Cinéfilos - 2ªedição

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2ª edição - Jul/2010 Revista digital de cinema da J. Júnior

Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo

As viagens do cinema Um guia para viajar pelo universo De bicicleta pelo Brasil A sobremesa de Pequena Miss Sunshine O cinema em Lost

Viagens maravilhosas de pescador De leste a oeste dos EUA a pé Cruzadas: viagens na história

Top 10

As melhores viagens da telona

Cine + Top 10

Trash Principal Cidades cinematográficas


editorial

Os altos e baixos por Patrícia Chemin Boas histórias não são feitas só de satisfações ou só de dificuldades. E quem é ou já foi da equipe do Cinéfilos tem muitas histórias para contar. No ano passado, lançamos a idéia da revista digital, o que foi uma grande evolução para o nosso projeto. Porém, apenas uma edição conseguiu chegar àquele formato que tanto queríamos. A edição seguinte, com atraso, chegou no limiar de ser publicada. A equipe ficou desfalcada e, por alguns meses, nossos textos voltaram ao formato antigo. Depois do ponto alto da revista digital, nossas produções foram publicadas no próprio blog. A equipe não queria que o projeto andasse para trás. A cada ano, novos alunos de jornalismo entram na J. Júnior. Em maio, nossa equipe foi revigorada. Surgiu aquela vontade de superar o que já havia sido feito. Nova equipe, novas idéias. Felizmente, todos se entenderam e cada etapa para a produção dessa revista foi realizada em conjunto. Muitos dos nossos passos foram trabalhosos, mas posso afirmar que foi divertido e que valeu a pena. O cinema é capaz de permear nossas vidas. Com a história do Cinéfilos não é diferente – nossa viagem tem de tudo um pouco. Espero que todos acompanhem nossos próximos episódios.

Cinéfilos Revista Digital 2ª Edição Julho/2010 Equipe

Editora: Patrícia Chemin Repórteres: Beatriz Montesanti, Juliana Malacarne, Meire Kusumoto, Paula Zogbi, Paulo Fávari e Rafael Ciscati

Diagramação e edição de arte: Equipe do Cinéfilos e Lucas Rodrigues

O Cinéfilos é um projeto da Jornalismo Júnior | Empresa Júnior de Jornalismo ECA/USP Presidente: Yasmin Abdalla Vice-presidente: Rafael Ciscati


Ă­ndice


fazendo história

Reino do céu e do heroísmo Inicialmente, um ferreiro que perdeu mulher e filho. Em seguida, um barão que foi até onde os homens falam italiano e continuou até falarem algo diferente. Viagens que marcaram época não faltaram na história da humanidade. Dentre as mais célebres podem ser citadas as chamadas cruzadas. No século XI, com o início do declínio do feudalismo e a miséria do povo cristão, seria convocada pelo papa Urbano II a guerra aos infiéis (muçulmanos). Foram incentivadas viagens à Palestina e a Jerusalém, na tentativa de dominação cristã sobre essas áreas, sempre sob pretexto de que a morte de infiéis seria a vontade de Deus. E é uma dessas tentativas que o filme “Cruzada” retrata, à sua maneira. No ano de 1099, em uma batalha extremamente sangrenta, Jerusalém fora invadida e conquistada pelos cruzados. Essa foi uma das ações da primeira cruzada oficial¹, chamada também de cruzada dos nobres ou

Por Paula Zogbi cavaleiros. Quase um século depois, os muçulmanos decidem, por um desentendimento, voltar a lutar pelo que fora deles um dia. É exatamente nesse momento que estamos no filme. Balian (Orlando Bloom) é um pobre e bastardo ferreiro francês que acabou de perder filho e esposa quando conhece seu pai. E qual não é sua surpresa ao descobrir que este pai é barão de Ibelin, título que arrecada para si não muito tempo depois. Como não poderia deixar de ser, com apenas poucas horas de lições de espada, o protagonista adquire habilidades impressionantes. Em seu caminho para Jerusalém, ainda mata um guerreiro muçulmano experiente em batalha, poupando heroicamente seu companheiro de viagem. Ao chegar a seu destino, promove mudanças importantes pela prosperidade de seu feudo e desperta o amor da princesa Sybilla, insatisfeita em seu casamento com Guy de Lusignan. Posteriormente, Guy recebe dela a

¹Houve uma tentativa anterior (1096), denominada Cruzada dos mendigos, quando cristãos tentaram invadir a Palestina armados apenas com sua fé e vontade. Seu líder teria sido o monge Pedro, O Eremita.


fazendo história

coroa, imediatamente antes de Reynald de Chatillon (cavaleiro da Ordem dos Templários) atacar uma caravana de muçulmanos, o que acaba com a trégua entre esses e os cristãos. Ocorre daí o ataque a Jerusalém, a qual é defendida com garra por Balian. A batalha termina com um acordo entre este e o sultão Saladino, no qual foram poupados da morte todos os habitantes cristãos da cidade sob a ameaça do barão de destruir todos os símbolos sagrados que haviam lá. O filme, como a grande maioria dos baseados em fatos históricos, não conta a verdade absoluta. Um dos maiores contrapontos com a realidade

é o de que Balian nunca foi um ferreiro, era de uma família nobre francesa. Além disso, ao que consta, ele não teve um caso com Sybilla, que seria mãe do herdeiro do trono, ainda criança, que não recebe nenhuma menção na película. Outra incoerência seria o suicídio da esposa de Balian no início do filme. Ao que consta, após a batalha, ao invés de fugir com Sybilla como no desfecho retratado, o herói teria voltado a Tiro para viver justamente com sua verdadeira esposa. Não são fatos exatamente irrelevantes, mas são essas mentirinhas que trazem à história um tom de emoção e aumentam a curiosidade e a concentração do espectador. As mentirinhas e Orlando Bloom, que faz questão de assumir, sempre com uma desenvoltura só dele, seus inúmeros papéis como guerreiros temidos. “Cruzada”, em seu geral, é um ótimo filme, com algumas cenas médias. Apesar disso, vindo de um diretor capaz como Ridley Scott, seria possível esperar algo ainda melhor. Vê-se em títulos como “Gladiador” (2000), do mesmo estilo e vencedor de cinco estatuetas do Oscar, e “Thelma & Louise” (1999).

Cruzada (Reino Unido, Estados Unidos, Espanha, Alemanha, 2005) Título original: Kingdom of heaven Direção: Ridley Scott Elenco: Orlando Bloom, Liam Neeson, Eva Green, Jeremy Irons Gênero: Ação | Aventura | Histórico


deu fome

Você

toma

sorvete? Por Juliana Malacarne Pequena Miss Sunshine (EUA, 2006) Título original: Little Miss Sunshine Direção: Jonathan Dayton e Valerie Faris Elenco: Abigail Breslin, Greg Kinnear, Paul Dano, Alan Arkin, Steve Carell Gênero: Comédia | Drama

Se você sonha em ser uma super top model magérrima e tem um pai tão obcecado com o seu sucesso quanto Richard, interpretado por Greg Kinnear, pai da fofíssima, e sim, estou considerando as interpretações negativas que esse termo pode ter, Olive (Abigail Breslin), de “Pequena Miss Sunshine”, sinto muito mas terá que mudar de página. Essa receita não é para você. Afinal, não consta nos nove passos para se tornar um vencedor comer coisas calóricas. Agora se você está a fim de curtir a vida sem se preocupar com os números minúsculos dos rótulos e com seus níveis de colesterol elevados ou se você precisa de alguma coisa pra acompanhar a leitura de Nietzsche e acabou de descobrir que álcool faz mal pro fígado... Vá em frente. A solução para este problema pode estar na receita ao lado. Aparentemente tão doce e inocente como o filme que inspira essa receita, o sorvete de chocolate pode sim causar alguns danos a saúde se consumido em excesso. Porém, talvez seja isso que Pequena Miss Sunshine queira nos mostrar, que todos os prazeres possuem efeitos colaterais, mas que na maioria das vezes, vale correr o risco para aproveitar e ser quem se é. Então aproveite! A moderação fica por sua conta.

Ingredientes: 1 tablete de chocolate meio amargo 1 lata de leite condensado 400 ml de leite Raspas de chocolate ou granulado para dar um toque todo especial Modo de preparo: Derreta o chocolate meio amargo em banho-maria. Depois coloqueo no liquidificador junto com o leite condensado e o leite. Bata bem. Despeje a mistura em um recipiente raso ou em uma fôrma de gelo. Leve ao congelador e deixe lá por três horas. Depois de esperar, o sorvete está pronto! Sirva em taças e pode abusar na criatividade ao distribuir o granulado e as raspas de chocolate pelo sorvete. Vale até distribuir no formato de carinha sorridente se ninguém estiver vendo. Boa diversão só mesmo se for em família, então chame a parentada toda para apreciar essa maravilha da culinária que você acabou de aprender! Se tiver uma kombi velha envolvida, vai ser melhor ainda...


Um filme dentro do Brasil

cá entre nós

Romão, Rose, Antônio, Clévis, Rodney, Suelena e Cícero. Em busca de 1000 reais para viver. No Rio de Janeiro tem emprego. A família não pode se separar. Pra ônibus não tem dinheiro, a pé não dá pra levar todo mundo, as crianças são pequenas, não agüentam. Vão todos de bicicleta, atravessar o sertão brasileiro. E assim começa o longa nacional “O Caminho das Nuvens”: do “meio do mundo”, meio do país, meio do sertão. Não é um filme sobre o Brasil, mas “um filme dentro do Brasil”, como disse o diretor Vicente Amorim (ele próprio experiente viajante, que na juventude acompanhou o pai diplomata ao redor do globo). A realidade brasileira serve então de cenário para contar a longa viagem da família de Romão. Uma livre e atraente interpretação de uma história verdadeira. De muitas histórias que viajam a paisagem vermelha e seca com o mesmo objetivo. E com a mesma trilha sonora: Roberto Carlos, a voz mais ouvida em Juazeiro do Norte. O cantor é o laço entre os membros da família, suas músicas percorrem a trajetória dos personagens que as cantam debaixo do sol escaldante, enquanto pedalam, enquanto

descansam, enquanto procuram o que comer e quando vêem uma oportunidade de conseguir algum dinheiro em um barzinho na beira da estrada. Rose (Cláudia Abreu) canta acompanhada do violão do filho Clévis (Felipe Rodrigues), Rodney (Manoel Sebastião Filho) passa para recolher o dinheiro, Romão (Wagner Moura) segura o bebê risonho nos braços. O almoço está garantido e rodas de volta à estrada, ao som do rei. O filme “dentro do Brasil”, dentro do Sertão, fala de assuntos universais: puberdade, valores, crenças, o convívio familiar. Uma viagem de seis meses e 3.200 km é o tempo de o jovem Antônio (Ravi Ramos Lacerda) amadurecer, brigar pelo respeito do pai, se aventurar no universo das bebidas, mulheres, cigarro. É o tempo de Romão fortalecer seus valores, recusar a submissão, o conformismo, o dinheiro fácil. É o tempo de Rose fixar os pés no chão, construir-se como mãe, esposa, mulher. Os pneus das bicicletas murcham, furam, mas as rodas não param antes do destino final. A poesia do cenário nordestino, das quatro bicicletas movendose em consonância a um destino duvidoso, faz de “O Caminho das Nuvens” uma viajem com pé no chão, sonhos no céu e rodas a rodar.

Por Beatriz Montesanti

O Caminho das Nuvens (Brasil, 2003) Direção: Vicente Amorim Elenco: Wagner Moura, Cláudia Abreu, Ravi Ramos, Sidney Magal, Carol Castro Gênero: Drama


letras na tela

Don´t Panic! Por Paula Zogbi

O Guia do Mochileiro das Galáxias (Reino Unido, 2005) Título Original: The Hitchhiker’s Guide to the Galaxy Direção: Garth Jennings Elenco: Martin Freeman, Sam Rockwell, Mos Def, John Malkovich Gênero: Comédia | Ficção científica

“O espaço é grande. Grande, mesmo. Não dá pra acreditar o quanto ele é desmesuradamente, inconcebivelmente, estonteantemente grande. Você pode achar que da sua casa até a farmácia é longe, mas isso não é nada em comparação com o espaço.” Esse, segundo Douglas Adams, é o início do Guia do Mochileiro das Galáxias, um livro “realmente admirável”, um tremendo Bestseller. Douglas Adams foi um escritor realmente admirável. Um verdadeiro Mingo*. Considerado por alguns o mestre da sátira, mostrou, em sua obra, inúmeras críticas ao modo de vida patético do nosso mundo. Ele ainda criou outro, aliás, vários outros mundos totalmente novos. Incluindo um planeta para onde vão todas as canetas esferográficas perdidas. Ou até mesmo o planetaindústria que... constrói planetas! Isso tudo em apenas um de seus livros. E esse um de seus livros, que antes fora um programa de rádio, virou um filme. Totalmente admirável? Vejamos... Arthur Dent (Martin Freeman) é um inglês comum, vivendo sua vida comum, quando resolvem derrubar sua

casa para construir um desvio. Mas esse não é nem de longe o pior problema que ele terá nos próximos dias, até porque, seu planeta está prestes a ser destruído para a construção de uma via intergaláctica – coisa que os golfinhos estariam tentando avisar havia tempos. Por sorte, ele tinha alguém para conseguir-lhe uma carona e lembrar-lhe de levar sua toalha. A viagem é, possivelmente, a maior, em distância, da história do cinema e da literatura. Além de visitarem alguns planetas da maneira convencional, eles atravessam, mais de uma vez, campos de probabilidade infinita, o que os permite “percorrer imensas distâncias interestelares num simples zerézimo de segundo”. E por vezes os transformam em sofás ou bonecos de lã. O filme, baseado no livro, possui alterações feitas pelo próprio Adams. Ele preferia que cada uma de suas adaptações fosse contada de uma maneira nova. O personagem Humma Kavula (John Malkovich), por exemplo, foi criado especialmente para a versão do cinema. Uma pena que essa versão não se saiu tão bem quanto as outras. Pouco depois de suas últimas adap-


letras na tela Verbetes O Guia: parece uma grande calculadora. Tem cerca de 100 pequenos botões planos e uma tela quadrada de 10 cm na qual pode ser exibida qualquer uma das suas 1 milhão de páginas. Por parecer um artefato complicadíssimo, foi impressa na sua capa em letras garrafais e amigáveis a frase NÃO ENTRE EM PÂNICO! Dinamite Pangalática: O melhor drinque que existe. O efeito é como ter seu cérebro esmagado por uma fatia de limão colocada em volta de uma grande barra de ouro. O guia do mochileiro das galáxias explica detalhadamente como prepará-lo Polegar eletrônico: bastão curto e grosso, preto, liso e fosco, com interruptores e ponteiros numa das extremidades. Usado por mochileiros para pedir caronas no espaço. Sancha: (gir.) conhecer, estar ciente de, encontrar, ter relações sexuais com. Dupal: (gir.) cara muito incrível *Mingo: (gir.) cara realmente muito incrível Huluvu: Tonalidade de azul superinteligente Peixe-babel: pequeno, amarelo, semelhante a uma sanguessuga. Alimenta-se da energia mental não daquele que o hospeda, mas dos que estão em volta dele. Na prática, se você o introduz no ouvido, passa a compreender tudo o que lhe for dito em qualquer língua. (Alguns pensadores vêem no peixe-babel a prova definitiva da existência de Deus) tações no roteiro do filme, em 2001, Adams faleceu. As filmagens, então, se iniciaram em 2004, sem a sua supervisão. O resultado foi um bom filme, com seus momentos engraçadíssimos, mas com algumas cenas fora de ritmo e trechos que dão a sensação de que algo está faltando. Apesar dos pesares, vale a pena presenciar nas telas o bom humor inabalável do computador Eddie (Thomas Lennon – voz) e a depressão profunda do fofíssimo Marvin, o andróide “paranóide”. Esses e os efeitos especiais são alguns dos pontos mais altos do filme. De certa forma, o diretor Garth Jennings soube, sim, trazer à vida esse universo. Talvez seja a falta de passagens brilhantes como “As naves pairavam imóveis no céu da mesma forma que os tijolos não o fazem”, ou “O maior número primo se acocorou, quietinho num canto, para nunca mais ser descoberto”. Fato é que assistir ao filme “O guia do mochileiro das galáxias” (The Hitchhiker’s guide to the galaxy) é uma boa experiência, mas não chega aos pés da experiência de saborear o livro de mesmo título.

Algumas curiosidades • Em homenagem a Adams, no dia 25 de maio (duas semanas após a data de sua morte) é comemorado pelo mundo todo o “dia da toalha”, quando fãs saem às ruas carregando suas respectivas toalhas para onde quer que forem. • No filme (e no capítulo 7 do livro), é dito que a pior poesia do mundo foi escrita por Paula Nancy Millstone Jennings. No programa original, o nome citado era de Paul Neil Milne Johnstone, que realmente existiu e escrevia poemas. Foi colega de escola de Adams, e a menção foi só uma brincadeira. • Segue, em inglês, a pior poesia do mundo: The dead swans lay in the stagnant pool. They lay. They rotted. They turned Around occasionally. Bits of flesh dropped off them from Time to time. And sank into the pool’s mire. They also smelt a great deal. • O número de telefone de Tricia, mencionado em uma potência de improbabilidade, existe e pertencia a um amigo seu, que não se importava em receber ligações de estranhos.


personagem

Do Alabama ao Vietnã Por Meire Kusumoto

Forrest Gump – o contador de histórias (EUA, 1994) Título original: Forrest Gump Direção: Robert Zemeckis Elenco: Tom Hanks, Robin Wright Penn, Gary Sinise Gênero: Comédia | Drama

Ele correu da costa oeste à leste dos Estados Unidos por três anos e dois meses, criou frases de pára-choques de caminhões e estampas de camisetas que ficaram famosas, foi para a guerra no Vietnã, jogou tênis de mesa na China, deu o pontapé inicial no que mais tarde se desenrolaria no Caso Watergate, conheceu três presidentes americanos, Elvis Presley e John Lennon e virou acionista da Apple. Tudo isso sem perder a simplicidade. Esse é Forrest Gump. Se a vida é mesmo como uma caixa de chocolates, a de Forrest não podia ser mais cheia de boas surpresas. O QI de 75, abaixo da média, não impediu que ele vivenciasse toda a cultura americana e mais, tivesse influência no seu curso, sendo retratado como o responsável pela criação de grandes ícones sem ter consciência disso. Com o seu caminho cheio de intervenções das mais estranhas, ele nunca deixou de apenas tentar viver em paz e proteger Jenny, por quem se apaixonara desde o dia em que se conheceram. No condado fictício de Greenbow, Alabama, Forrest foi criado por sua mãe, mas não permaneceu por muito tempo. Logo após terminar a faculdade ele foi mandado para a Guerra do

Vietnã, onde combateu embaixo das chuvas torrenciais no meio da floresta e salvou as vidas de muitos companheiros. Quando em recuperação de um tiro que levara durante a guerra, aprendeu a jogar tênis de mesa e descobriu um novo talento. Foi para a China comunista jogar e teve papel importante na abertura desse país para a visita de Richard Nixon, o que mais tarde culminaria na reaproximação da China e dos Estados Unidos. Após ser dispensado do exército com honrarias, decide cumprir uma promessa feita a seu amigo de guerra Bubba, de comprar um barco para pescar camarões. Apesar de no começo não ter sorte, isso muda quando apenas o barco “Jenny” resiste ao Furacão Carmen de 1974. Quando abandonado por Jenny, mais ao fim do filme, Forrest decide correr. Simplesmente correr. Ele percorre o território americano várias vezes, eventualmente arranjando companhia, até que fica cansado e pára. Essa é toda a simplicidade do personagem, correndo sem destino quando tem vontade, parando quando tem vontade, sem se preocupar com causa ou consequência, refém apenas de seu coração.


principal

Bem-vindo à seção principal! Nas páginas a seguir você encontrará duas matérias: uma sobre os filmes da série Cities of Love e outra sobre pessoas que visitaram locações de filmes em suas viagens. Então, pegue aquela almofada bem fofa, sente num sofá bem macio e se prepare para a leitura. E nem precisa andar por essa estrada aqui embaixo, hein!?


principal

Amor Metropolitano Emmanuel Benbihy, produtor francês, um belo dia teve uma ideia: convidar vários diretores, de todos os cantos do mundo, para retratar o amor em Paris e por Paris. O resultado foi 18 curtas-metragens que, reunidos, deram vida a “Paris, Te Amo”. Pois a ideia deu caldo, ganhou nome (Cidades do Amor; Cities of Love) e virou série. “Nova York, Eu Te Amo” estreou em 2008, “Rio, Eu Te Amo” está em fase de filmagens e a produção segue para Xangai e Jerusalém. Paris Paris é dividida em áreas e cada uma é retratada em um curta. A mudança entre um e outro é clara e o que temos é uma reunião de curtasmetragens. Termina um, segue o título do próximo com algumas imagens do local a ser retratado e o curta em si. Apesar dessa opção dar a cara do filme, faz surgir seus maiores (e inevitáveis) problemas: a inconstância e a comparação entre os diretores. Assim, temos o momento “o quê que eu estou fazendo aqui?”, com o devaneio absurdo de Christopher Doyle,

Por Paulo Fávari

em “Porte de Choisy”, ao retratar um vendedor de produtos femininos se encontrando com a proprietária de um salão de beleza chinês. Não dá pra entender porquê diabos ele está lá. Por outro lado, a briga para decidir o melhor é travada em duplas e com humor. De um lado, os irmãos Coen, com “Tuilieres”. A história se passa no metrô, onde um turista americano de repente se vê no olho do furacão de uma briga de casal francês. Vale pela direção inteligente dos irmãos e pela atuação excelente de Steve Buscemi. Do outro lado, Frédéric Auburtin e Gérard Depardieu, com “Quartier Latin”. Ex-marido e ex-esposa se encontram num bar para decidirem sobre o divórcio. A conversa amigável aos poucos se torna uma sequência de patadas, sem, no entanto, nenhum dos dois perderem a pompa. Além disso, há “Loin du 16ème”, dos brasileiros Walter Salles e Daniela Thomas, que conta a história de uma babá estrangeira. Simples, meio quadradão, mas o tom de crônica poética o eleva. Já “Place des Victoires”, de Nobuhiro


Suwa, tem um ar visionário. Essa é a história de uma mãe que está depressiva por causa da morte recente de seu filho. Não, Suwa não perdeu seu filho. A premonição está no ator escolhido para ser o cavaleiro (alucinação da mãe): Willem Dafoe, protagonista de “Anticristo”, longa de Lars Von Trier que explora uma temática parecida. Nova York Para o segundo filme da série, a opção foi por não haver mudanças claras entre os curtas. Se, por um lado, o filme fica mais homogêneo, como se fosse uma única história; por outro, o foco das histórias (o amor apenas) depõe contra. Parece não haver uma declaração à cidade, mas ao amor. Assim sendo, trocar, no título, Nova York por São Paulo ou Londres faria pouca ou nenhuma diferença. Dos 11 curtas, três valem o filme. A primeira, de Mira Nair, conta a história de uma judia que vai a uma joalheria de um janaísta negociar diamantes. Ela está prestes a se casar; a mulher dele voltou para a Índia e o deixou sozinho. Os dois se apaixonam.

Veja também Flerte (Flirt, 1995): a mesma cena rodada em Nova York, Berlim e Tóquio, por diretores diferentes.

Na segunda, de Shunji Iwai, um músico se vê às voltas para fazer a trilha sonora de um filme. A secretária do diretor do filme passa, então, a ajudá-lo – sempre por telefone. Desnecessário dizer que se encontram depois. Por fim, há o de Joshua Marston. Um casal de velhinhos vai celebrar o aniversário dela. As implicâncias de um com o outro rendem boas risadas e criam um vínculo quase imediato com o espectador. Se o objetivo era mostrar o aspecto multicultural de Nova York, pode-se dizer que foi alcançado. No entanto, o preço a ser pago – histórias burocráticas e quase nenhuma Nova York – é alto demais. Rio de Janeiro Para a próxima parada, dois diretores brasileiros estão confirmados: José Padilha e Fernando Meirelles. Para os outros oito curtas, o time de diretores contará com mais um brasileiro, três americanos e quatro de outras nacionalidades. Os curtas estão sendo rodados e a previsão de estreia é para o ano que vem.

11 de Setembro (11’09’’01 – September 11): são 11 curtas sobre o dia em que as Torres Gêmeas caíram. Cada um tem 11 minutos, 9 segundos e uma imagem.

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Foi aqui que filmaram... Por Beatriz Montesanti Pontos turísticos são constantemente cenários de filmes. A torre Eiffel, por exemplo, tornou-se símbolo comum nos longas românticos. Cassinos em Las Vegas, praias do Caribe, e o próprio Cristo Redentor seguem a regra de personagens esperados. Não se vai à Paris para ver onde pisou Ingrid Bergman em “Casablanca”, Gene Kelly em “Um Americano em Paris” ou Tom Hanks no “Código Da Vinci”: a cidade já possuía seu status turístico antes de todos eles. Mas, uma vez em Nova York, porque não, após visitar a Estátua da Liberdade, comer um X-salada na charmosa lanchonete de “When Harry met Sally”? Ou, se passando pelo Sudeste Asiático, conhecer um dos históricos cenários de “Tomb Raider” ou do paradisíaco “A Praia”? Ali perto, no Oceano Pacífico, ver ao vivo as paisagens reais que fizeram

Luiza Barbato está concluindo o colegial em Hong Kong e aproveitou as férias escolares para conhecer as redondezas com um grupo de amigos. Por ali, pisou nas areias outrora pisadas por Leonardo DiCaprio. A praia tornou-se um dos principais pontos turísticos da Tailândia após o longa e foi incluído no roteiro dos mochileiros. “Ali também existe uma praia chamada ‘Bond Island’ (imagina por quê?), mas não deu tempo para conhecer”. Em compensação, passaram pelo Templo de Angkor Wat, na cidade de Siem Reap, ao norte do Camboja. Uma das maiores cidades pré-industriais figurou como plano de fundo de Angelina Jolie, em “Tomb Raider”.


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Raquel Paiva passou as últimas férias em Nova York com a família. Após visitarem a Estátua da Liberdade, o Central Park e a Time Square, pararam para comer na lanchonete que serviu de cenário ao divertidíssimo diálogo entre Harry e Sally. “Recomendaram o lugar pra gente. Quando chegamos lá, vimos a plaquinha e descobrimos porque era famoso!”.

As paisagens naturais da Nova Zelândia também foram descobertas por grandes produções e serviram de set para ficções fantásticas como “As Crônicas de Nárnia: Príncipe Caspian” e “O Senhor dos Anéis”. Ao vivo, talvez não sejam permeadas pela magia das ficções, porém não ficam tão atrás, provam as fotos de André Cavalieri, que fez intercâmbio no país em 2008.


vale a pena ver

´ Por Paulo Fávari

Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas (EUA, 2003) Título original: Big Fish Direção: Tim Burton Elenco: Ewan McGregor, Albert Finney, Billy Crudup, Jessica Lange Gênero: Aventura | Drama | Fantasia

Senhoras e senhores, bem vindos ao mundo mágico de Tim Burton! Nele vocês terão a oportunidade única de ver gigantes, vietnamitas siamesas e lobisomens donos de circo. Atravessarão os perigos de um atalho macabro, conhecerão cidades com a grama tão fofa que ninguém usa sapato (ok, não é só por isso) e verão com os próprios olhos o maior peixe que já existiu na Terra. Acomodem-se bem em suas melhores poltronas, o show vai começar! A saga contada em “Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas” é uma adaptação do livro Peixe Grande, de Daniel Wallace. De um lado, Edward Bloom (Perry Walston, Ewan McGregor e Albert Finney): um viajante de imaginação fértil que adora contar histórias. De outro, William Bloom (Grayson Stone e Billy Crudup), seu filho, que se sente frustrado por não saber ao certo a história verdadeira de seu pai, sem as fantasias habituais. Após ter notícias do quadro de saúde irreversível de seu pai, William vai a seu encontro para visitá-lo, cuidar dele e tentar entendê-lo (leia-se: saber sua real história). O que se segue, diferentemente do que o começo triste pode sugerir, é uma sucessão de causos exageradamente fantásticos – marca registrada do diretor, Tim Burton – ocorridos nas andanças de Edward Bloom. E não é só nos causos que tem dedo de Burton. A estética, as cores (ora vibrantes, ora sombrias), os formatos dos cenários e objetos não passam

incólumes ao diretor. Difícil não lembrar de Edward Mãos de Tesoura ao ver as Handi-Matic ou todas as outras engenhocas. Como não identificar na sombria floresta do atalho Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet ou A Noiva Cadáver? Os gramados de Spectre parecem a inspiração para os seus primos adocicados de A Fantástica Fábrica de Chocolates (e o faz-tudo do circo/Oompa-Loompa também entra na dança). Indo além do filme, difícil encontrar algum viciado em séries que não veja pontos em comum entre Peixe Grande e Pushing Daisies. Impossível cinéfilos não identificarem Forrest Gump, o Contador de Histórias, seja no próprio título, nas andanças, no Vietnã, ou até mesmo nos acasos promotores de reviravoltas. A cereja do bolo fica por conta do tom metalinguístico. Por meio de Bloom, Burton diz ao público (ou seria a seus filhos?) qual a razão de sua preferência por fábulas e histórias fantásticas. É assim que também se justifica pelas bruxas vividas por sua mulher (Helena Bonham Carter). Peixe Grande é um pequeno grande filme, feito para mostrar o poder de uma história bem contada. Se peca pela falta de originalidade da história ou por não explorar melhor algumas personagens, no todo o lúdico e o soturno são sabiamente dosados. É um filme a ser visto e revisto, principalmente nos momentos em que o mundo começa a ficar chato.


top 10

As melhores viagens da telona

10.

Por Rafael Ciscati e Lucas Rodrigues

Wall-E

O pessoal da Pixar costuma dizer que ama o que faz. Verdade ou não, o fato é que as platéias aprenderam a amar Wall-e, um dos robôs mais expressivos da sétima arte. Limpando montanhas de lixo em uma Terra desolada, apaixonado pela robozinha Eve, Wall-e encantou o marmanjo mais casca-grossa.

9.

A Era do Gelo

“Mas que coisa mais linda”. Uma família nada comum em uma verdadeira bad trip. Para salvar um bebê humano, Manfred (um mamute), Sid (uma preguiça gigante e especialmente folgada) e Diego (um tigre dentes de sabre) precisam cruzar geleiras, e dar muitas gargalhadas. Lançado em 2002, a Era do Gelo teve ainda duas sequências, além de arrematar o Oscar de melhor animação.

8.

Procurando Nemo

Um pai traumatizado com a violência em sua vizinhança...submarina. Depois de ver o filho pescado por um dentista, cabe a Marlin, um atrapalhado peixe palhaço, cruzar os sete mares para salvá-lo. No meio do caminho, no entanto, não faltarão surpresas. Esbanjando bons personagens, “Procurando Nemo” foi mais um daqueles grandes sucessos da Pixar, com visual impecável e piadas já clássicas (aposto que você já tentou falar baleiês).


7.

top 10

Amor sem Escalas

Viajar de costa a costa dos EUA demitindo pessoas. Não é lá o trabalho mais desejado do mundo, mas é o ganha pão de Ryan Bingham (George Clooney), e o que ele faz de melhor. Incapaz de se apegar a pessoas e lugares, Ryan fez de voar um estilo de vida. Por isso quando uma novata aparece com uma idéia de demissões on-line, ele fica especialmente contrariado. Com diálogos afiados e uma história bem amarrada, “Amor sem Escalas” tem direção de Jason Reiman.

6.

O Homem que Sabia Demais

Um Hitchcock tão legítmo que mereceu ser refilmado, pelo próprio Hitchcock. Uma trama de assassinato em uma viagem pelo Marrocos e uma aparição especial do diretor fizeram de “O Homem que Sabia Demais” um clássico incontestável!

4.

5.

Casablanca

“We’ll always have Paris”. Há aquelas frases memoráveis. E há os filmes inesquecíveis. Considerado um dos melhores filmes de todos os tempos, “Casablanca” conta as histórias dos que passavam pelo Marrocos a procura do Novo Mundo, em plena Segunda Guerra. Isso tudo ao som de Frank Sinatra “As Time Goes By”...

A Viagem de Chihiro

Chihiro é uma garota de 10 anos, mimada e birrenta. Triste por ter que mudar de cidade, ela está emburrada no banco de trás do carro quando seus pais decidem fazer uma pausa na viagem, e entram numa gruta que os leva para um mundo novo. Premissa ingênua? Longe disso! O diretor Hayao Miyazaki estava efastiado das histórias bobinhas que as crianças em sua casa liam quando decidiu criar Chihiro, uma heroína atípica que tem de aprender a deixar de ser aquela criança, para sobreviver em um mundo repleto de deuses, dragões, bruxas e... bebês gigantes.


top 10

3.

Vicky Cristina Barcelona

1.

De Volta para o Futuro

Vicky era a consciência. Cristina era o impulso. E Barcelona? Ah, Barcelona... Nesse filme de Woody Allen, a éxotica cidade é pano de fundo para o triângulo amoroso entre as amigas e Juan Antonio, espanhol que vive, ao mesmo tempo, uma turbulenta e intensa relação com a inconstante Maria Elena. O filme, que tem como ponto de partida a viagem de férias de Vicky e Cristina, é uma metáfora de como, em um período tão curto de tempo, as coisas tomam rumos tão diferentes.

2.

Monty Python Em Busca do Cálice Sagrado

Nessa histórica jornada, o bravo Rei Arthur parte em busca do Cálice Sagrado, enquanto reúne os guerreiros mais corajosos para completar a sua Távola Redonda. Na “épica aventura”, enfrentar o Cavaleiro Negro e os temidos Guerreiros-Que-Dizem-Nii, e construir um coelho gigante de madeira para invadir o território inimigo eram só alguns dos desafios do grupo. Com situações hilárias, além de cenas e efeitos toscos, o diretor Terry Gilliam conseguiu criar uma das paródias mais nonsense da história do cinema.

Um carro super-estiloso, um senhor que é o verdadeiro estereótipo de cientista maluco e todo o charme desencontrado dos anos 80. “De Volta para o Futuro” já ocupa o posto de clássico inquestionável entre os filmes de viagem. E nem poderia deixar de ser. O DeLorean envenenado do Dr. Emmett (Christopher Lloyd) resistiu ao tempo só para mostrar que aquela, afinal, não foi uma década assim tão perdida.


cine trash

As viagens de Sabrina Por Meire Kusumoto

1.

Típicos filmes infantis, “Sabrina vai a Roma” e “Sabrina na Austrália” têm como preocupação maior entreter com leveza, por isso a ambientação em belos lugares e a ausência de personagens realmente antagônicos. Nessas produções, o que conta mais são o carisma da bruxinha, os mistérios que são facilmente desvendados e os romances inocentes. No primeiro deles, Sabrina tem que descobrir como abrir um medalhão de uma tia que desapareceu depois de ser traída pelo grande amor de sua vida. Ela deve liberar o poder contido nele, ou essa tia ficará perdida para sempre. Para isso, segue instruções de uma carta de seu pai, que afirma estar em Roma o segredo. Lá ela conhece Paul, um jovem fotógrafo americano por quem se apaixona à beira da “Fontana di Trevi” mas que, ao ver Sabrina fazendo mágica, bola um plano de documentar esse tipo de acontecimento para vender a história depois. O filme se desenrola nisso, na tentativa de abrir o medalhão e na de gravar as magias. Só que, previsivelmente, Paul também acaba por se

apaixonar por Sabrina, o que o impede de continuar com seu plano. A partir disso, a bruxinha descobre que o segredo do medalhão é confiar em seu próprio coração, acima de todas as coisas. Já em “Sabrina na Austrália”, ela mostra todo seu interesse em se tornar bióloga. Isso se dá quando a bruxinha protege uma colônia de sereias


cine trash da poluição marinha e do desejo de um biólogo famoso, o Doutor Julian Martin, de divulgar esse grupo, ameaçando sua segurança e privacidade. Para isso, ela tem que conquistar a confiança das sereias, o que se dá inicialmente com a sua aproximação de um sereia-macho, Barnaby, que se encontrava com alergias graves no ombro em função da poluição. Eles se tornam amigos e há até a premissa de um romance, mas que não é levado adiante, já que Sabrina diz ter um namorado em casa. Ao final, ela consegue salvar a colônia, já que faz o biólogo perceber que sua ambição era totalmente prejudicial à vida das sereias. Além disso, Sabrina descobre que uma espécie de peixe que já era considerada extinta ainda podia ser encontrada nos mares da Austrália. Como acompanhante nos dois filmes, ela tem seu gato falante Salém, que, apesar de variar entre gato mecânico e animal de verdade, o que dá um efeito, no mínimo, estranho, parece ser o protagonista das cenas mais divertidas. O seu comportamento lembra o de Garfield, com toda a preguiça e a acomodação de um bichano que não tem muitas obrigações. Os filmes têm histórias simples, personagens planos e atores medianos, mas deve ter cumprido seu papel de divertir crianças e pré-adolescentes da década de 1990, quando as produções em 3D, agora tão em voga, ainda estavam começando.

TOP 10

As piores Viagens do cinema

2. Crossroads - amigas para sempre (2002) - Britney Spears poderia muito bem ter ido dormir sem essa tentativa fracassada de ser BFF do público.

3. Xuxa e o Tesouro da Cidade Perdida (2004) -

Descendentes de vikings no subterrâneo da Amazônia?

4. O Carro Desgovernado (1997) - Pro rádio do

carro falar com o motorista o filme tem de ser ruim...

5. Serpentes a bordo (2006) - Centenas de serpentes num avião só para matar uma testemunha? Nem Samuel L. Jackson salva.

6. Férias no Trailer (2006) - Faltou grana para a viagem e para uma produção decente.

7. Eurotrip - passaporte para confusão (2004) Um American Pie piorado e com o pé na estrada.

8. Um Vôo Muito Louco (2004) - Um avião roxo com muitos rappers, drogas, mulheres... Um avião roxo?

9. Recém-Casados (2003) - Ah, quantas dificuldades se deve superar para manter o amor...

10. 2001: Um maluco perdido no espaço (2000) Kubrick morreu em 1999. Mal se decompôs, já se revirou no túmulo.


cinetecetera

entre sabres de luz, T OS hobbits e ilhas mágicas

L

Por Juliana Malacarne LOST, a viagem que começou com 48 passageiros sobreviventes à queda do avião Oceanic Airlines 815, terminou dia 23 de maio. Desses 48, poucos resistiram até o último episódio, porém os que restaram vivos não estavam sozinhos: contavam com o apoio de mais de 11,65 milhões de pessoas que assistiram ao grande final, torceram por eles durante seis anos e se emocionaram. No meio dessa multidão estava uma das comunidades mais viciadas de todos os tempos, os lostmaníacos, ou lostfanáticos. Homens e mulheres de todas as idades que se organizavam em blogs e fóruns de discussão para comentar a série. Não faltaram entre eles teorias malucas, noites inteiras discutindo um episódio , easter eggs (pequenas pistas escondidas ao longo da série que, para um espectador desatento nada significavam, mas podiam ajudar a decifrar alguns mistérios da ilha) e cenas enigmáticas, que podiam ter ficado apenas alguns segundos no ar, mas que rendiam semanas inteiras de interpretações. LOST só foi um sucesso estrondoso por causa da Internet, sem ela, com certeza não teria sido tão interativo e viciante. Porém, ele agrupava vários outros elementos que podem justificar sua transformação em um fenômeno mundial: um elenco internacional, a aplicação de conceitos de filosofia, mitologia, um pouco de ciência (ou melhor, pseudociência, afinal é uma ficção) personagens cativantes de histórias misteriosas e inspiração no cinema.

As alusões feitas ao cinema não são poucas. Os escritores de LOST Damon Lindelof e Carlton Cuse já admitiram que são fãs de vários filmes citados nos episódios e se basearam neles para construir a série. “Star Wars” é um dos preferidos. No episódio final ouvimos o simpático e gordinho Hurley se referir a Jacob como Yoda. Na hora, pareceu uma piadinha, mas, de fato, Jacob assemelha-se a Yoda por ser sábio e enigmático. Em uma das viagens malucas no tempo, os personagens aparecem em 1977, ano em que Star Wars havia acabado de estrear e o mesmo Hurley resolve escrever “The Empire Strikes Back”, a continuação do primeiro filme que ainda não havia sido

Os personagens de Lost e suas Ana Lucia e Rambo

Sawyer e Harry Potter


cinetecetera lançada. Infelizmente, ele não consegue enviar o manuscrito a George Lucas, verdadeiro autor de “Star Wars”. Além dessas citações mais sérias, os filmes que influenciaram os autores de alguma maneira vinham em forma de piada. Em uma cena, Charlie, Dominic Monaghan, diz que escuta as árvores e que estas são ótimas conversadoras. Pensando que o mesmo ator já fez um hobbit em “O Senhor dos Anéis” e que este hobbit de fato conversava com árvores gigantes que podiam falar, entende-se o humor. Outra cena engraçadinha é quando Sawyer, Josh Holloway, um dos bonitões da série, é obrigado a usar um óculos remendado e Hurley, de novo o gordinho, passa e comenta: “parece que alguém copiou o Harry Potter!”. Houve também, uma cena no aeroporto em que o filme “Memórias de uma gueixa” é citado para descrever a relação entre os coreanos Jin e Sun, passageiros do vôo 815. De fato, no começo, as tomadas entre esses dois personagens se confundiriam com o filme. Os espectadores de Lost parecem ser dotados de uma capacidade de associação não muito normal. Teve gente que viu no Black Rock, um navio antigo e abandonado encontrado no meio da floresta, uma menção ao Black Pearl,

s caras metades do cinema Jin e Chewbacca

Kate e Shenna

Mr. Eko e Shaft

Hurley e Jabba

navio de Jack Sparrow em “Piratas do Caribe” e na cena em que Sawyer é quase atacado por um tubarão, na 1ª temporada, uma homenagem a um outro Tubarão, o de Steven Spielberg. Isso não é forçar a barra? Provavelmente. Essas relações nunca tiveram nenhuma comprovação, mas pode ter sido uma forma sutil de trazer o brilho dessas produções para LOST. Como se não bastassem todos esses diálogos relacionando situações, atores e momentos de LOST a filmes, ainda havia Sawyer. Sawyer, um dos mais engraçados da ilha, tinha a mania de dar apelidos, não importa para quem fosse, e bastava parecer com algum personagem de filme famoso que lá vinha a brincadeira. Assim surgiram os apelidos: Chicken Little, Hulk, Sheena, Tinkerbell, Colonel Kurtz, Tarzan, Zeke... Desde os mais óbvios como Rambina, usado para caracterizar Ana Lucia, que por sua tendência à violência e facilidade para lidar com armas se parecia com Rambo, até Chewie, em referência a Chewbacca de “Star Wars”, que, assim como o coreano apelidado dessa forma, não falava inglês. Todos arrancavam pelo menos uma risadinha dos espectadores. Quem foi realmente fã da série procurou saber mais sobre os filmes e livros citados ao longo dela e tentou entender de onde vinha aquele mar de associações. Quem sabe quantos novos fãs de “Star Wars” e “Jornada nas Estrelas” não surgiram a partir disso? LOST se foi e com ele todas as referências ao cinema que tanto o enriqueciam, mas o seu legado fica. A identificação dos espectadores foi tanta que é como se tivessem caído em uma ilha misteriosa também, da qual agora, de repente, vão ter que abrir mão e seguir em frente, mas sem nunca esquecer do que foi uma das melhores produções de todos os tempos.



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