Universidade e indústria: a relação está a mudar?

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Universidade e indústria: a relação está a mudar?

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Hoje recebi um pedido de colaboração que me deixou muito satisfeito e admirado. A pessoa está a pensar num projeto arrojado e leu um artigo meu, já com 4-5 anos. Explicava-me o que queria fazer, perguntava se podia ajudar e enviava-me o artigo em causa. Nunca me tinha acontecido isso, isto é, ser contactado por alguém em Portugal tendo por base um artigo científico. Normalmente era por ter visto algo que fiz ou disse. Será que tudo isto quer dizer que Portugal está a mudar e que o investimento em I&D está, de facto, a mudar a forma de pensar? Gostava de acreditar que sim.

ser o foco de um Ministério da Ciência e Inovação. Recebo solicitações de fora do país de pessoas que leram coisas que escrevi, ou apresentei em conferências, e que pensam que podem ser usadas no seu projeto, na sua empresa, a resolver um problema que têm na produção, ou a realizar algo que têm em mente. Mas é muito raro receber o mesmo tipo de solicitações de pessoas em Portugal. Vou recebendo, mas a frequência e interesse é muito menor. Hoje recebi um pedido de colaboração que me deixou muito satisfeito e admirado. A pessoa está a pensar num projeto arrojado e leu um artigo meu, já com 4-5 anos. Explicava-me o que queria fazer, perguntava se podia ajudar e enviava-me o artigo em causa. Nunca me tinha acontecido isso, isto é, ser contactado por alguém em Portugal tendo por base um artigo científico. Normalmente era por ter visto algo que fiz ou disse. Será que tudo isto quer dizer que Portugal está a mudar e que o investimento em I&D está, de facto, a mudar a forma de pensar? Gostava de acreditar que sim.

© Sharon & Nikki McCutcheon

J. Norberto Pires Prof. da Universidade de Coimbra

Sempre pensei que existia um problema fundamental que impedia o relacionamento entre a universidade e a indústria. E o problema era cultural e resultava do facto de os responsáveis de inovação e processo nas empresas não terem grande respeito pela universidade. Por isso é muito importante conseguir colocar doutorados e mestres na indústria, pois estes percebem a vantagem de uma colaboração efetiva e estão em condições de a explorar e motivar com vantagens mútuas. Isto é muito pouco entendido pelo poder político, que produz raciocínios muito simplistas e de curto-prazo, mas alguns ministros conseguiram ver isto com clareza e realizar medidas e programas que ajudaram um pouco neste objetivo. Um deles foi Mariano Gago, honra lhe seja feita. Um dia em conversa com colegas de outras universidades de fora do país sobre este tema, argumentava que o problema deste relacionamento universidade-indústria podia ser resumido numa frase: “University researchers write papers about their findings, and usually engineers at industry don’t read papers”. Aproximar estes dois mundos deveria


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