas e arrojadas foram pintadas em toda a se­ de do Simepe. A iniciativa faz parte do trabalho de revita­ lização das fachadas, recupe­ . ração das instalações elétri­ cas e hidráulicas (internas e externas) e limpeza dos pisos em geral. Foram feitas, ain­ da, obras no estacionamento da entrada e na casa anexa . Trabalho com qualidade e

Cursos superam expectativas Os dois cursos preparatórios realizados pelo Simepe para mé­ dico auditor do TCE e médico perito do INSS alcançaram êxi­ tos. Foram ministradas as matérias de português, informática, legislação previdenciária, contabilidade, direito constitucional e administrativo, perícia médica, entre outras, que produziram bons resultados entre os participantes. Os cursos foram coordenados pelo médico e professor da UPE, Railton Bezerra de Melo, diretor da Defensoria Médica do Simepe.

PR~MIO SIMEPE 2004 Os concluintes do curso de medicina da UFPE Izaías Francisco de Souza Junior e Juliana Santos Santana foram os vencedores do Prêmio Simepel2004, de Participação Coletiva, pelo reconhecido trabalho às causas estudantis_ Eles foram indicados pelo Diretório Acadêmico de Medicina Umberto Câmara Neto. Os novos médicos receberam a placa alusiva ao prêmio, através do diretor de Imprensa do SIMEPE, Fernando Cabral, durante a colação de grau, no dia 18 de janeiro de 2005, no Teatro Guararapes - Centro de Convenções de Per­ nambuco.

VITÓRIA CONTRA DO ESTADO A Defensoria Médica do Simepe obteve outra importante vitória contra o Governo do Estado, através de um mandado de segurança impetrado em favor do médico Pedro Manoel Sobral, que teve as gratificações de plantão suspensas quan­ do se aposentou. Com a ação, o Governo do Estado - Secre­ taria de Administração e Reforma do Estado - terá que pagar todas as suas gratificações que foram cortadas na aposenta­ doria, isto porque ele tinha direito à estabilidade financeira, prevista na Constituição estadual. Vale frisar que a decisão beneficia somente quem adquiriu o direito antes de 1996. O relator do processo foi o desembargador Santiago Reis. 5MBA TEM NOVA SEDE A Sociedade Médica Brasileira de Acupuntura - Seccional-PE - se consolida como uma instituição de destaque no cenário nacional. A entidade comunica aos seus associados que ad­ quiriu a sua sede própria, localizada à rua Oliveira Góes, 274, Casa Forte, no Recife. A 5MBAlPE conta com excelente estru­ tura, auditórios, salas de treinamento, entre outros equipamentos. Parabéns ao Dr. Dirceu de Lavôr Sales e aos especialistas pernambucanos por essa importante conquista. M~DICO PERUANO O neonatalogista José Victor Sosa Manrique tomou posse definitiva como médico no quadro funcional da Prefeitura da Cidade do Recife, após ter sido concedida a sua naturalização brasileira pelo Ministério da Justiça. A Defensoria Médica do Simepe ingressou com um mandado de segurança, pedindo a prorrogação da posse do médico, a qual foi concedida pelo Juiz da Primeira Vara da Fazenda Pública, Antenor Cardoso Soares Júnior.

LEGISTAS INDIGNADOS Os médicos-legistas denunciam que a situação no Instituto de Medicina legal (lMl) de Caruaru continua dramática. As con­ dições de trabalho são péssimas, uma vez que faltam equi­ pamentos para exames, necropsias e laudos.Em 2004, as enti­ dades médicas de Pernambuco mantiveram reunião com o secretário de Defesa Social, João Braga, e, na oportunidade, apresentaram relatório ilustrado com fotografias, denun­ ciando o descaso. Passaram-se doze meses e nem paliativos, tampouco soluções concretas por parte da SDS. Os médicos­ legistas garantem que continuam trabalhando na improvi­ sação e no famoso "jeitinho brasileiro" para atender à população. Movimento Médico 2S


Sessenta e quatro médicos foram ouvidos em trabalho feito pelo psiquiatra José Francisco Elizabeth Porto *

Pesquisa mostra dependência química em médicos no Recife médico não é um semi­ deus. Ele é um ser huma­ no que enfrenta as maio­ res sobrecargas emocio­ nais nas equipes de saúde. Ele trabalha em prol da vida e sofre com a dor do doente e, mais ainda, quando depois de todo seu esforço profissional, vê seu paciente morrer. Outro problema é que a maioria dos médicos tem um número de horas bem maior de que outras profissões, excesso de plantões e férias reduzidas. Além disso, têm a sua autonomia profissional com limitações, diante da participação dos planos e se­ guros de saúde, no atendimento aos seus pacientes. Todas essas afirmações acima foram comprovadas pelo psiquiatra José Francisco de Albuquerque, 51 anos, durante a primeira pesquisa realizada, no Recife, em 64 médicos dependentes químicos, que estavam em tratamento psiquiátrico, de 1989 a

O

26 Movimento Médico

2003. Ele identificou a existência de médicos dependentes em álcool, mor­ fina, maconha, cocaína e analgésicos. Um detalhe importante é que a maioria é do sexo masculino e o álcool é a substância mais utilizada por todos. Outro fato importante é que a Clínica Médica, provaveLnente por englobar todas as especialidades clínicas, foi onde se constatou mais dependentes quí­ micos. Entre as mulheres médicas, o maior número de casos foi observado entre as anestesistas, utilizando morfina. Professor adjunto de Psquiatria da UFPE, e psiquiatra do Núcleo de De­ pendência Química do Hospital das Clínicas da UFPE com mais de 22 anos atuando nessa área, José Francis­ co disse que enfrentou alguns proble­ mas para fazer a pesquisa. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos, do Centro de Ciências da Saúde da UFPE, de acordo com a Resolução nO

196/96 do Conselho Nacional de Saúde, em 12 de dezembro de 2003. "Elaborei esse projeto de pesquisa, para mestrado em neuropsiquiatria, com o título Méduos Dependentes Quí­

micos: Características da Clientela A1en­ dida por Psiquiatras na Czdade do Recijé. Tentei fazer um trabalho que, na me­ dida do possível, conseguisse entregar a todos psiquiatras da capital pernam­ bucana, que tratam de médicos depen­ dentes químicos, um questionário elaborado por mim para conhecer as características desses médicos em trata­ mento. Mas não foi fácil. Só consegui Muitos identificar 64 casos. questionários não foram respondi­ dos.", disse o psiquiatra. Na pesquisa, o psiquiatra identifi­ cou como uma situação preocupante e muito delicada a do médico depen­ dente químico, que trabalha nos blocos cirúrgicos, porque ele tem acesso mu.ito fácil às substâncias como, por


exemplo, os derivados da morfina. "Outro problema é que a dependência química passa a repercurtir na prática profissional, pois ele sempre acha que pode fazer isso e continuar sendo médico, e muitas vezes trabalha sob efeito de drogas, crente que tem o controle da situação. Afinal, ele é medico", afirma. Sobre essa questão, o psiquatra José Francisco informa que o Cremepe já recebeu denúncias sobre médicos com compOltamento inade­ quado devido à dependência química. Entre os 64 médicos observados, 7% tiveram notificação no Cremepe. O psiquiatra lembra que em todas profissões existem dependentes quí­ micos, mas um médico com esse pro­ blema provoca uma situação mais gra­ ve. "Ele é responsável pela saúde da população. A responsabilidade é mui­ to grande. Se ele falha, é logo iden­ tificado", adverte o professor.

Características - Uma das carac­ terísticas dos médicos observadas pelo psiquiatra José Francisco é que a mai­ oria é muito auto-suficiente. "O médi­ co tem um sentimento de onipotência enorme. Ele acha que não adoece e ele próprio pode se tratar. Nunca procura ajuda dos colegas", lembra José fl<tncisco. Na pesquisa, ficou comprovado que um médico dependente químico só procura ajuda quando já está com mais de cinco anos com o problema e quando a situação é drástica na sua fàmilia. Ele não vai por conta própria. É a mulher ou os filhos que tomam iniciativa para ele se tratar. A pesquisa também mostrou que os médicos entre 40 a 60 anos são as maiores vítimas do alcoolismo. Entre os médicos jovens entre 25 e 35 anos foi descoberto o uso de cocaína e maconha. O psiquiatra afirma que as manifestações das dependências de susbstâncias psicoativas na população médica apresentam semelhanças com o padrão encontrado nas pessoas

Para José Francisco (foto), há necessidade de novas estratégias para atender médicos

dependentes em geral, possivelmente por estarem sujeitas aos mesmos fatores culturais. "Ele age errado como qualquer pessoa, mesmo tendo conhecimento científICO sobre o problema", adverte o pesquisador. O maior percentual de médicos obser­ vados na pesquisa usava álcool há mais de 20 anos e outras substâncias há mais de 1O anos. Alguns são dependentes desde o período em que el<tm estu­ dantes de medicina. O uso de substâncias psicoativas varia, significativamente, com a espe­ cialidade, predominando o álcool en­ tre os cirurgiões e de opióides entre os anestesistas. A pesquisa também iden­ tificou na ginecologia-obstetrícia e psi­ quiatria um percentual acentuado de médicos dependentes químicos. Recomendações - O professor José Francisco, que também foi dire­ tor-fundador do Centro Eulâmpio Cordeiro de Recuperação Humana, diz que, mesmo considerando os limi­ tes dessa pesquisa em relação à popu­ lação estudada, os achados juntamente com as investigações anteriores, em países da Europa, principalmente na Espanha, e em outras cidades do Bra­ sil, reforçam a necessidade de serem criadas estratégias de atenção à saúde

dos médicos. "Há necessidade de ações dos setores competentes, visan­ do um controle eficaz da circulação de derivados opióides e ouu<ts substân­ cias utilizadas, sobretudo em procedi­ mentos anestésicos", opina o médico. O psiquiatra lembra que os limites metodológicos, evidenciados nessa pesquisa, sugerem a necessidade de continuar os estudos na área, com métodos que possam aprofundar o co­ nhecimento da dependência química entre os médicos. "Espero que esses resultados da minha pesquisa possam contribuir co­ mo subsídios para auxiliar nas refle­ xões sobre a pessoa do médico, sua saúde, a sua formação, a sua capac­ idade de trabalho, as condições de u<t­ balho a que estão submetidos nas ins­ tituições de sáude e os possíveis mo­ tivos que os conduzem ao sofrimento psíquico e a perda da liberdade na condição de dependente de substân­ cias psicoativas. Implica, também, numa reflexão acerca da responsabili­ dade dos órgãos formadores, das soci­ edades de especialidade e dos órgãos de classe na saúde e bem-estar dos médicos no Estado de Pernambuco", finaliza o psiquiatra. *Elizabeth Porto é jornalista

Movimento Médico 27


Corra da e pu roterap·a! Prática é constante nos balcões de farmácias de todo o país Slrle/de Ura *

A

empurroterapia - troca espont:"l­ nea de medicamento feita pelo balconista nas farmácias, onde na maio­ ria das vezes os clientes não são con­ sultados - continua sendo um proble­ ma perigoso à saúde da população. Mostra o quanto está desvalorizada a receita médica e como o atendente se sente à vontade para violar as leis. As conseqüências da empurrotera­ pia são prejudiciais aos pacientes por­ que muitos medicamentos oferecidos por funcionários das farmácias não apresentam testes de bioequivalência e equivalência farmacêutica e não atende o resultado prescrito pelo médico. Para evitar a prática da empur­ roterapia, o ex-presidente da República Fernando Henrique sancionou a Lei nO 9.787 de 10 de fevereiro de 1999, que alterou a Lei nO 6.360, de 23 de setembro de 1976, que dispõe sobre a Vigilância Sanitária, que estabelece o medicamento genérico (princípio ativo) e sobre a utilização de nomes genéricos em produtos farmacêuticos e dá outras providências, como testes de compro­ vação de qualidade, eficácia e seguran­ ça. Nesse documento está bem esclare­ cido o que é medicamento similar, ge­ nérico, de referência, bem como bio­ quivalência e biodisponibilidade, além da preferência na venda do medica­ mento genérico, quando houver, e nas condições de igualdade de preço. Por sua vez, a Resolução nO391, de 09 de agosto de 1999, da Agência Na­ cional de Vigilância Sanitária (ANVISA), estabelece regras para os medicamentos genéricos, garantindo a

28 /v1cMmento Médico

População serve de cobaia para balconistas de farmácias

sua intercambialidade com o respec­ tivo produto de referência, e diz que os medicamentos similares podem ser dispensados somente pelos médicos, como alternativa terapêutica, se assim o paciente desejar, bem como o médico em atividade nos sef\~ços privados, po­ derá prescrever o medicame nto com o nome genérico ou nome comercial. Quando o médico prescrever o nome comercial e não quiser que mu­ de, deverá expressar na receita; caso contrário, o produto poderá ser subs­ tituído pelo farmacêutico (não pelo balconista) por um similar. J á é rotina se chegar numa farmácia e oU\~r do balconista que "tem um me­ dicamento melhor do que o prescrito pelo médico" . E sse tipo de abordagem convence o cliente, até o mais esclare­ cido. N uma interessante matéria de 10­ landa Nascimento, publicada em 06/02/2004, na Gazeta Mercanttl, de São Paulo, sob o título "Farmácias limitam mercado de genéricos", é feita uma aná1se dos resultados da pesquisa elaborada pelo Instituto Ipsos Opi­ nion, envolvendo consumidores, mé­ dicos e balconistas de farmácias com o objetivo de verificar a prescrição, co­ mercialização e o consumo de me­ dicamentos no Brasil. Este estudo foi financiado pelos dez laboratórios asso­ ciados à entidade, que responde por cerca de 90% do mercado de genéricos e custou cerca de R$ 170 mil. A pesquisa foi realizada em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Curi­ tiba e envolveu 1,25 mil entrevistas com 150 médicos, 200 balconistas de

farmácias e 900 consumidores. Recife foi a campeã na troca espontânea de medicamentos feita pelos balconistas de farmácias. Para evitar que o consumidor caia nesse tipo de armadilha, todo médico deve ter conhecimento das leis que estabelecem regras sobre os medica­ mento a serem prescritos e orientar devidamente o seu paciente a não acei­ tar a troca, e dar opções, também, no caso de prescrição de medicamentos similares, ficando, portanto, o paciente mais tranqüilo e seguro na hora da compra, não se del,'l:ando levar na con­ versa de pessoas não capacitadas e que, obviamente, estão sendo comissiona­ das para vender o produto. Cabe às agências de saúde locais a fi scalização de farmácias e drogarias, porém, segundo a diretora executiva da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (Pró Ge­ néricos), Vera Valente, "torna-se dillcil fiscalizar 56 mil farmácias existentes no Brasil. Ela enfatiza a necessidade de união do governo e iniciativa privada em torno de uma campanha de escla­ recimento à população, inclusive à classe médica, transformando desta maneira cada consumidor em fiscal" . A diretora Vera Valente alerta ao consumidor que foi lesado ou necessita de informação para procurar contato com o Disque-Saúde (0800-611997), serviço do Ministério da Saúde, a fim de tirar dúvidas e efetuar denúncias. '"Conselheira do Cremepe e )0 Vice-Presidente da Somepe


o protocolo de Kyoto

Bush torce o nariz para o Protocolo, enquanto a vida no

planeta fica cada vez mais ameaçada

Bento Bezerra *

O

mundo saudou com entusiasmo a ratificação do Protocolo de Kyoto no dia 16 de fevereiro deste ano, coroando com êxito os entendimentos iniciados na Conferência Rio 92 e con­ signados nesse importante documento assinado em 1997 por 160 nações. Ob­ jetivamente, trata-se de reduzir a emis­ são de gases oriundos de combustíveis fósseis, responsáveis maiores pelo efeito estufa que eleva a temperatura da Terra e provoca im­ portantes alterações climáticas. A meta é mo­ desta, sem dúvida: reduzir em 5,2 % os illveis de dióxido de carbono em relação às taxas verificadas em 1990, cronograma que deve ser cumprido no período 2008 a 2012. Con­ siderando que para conter o nível assustador de poluição

atmosférica atual seria necessária um decréscimo de 60 % da quantidade de gases emitidos, este é apenas o passo inicial para uma atitude global de enfrentamento dessa questão que põe em risco a saúde do nosso planeta. Para tanto, torna-se necessário optar por novas fontes de energia, adaptar veículos para combustíveis renováveis e conter as queimadas de florestas. Para alguns governos, isso significaria reduzir a capacidade de cres­ cimento industrial, con­ trariando os seus interesses econômicos e políticos. Esse é o ponto de vista, por exemplo, do principal po­ luidor mundial, os Estados Unidos da América, cuja autoridade maior tem se negado persis­ tentemente a aderir ao Protocolo de Kyoto. Entretanto, é gra­ tificante ver que outros países com grande capa­

cidade industrial adotaram o espírito de Kyoto e já começam a apresentar sinais concretos de diminuição de emissão de C02. O Brasil teve uma participação im­ portante na elaboração do Protocolo, todavia, precisa fazer o dever de casa que é, sobretudo, controlar a escalada de desmatamento da Amazônia, esti­ mada em 20 mil quilômetros quadra­ dos ao ano, tarefa que não tem condu­ zido com muita eficácia, apesar dos re­ cursos tecnológicos dispoillveis para monitoramento. Por outro lado, o nos­ so país seria um dos maiores beneficiá­ rios da aplicação do Protocolo de Kyo­ to, uma vez que, em função das suas grandes reservas naturais, poderia re­ ceber investimentos de países que não alcancem as metas previstas pelo do­ cumento, sob a forma de compensação ambiental. Mais uma razão para que a sociedade brasileira se engaje na luta pela preservação do planeta Terra. *Cardiologista e Presidente do Instituto Verde de Pernambuco

MOVimento MédiCO 29


TRAUMA

Violência urbana:

causas e soluções

Violência consome 10% do PIS nacional João Veiga e Fernando Spencer

"A pobreza não é causa da violência . Mas quando aliada à dificu ldade dos governos em oferecer melhor distribuição dos serviços públicos, torna os bairros ma is pobres mais atraentes para a criminal idade e a ilegal idade". Luis Antônio Francisco de So uza ­ Sociólogo

"Se as pessoas agirem apenas em função do medo, se retraírem simplesmente, elas não vão conseguir operar bem, não vão conseguir enfrentar a violência. Só vão replicar e aumentar o processo, vão reproduzi- lo ". Adalberto Botarell; - Psicó logo Social

Brasil contabiliza cerca de 30 homicídios para cada 100 mil habitantes ante a média munclial de 5. O resultado anual de homicídios pode ser comparado ao número de vítimas de uma guerra civil. Em 2001, foram no­ tificados 1 milhão de crimes contra o patrimônio na cidade de São Paulo, sem considerar aqueles que não tiveram o registro da ocorrência nas Polícias Civil e Militar, e que são a maioria, de acordo com pesquisa do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), da Presidência da República, em parceria com a Universidade São Paulo (USP) e o Instituto Latino­ Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e o Tratamento do Delinqüente (I1anud). A segurança deve ser considerada um direito de cidadania, pois significa liberdade (respeito ao indivíduo) e ordem (respeito às leis e ao patrimô­ nio), que são fundamentais para o de­

O

30 Movimento Médico

senvolvimento econômico e social. Estudos da Fundação Getulio Varg-as (FGV) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento estimam que os cus­ tos da violência atingem 10% do PIB, algo em torno de R$ 130 bilhões. São recursos que deLxam de gerar empre­ gos na cadeia produtiva, de investimen­ tos e consumo, favorecendo a expansão apenas dos serviços especializados de segurança.O estudo da FGV calcula que o número de vigilantes hoje no Brasil é 3,5 vezes o contingente das for­ ças armadas nacionais, com o agravante

de que esses primeiros possuem quali­ ficação discutível e andam armados. A violência urbana afeta, de forma incisiva, as decisões de investimento no País. Nem mesmo a justificativa do potencial mercado consumidor é suficiente para revertê-la. Nenhuma empresa quer pôr em risco a vida de seus profissionais e a segurança de seu patrimônio. Ademais, a liberalização comercial global facilita a importação de prod utos que poderiam ser produzidos no Brasil. Isto é, a violência é fator competitivo no


Estudo da FGV ca lcula que número de vigilantes no Brasil é 3,5 vezes o contigente das Forças Armadas

mercado internacional e, contraliando as nossas necessidades, exporta em­ pregos.N esse contexto, o setor turístico brasileiro, de enorme potencial e diferenciais, acaba sendo o maior prejudicado. O turismo tem capacidade de gerar empregos em escala, até mesmo porque a qualificação de sua mão-de-obra é muito rápida. Solução perfeita para reduzir o desemprego no País e que a violência urbana solapa. O tipo de violência urbana que se presencia no Brasil é fundamentado no crime organizado, que é o pior de todos, pois cria um poder paralelo. Para o Estado, a violência urbana também representa dispêndios signi­ ficativos. São retirados recursos da saúde, da educação e do saneamento básico para financiar a infra-estrutura penitenciária, os serviços de apoio às vi.timas etc. O Estado também perde com o abalo na confiança da população em suas instituições. O cidadão é muito penalizado com a violência urbana, pela perda de sua liberdade, com os liscos presentes no cotidiano, com a menor oferta de em­ pregos e com a deterioração dos ser­ viços públicos. Para as famílias, a perda do pai ou da mãe, na faixa etária entre 25 e 40 anos, deixa uma legião de órtaos que terá de mendigar ou adetir ao crime organizado para obter seu sustento. A violência é um ciclo que começa e termina nele mesmo, sem beneficio para ninguém, a não ser para os líderes do crime organizado, na exploração daqueles que, direta ou i.ndiretamente, foram ou serão suas vítimas.

Caminhos para a solução - Para um enfrentamento das causas, a parti­ cipação de toda a sociedade - tanto co­ brando soluções do Poder Público como se organizando em redes comu­ nitárias de proteção e apoio, de desen­ volvimento social e mesmo de questões de segurança pública - é um caminho apontado pelos especialistas. Não sig­ nifica substituir as funções do Estado, mas trabalhar em conjunto. E é impor­ tante não transformar o diagnóstico, a identificação das causas, em motivo para mais violência. Afirmar que as áreas urbanas mais desprovidas de re­ curso facilitam a criminalidade não sig­ nifica dizer que os moradores dessas áreas sejam culpados. Na verdade, além de enfrentar condições precárias de subsistência, essa população ainda é a principal vítima de crimes violentos. Grande parte das ações necessárias está na gestão urbana, que compete aos municípios. Como a segurança pública é tarefa dos Estados, é preciso haver integTação entre políticas urbanas e políticas de segurança pública. A escola também é um ponto importante: espaço privilegiado de convívio e de formação da pessoa, precisa ter qualidade e se integrar à comunidade a sua volta. Escolas que permanecem abertas nos finais de semana, para uso da comunidade, conseguem quase eliminar o vandalismo em suas dependências. Além de uma escola pública melhor, fazem parte da lista de ações recomendadas, por quem estuda a violência, uma polícia melhor equipada e um Poder Judiciário mais ágil e, se necessário, mais rigoroso.

Para proteger-se dos crimes contra o patrimônio, como fraudes, furtos e roubos, o sociólogo Tulio Kahn recomenda estratégias de "bloqueamento de oportunidades": di­ ficultar o acesso dos criminosos aos al­ vos por eles vi.sados. O ladrão age quando tem a oportu nidade facilitada e pelo valor que possa obter com o pro­ duto do roubo. A mudança de alguns hábitos e a adoção de comportamentos preventivos, somadas a equipamentos de segurança que possam incluir de simples trancas reforçadas a sofistica­ dos sistemas de monitoramento eletrô­ nico de residências são recomendados pelos especialistas em segurança. A instalação de equipamentos deve levar em conta o patrimônio a ser protegido e, claro, a disponibilidade financeira. De uma maneira mais ampla, não basta somente proteger a si mesmo. Adalberto Botarelli, psicólogo so­ cial, cita o pensamento do filósofo Espi­ nosa, segundo o qual agimos gover­ nados por três questões: 1) uma lógica transcendental, não se faz uma coisa porque é pecado; ou 2) uma lógica do medo, não se faz pela punição possível; ou 3) pelo bem comum, porque o bem do outro é o bem de si próprio - é a lógica da ética do bem comum. De acordo com a ética do bem com um, uma pessoa não vai se preocupar com a redução dos assaltos por ser um bem para si mesma, mas por ser um bem para toda a sociedade. Nessa lógica, não existe propriamente uma defesa contra a violência, mas sim a redução do medo.

Movimento Médico 31


FECEM

Entre o tempo e a eternidade o

'g.

IJ!

Um momento para refletir sobre a morte e a vida

pela ótica de um médico Assuero Gomes* ma vela acesa e o sol. O

médico e a medicina. A

brisa e o Espírito. A idade

e a sabedoria. O fracasso e

o gesto de carinho. A morte e a vida. O

casulo e o voar da borboleta.

Somos feitos de tempo e de eter­

nidade.

Areia do deserto e areia da ampu­

lheta. Pó e pó.

Somos feitos de encontros e encan­ tos. Somos uma tarde de crepúsculo inserida em todas as auroras. Seriamos uma flor morta inserida em uma das primaveras que virão, não fosse a eter­ nidade. Somos pão e somos carne. Somos um poço, uma lagoa, dentro de um mar sem fim. Somos um ponto azul mergulhado no infinito do céu. Um grão de trigo que vai ser triturado na boca do faminto. Somos uma prece entre uma dor e uma esperança. Há uma linha, tão tênue, tão tênue, que separa o poema da noite no último verso do dia. Nessa linha dependura­ mos nossos sonhos, nosso tempo, nossa madmgada. Somos crepúsculo e ama­ nhecer do sexto dia, porque no sétimo há a eternidade.

U

32 Movimento Médico

A terra pertence ao tempo, mas sua beleza à eternidade. Vida inserida em vida. O homem e a mulher pertencem ao tempo, mas seu agir à eternidade. As letras pertencem às palavras, que são do tempo, mas a idéia, mãe das palavras, é eterna. Os médicos são como as pala­ vras, mas pertencem ao eterno, pois cu­ ram, saram, acalentam, consolam. Se­ rão apenas passageiros do tempo, mas cidadãos da eternidade. O barco no horizonte é do tempo, mas a beleza e a serenidade que lhe ex­ primem são da eternidade. O envelhe­ cer, o cansar, os anos, as décadas, são do tempo. A vida, no entanto, é da eterni­ dade, e esta ninguém a tira, ninguém a dá, senão Aquele que é a fonte, que traz a eternidade entre as mãos, que cami­ nha entre os tempos e acorda antes da prunetra aurora. Entre o tempo e a eternidade assim navegamos. Sobre o mar, sob a chuva. Sobre a areia e sob a poeira. Somos pro­ teína e sal, água e vento. Açúcar e vene­ no. Somos luz que é da eternidade e somos sombra que não é nada. A medicina é eterna enquanto per­ dma o cuidar do outro. A medicina é

finita quando já não há o outro, quan­ do já não há quem cuide. A medicina é velha quando já não houver a alegria dos acadêmicos nos corredores dos hospitais-escola com a descoberta de um sintoma no paciente estudado, quando já não se souber o nome do professor, quando houver apenas o preço. A medicina morrerá quando já não houver tempo para se escutar o crepitar do entardecer na voz e no murmúrio vesicular do paciente, quando já não houver quem olhe para a lágrima da mãe do enfermo, quando não mais se alegrar nosso coração ao atender um colega ou um seu filho e a antiga honra da escolha não mais sig­ nificar. Porque honra, dignidade, cari­ nho, cuidado, um olhar, um escutar, são da eternidade. A medicina sairá do tempo para entrar na morte, quando se perceber alguma vantagem por prescrever al­ gum fármaco, ou se indicar algum exa­ me desnecessário por tão vil motivo, ou se enriquecer através da exploração do trabalho do colega. Antes, muito antes do tempo, há a eternidade. Nela habitava apenas o Al­ tíssimo, o Único na sua infinita Trin­ dade. Por não se conter de amor, cha­ mou a si as criaturas, através da Pala­ vra, e plantou-lhes três grãos: o grão da eternidade, outro grão da liberdade e o mais importante, o grão do amor. Somos filhos e filhas da eternidade, e o tempo só nos consome devido ao mau uso desses grãos. Com o segun­ do, sufocamos o terceiro e assim per­ demos, por um tempo, o primeiro. Eis assim uma busca incessante que se ini­ cia ao romper da bolsa das águas e ja­ mais cessa, até retornarmos à eterni­ dade, de onde nunca deveriamos ter saído. Somos peregrinos do tempo, ca­ minheiros da eternidade. *Assuero Gomes Pediatra, Presidente da COPEPE assuerogomes@terra.com.br


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APMR

Eline Gomes* UTI, onde" a morte não é mais romântica"

UTl unidade de terapia intensiva unzdade de tempo investzdo sofrido ruzm inesquecível se claro não é dado sedado asmn nem claro nem escuro tanto faz unidade de números sinais de vida com números e a morte não é mais romântica são numeras que caem em dezenas de unidades

na frequência pequenas unidades de vida sinais numerosos de vz'da se esvaindo que vida? já não havia mais desde cedo era só matéria came sustentada suportada medicada e de novo a janela da alma já dizia aqui não há mais não sou mais eu a unidade do meu eu intensiva em vida imbuída na relação terapêutica dos meus sentimentos mas ainda bem que não é só e sefoi alívz'o

que não é só morte zmzdade de cuzdados intensivos intensivos profissionais preocupados intensos em cuzdados tentando desafogar dos fios de cateteres e sondas e monitores e drenas nadar como se pode às vezes nada pesando para um lado e outro pensando dedicando ao que parecia impossível hoje pode ser provável. salvando vidas outras mas inclusive com números.

Recife, 06/ 12/2004. A seu Salomão, paciente do Jeito 05 da UTr do HC/UFPE, que faleceu, em dezembro/2004, a Ana Cláudia, paciente do leito 03, acreditando na sua recupe­ ração, e aos profissionais desse setor. *Eline Gomes, médica residente RI de infectologia do HC/UFPE.

Mavímento Médíco 33


DIRETÓRIOS ACADÊMICOS

Estudantes de medicina discutem

sistema de cotas Diretório da UPE foi recebido no Cremepe pelo presidente Ricardo Paiva o início do mês de fe­ vereiro, o Conselho Re­ gional de Medicina de Pernambuco recebeu em sua sede os novos estudantes da Fa­ culdade de Ciências Médicas da UPE. Essa visita ao Cremepe faz parte da programação montada pelo Diretório de Medicina Josué de Castro para a semana de recepção dos calouros que é realizada sempre que há a chegada de uma nova turma de medicina. Os calouros foram recebidos ini­ cialmente pela conselheira Nair Cristina, que explicou qual o papel do Cremepe diante do profissional mé­ dico e da sociedade como um todo. Após o almoço, houve um debate so­

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bre o sistema de cotas para estudantes de escolas públicas, já que essa é a primeira turma a participar desse sis­ tema, com a participação de Ricardo Paiva, presidente do Cremepe, de Mozart Sales, vereador da cidade do Recife, e do estudante e Coordenador de Extensão Universitária do Diretório Acadêmico de Medicina, Rodrigo Oliveira. Para Mozart, o sistema de cotas é fundamental para que os estudantes fmanceiramente pouco privilegiados alcancem o sonho de entrar em uma universidade pública, e que com isso tenham um futuro mais digno, dei­ xando o país menos pobre. Mozart lembra com ênfase uma frase de Chi­ co Science: "Se você der um passo à

frente, você não está mais no mesmo lugar". Segundo o estudante Rodrigo Oliveira, o sistema não afetará na qualidade do ensino da Universi­ dade, pois existem estudos de outras Universidades do Brasil que ado­ taram este sistema que mostram que o desempenho dos estudantes na sala de aula era igual ao dos alunos que estudaram em escola privada. Para Cristiane Máximo, aluna do primeiro período, o debate foi neces­ sário para sua turma, pois algumas pessoas tiveram idéias equivocadas e até preconceituosas no que diz respeito ao nível do curso, e lembra que esta é a hora de investir também nas escolas públicas.


Fachada do histórico Mercado de São José, que conserva seus detalhes em art nouveau

Tem de tudo no Mercado de São José No ano em que o mais tradicional mercado de Pernambuco completa 130 anos, Movimento Médico faz um passeio pelo local para mostrar um pouco da sua 11istória, suas personalidades e a rica variedade de produtos Joane Ferreira e Roberta Vasconcelos*

o dia 7 de setembro de 1875, no local onde ficava o antigo Sítio dos Coquei­ ros, era inaugurado o Mercado de São José. O monumento, que levou três anos para ser erguido, teve as suas linhas inspiradas no mer­ cado público de Grenelle, em Paris, sendo o projeto adaptado para o Re­ cife pelo engenheiro J. L. Victory Lieutier, o mesmo que projetou a Câmara Municipal. Com a sua estrutura em ferro, importado de fundições da Europa, o Mercado conserva até hoje os detalhes ar! nOlt­ veau, como as gárgulas do telhado, em forma de animais. O Mercado impressiona, tanto pe­ la sua estrutura quanto pela variedade. O arquiteto Alexander Sirotheau, tu­

N

rista do Rio de Janeiro, ficou fasci­ nado com a grandiosidade da estru­ tura do Mercado e com a variedade de produtos comercializados ali. "Isso tudo é muito bonito e mágico, por toda a história que tem por trás. Tinha outros lugares pra visitar, mas já vim aqui três vezes durante a minha estada em Recife", revela o carioca. Atualmente administrado pela Pre­ feitura do Recife, o Mercado possui 46 pavilhões, 561 boxes cobertos e 80 compartimentos na sua área externa, além de outros 24 destinados a peixes, 12 a crustáceos e 80 a carnes e mos. Todos os boxes, que são tombados pelo patrimônio, estão ocupados e passam de pai para filho. "Esse aqui pertenceu à minha família e agora eu tomo conta. Depois, vou deixar tudo Movimento Médico 35


No Mercado de São José tem de tudo. Lá, são encontrados produtos para cultos afros (foto ao lado), comida regional, artesanato (foto abaixo), folhetos de cordel, estivas, enfim, uma variedade de opções para quem gosta de comprar

para os meus filhos, que já me aju­ dam; é assim que funciona", exem­ pLifica dona Helena de Melo, 66 anos, há 30 vendendo produtos de candom­ blé no Mercado.

VIDA - Muitos locatários do Mercado são considerados patrimô­ nio do local, já que trabalham, ou co­ mo dizem, "vivem" no mercado há muitos anos. No mercado há 55 anos, no ramo de estivas, 'seu' Antônio Pe­ rei.ra Amorim, 76, resume, emociona­ do, o que o mercado significa: "Aqui é a minha casa. Agradeço a Deus poder estar aqui todos os dias , e espero que Ele permita que eu continue por

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muito tempo". A opllllão de dona Helena vai no mesmo sentido."O Mercado é a minha vida, porque desde muito nova vivo aqui dentro. Isso aqui é a minha família, é tudo pra mim", define. Em 29 de novembro de 1989, um incêndio quase destruiu os sonhos de todos os comerciantes do Mercado de São José. Um curto circuito destruiu 50% do prédio, atingindo, principal­ mente, a parte de artesanato, deixando os locatários apavorados. Ninguém se machucou, mas alguns comerciantes do local sofreram infarto e depressão. A recuperação total da parte quel­ mada demorou quatro anos.


Personagem Relações Públicas já brilhou na Globo

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l Sinésio Roberto deve lançar livro em breve

LIVRO - Essa história e dezenas de outras estão sendo contadas no livro A Verdadeira História do M.ercado de São José, com lançamento previsto para o segundo semestre deste ano. O autor do Livro é Sinésio Roberto, 70 anos, locatário há meio século, e tam­ bém presidente da Comissão Per­ manente do Mercado de São José. "O livro vai contar desde quando aqui era somente um terreno, pas­ sando pela briga jurídica (pela posse do terreno) entre a igreja e governo da província, até os dias atuais", adianta o comerciante. O livro tam­ bém revela tudo o que foi encontrado no local (ossadas, moedas de ouro) na época da reforma, entre 1986 e 1994. Sinésio conta que encontrou inspi­ ração para escrever o livro nos pró­ prios locatários. "O maior patrimônio do Mercado de São José são os seus locatários. Eles dão vida e fazem a história desse lugar", diz. Para ele, o Mercado é a sua faculdade, e foi graças ao seu trabalho ali que pôde sustentar a fumilia e educar três fIlhos.

Microfone foi colega de Carlos Penna Filho

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O

mercado possui algumas personalidades. Entre elas, está AbdenagD de Souza Leite, mais conhecido como "Microtone", apelido dado por um primo por causa de sua tàcilidade em se expressar. Ou, segundo ele, "devido à loquacidade". Aos oitenta anos, Microtone, que é o relações públicas do l\ilercado de São José, tem uma conversa fume quando conta tàtos engraçados que a­ conteceram há décadas. Com uma memória invejável, fala de histórias de quando toi aluno de \Valdemar de Oliveira, Sílvio Rabelo, Amaro Pinto, e colega de colégio de Carlos Penna Filho, poeta pernambucano reco­ nhecido nacionalmente. Nascido em Goiana (Mata Norte, a 60 km do Recite), Microfone também já serviu ao exército brasileiro durante 4Lunze anos e palticipou até de um quadro do programa Fantástico, da Rede Globo, o que o tornou conhecido em todo o país.

SERViÇO: Funcionamento : Todos os dias Segunda a sábado: 6h às 18h. Domingos e feriados: 6h às 12h. www.mercadosaojose.com.br

*Da Assessoria de Imprensa do Cremepe

Movimento Médico 37


o que é a

dig"tal?

A TV digitalizada já existe nos EUA desde 1998 íta lo Rocha leitão*

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esde o início da década de 50, quand~ chego~ a.o país, que a teleVIsão brasileira não . . Vla se aproxunar uma mu­ dança tão profunda em sua concepção: a migração da tecnologia analógica para a digital. O aparelho de tv é praticamente o mesmo daquela época. As mudanças aconteceram na emissão da cor, que passou de preto e branco para o colorido, e no tamanho da tela: 14",20",29",33". Essa mudança chega nwn momento mais do que propício, posto que a evolução tecnológica em outras áreas de telecomunicações, como a telefonia móvel e a Internet, obriga a TV a se mexer para não ser ultrapassada. A TV digital, na realidade, é a forma encontrada para promover a renovação da TV tradicional. Vai apresentar wna mell10r qualidade de som, similar à qualidade apresentada por wn CD. A imagem vai mell10rar também, fàzendo com que desapareçam os núdos e os fantasmas. A tela será expandida e ganhará mais dimensão lateral. Para o telespectador, isso significa malS referência, o que vai ajudá-lo a perceber melhor os eventos mostrados na tela.

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Haverá o awnento da resolução, o que na linguagem mais simples quer dizer nitidez das imagens. Para que o leigo tenha uma idéia mais aproximada dessa mudança, podemos citar o exemplo de wn aparelho normal de TV (analógico), que tem wna resolução de 640 x 480 PLXelS (pontos de resolução de telas), o correspondente a 300.000 pixels. Agora, é só comparar com wn aparelho de alta definição (High Definition), que chega a resoluções de até 1920 x 1080 PL'XelS, totalizando mais de dois milhões de pixels, ou seja, seis vezes mais do que wn aparelho normal de TV Outro aspecto importante é a pos­ sibilidade de haver wna interatividade mais efetiva com o telespectador, visto que a nova tecnologia digital vai permitir odmonload de músicas, filmes, jogos etc, e abrir novas formas de negócios. Será criado o comércio eletrônico através da TV A partir daí, sentado em sua poltrona, o telespectador poderá adquirir um produto disponível para venda enquanto estiver assistindo à televisão. Com o mínimo esforço possível, acionando apenas o controle remoto do aparelho e seguindo as regras

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estabelecidas. Existem, na atualidade, três sistemas de TV digital no mW1do. O americano, o europeu e o japonês. O pioneirismo nas experiências com TV digital é dos Estados Unidos, que iniciaram suas transmissões em 1998. O padrão americano é o ATSC (Advanced Television System Corrunittee). Na Eu­ ropa, a TV digital opera com o padrão DVB (Digital Vídeo Broadcasting). A Inglatena foi o primeiro país a implantar o sistema, também no final de 1998. O modelo de TV digital considerado pelos técnicos como o mais avançado foi desenvolvido no Japão. É o ISDB (Integrated Services Digital Broadcasting). As experiências japonesas começaram no final do ano 2000. Outros países, como Austrália e Singapura, já deram início às experiências nesse campo. Os países da América do Sul estão aguardando a decisão do Brasil sobre qual sistema é o melhor a ser adotado: o americano, o europeu ou o japonês. Para o telespectador, só resta esperar a decisão acertada. *ítalo Rocha Leitão é jornalista


rt~

:~ HUMOR

Apolo Albuquerque *

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m conhecido político do interior da Parafba tinha o costume de não pagar as con­ tas em dia. Numa certa ocasi­ ão, ele ia passando, apressadamente, pelo centro da cidade e perguntou as horas a um cidadão. O homem o reconheceu e não titubeou na resposta: "Está na hora de o senhor me pagar!". Ao que o político retrucou: "Nunca pensei que fosse tão cedo!".

• O filho gostava muito de beber, principalmente cachaça. A mãe, preocu­ pada com aquela situação, vivia fazendo promessas e pedindo pra ele parar com a bebedeira. A cada porre era aquela la­ dainha. Certa manhã, os dois estavam sentados na sala e ela quase conseguiu. Foi por um triz. Ele já tinha admitido mesmo a possibilidade de se abster do álcool. Mas, de repente, um vendedor de trutas gritou embaixo da janela da casa deles: "Olha o caju.....bem madurinho!". E ele fez um apelo comovente à velha: "Mãe, deixa passar essa safra!".

E o cidadão que sofli.a de insônia? Eram noites e mais noites às claras. A cidade inteira já sabia da doença. Um dia ele ia passando na rua e um amigo perguntou: "Compadre, o senhor já me­ lhorou da insônia?". A resposta disse tu­ do: "Que nada, já vendi até a rede!".

• Por falar nisso, dizem que a crise econômica do ano passado foi tão braba que uma velhinha teve que com­ prar O peru de natal num consórcio de trinta e seis meses e ainda teve que dar um lance!

• Tratava-se de um pacato pai de fa­ milia, trabalhador, bom pai, bom marido. O único defeito era ser viciado em cor­ ridas de cavalo. N uma manhã de domin­ go, cumprindo com a rotina matinal, estava ele tomando uma cervejinha no terraço de casa. Ao redor, os filhos brin­ cavam. Na cozinha, a mulher preparava o almoço. À tarde, o Jóquei Club o esperava. Pois bem, estava ele ali naquela paz familiar, lendo um sugestivo livro ''Amo Minha Família", quando, de

repente, a mulher veio por trás e meteu­ lhe a caçarola na cabeça. Ele deu um pulo da cadeira, soltou o livro e perguntou o que estava havendo. Ela exibiu um pedaço de papel que acabara de encontrar no bolso da calça dele. No papel, em letras miúdas, estava escrito "Rosecleide, 85879842". Ele cui­ dou logo de explicar. Tratava-se de uma égua em que ele costumava apostar e aquele era exatamente o número do animal. A amada derramou-se em lágrimas e pediu-lhe m.il desculpas. Domingo seguinte, no mesmo cenário, a cena se repete. Só que, no lugar da caçarola, ela tacou uma panela de pressão, com toda força, na cabeça dele. O sangue espirrrou na hora. Ele, atordoado, quis saber o que tinha acon­ tecido dessa vez. E ela não podetia ter sido mais direta: ''A égua está no telefone querendo falar com você!".

• Apolo Albuquerque se despede hoje com um provérbio popular: "Se é verda­ de que dinheiro fala, o meu VlVe me dizendo adeus" .

Movimento Médico 39


Jorge Wanderley

A mais completa tradução

o médico Jorge Wanderley foi um dos maiores tradutores do Brasil

orge Wanderley nasceu no Recife em 1938, e faleceu em 1999. Foi para o Rio em 1976 e concluiu doutorado em Letras na PUC. Escreveu poesia desde os 16 anos e, em um largo período de sua vida, exerceu a profissão de médico (neuro-cirurgião). Além de vasta produção poética e crítica, o legado de Jorge Wanderley inclLú também traduções de clássicos da literatura como Dante, Shakespeare, Paul Valéry e Jorge Luis Borges. Seu renome como tradutor poético e dramático ofuscou, em parte, sua produção pessoal - nada restrita, pelo contrário. Jorge \Vanderley ia buscar no "pomar das palavras" os frutos mais suculentos para com eles povoar seus textos. Ao lado, um poema de Bukowski, "com quem Jorge muito se identificava", conforme diz Márcia Cavendish Vhnderley, professora de Sociologia da Literatuta da UFRJ e viúva dele. Segundo ela, "grande boêmio, na juventude, na maturidade e na pré-veUuce, pois morreu ainda muito jovem, Jorge Wanderley viu no bardo marginal uma reprodução de si próprio, dividido entre o permitido e o proibido, essa linha tênue que nos persegue em vida, condenando-nos ao banal ou elevando-nos ao epifànico" .

1

40 Il/iovimento Médico

Confession

Confissão

waitingfor death like a cat that wzll jump an lhe bed

esperando pela morte como um gato que vai pular na cama

I am so 'Very sor!') for mywife

sinto muita pena de minha mulher

she wlll see lhis stif! white body

ela vai ver este corpo nJoe branco

shake il once, then maJ1be agazn:

vai sacudi-lo e talvez sacudi-lo de novo:

"Hank!"

"Henry!"

Hankwan't answe/:

e Henry não vai responder.

it's IWt my death thal w(J'mes me, it's my wife left with this mie ofIWthing.

não é minha morte que me preocupa, é minha mulher deixada sozinha com este monte de coisa nenhuma.

I want to let h-er know tlwugh lhat ali the nights sleeping beside her

no entanto, eu quero que ela saiba que dormir todas essas noites a seu lado

even lhe ltseless arguments we/'e things ever splendid

e mesmo as discussões mais banais eram COisas realmente esplêndidas

and lhe hard

e as palavras difíceis que sempre tive medo de

~c(jrds

I ever feared to say can J1fftJJ be said:

lhve you.

dizer podem agora ser ditas: eu te amo.


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