O Plano Tecnológico Muito se falou, e ainda fala, do Plano Tecnológico. No bom estilo português foi-lhe dado um carácter sebastianino, ou seja, como sendo algo que, aparecendo, resolverá todos os problemas que o país enfrenta, tirando-nos de uma crise que teima em não querer terminar. Por isso, foi apresentado com alguma pompa e muita circunstância, mas o mais importante creio que está por fazer, que é a divulgação do seu teor de uma forma sintética e inteligível aos agentes que dele devem usufruir. Se a informação não chegar aos
Custódio Dias (Director)
editorial
seus destinatários, mais uma vez correremos o risco da sociedade portuguesa não aproveitar as oportunidades que lhe são oferecidas, sendo depois acusada de falta de interesse ou de investimento no desenvolvimento do país. Utilizando uma linguagem mais tecnológica, qualquer ferramenta necessita de um manual de instruções para ser bem utilizada e quanto mais complexa for a ferramenta melhor terá de
a actuação dos outros agentes envolvidos, como, por exemplo,
ser o seu manual. Caso contrário, uma boa ferramenta
a simplificação e aceleração do processo de criação de
poderá não ser utilizada, dado que os seus potenciais
empresas, a objectivação dos objectivos específicos de cada
utilizadores não sabem como fazê-lo.
um dos sub-sistemas do ensino superior, o estabelecimento de protocolos com instituições de renome mundial na área
Conceptualmente, o plano tecnológico é uma ferramenta
da tecnologia e inovação, o lançamento de programas de
interessante, na medida em que pretende promover a
apoio específico (INOV JOVEM, INOV CONTACTO, etc.) e a
qualificação da sociedade portuguesa, o desenvolvimento
sensibilização para o financiamento do capital de risco.
tecnológico e a inovação, através da interacção de diferentes agentes (administração central do estado, instituições de
No que se refere aos restantes agentes do plano será que
investigação e de ensino superior, pequenas e médias
a dinâmica é similar? A criação de redes, de clusters, de
empresas, etc.) e do aproveitamento de sinergias que
sectores, de facilidades de acesso ao crédito para investimento
naturalmente se identificarão, contribuindo para uma maior
em tecnologia, são acções multi-agente que são forçosamente
solidez da economia portuguesa. Por tudo isto, a
complexas e que, frequentemente, necessitam de um forte
concretização do plano tecnológico afigura-se complexa,
impulso externo para que se concretizem com uma extensão
desenvolvendo-se em, pelo menos, três vertentes: a vertente
significativa. Na base de um tal impulso, está a divulgação
da administração central, a vertente das instituições públicas
eficiente que será necessário fazer. É fundamental que a
e a vertente das empresas. Só uma boa conjugação da acção
informação seja elaborada numa linguagem simples e
nestas três vertentes poderá conduzir a resultados sólidos
corrente, evitando a terminologia técnica que assusta quem
e a conseguir os objectivos transversais definidos no plano
não tem formação específica em economia e gestão, que
que são: o desenvolvimento das instituições, a interacção
seja sintética, para que o receptor não se perca nas
entre agentes da inovação e a criação de mecanismos
deambulações retóricas de quem escreveu, que seja clara e
alternativos de financiamento das actividades de inovação
objectiva, para que o potencial utilizador saiba exactamente
e desenvolvimento tecnológico.
o que fazer e onde se dirigir para conseguir o que se pretende. Finalmente, é necessário que sejam utilizados todos os meios
Indubitavelmente a administração central do estado tem
de comunicação possíveis e imaginários para que a
dado passos concretos na concretização do plano, na medida
informação chegue a quem deve chegar. Infelizmente,
em que vários ministérios têm concertado as suas políticas
parece-me que o aspecto da divulgação operacional não
nesse sentido e têm sido criados mecanismos que facilitam
está conseguido.