Contribuição para o entendimento da elaboração das cartas de desempenho das filosofias de gestão sei

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C. Pereira Cabrita Departamento de Engenharia Electromecânica Faculdade de Engenharia Universidade da Beira Interior (UBI) cabrita@ubi.pt

Contribuição para o entendimento da elaboração das cartas de desempenho das filosofias de gestão seis sigma Parte 4 – Factor de correcção do nível Sigma Resumo Na Partes 1, 2 e 3 deste nosso trabalho expusemos, de uma forma o mais detalhada possível, as metodologias de obtenção das cartas de desempenho Seis Sigma (Six Sigma Scorecards), para a Six Sigma Business Scorecard e para a Six Sigma Maintenance Scorecard, propondo-se agora uma metodologia original de correcção do nível Seis Sigma para aquelas duas filosofias de desempenho.

1. Metodologia de correcção do nível Seis Sigma

-

SSBS, grandes e médias empresas:

-

SSBS, pequenas empresas:

-

SSMS:

Conforme se demonstrou, o número de defeitos por milhão de oportunidades é definido através da seguinte expressão:

tendo-se, respectivamente, para a produção de unidades industriais, para a Six Sigma Business Scorecard (SSBS), e para a Six Sigma Maintenance Scorecard (SSMS): NOD = número médio de componentes defeituosos por unidade; NOD = número de administradores executivos; NOD = número médio de equipamentos por linha de produção. Por conseguinte, considerando que, para um desempenho Seis Sigma se tem DPMO = 3,4, pode-se escrever então:

Como facilmente se depreende, para a produção de componentes industriais simples ou de unidades mais complexas, como se exemplificou em [1,2], é possível em termos práticos conseguir-se um desempenho correspondente ao nível máximo Seis Sigma. Contudo, para as filosofias SSBS e SSMS, torna-se impossível, do ponto de vista racional, atingir-se esse patamar, como se explicita de seguida, onde os valores dos DPU são os mínimos para os quais correspondem os desempenhos máximos possíveis, calculados anteriormente nas Partes 1, 2 e 3:

4 · MANUTENÇÃO

Como se constata, sem dúvida que estes resultados são irracionais, na medida em que para se ter um desempenho Seis Sigma seria necessário que, para o máximo desempenho possível, as grandes e médias empresas deveriam ter 2.970 administradores executivos, as pequenas empresas 5.940, e as linhas de produção 2970 equipamentos, o que é manifestamente impossível. Por outro lado, para um mesmo desempenho, quantificado pelo indicador DPU, quanto mais elevado for o número de administradores executivos ou o número médio de equipamentos por linha de produção, mais elevado será o nível Sigma. Apesar das filosofias SSBS e SSMS apresentarem o grande mérito de permitirem classificar o desempenho de negócios e a manutenção industrial em termos comparativos, sucede que, para o mesmo nível de qualidade, isto é para o mesmo número de DPU, o nível Sigma difere de organização para organização, em função do número de executivos ou do número de equipamentos das linhas de produção. Assim sendo, na nossa opinião, quando o número de DPU é o mesmo, as organizações ou os serviços de manutenção deverão ter o mesmo nível Seis Sigma, independentemente do número de executivos ou do número


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correcção do nível Sigma, podendo ainda considerar-se para o número médio de oportunidades de defeito, respectivamente o número médio de decisões por executivo e o número médio de órgãos por equipamento de produção, apesar de serem difíceis e complexas ambas as contagens. Saliente-se que, por um lado, apesar de serem os executivos a tomarem as decisões, elas poderão ser correctas ou incorrectas, e por outro, os equipamentos afectos às linhas de produção avariam devido a verificarem-se avarias nos seus órgãos. Máximos Desempenho efectivo IDMPn Dn IDMPn Dn M1 15 100 15 40 6 M2 15 100 15 70 10,5 M3 20 100 20 50 10 M4 10 100 10 70 7 M5 5 100 5 30 1,5 M6 5 100 5 70 3,5 M7 5 100 5 30 1,5 M8 5 100 5 50 2,5 M9 10 100 10 70 7 M10 10 90 9 70 7 Cálculos IDM 99 56,5 DPUM 0,0101 0,571 número médio de equipamentos 12 por linha de produção DPMOM 842 47583 nível Seis Sigma 4,64 3,17 factor de correcção 6 – 4,64 = 1,36 nível Seis Sigma corrigido 6 4,53 Indicadores medidos

Pn

Quadro 1 – Exemplificação do cálculo do factor de correcção do nível Seis Sigma, para a SSMS.

3. Considerações finais Como se salientou já nos nossos trabalhos anteriores sobre esta temática, as críticas associadas à filosofia Seis Sigma dizem respeito essencialmente à forma como se utiliza a distribuição normal para a determinação da correspondência entre os níveis Sigma e os números de defeitos (ou de avarias e de erros) por milhão de oportunidades DPMO, assim como pela escolha arbitrária de 3,4 DPMO para o nível Seis Sigma. Contudo, na sua essência fundamental a filosofia Seis Sigma constitui uma ferramenta poderosíssima que permite avaliar os desempenhos das linhas de produção, das organizações industriais e de serviços, assim como da estrutura da função manutenção, não só em termos absolutos mas também em termos relativos. Em termos absolutos, na medida em que a qualidade do desempenho para cada organização decresce com o nível Seis Sigma, e em termos relativos porque permite comparar entre si não só os desempenhos de diversas organizações, como sucede com os 30 grupos do Dow Jones Industrial Index, mas também os desempenhos inerentes a diferentes períodos para cada organização. Além disso, como consequência da análise dos resultados obtidos, incentiva a adopção de processos de melhoria contínua com o objectivo de corrigir os indicadores menos bons. Como é sabido, quando se fabricam produtos defeituosos existem custos associados a esses defeitos, daí que o custo final de

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cada produto se encontre directamente relacionado com a taxa de defeitos, podendo-se escrever [3]: custo final de produção de cada produto = = custo inicial de produção de cada produto (1 + taxa de defeitos) Como facilmente se constata, o custo adicional que resulta da fabricação de mais produtos que o previsto, para substituir as unidades defeituosas, representa uma perda de recursos que é deduzida do lucro global da empresa. De acordo com [4], apresenta-se no Quadro 2 a relação existente entre os níveis Seis Sigma e os custos de má qualidade COPQ (Costs Of Poor Quality), expressos percentualmente em função do volume de vendas. Níveis Seis Sigma 2 3 4 5 6

COPQ (em função do volume de vendas) não competitivo 25 – 40 % 15 – 25 % 5 – 15 % <1%

Quadro 2 – Relação entre os níveis Seis Sigma e os custos de má qualidade.

Em linhas gerais, as perdas (desperdícios) ocorrem em todas as vertentes das organizações, ou seja, na produção, projecto, fornecimento de matérias primas, qualidade, vendas, satisfação dos clientes, e mesmo na gestão. De um modo geral, os indicadores de desempenho habituais não consideram todos os aspectos associados às perdas, sendo de extrema importância compreender, identificar, monitorizar e eliminar as denominadas perdas escondidas, com vista à maximização do valor acrescentado. Nestas perdas é de crucial importância a atenção que é dada à satisfação dos clientes, como se mostrou anteriormente no que diz respeito aos 30 grupos do Dow Jones Industrial Index. Na prática, tal é conseguido de forma explícita com a filosofia Seis Sigma, através da definição dos diversos indicadores parciais de desempenho, confirmandose assim as suas enormes virtudes, daí que seja altamente recomendável a sua utilização. Além disso, tenhamos sempre presente que pode ser aplicada com elevado sucesso a todos os tipos de organizações, na sua globalidade, ou então apenas a determinados sectores dentro das empresas, como sucede por exemplo com a manutenção industrial.

Referências bibliográficas [1]

[2] [3] [4]

Carlos Cabrita, “Contribuição para o Entendimento das Bases Probabilísticas e Estatísticas da Filosofia Seis Sigma. Caracterização da Six Sigma Business Scorecard”. Revista Manutenção n.º 101, Abril-Junho de 2009, pág. 1-10; Carlos Cabrita, “Manutenção Industrial Seis Sigma”. Revista Manutenção n.º 102/103, Julho-Dezembro de 2009, pág. 6-12; Praveen Gupta, “Six Sigma Business Scorecard. Ensuring Performance for Profit”. McGraw Hill, New York, 2004, 2007; Mikel Harry, Richard Schroeder, “Six Sigma: The Breakthrough Management Strategy Revolutionizing the World Top Corporations”. Doubleday Publishing Group, New York, 2000.


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