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ISSN 2176-2104

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FRATERNO SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA A n o

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Os desafios da gestão da casa espírita A velocidade das mudanças, o atual conceito de assistência social e as melhores ações para se administrar uma casa espírita. Acompanhe na entrevista do consultor sobre políticas de responsabilidades sociais Marco Milani.Págs. 6 e 7

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MEDICINA

A era do espírito já começou

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ão há como negar o importante passo dado pela Organização Mundial da Saúde ao instituir a definição de saúde não apenas como a ausência de enfermidade, mas como bem-estar físico, mental e social. Mas na visão da Associação-Médico Espírita, ao avanço é parcial, uma vez que não inclui como bem-estar o aspecto espiritual. Para o médico-cirurgião Décio Iandoli, vice-presidente da Associação Médico-Espírita do Mato Grosso do Sul, a medicina na atualidade está passando por profundas mudanças. Toda a tecnologia e as possibilidades de sua aplicação amealhadas nestes mais de 100 anos de medicina científica não estão ocupando seu real lugar, como instrumentos, mas como filosofia para o exercício da profissão, encarando-se o paciente como uma doença e não como alguém que necessita de alívio nos seus mais variados aspectos, como ser integral. No Brasil, a espiritualidade no tratamento dos pacientes tem despertado os profissionais para a retomada de uma medicina mais abrangente e humanizada. “O processo irreversível já foi deflagrado e acontecerá muito mais cedo do que podemos supor”, afirma Iandoli em sua entrevista. Leia mais nas páginas 10 e 11.

O rádio no Correio Ouça e participe do programa

Universo Espírita. Espíritas divulgam o evangelho em Israel e no Egito

Um grupo de 55 espíritas brasileiros viajou à Terra Santa e ao Egito para realizar o Evangelho no Lar nos locais por onde Jesus passou. A presença do pesquisador Severino Celestino, profundo conhecedor da Bíblia, fez a diferença. Divulgar o espiritismo e o evangelho de Jesus em terras distantes foi o que os impulsionou para essa incrível viagem. Leia na pág. 3.

O ar que respiramos, suicídio indireto?

Allan Kardec assevera que “o suicídio não consiste apenas no ato voluntário que produz a morte instantânea, mas em tudo quanto se faça conscientemente para apressar a extinção das forças vitais”. Poluir deliberadamente e sem noção de limite não seria o caso? Veja a realidade da poluição de São Paulo, por experiência narrada por André Trigueiro. Leia na pág. 19.

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EDITORIAL

Os fatos

sob a visão espírita

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cima de todas as conquistas no que se refere à divulgação espírita nos meios de comunicação, ficam sempre os imperativos maiores da consciência sobre a responsabilidade do jornalismo como instrumento para a expansão da doutrina: incentivar o despertar para a verdadeira realidade da vida. É o que toda a equipe do Correio, seja no jornal, no site, na editora ou nas redes sociais, vem tentando fazer. Nem sempre tem sido fácil a realização desse trabalho, tendo-se a sensação de se estar na contramão, numa imprensa voltada muito mais para o materialismo. Daí o desafio de trazer as ideias espíritas para a atualidade,

contextualizando a imensa obra que os espíritos nos deixaram através de Allan Kardec. Estão aqui reunidos temas importantes e atuais que ocupam grandes espaços na mídia, sem a visão espiritual dos fatos. É o que você, leitor, irá perceber na Entrevista sobre a dificuldade na gestão dos centros espíritas, no Especial sobre o caminho irreversível para o qual a medicina se abre e na corajosa experiência do jornalista André Trigueiro (Mundo sustentável) que conta os horrores da poluição do ar, que vem ceifando vidas, sem que percebamos a nossa responsabilidade nesse suicídio coletivo. Para equilibrar, há também o lado mais leve, com a incrível his-

Uma ética para a imprensa escrita Em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Correio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação: • A apreciação razoável dos fatos, e de suas conseqüências.

tória de uma confraria de espíritos iluminados que acompanha o trabalho no bem, em As quatro deusas da Babilônia. Você também vai gostar dos comentários sobre alguns mitos, com George de Marco e Paulo Figueiredo. Tem ainda o humor de Laurinha e a viagem de um grupo de espíritas brasilieiros a Israel e Egito, divulgando o Evangelho. A edição está imperdível.

• Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros. • Discussão, porém não disputa. As inconveniências de linguagem jamais tiveram boas razões aos olhos de pessoas sensatas. • A história da doutrina espírita, de alguma forma, é a do espírito humano. O estudo dessas fontes nos fornecerá uma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos. • Os princípios da doutrina são os decorrentes do próprio ensinamento dos Espíritos. Não será, então, uma teoria pessoal que exporemos.

CORREIO DO CORREIO Nunca li O livro dos espíritos Li o Correio Fraterno e adorei a entrevista com a advogada Marília de Castro (ed. 437). Ela fez duas citações de O livro dos espíritos que despertaram em mim vontade de ler o livro. Li também o artigo “Alice no país do autoconhecimento”, onde o autor também cita Allan Kardec e que temos que realmente fazer o bem para que tenhamos um efeito positivo em nosso espírito. Minha filha e eu tivemos uma conversa muito boa, e aproveitei para

comentar sobre estas citações, que realmente me tocaram. Parecem tão óbvias, mas quando ouvidas, ou lidas no momento certo, têm um significado maior. Nunca li O livro dos espíritos, mas acho que agora chegou a hora... Viviane Taliberti, Uberlândia, MG Consolo do Espiritismo Ando perdida desde que saí do Brasil. É bom encontrar o consolo da minha religião aqui do outro lado do Atlântico. Obrigada por

trazer-me um pouco de alento. Parabéns das terras dos Lusíadas. Margaret Laranjeira, Portugal Novo visual Adorei o novo jornal. Já era precioso em conteúdo, agora ficou mais atrativo. Parabéns. Márcia C. Monteiro, São Paulo, SP Trabalho à frente Trabalhos como o de vocês renovam nossa esperança de que nada está perdido e de que ainda há muito por fazer. Liliana Lincka, por e-mail

Envie seus comentários para redacao@correiofraterno.com.br. Os textos poderão ser publicados também no nosso site www.correiofraterno.com.br

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FRATERNO ISSN 2176-2104 Editora Espírita Correio Fraterno CNPJ 48.128.664/0001-67 Inscr. Estadual: 635.088.381.118

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• Não responderemos aos ataques dirigidos contra o Espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que podem degenerar em personalismo. Discutiremos os princípios que professamos. • Confessaremos nossa insuficiência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. Longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicitamos. Serão um meio de esclarecimento. • Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião individual que não pretenderemos impor a ninguém. Nós a entregaremos à discussão e estaremos prontos para renunciá-la, se nosso erro for demonstrado. Esta publicação tem como finalidade oferecer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. E ligar, por um laço comum, os que compreendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.

Envio de artigos Encaminhar por e-mail: redacao@correiofraterno.com.br Os artigos deverão ser inéditos e na dimensão máxima de 3.800 caracteres, constando referência bibliográfica e pequena apresentação do autor.


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ACONTECE Subida ao Monte Sinai

Espíritas brasileiros divulgam o Evangelho em Israel e Egito Por ELIANA HADDAD

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o último mês de abril, um grupo de 55 brasileiros – em sua grande maioria médiuns espíritas – viajou à Terra Santa e ao Egito, tendo como um dos principais objetivos realizar o Evangelho no Lar nos locais por onde Jesus passou, lançando, assim, o segundo programa Nos passos do Mestre. Um dos pontos de parada, no domingo de Páscoa, foi o Cenáculo, onde Jesus realizou a última ceia. A presença do pesquisador Severino Celestino, profundo conhecedor da Bíblia, e quem sempre lembra da relação das bases do espiritismo com tal obra, fez a diferença. Por onde passou, o grupo cumpriu com a tarefa a que se propôs: a divulgação do espiritismo e do Evan-

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gelho de Jesus em terras distantes. O projeto vem sendo coordenado pela empresa RW Turismo, que desde o ano de 2000 criou um braço operacional para dar suporte a eventos espíritas. Desde então, estas atividades foram se tornando prioritárias, tomando corpo e exigindo maior responsabilidade. “Em 2008 fomos convidados para realizar, em parceria com a TV Mundo Maior, o primeiro programa Nos passos do Mestre – Os três “Es” Evangelho, Espiritismo e Esperanto, um projeto de orador Adão Nonato”, explica Marcia Valente, diretora da empresa. “O plano espiritual já devia estar trabalhando conosco, pois dois anos antes estávamos desenvolvendo programas de estudo sobre Maria e Paulo de

Celestino contextualiza passagens bíblicas

Tarso. Ano seguinte, iniciamos um curso de esperanto. Em seguida, surgiu o projeto”. Em novembro de 2009, um grupo de noventa espíritas visitou o Egito e Israel para estudar os caminhos de Jesus e da Sagrada Família, tendo como foco o estudo e

a implantação do Primeiro Evangelho no Lar na Terra Santa, 2009 anos após a reunião realizada por Jesus na casa de Pedro, em Cafarnaum. Pelo trabalho desenvolvido na Terra Santa, o grupo sentiu a necessidade de dar continuidade ao projeto. Marcia Valente salienta que, além de ajudar com preces os locais de conflito e também os espíritos que ainda permanecem em sofrimento, durante o Evangelho – realizado em ambientes preparados nos próprios hotéis – o grupo reviveu com emoção a história de Jesus. “Uma história que certamente está agora sendo contada por cada um dos participantes, espalhados pelo Brasil, como divulgadores do Evangelho e do espiritismo”, afirma. Conta também que, neste ano, a viagem foi marcada por algumas “surpresas”. Chegaram ao Cairo no dia 15 de abril, alguns meses após os conflitos que derrubaram o presidente do Egito. Naturalmente, havia certa preocupação, mas o grupo estava bastante confiante. Depois dos conflitos políticos, foram eles os primeiros brasileiros e um dos primeiros grupos a ali desembarcarem. “Levamos esperança, alegria àquele povo tão pobre e carente. Passamos pelo Monte Sinai e depois de quatro dias, no Egito, seguimos para Israel, por mais 11 dias de viagem”. O grupo, segundo Marcia, voltou mais uma vez à História. “Pudemos vivenciar conhecimentos de leitura, seguir os passos de nosso Mestre Jesus, em cada ponto por onde ele andou, pregou e por onde passaram seus discípulos. Foi emocionante constatar os sentimentos mais diversos em cada parada. Nosso guia turístico, Sr. David, judeu que se ‘abrasileirou’ nestes dias, é quase um missionário; de uma cultura fantástica, conhece a história de Jesus como ninguém. Nosso professor Severino fazia as traduções com a análise do Evangelho e à noite, fechamento nas reuniões. Foi fantástico! O desafio agora é reunir num único grupo todos os viajantes, desse e dos anos anteriores. Se somos capazes de formar uma ‘família’; de nos comunicarmos e trocarmos experiências no dia a dia, já estamos preparados para realizar algo maior. Este grupo já tem a responsabilidade da divulgação do Evangelho, em cada centro, em cada local e em uma vibração única. Estaremos sempre juntos e unidos.” www.correiofraterno.com.br


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MAIO - JUNHO 2011 O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ! Envie para nós um fato marcante sobre o Espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção. E-mail: redacao@correiofraterno.com.br.

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BAÚ DE MEMÓRIAS

O Espiritismo perseguido no governo Getúlio Vargas Por MILTON FELIPELI

Getúlio Vargas (1937): pronunciamento à nação sobre uma nova constituição

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s estados de Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul lideraram, em 1930, o movimento armado que resultou no chamado Golpe de 1930. O presidente da república Washington Luis foi deposto pelo movimento que impediu ainda que o candidato eleito, Júlio Prestes, tomasse posse. Era o fim da República Velha, com Getúlio Vargas assumindo a chefia do Governo Provisório em 3 de novembro daquele ano. O maior conflito ocorreu em São Paulo, onde o apelo a uma autonomia política incitava o povo a lutar contra o governo, originando-se dessa mobilização a Revolução Constitucionalista de 1932. Forçado por tais circunstâncias, Vargas convocou eleição para a formação de uma Assembleia Nacional Constituinte, tendo sido então aprovada, em 1934, uma nova constituição. Dois movimentos se destacam nesse episódio: a Ação Integralista Brasileira e a Aliança Libertadora Nacional, em torno da qual se mobilizou o movimento comunis-

ta, que tentou, em 1935, um golpe contra Getúlio Vargas. O movimento integralista promovia sua ação política contra as correntes socialistas, comunistas, anarquistas, e em defesa do seu ideal católico, inspirado no integralismo português, contra outras correntes religiosas, inclusive contra o espiritismo. O movimento dos espíritas girava em torno do Distrito Federal, do Rio de Janeiro. Alguns estudos* registram que na época (1938) havia 1.107 centros espíritas no Distrito Federal, de um total de 5 mil em todo o Brasil. Separado da Igreja, o Estado passou a ser laico, não recebendo mais a influência religiosa. As práticas espíritas, assim como todas as manifestações religiosas, se ampliaram. Entretanto, parte da classe política conservadora e religiosa, da mesma forma como a classe de médicos acadêmicos e juristas intensificaram a campanha contra os médiuns, sobretudo, curadores e receitistas, procurando confundir a opinião pública.

A campanha se fundamentava na falsa ideia de que o espiritismo se assemelhava aos rituais praticados pelos escravos nas senzalas. A base legal para o ataque contra o espiritismo e os médiuns era o artigo 157 do código penal de 1890: “É considerado delito praticar o espiritismo, a magia e seus sortilégios, usar de talismãs e cartomancias, para despertar sentimentos de ódio ou amor, inculcar cura de moléstias curáveis ou incuráveis, enfim, para fascinar e subjugar a credulidade pública”. A perseguição foi muito grande. Os centros espíritas viviam sob a ameaça de fiscalização pelos agentes policiais. Os instrumentos legais determinavam que “as sociedades espíritas encontravam-se impedidas, em seus trabalhos de experimentação psíquica, de usarem de meios e práticas mediúnicas excedentes ao desenvolvimento dos próprios órgãos do sentido do homem ou atentatórias à integridade intelectual e

física do indivíduo”. A determinação visava impedir o exercício da mediunidade e havia, até pela lei, suspeição quanto à sanidade mental de médiuns e dirigentes espíritas para o exercício de suas atividades. Os centros espíritas eram obrigados a manter um livro com dados pessoais dos médiuns, com foto, que deveria ser levado à delegacia de polícia para registro oficial. Anualmente, os médiuns e os dirigentes eram convocados a comparecer na delegacia policial para serem examinados pelo médico destacado pela Secretaria de Higiene e Saúde Mental. Somente depois desse exame é que os considerados aptos poderiam atuar. Não foram momentos fáceis e, hoje, quando adentramos livres numa casa espírita nem imaginamos as dificuldades enfrentadas, valendo lembrar a opinião de Allan Kardec em Obras póstumas, que ressalta a clareza do ideal espírita. “O Espiritismo proclama a liberdade de consciência como direito natural e a reclama para si e para todo o mundo. Respeita toda a convicção sincera e pede a reciprocidade.” Bibliografia: Livres, porém perseguidos: o cotidiano das relações entre espíritas e a polícia na cidade do Rio de Janeiro – 1930 – 1950. Marco Aurélio Gomes de Oliveira. Tese de mestrado junto à Universidade Federal Fluminense *Leia mais no site www.correiofraterno.com.br Milton Felipeli é escritor, membro da Associação de Divulgadores do Espiritismo de São Paulo. E-mail: miltonfelipeli@ig.com.br

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ENTREVISTA Qual o principal desafio dos gestores de casas espíritas hoje? Marco: Como em qualquer época, todo gestor deve identificar e compreender os desafios do contexto em que se encontra. Uma das características da sociedade moderna, além do acesso massificado à informação, é a maior velocidade relativa de mudanças em determinados aspectos sociais e econômicos, fato que influencia novos padrões de comportamento dos indivíduos. Muitos gestores têm dificuldade de acompanhar essas mudanças e, ao se depararem com desafios modernos, tentam utilizar soluções do passado que não se mostram eficazes atualmente.

Marco Milani: o sucesso da casa espírita é um processo contínuo de educação

Os desafios da gestão da

Que mudanças são essas? Marco: A mudança no perfil do voluntário é uma delas, que hoje tem um nível de conhecimento geral, expectativas e disponibilidade de tempo diferentes de 20 anos atrás. O gestor deve promover a captação, motivação e retenção de colaboradores talentosos de maneira diferente do que se fazia no século passado. Há também a necessidade de se preparar a organização espírita para captar recursos financeiros, mediante a elaboração de projetos sociais bem desenhados e capazes de oferecer resultados que ultrapassem o assistencialismo, a fim de se incentivar a geração de renda e a mobilidade social dos assistidos. Outro ponto fundamental é a qualidade do ensino doutrinário e os meios de divulgação a serem utilizados, diante de um público habituado a novas tecnologias e com comportamentos sociais típicos das presentes gerações. Isso não implica alterar o papel do centro espírita, mas aprimorar as ferramentas de comunicação e contar com pessoal capacitado para que as casas atuem eficazmente, como agentes transformadores da sociedade.

casa espírita Por ELIANA HADDAD O consultor sobre políticas e práticas de responsabilidades sociais Marco Milani conheceu o espiritismo em 1988, um ano antes de se graduar em Economia pela Universidade Mackenzie, em São Paulo. Despertado pelo espiritismo para as problemáticas sociais, passou a se interessar pelo Terceiro Setor, aprofundando-se no tema em seu mestrado e doutorado em Controladoria e Contabilidade na Universidade de São Paulo. Suas atividades como docente na Universidade Mackenzie e também no movimento espírita paulistano (é diretor de doutrina da USE Distrital Lapa) reforçam a sua condição de traçar em entrevista exclusiva ao Correio Fraterno um panorama sobre gestão da casa espírita. www.correiofraterno.com.br

Quais características dos gestores, a seu ver, mais interferem no desempenho das casas espíritas? Marco: Se encontramos casas que contam com gestores muito bem preparados e que se esforçam para oferecer uma administração competente, pautada na ética e voltada

para a sustentabilidade da organização, temos também pessoas que foram conduzidas à função administrativa apresentando inadequações de diferentes naturezas. Geralmente, as organizações padecem pela ausência de planejamento, personalismo, falta de preparo para a sucessão e problemas de governança. Mas esse não é um problema novo e nem exclusivo de centros espíritas. Qualquer organização pode sucumbir diante de obstáculos mais complexos do que seus gestores poderiam imaginar. O que se deve evitar é a postura ingênua de se supor que o auxílio espiritual suprirá o comodismo e a falta de preparo de alguns gestores. Espíritos superiores ajudam quem se esforça para ser ajudado. Só a boa vontade não mantém o centro organizado e funcionando, se assim fosse, alguns centros não teriam que encerrar as atividades. Existe uma preocupação exagerada para a captação de recursos para o centro espírita hoje? Quais as principais fontes de recursos? Marco: É preciso lembrar que nenhuma casa sobrevive sem recursos, sejam eles humanos ou financeiros. É fundamental que se planeje a continuidade operacional do centro espírita conforme a estrutura e as atividades pretendidas. O problema, então, não é saber ‘o que’ angariar, mas ‘como’, respeitando-se os princípios éticos abraçados pela instituição. As dificuldades econômico-financeiras costumam estimular a criatividade de muitos gestores quando se buscam meios para aumentar a captação. Geralmente as principais fontes de receitas são as mensalidades dos associados, doações, eventos e campanhas, comercialização de livros, alimentos e bazares. Poucos captam recursos públicos e privados por meio de projetos sociais submetidos a organizações de fomento nacionais e internacionais. Como evitar problemas financeiros nas casas espíritas? Marco: Os problemas financeiros estarão presentes nos centros que comprometerem grande parcela de seu orçamento com as despesas fixas, sem muita margem de segurança para absorver eventuais variações negativas no caixa. É muito comum a queda de receita no início e no meio do ano, devido ao período de férias e menor atividade nas casas. As despesas fixas (alu-


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ENTREVISTA guel, salários) independem da quantidade de frequentadores e devem ser pagas pontualmente, por isso deve-se contar com provisões para esses períodos. Não se pode desenvolver atividades que não se tenham recursos previstos para cobri-las, ainda que isso implique reduzir o volume ou a frequência de algumas dessas atividades. A caridade é caracterizada pela ação responsável e não pela atitude imprevidente. Comente sobre a administração de voluntários. Marco: No centro espírita temos voluntários e muitas organizações também contam com funcionários. A responsabilidade pelo trabalho bem realizado é exatamente a mesma para ambos. E isso é perfeitamente natural, pois a sociedade mudou. A disponibilidade de tempo, as novas estruturas e relações familiares afetam as características do voluntariado. Há deveres e obrigações que devem ser explicitados e constantemente relembrados. Líderes devem ser identificados e envolvidos na proposta de trabalho da casa, pois serão os responsáveis pela condução das diversas tarefas. Obviamente, aqueles que já tiveram experiências profissionais em funções diretivas tendem a administrar equipes de trabalho de maneiras mais objetivas. Se até Jesus teve que administrar problemas de relacionamento entre seus discípulos, por que isso seria diferente nos centros espíritas? Como fazer os voluntários do centro serem realmente receptivos e fraternos com as pessoas que chegam? Marco: Treinamento adequado, envolvimento com os objetivos do centro e comprometimento com a causa. Esses três fatores estimulam a capacitação, o foco e a disciplina. A atividade voluntária deve proporcionar satisfação para quem a desenvolve e qualidade para quem dela se beneficia. O produto final sempre dependerá da motivação constante daquele que executa e direcionamento dos esforços para o objetivo desejado por parte de quem administra. Dá para aplicar ainda o modelo proposto por Allan Kardec na Sociedade Espírita de Paris? Marco: A estrutura proposta por Kardec – educação, assistência e divulgação – inspirou o modelo seguido pela maioria dos centros

espíritas brasileiros. Igualmente, o papel que Kardec desenhou para a Comissão Central, em seu Projeto de 1868, influenciou a estruturação das entidades federativas no movimento espírita. Entretanto, ele previu diversos mecanismos de governança para a Comissão Central que hoje, infelizmente, se perderam. Por exemplo, os congressos espíritas deveriam proporcionar um ambiente para a reflexão crítica e para a tomada de decisões sobre os caminhos do próprio movimento espírita e suas organizações. Atualmente, com raras exceções, os congressos se tornaram eventos sociais festivos, cujo objetivo é receber renomados palestrantes que versam sobre temas tradicionais sem a

Deve-se evitar a postura ingênua de se supor que o auxílio espiritual suprirá o comodismo e a falta de preparo produção efetiva de debates sobre temas polêmicos nem sobre os rumos do movimento espírita. Uma das preocupações de Kardec era a união entre os diversos grupos espíritas, por meio do alinhamento conceitual doutrinário, sendo os congressos ambientes adequados para essas discussões. Nos centros espíritas, o modelo tradicional estimula a assistência social e espiritual, mas a quantidade de pessoas que permanece na casa para estudar e trabalhar não é grande, sugerindo que os fatores de atração devem ser repensados. Há grupos no movimento espírita que se formaram com características diferentes das tradicionais casas espíritas?

Marco: Sim, existem grupos com finalidade de atuação específica, como os formados por profissionais de determinada área (Abraje, Abrape, Aje etc.) ou grupos de cunho científico, em que destaco a Liga dos Pesquisadores do Espiritismo, um grupo virtual que tem a proposta de aproximar estudiosos do mundo inteiro sobre a temática espírita, com encontros científicos anuais, onde trabalhos de pesquisa são apresentados. Há associações, ainda, com valiosos acervos, como o Museu Espírita e o CCDPE – Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo, ambos em São Paulo. Dentre as entidades federativas, a União das Sociedades Espíritas de São Paulo faz um bom trabalho no sentido de fortalecer o movimento espírita, incentivando a cooperação e sinergia entre as casas, além de promover ações de esclarecimento e fomentando o debate de temas atuais, como por exemplo, a sustentabilidade do centro espírita e sua integração com a comunidade. E quanto ao mercado editorial e as casas espíritas? Estamos oferecendo o que vende ou o que se precisa? Marco: É uma questão crítica, pois há uma enxurrada de autores e obras superficiais e poucos trabalhos que se propõem a um desenvolvimento doutrinário consistente. Agrava-se o problema quando textos espiritualistas, mas que não são espíritas, invadem as prateleiras de algumas livrarias de centros, porque priorizou-se o apelo comercial. Isso confunde o leitor que acredita que todos os livros oferecidos numa livraria espírita são coerentes com os princípios doutrinários. Cabe aos administradores de livrarias a seleção dos títulos e autores a serem oferecidos. Igualmente, os gestores do centro devem analisar com muito cuidado os pedidos de certas pessoas que se oferecem para realizar palestras na condição de poderem comercializar as suas obras. Geralmente, esses divulgadores de si mesmos preferem centros com grande público. Bons livros são aqueles que favorecem a ampliação e consolidação do conhecimento doutrinário de forma clara e objetiva, sem misticismo, estimulando o leitor a se autodescobrir enquanto ser espiritual e compreender as leis naturais que nos impulsionam a progredir através da prática da caridade e do aprimoramento intelectual.

LIVROS & CIA. CCDPE-ECM / Unifran / Lep Tel.: (11) 5072-2211 www.ccdpe.org.br O movimento espírita pelotense e suas raízes sóciohistóricas e culturais de Marcelo Freitas Gil 240 páginas 16x23 cm

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ANÁLISE

Um mundo menos

Cidade dos anjos é o nome de um bonito filme produzido nos Estados Unidos, no ano de 1998, facilmente encontrado nas videolocadoras. Trata do amor de um ‘anjo’ por uma médica. Essa paixão o leva a abandonar a vida imortal e conviver por um breve período com sua amada, numa condição plenamente humana. Naturalmente deixamos os detalhes para não estragar o prazer de quem ainda não viu o filme! A trama é simples, porém instigante! Mas o que nos interessa é a apresentação, um tanto inadequada pelos princípios espíritas, mas perfeitamente plausível, sobre a convivência entre desencarnados amigos (‘anjos’ no filme) e os encarnados. Ao longo da trama vemos esses ‘anjos’ ajudando os encarnados nos momentos difíceis da vida, buscando-os no instante da separação do corpo físico, ajudando-os no nascimento, intuindo-os quanto a certas decisões. Tudo muito de acordo com que se conhece sobre a interferência dos desencarnados sobre a vida dos que estagiam na matéria densa. O que chama a atenção são os detalhes. Do amor humano ao sabor das coisas. Tanta coisa que vemos, temos e vivemos no dia a dia que, de tão corrido, nos passam despercebidas. Aparentes bobagens como ficar olhando o rosto de alguém que se estima, sem dizer nada. Sentir o gosto de um sorvete, apreciando-o e não simplesmente devorando-o. O calor da pele, o perfume dos cabelos da pessoa amada, a água fria do mar, o vento no rosto, o sol da manhã no corpo… Na era da tec-

sombrio Por PAULO R. SANTOS

nologia, da comunicação em tempo real e online, perdemos contato conosco mesmos. Pior! Estamos perdendo contato com as pessoas, seres e coisas com as quais compartilhamos nossos momentos e nosso espaço físico, afetivo, espiritual, intelectual. Mergulhados nas preocupações com a sobrevivência e com uma enxurrada de más notícias, esquecemos de umas tantas coisas bem mais importantes e duradouras! O filme cativa pelo fato de um ser imortal (o ‘anjo’) abandonar sua imortalidade em troca do amor de uma mulher. Apesar de prevalecer a visão tradicional dos anjos, a concepção do amor é bem mais ampla do que o comum. É o amor pelo sorriso e pela presença da pessoa querida, e não se restringe aos clichês sexuais cada vez mais comuns. Cidade dos anjos é, metaforicamente, nosso planeta, com seus bilhões de seres encarnados e desencarnados, interagindo, influenciando-se mutuamente, trocando de posições, fazendo escolhas, mas é, sobretudo, um filme que mostra um mundo menos sombrio, apesar do final trágico aos olhos comuns. Afinal, a morte é habitualmente vista como o fim e não como um recomeço. O ‘anjo caído’ tem tudo a aprender sobre as sensações e sentimentos humanos. O amor pela mulher o surpreende! Viver e conviver, participando do bom e do melhor, mas também das tragédias individuais e coletivas, entendendo que é assim que a vida acontece. Num momento em que claramente nosso planeta entra em acelerado processo de transição tanto física quanto sociomoral, vale a pena pensar sobre os pequenos detalhes da vida, como os apresentados nesse filme, para não nos perdemos nas grandes comoções coletivas, vendo apenas a floresta e perdendo a árvore de vista. Se isso se der, deixaremos de entender

o filme Cidade dos anjos é o nosso planeta, com seus bilhões de seres encarnados e desencarnados, interagindo e fazendo escolhas cada ser humano com sua singularidade. Poderemos dar mais espaços ao tecnicismo nocivo e força a poderes nefastos para o ser humano. O momento presente pede cautela. Estamos perdendo para a barbárie, e o lado bom da vida perde-se no nevoeiro dos sons e imagens que invadem nossas mentes a todo tempo e em todos os lugares. Cidade dos anjos nos lembra que existem sempre lugar e espaço para esse tema recorrente que é o amor, sob todas as formas possíveis e imagináveis. Paulo R. Santos é sociólogo e professor na cidade de Divinópolis, MG. E-mail: prds_k@yahoo.com.br www.correiofraterno.com.br


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ESPECIAL

MEDICINA O outro lado da

cura A

llan Kardec previu, no século 19, que muitos médicos poderiam ser médiuns, quando entrassem na via da espiritualidade. “Muitos verão desenvolver-se em si faculdades intuitivas, que lhes serão um precioso auxílio na prática” (Revista Espírita – outubro, 1867). Mas advertiu: “a medicina é uma das carreiras sociais que se abraça para dela se fazer uma profissão, e a ciência médica só se adquire a título oneroso, por um trabalho assíduo, por vezes penoso”. O codificador procurava assim separar devidamente as duas situações, salientando inclusive que “a mediunidade curadora não matará a medicina nem os médicos, mas não pode deixar de modificar profundamente a ciência médica”, sendo necessário que ambas – ciência e mediunidade – prestem-se mútuo apoio. Mas esse processo não é tão fácil. Exige adoção de uma nova visão pelos cientistas. Atraídos por enigmas fascinantes, via de regra, buscam respostas para a origem do universo e da vida, a evolução das espécies, o funcionamento do corpo humano e sua preservação. Com a medicina não foi diferente, sendo inegável o acentuado progresso tecnológico. Mas o que deveria ser utilizado apenas como instrumento, muitas vezes impede que profissionais de saúde vejam o homem como um ser integral e não apenas como uma doença. A própria Organização Mundial de Saúde define saúde como um “estado de completo bem-estar físico, mental e social www.correiofraterno.com.br

Por ELIANA HADDAD

e não consistindo somente da ausência de uma doença ou enfermidade”. É um avanço, mas ainda falta o aspecto espiritual, o que vem sendo pleiteado por várias entida-

94% das escolas de medicina americanas já contam com a disciplina de medicina e espiritualidade nos seus currículos des de saúde e espiritualidade. No Brasil, principalmente, o movimento dos médicos espíritas vem ganhando cada vez mais espaço nas mídias, e a espiritualidade no

tratamento dos pacientes tem despertado profissionais para a retomada de uma medicina mais abrangente e humanizada. Para isso, o empenho na divulgação das temáticas espíritas tem se transformado em importantes congressos, descortinando uma nova visão quanto aos cuidados com os pacientes, levando-se em consideração também a parte espiritual do homem para a compreensão e o alívio de seus tormentos. De 23 a 25 de junho, por exemplo, será realizado em Belo Horizonte mais um Mednesp, que há 20 anos vem se empenhando para construção de um novo paradigma para a saúde. Para o médico-cirurgião Décio Iandoli, a medicina na atualidade realmente passa por mudança de paradigma. Os médicos estão mudando a forma de ver as pessoas e, consequentemente, a maneira de abordá-las. Segundo ele, toda a tecnologia e as possibilidades técnicas amealhadas nestes mais de 100 anos de medicina científica estão passando a ocupar seu real lugar como instrumentos, não como forma ou filosofia para o exercício da profissão. Ele reconhece que estamos apenas começando, mas garante que o processo irreversível já foi deflagrado e acontecerá muito mais cedo do que podemos supor. Em entrevista exclusiva ao Correio Fraterno ele respondeu:


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mos subindo uma grande escada caracol. Parece que andamos em círculos, mas a cada volta estamos um nível acima, percebendo melhor conceitos antigos ou renovando deliberações anteriores.

Décio Iandoli: uma visão integral do paciente

Por que o lado espiritual não é valorizado no estudo e na prática médica? Décio: É uma questão histórica. Como as instituições religiosas detinham o poder sobre a fé e a política, a ciência, para continuar seu crescimento precisou se desvincular da religião e, de roldão, virou as costas para a questão espiritual, abandonando-a nas mãos das instituições religiosas. A medicina que praticamos hoje é produto deste litígio, guarda o ranço e o preconceito que nega tudo o que não é matéria. Não há o risco de se ‘misturarem as estações’ entre espiritismo e medicina? Décio: A visão do todo esclarece, não confunde. Para entendermos as pessoas e seus mecanismos de saúde e doença precisamos compreender todas as facetas que as constituem, e o espiritismo tem muito a dizer sobre isso. Qual a importância dos conhecimentos espíritas para o profissional de saúde? Décio: Além da compreensão dos mecanismos mais profundos de geração das doenças e transtornos dos seres humanos, eles aperfeiçoam a relação médico-paciente, assim como faz com todas as relações humanas, reeditando o papel do médico, não mais como o curador, mas como o cuidador. Com tanta tecnologia, a medicina precisa resgatar e aproveitar algo do passado? Décio: Acho que sim, mas não num sentido de retroceder, mas de avançar. Evoluímos em espiral, como se estivésse-

É possível realizar uma medicina espiritual sem crendices e superstições? Décio: Claro que sim. É justamente o que buscamos. Basta estabelecermos o conhecimento através da ciência e da experimentação, configurando aquilo que pode ser utilizado com eficácia e aquilo que é inútil ou prejudicial. O trabalho de Chico Xavier, notadamente a obra de André Luiz, é um grande roteiro que nos descortina importantes mecanismos do que temos chamado de fisiologia transdimensional e acusa as direções para as quais devemos apontar nossos estudos e pesquisas. Como as faculdades de medicina encaram, hoje, a existência e a interferência do espírito? Décio: Cada vez com maior seriedade. Cerca de 94% das escolas de medicina americanas já contam com a disciplina de medicina e espiritualidade nos seus currículos e, no Brasil, multiplicam-se grupos e ligas acadêmicas que se dedicam ao estudo deste tema. Qual o maior desafio das Associações Médico-Espíritas? Décio: A pesquisa. Trazer à luz da comunidade científica aquilo que já sabemos pela revelação espírita, seja indo aos laboratórios, aos aparelhos de neuroimagem funcional ou à pesquisa biológica ou psicológica. O que esperar do futuro? Décio: Estamos terminando um grande e importante capítulo do nosso desenvolvimento, o materialismo. Através deste paradigma descortinamos grande parte dos mistérios que nos rodeavam e, muitas vezes, nos assustavam, porém este se esgota. Não se mostra capaz de responder questões fundamentais como, por exemplo, o que é vida, o que é mente, como se explicam curas ‘milagrosas’ ou como surgem certas doenças provocadas pelos nossos sentimentos em desalinho. Nosso próprio desenvolvimento nos trouxe a este lugar em que nos encontramos hoje. Estamos precisando de novas abordagens, de um novo olhar, um novo paradigma que nos permita seguir em frente. É a era do espírito que se inicia. *Professor universitário, escritor e vice-presidente da Associação Médico-Espírita do Mato Grosso do Sul www.correiofraterno.com.br


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CRÔNICA

Jesus de Nazaré. E de Krypton. E de Nárnia Por GEORGE DE MARCO

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or vezes, gosto de interagir com meus oito leitores. Assim, convido-os a identificar os personagens abaixo: A) Ele veio ao mundo para a bem-aventurança da humanidade. Foi preso, julgado e crucificado. Morto e sepultado, retornou ao mundo dos vivos ao terceiro dia. B) Foi enviado à Terra por seu pai para salvar a humanidade. Aqui, é criado por humilde casal. Adulto, passa a cumprir sua missão, vindo a falecer. Depois de alguns dias seu sepulcro aparece aberto e ele ressuscita. C) Rei dos Grandes Reis, foi humilhado por seus algozes, que o amarraram, açoitaram-no enquanto faziam deboches e, por fim, morto. Seu corpo, depositado numa grande pedra que se rompe em duas e ele retorna do mundo dos mortos! É provável que a resposta para os três personagens tenha sido Jesus. E até poderia ser, mas, em verdade, não é. A figura de Jesus está descrita apenas na letra “A”. Na “B” tratamos do Superman, nascido em Krypton. E, na letra “C”, encontramos Aslam, o leão-rei criado pelo escritor irlandês C. S. Lewis no livro As crônicas de Nárnia. Lewis, que já havia escrito obras ligadas à teologia e a apologética cristã, se converteu ao cristianismo e, por isso, muitos acreditam que ele tenha se utilizado de temas cristãos ao criar sua série de livros. O próprio autor afirma que sua intenção inicial não era usar tais temas, mas mesmo assim, em toda a série são encontrados fatos relacionados a acontecimentos bíblicos. E o mais óbvio é o leão-rei Aslam e seu paralelo com Jesus, que também é conhecido, é bom lembrar, como O Leão da tribo de Judá.

No caso do Superman, o fato fica mais explícito. Além do descrito na letra “B”, o nome verdadeiro do herói é Kal-El e “El” significa “deus” em hebraico. Já os pais adotivos do super-herói, inicialmente, se chamavam Joseph e Mary – José e Maria. Depois, trocados para Jonathan e Martha. E tem o vilão, Lex Luthor – amigo do herói que, por inveja, se torna seu inimigo. Alguém lembrou de Lúcifer? A palavra “mito” costuma ser utilizada de forma pejorativa. Porém, a partir do momento em que determinados fatos ou pessoas adquirem forte carga simbólica, tornam-se verdadeiras expressões dos conteúdos psíquicos mais valiosos do ser humano. Os evangelhos seguem uma estrutura dos mitos de herói quando narram a vida de Jesus. Os estudiosos apontam paralelos entre o Mestre Nazareno e Mitra, Apolo e Dionísio. A devoção ao menino Jesus reedita o culto de Murugan, filho de Xiva, da mesma forma que Xiva, na figura de Pashupato, o Senhor dos Animais, têm paralelo com Jesus, o Bom Pastor. Desta forma, os evangelhos acabaram por constituir a figura mítica de Jesus não apenas com elementos da tradição judaica, mas também do mundo pagão. Se encontramos esta variedade nos textos canônicos, a situação se expande quando incluímos os chamados “apócrifos”, que focam mais a humanidade de Jesus. Enquanto os canônicos preservam a imagem de um homem sério, os demais apresentam-no como uma pessoa alegre, que gosta de festas, onde dançava e bebia vinho. Estas diferentes visões sobre Jesus conviviam em simultâneo. Depois, a Igreja as dividiu. Esta divisão em torno da figura de Jesus já havia acontecido em 48 d.C., quando Paulo prega fora da Palestina para os não-judeus e

Paulo, porém, apresentava Jesus sob o nome grego Cristo, o filho de Deus inicia um desentendimento com Tiago, irmão de Jesus, para quem ele era o Messias. Paulo, porém, apresentava Jesus sob o nome grego Cristo, o filho de Deus. Este Cristo celestial obscureceu o Jesus histórico, cresceu no Império Romano e assim ficou conhecido por todo o mundo. Ainda assim, o debate segue: Quem foi (ou quem é) Jesus? A resposta mais direta, objetiva e que bem poderia redimir todas as dúvidas está em O livro dos espíritos, questão 625, onde o mestre é apresentado como guia e modelo para o homem. Nas palavras de Allan Kardec: “exemplo da perfeição moral a que pode pretender a humanidade na Terra”. George De Marco é publicitário e radialista. E-mail: george@correiofraterno.com.br Para ler este texto na íntegra, acesse: www. correiofraterno.com.br www.correiofraterno.com.br


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QUEM PERGUNTA QUER SABER

Por me divorciar, terei que me casar com ele na próxima vida? Por PAULO HENRIQUE DE FIGUEIREDO

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sua pergunta, Maria Cristina, pode ser traduzida pela seguinte forma: Se eu cometer o ‘pecado’ do divórcio, Deus vai me dar um ‘castigo’ na próxima vida, obrigando que me case novamente com meu marido para ‘pagar’ minha falta com esse ‘sofrimento’. Um dia, visitando camponeses chilenos para uma aula, o educador brasileiro Paulo Freire, depois de um grave silêncio inicial, teve uma conversa mais ou menos assim: – Fale o senhor, pois nós não sabemos nada e o senhor é doutor – quebra gelo um camponês. – Por que vocês não sabem nada e eu sei? – questiona o educador. – Porque seu pai deu educação e nós somos camponeses pobres, sem estudo, trabalhando de sol a sol, sem esperança. – E por que ao camponês falta tudo isso? – Porque Deus quis assim. – Se você tem três filhos –argumentou

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Meu casamento vai muito mal e ouvi numa palestra na casa espírita que não adianta se separar. Vamos ter que voltar a ficar juntos na próxima reencarnação? Então, para que serve o divórcio, que pelo o que compreendi também nem é contra a Lei de Deus? Pergunta de Maria Cristina – São Paulo, SP Paulo Freire –, mandaria um para a escola ter futuro, dando todas as condições a ele, deixando os outros dois na ignorância e sofrimento? – Ninguém faria isso! – responderam os camponeses. – Então, por que Deus seria tão injusto? A palestra sobre o divórcio que você ouviu numa casa espírita foi feita por quem não conhece a moral racional proposta pelo espiritismo, mas sim a moral dogmática, ao propor um Deus vingativo e cruel que castiga quem infringe suas leis. Segundo o palestrante, suas opções seriam sofrer agora para pagar os erros do passado ou adiar o so-

frimento para a outra vida. E depois disso? Você poderia perguntar: Deus me daria só vidas felizes como recompensa? Ninguém sofre para pagar pecados. O sofrimento é uma consequência das imperfeições, criadas pelas escolhas de cada um. Ele mesmo é o responsável para superar os hábitos que criou! Não só Deus não castiga como as circunstâncias principais de nossas vidas são escolhas de nós mesmos, como espíritos antes desta vida, com a finalidade de enfrentar circunstâncias que revelem nossas imperfeições, para reconhecê-las e superá-las. O casamento não é um contrato onde duas pessoas são obrigadas a respeitar deve-

res e obrigações. A união conjugal deve ter o mesmo fundamento da amizade criativa, onde se compartilham objetivos, dificuldades e esperanças. Uma amizade só dura quando os desencontros e dificuldades não são suficientes para quebrar o laço que os une, o que deve ser mantido pelos dois. É ilusão imaginar que essa chama se mantenha por um só. Enquanto o amor é espiritual, o divórcio resolve um problema humano. Seria muito mais fácil deixar que o castigo divino fosse uma troca de nossos problemas, mas isso não existe. Só há um caminho real: assumir nossas escolhas, tomar decisões conscientes e lidar com as consequências com planejamento, maturidade e moderação. Aprender com nossos erros é a verdadeira fonte da felicidade futura. Administrador de empresas, autor do livro Mesmer, a ciência negada e os textos escondidos. Ed. Lachâtre. E-mail: paulo@mesmer.com.br


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LEITURA

O mistério das

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eliz por ver o espiritismo numa situação ‘ímpar’ de progresso, num diálogo aberto com outras áreas do pensamento humano, Nancy Puhlmann Di Girolamo, 83 anos, fala sobre sua mãe, Maria Augusta Puhlmann, uma mulher especial por tudo o que fez e conquistou. Espírita, fundadora da Instituição Beneficente Nosso Lar, Tia Guguta, além de abrigar e educar crianças e jovens, também escreveu livros. E a Editora Correio Fr a t e r n o relança agora sua consagrada obra As quatro deusas da Babilônia.

deusas Da REDAÇÃO

Nancy Puhlmann: Elas sabiam que uma ligação assim tão forte não seria somente dessa reencarnação, mas atravessava os tempos

Como surgiu o livro As quatro deusas da Babilônia? Nancy: Minha mãe e tia Nair [Nair Ambra Ferreira, irmã do pai de Nancy] formaram uma dupla inseparável na fundação e administração da Instituição Beneficente Nosso Lar, por mais de 40 anos, uma com a parte intelectual e administrativa, e outra, com o lado mais sensitivo, orientador, com a influência positiva da mediunidade. Elas sabiam que uma ligação assim tão forte não seria somente dessa reencarnação, mas com certeza atravessava os tempos. Foi assim, talvez, que surgiu o livro As

quatro deusas da Babilônia, uma história romanceada de inspiração mediúnica, escrita certamente como um rememorar de experiências. É sua a apresentação da nova edição do livro. Qual foi sua reação quando leu pela primeira vez As quatro deusas da Babilônia? Nancy: Eu sempre li com admiração tudo o que minha mãe escrevia. Ela escrevia com muito amor e responsabilidade, como quem faz uma importante tarefa na vida. No caso de As quatro deusas, quando me entregou aqueles papéis, disse-me: veja se tem alguma utilidade, algum valor. Encantei-me pelo livro. Era uma história linda, sobre os mistérios de uma confraria que, seis séculos antes de Cristo, anunciava indiretamente a vinda do mestre à Terra. Minha mãe tinha flashes de memória, ideias que surgiam e ela ia escrevendo, certamente inspirada nos momentos de enlevo. E as deusas, quem seriam? Nancy: Maria Augusta e tia Nair sentiam-se como duas das deusas da história, mas combinaram de não se identificar e nem procurar pelas outras duas. Outro dia, pesquisando, li que houve mesmo uma confraria mística, antes do Cristo, acompanhando milhares de pessoas há milênios nas suas ações no bem. Essa busca pelo conhecimento da raiz, da origem e transcendência do ser, sempre existiu e a palavra “deusa” na obra não significa, portanto, algo místico. O ro-

Ela me entregou aqueles papéis e disse: veja se têm utilidade, algum valor. Era uma história linda mance se passa nos tempos do politeísmo, quando a espiritualidade dos iniciáticos já buscava o estudo e a compreensão de Deus único. É uma história bastante interessante.

Maria Augusta Puhlmann: escrita em momentos de inspiração

Ainda criança, o futuro rei da Babilônia é predestinado, por escolha de seu avô, a desfrutar, quando adulto, da presença de quatro belas mulheres em seu palácio. Cobiçadas pelos homens, invejadas pelas mulheres, elas viviam no luxo, mas possuíam uma estranha força moral para enfrentar a corrupção e as intrigas da corte. Sem saber, muitos dos homens que irão se apaixonar por elas fazem parte de uma confraria – Os Filhos da Luz – cujos segredos milenares vão se revelando num verdadeiro emaranhado de relacionamentos. www.correiofraterno.com.br


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COISAS DE LAURINHA

Por TATIANA BENITES

MEIA DOR

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aurinha chega em casa e seus pais a chamam para almoçar. Ela se senta à mesa e logo sua mãe começa a perguntar: – Filha, o que você aprendeu hoje na aula do centro espírita? – Hoje eles contaram uma história do homem que saiu com um monte de sementes na mão e deixou cair um monte no caminho. Eu achei essa história meio estranha. – Por que estranha, filha? – perguntou seu pai – É uma parábola e é tão bonita! – Não achei. A professora falou que ele tinha um monte de sementes e deixou cair na estrada e os passarinhos comeram, depois deixou cair na pedra e as plantinhas nasceram e morreram por causa do sol, depois deixou cair onde só tinha espinhos, a plantinha cresceu, mas depois

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morreu por causa dos espinhos. Não gostei dessa história, foram muitas sementes caídas e muitas plantas mortas. – Mas o final da história é muito boa – comentou a mãe. – É filha, as últimas sementes caíram em terra boa e cresceram e se multiplicaram – explicou o pai. – Só essa parte que é boa! – falou emburrada. Fez uma pausa e continuou – O pior é a professora falar que o solo que as sementes caíram é o nosso coração e que tem uns corações que dão frutos e outros não. – Isso não é pior, filha. É uma ótima explicação, as pessoas são assim, umas conseguem fazer coisas boas as outras e outras não conseguem – falou a mãe. – Eu entendi essa parte, mãe! Só

não gostei de ela falar o tempo inteiro que era “só meia dor”. Ela falou: “só meia dor” estava lá na estrada, “só meia dor” estava nas pedras e “só meia dor” estava nos espinhos. Mãe, se todas as plantinhas morreram não era “só meia dor”, era uma dor inteira e muito grande! Seus pais se entreolharam e entenderam a tristeza da filha. Eles compreenderam que ela não tinha entendido a história porque não sabia o que era “semeador”. Então seu pai resolveu explicar. – Filha, na verdade não é “só meia dor” é SEMEADOR, uma pessoa que vai cuidar da terra para plantar outras plantinhas. Entendeu? – Agora entendi.... mas esse “meia dor” aí foi bem descuidado, porque muitas plantinhas morreram, né pai?


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FOI ASSIM

O socorro sempre chega Por LYBIO MAGALHÃES

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ou da região do pantanal matogrossense. Habituei-me aos desafios. Em Cáceres, Cuiabá, Campo Grande, passando por Belo Horizonte e São Paulo. No Rio de Janeiro, estado em que estou compelido a viver, meu aprendizado tem sido alentador. Os anos 2001, 2006 e 2010 foram atípicos. Na vida, além de provas e expiações deparam-se as vicissitudes incitadas pelo livre-arbítrio e as circunstâncias que, segundo o historiador grego Heródoto, invariavelmente machucam o viajor desatento. Em 2001 a minha Carmelina partiu para o grande além, deixando-me só e aturdido com seu surpreendente desenlace. Em 2006 uma decepção amorosa frustrante quase me deixou à deriva,

por causa de uma isquemia.Em 2010, outra surpresa: a detecção de um câncer na próstata. Em nenhum momento eu me deixei abater. O que fazer nessas circunstâncias? Arrancar os cabelos, chorar, desesperar-se? Nada disso: fui à luta. Continuo monitorado pela classe médica que me submeteu à radioterapia com sucesso. Mas minha Carmelina socorreu-me prestativa, informando-me: – Cuide-se: você virá ao nosso encontro, mas não será agora. Você se livrará desse tropeço e viverá muito ainda: você morrerá velho! Quando chegar a época, será informado, e nós o estaremos esperando.

De outra vez outros espíritos vieram em meu socorro. Um deles, terapeuta do oriente, me confortou generoso: – Você tem, naturalmente, um pai biológico. Mas doravante eu lhe chamarei de meu filho, porque sou o seu pai espiritual... Faço saber aos nossos leitores que hospitais e clínicas especializadas estão repletos de médicos espíritas. Conheci dezenas deles, que permitem a prática de uma medicina humanizante, um fenômeno que se repete também nas academias de letras. Neste percurso inusitado, surpreendente, o espiritismo e a poética me mantiveram aprumado, confiante, incólume. Companheiros, neste 2011 estou de volta às tarefas!

VOCÊ SABIA?

Estupefação A espontaneidade da matéria sugere que, se a vida é coisa séria, indômita, porque não perseverar? Como deter o ímpeto dos rios que, incólumes afrontam desafios, na saga impetuosa para o mar? Se a vida é inesgotável oceano, amiúde ela obedece a um plano, cujo desfecho consiste em expressar. Por mais que o ignoremos, Deus existe! Porque se estorcegar no canto triste, se a política da vida é o verbo amar? Lybio Magalhães pertence ao conselho diretor do Instituto de Cultura Espírita do Brasil. Expositor e escritor, integra várias academias do Rio de Janeiro.

Por PAULO ROBERTO VIOLA

Valores morais na realeza

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ocê sabia que a princesa Isabel, primeira governante de nossa História, como princesa regente, tinha uma musa espiritual na qual se inspirava para governar? Uma rainha da Turíngea que viveu ao tempo de Francisco de Assis, no século 13. Linda jovem que entrou para a História com a frase: Como posso eu usar uma coroa preciosa, se meu Rei usava uma Coroa de espinhos. Isabel da Hungria, que desencarnou com

apenas 24 anos de idade, outra coisa não fez durante sua curta existência no planeta senão dedicar-se aos excluídos, aos enfermos e aos esquecidos da providência dos homens. Foi canonizada pela Igreja Católica por suas virtudes elevadas. Ela era portadora de mediunidade prodigiosa, própria daqueles que sustentam alto padrão vibratório. Muita gente pergunta qual a ligação de Dom Pedro II e da princesa Isabel

com o espiritismo. A ligação deles é a mesma de Teresa de Calcutá, de Francisco de Assis e de todos os demais ícones de nosso credo: os elevados valores morais. O texto acima foi enviado pelo jornalista Paulo Viola ao Correio Fraterno dias antes de seu desenlace, no dia 29 de abril de 2011. Ele se preparava para o lançamento, no Rio de Janeiro, de seu livro Princesa Isabel, uma viagem no tempo, pela editora Lorenz. O segundo reinado era um de seus temas de preferência nas pesquisas do autor.

Princesa Isabel: inspiração

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Acesse a Agenda Eletrônica Correio Fraterno e fique atualizado sobre o que acontece no meio espírita. Participe. www.correiofraterno.com.br Vem aí o 7º. Enlihpe Acontece em agosto, dias 20 e 21, em São Paulo, AGO o 7.º Encontro da Liga dos Pesquisadores do Espiritismo, com foco em debates e apresentação de pesquisas científicas voltadas à temática de fronteira com o espiritismo. O evento se destaca pelo caráter inovador, com participantes de todo o Brasil. Os trabalhos são inéditos e avaliados previamente pelo comitê científico. Informações: 7enlihpe@ccdpe.org.br

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Mednesp 2011 De 23 a 25 de junho, será realizado em Belo HoriJUN zonte, MG, o 8º Mednesp – Congresso da Associação Médico-Espírita do Brasil. O evento acontecerá no Ouro Minas Palace Hotel, Av. Cristiano Machado 4001, com mais de 50 oradores, dentre eles: Marlene Nobre, Sérgio Felipe de Oliveira, Décio Iandoli, Alberto Almeida, Sérgio Lopes, Júlio Peres, Alexander Moreira, Irvênia Prada, Roberto Lúcio, Jaider Rodrigues de Paulo, Andrei Moreira. Promoção: AME Brasil e AMEs Espíritos Santo e Minas Gerais. Informações: www.amebrasil.org.br/mednesp2011.

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3.º Simpósio de Filosofia Espírita Dias 24 e 25 de setembro, no Centro Espírita SET André Luiz. Sob o tema “A mediunidade no contexto da comunicação”, com palestrantes espíritas e não-espíritas, da Universidade de São Paulo. Informações: www.ieef.com.br

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Congresso Espírita Uruguaio Será realizado nos dias 14 a 16 de outubro, em OUT Punta Del Este, 1.º Congresso Espírita Uruguaio, promovido pela Federação Espírita Uruguaia. Terá como tema central: “Saúde e felicidade: os desafios da ciência e da espiritualidade”. Informações: www.espiritismouruguay.com/congreso. E-mail: feuruguay@gmail.com

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I Congresso Espírita Alagoano Será realizado de 1 a 3 de julho, no Centro de ConJUL venções de Maceió, Alagoas. Terá como tema “A transformação do homem no mundo de regeneração”. Informações: (82) 3223-8699.

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Peça espírita no Rio de Janeiro Cia do teatro da Umep apresenta Quero voltar para casa. De 28 de maio a 3 de julho, aos sábaJUL dos e domingos, às 20 h. De Flora Geni e direção de Vagner Souza. Teatro Brigitte Blair. Rua Miguel Lemos, 51, Copacabana, Rio de Janeiro. Informações: www.vivacultura.net

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CAÇA-PALAVRAS DO CORREIO Elaborado por Tatiana Benites e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno Laço que prende o corpo ao espírito

Local onde se expõe e vende produtos ao ar livre (pl.)

Personagem do livro “Nosso Lar”

Maior sentimento humano

Filósofo grego

Vogais de “Geni”

Dinheiro

Ligação

Autora espiritual do livro “Pai Nosso”

Glândula (Epífise)

Cumprimento informal

Ser inteligente da criação Oposto de noite

Consoantes de “pano”

Sílaba de “curtir”

Jumento

Vogais de “selo” Vitamina do limão e da laranja

Pronome demonstrativo

Piedade

Assim seja Fraternidade em ação

Letra em formato circular

Assim seja

Pai do pai

Expectorar

qualquer hora, em qualquer lugar

Compreender Nome de mulher Certificação de qualidade

Sílaba de “tinta” _ _ _ food: Comida tailandesa

Espécie animal

Solução da Cruzada do Correio

Electric and Medical Industries (sigla)

Dissipar, evaporar

Negativo

Veja em: www.correiofraterno.com.br Resposta do Enigma:

Letra sinuosa Número de integrantes de uma dupla

Grudar

Serviço de Atendimento Móvel de Urgência

Comunicado Interno

Grande curso de água doce

Vogais de “sino”

Doença sexualmente transmissível Personagem do livro “Tem espíritos no banheiro?”

ENIGMA No Processo dos Espíritas, em 1875, o juiz disse que o nome Allan Kardec era proveniente de “uma grande floresta da Bretanha”. Havia mesmo esta floresta?

Astro luminoso

Sílaba de “sonda” Estado de viva satisfação

Local onde vive o Papa

Consoante de “gago”

A letra muda

Sim, existia realmente uma floresta na França que se chamava Saint Cardec. Saiba mais www. correiofraterno.com.br

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MUNDO SUSTENTÁVEL

O ar que respiramos: acidente de percurso ou suicídio indireto? Por ANDRÉ TRIGUEIRO

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enti em meu próprio corpo os efeitos de uma experiência na qual me ofereci como cobaia em São Paulo. Durante seis horas circulei pela maior cidade do país com um arsenal de equipamentos acoplados ao meu corpo para medir frequência cardíaca, pressão arterial, inalação de poluentes e outros indicadores importantes à saúde. Fui batizado de “homem-bomba do bem” pela equipe de cientistas do Instituto Saúde e Meio Ambiente e do Laboratório de Poluição Atmosférica da USP. O objetivo da experiência era medir a resposta do meu metabolismo a um passeio a pé, de carro e de metrô por São Paulo. Perdi a conta de quantas vezes soprei num equipamento parecido com bafômetro e, a cada vez que repetia o exercício, me sentia com menos fôlego. O fato é que em apenas 20 minutos o índice de monóxido de carbono (CO) em meus pulmões havia dobrado. A inalação desse gás letal permaneceu alta durante toda a experiência. Já reparou alguma vez naquela nuvem de poeira que cobre as grandes cidades e pode ser vista de longe? Os cientistas chamam isso de material particulado. Poeira, fuligem e demais partículas em suspensão estão perigosamente próximos de nós. Pior do que isso: dentro de nós. Segundo a Organização Mundial da Saúde, o índice máximo recomendado é de 25 microgramas por m3. Na Avenida Salim Farah Maluf o equipamento registrou 811 microgramas por m3, trinta vezes mais que o padrão de segurança estabelecido pela OMS. Nesse momento, o pneumologista e coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica da USP, Paulo Saldiva, lembrou assustado o que havia acontecido em Londres em 1952. Naquele ano, índices semelhantes aos que

estávamos detectando em São Paulo obrigaram as autoridades britânicas a agir depois de contabilizar 14 mil óbitos por complicações decorrentes da poluição. Políticas públicas restritivas às emissões de poluentes foram adotadas em favor da saúde da população. O chamado “Episódio Londres” justificou um artigo científico publicado na prestigiada revista médica The Lancet.

Os equipamentos também revelaram que meu coração não reagiu bem a tanta poluição. Minha frequência cardíaca confirmou um problema que a literatura médica já havia diagnosticado antes em situações parecidas: quando realizamos qualquer esforço extra, o coração deve acompanhar esse movimento e trabalhar mais. No meu caso, aconteceu justamente o contrá-

rio. É como se meu metabolismo estivesse travado, algo comum quando estamos imersos em uma nuvem de poluentes. Em situações como essa quem tem propensão a arritmia ou tem risco de infarto aumenta em até quatro vezes as chances de sofrer algum problema mais sério. Segundo o dr. Paulo Saldiva, os paulistanos estão vivendo em média dois anos a menos do que poderiam se não houvesse tanta poluição. São quatro mil óbitos precoces a cada ano, decorrentes de complicações causadas pela péssima qualidade do ar. Estima-se que os prejuízos causados pela poluição em São Paulo - perda de saúde, de produtividade e expectativa de vida menor – somem US$1,8 bilhão por ano. “Com isso daria para construir 18 km de metrô e quase 60 km de corredor de ônibus por ano. A gente está de alguma forma subsidiando com a nossa saúde uma estratégia equivocada de mobilidade, de pensar a cidade”, afirmou Saldiva. Tudo isso foi mostrado no programa Cidades & Soluções da Globo News. O que registramos em São Paulo não é exclusividade da maior cidade do país. Todas as grandes cidades brasileiras – já colapsadas ou em vias de estrangulamento em suas ruas e avenidas pela multiplicação indiscriminada de veículos automotores – já não conseguem garantir uma boa qualidade do ar para seus moradores. Estamos realizando escolhas que precipitam nosso retorno à Pátria Espiritual ou prejudicam nossa saúde enquanto estagiamos nesse plano da existência. No livro O céu e o inferno, Allan Kardec assevera que “o suicídio não consiste apenas no ato voluntário que produz a morte instantânea, mas em tudo quanto se faça conscientemente para apressar a extinção das forças vitais”. Não seria este o caso? Poluir deliberadamente e sem noção de limite um elemento fundamental à vida como o ar não seria um atentado contra a nossa própria existência? São questões que deveriam justificar mais atenção e respostas firmes de cada um de nós. Respire fundo e busque na qualidade do ar que o cerca a inspiração necessária para o que vier a fazer. André Trigueiro é jornalista, apresentador do Jornal das Dez e editor do programa Cidades & Soluções, na Globonews, ganhador do Prêmio Green Best, pelas iniciativas e consumo sustentáveis. www.mundosustentavel.com.br www.correiofraterno.com.br


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CORREIO FRATERNO

MAIO - JUNHO 2011

PROJETO SOCIAL

O Vice-cônsul japonês visita o Lar da Criança Emmanuel Por IZABEL VITUSSO

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Correio Fraterno acompanhou a visita do vice-cônsul do Japão, Shinichiro Sasaki, ao Lar da Criança Emmanuel, entidade à qual o jornal está vinculado, no último dia 23 de maio, junto à comissão responsável pela avaliação dos Programas de Assistência a Projetos Comunitários do Ministério dos Negócios Estrangeiros do Japão. Há pouco mais de dois anos, o Lar Emmanuel foi uma das instituições no Brasil a receber apoio do Programa que beneficiou, só no ano passado, cerca de 1.300 entidades no mundo todo. Nas instalações ampliadas, graças aos recursos recebidos, a comissão pôde assistir a uma demonstração do que tem sido realizado com as crianças beneficiadas no Projeto Jornada. Eles se mostraram encantados com

a aula de capoeira e também com a maneira amistosa com que todas os receberam. A curiosidade marcou presença entre os alunos, que pediram aos orientais que falassem com eles, para que ouvissem o sotaque. Pedido prontamente atendido pelo vice-cônsul, que aproveitou para deixar seu desejo de ver os alunos se dedicando às atividades e estudos. Segundo Shinya Tabata, responsável pelo programa, a solidariedade é um dos objetivos que os fazem ajudar os países em desenvolvimento. Tabata lembra que o Japão sofreu muito no pós-guerra e contou com a ajuda dos que estavam em melhores condições para se reerguer e chegar aonde chegou. Hoje são eles que estendem as mãos aos que precisam mais. “Gostaria de ver entidades cada vez com mais alunos beneficiados.” – salienta. Para a diretoria da casa, a visita da comissão é sempre importante para que acompanhem o desenvolvimento do projeto, e também por ser uma satisfação para todos os que se dedicam ao Lar, em mais de 50 anos, mostrar a seriedade do trabalho e o carinho com que é realizado. Saiba mais: www.laremmanuel.org.br


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