O setor brasileiro de Energias Renováveis em 2016

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renovĂĄveis no Brasil

o setor brasileiro de Energias Renovåveis em 2016 O setor renovåvel brasileiro terminou o ano de 2016 com pouca vontade para festejar. Ricardo AndrÊ Guedes Diretor-Geral MEGAJOULE do Brasil Diretor TÊcnico Grupo MEGAJOULE Diretor para o setor da Energia da Câmara Brasil-Portugal (Cearå)

A apenas 3 dias da data agendada para o único leilão de Energia de Reserva, a 19 de dezembro, onde um recorde de mais de 30 GW de projetos solares e eólicos teriam a sua última oportunidade para contratação, neste ano, o governo da União anunciou o cancelamento do certame, gerando perplexidade e indignação no setor. Como resultado, em 2016, não houve qualquer capacidade eólica ou solar contratada para o mercado regulado, algo que não ocorria jå desde 2009. Neste momento podemos ser levados a esquecer que, ao longo dos últimos 7 anos, o setor brasileiro de energia eólica passou de quase inexistente para um dos mais pujantes mercados a nível mundial. Em 2015, enquanto o país atravessava jå esta grave crise política e económica, o mercado de energia eólica crescia 45% (em capacidade instalada), um dos maiores crescimentos mundiais do setor, e atingia a 10.ª posição mundial de capacidade instalada com 8,715 GW (Portugal possui hoje cerca de 5,0 GW instalados). Jå no setor da energia solar fotovoltaica, ainda a dar os seus primeiros passos, as promessas são grandes, sendo que existem cerca de 3,2 GWp contratados no mercado regulado (Portugal possui cerca de 530 MWp, incluindo micro-geração, enquanto que a Austrålia, com a 10.ª maior capacidade instalada, contava com 5 GWp). TambÊm em 2015, o total de investimento proveniente do setor foi superior a 24,8 mil milhþes de reais (5,8 mil milhþes de euros para taxas de dezembro de 2015) e os empregos gerados de, pelo menos, 40 mil. O plano decenal mais recente proposto pela EPE aponta que, atÊ 2024, a capacidade eólica instalada deve ser alargada atÊ 24 GW, representando entre 1 a 2 GW por ano. Jå para o fotovoltaico propþe um aumento atÊ 7 GWp, ao qual se podem adicionar os 4,5 GWp de geração distribuída estimados pela Agência Nacional de Energia ElÊtrica (ANEEL), e que deverão representar entre 1 a 1,5 GW instalados anualmente. Pese embora este percurso e perspetivas de sucesso, o ano de 2016 foi um ano muito diferente para o setor renovåvel brasileiro. Finalmente, inexistentes. O primeiro, e talvez principal impacto, derivou do arrefecimento económico e resultante redução do ritmo de crescimento do consumo de energia elÊtrica. Neste contexto, as distribuidoras têm exercido uma forte pressão junto do governo federal tendo em vista o abrandamento do ritmo de contratação de nova energia ou mesmo de renegociação de contratos existentes. Com efeito terå sido o excesso de energia no sistema o principal motivo para o cancelamento do leilão de 19 de dezembro. 52

Qualquer discussão sobre este tema Ê sempre, certamente, extremamente tÊcnica e complexa. Ainda assim, sendo óbvio que o crescimento atual do consumo Ê hoje diferente do que se estimou no passado, Ê preciso sempre recordar que o Brasil ainda possui uma capacidade de centrais tÊrmicas convencionais (fuel e carvão) equivalente à capacidade eólica e, portanto, superior ao que poderia necessitar e, por outro lado, que contratada se refere a projetos que nunca serão efetivamente concretiza promotores. Em segundo lugar estão os inúmeros atrasos e paragens nas grandes obras de novas linhas de transmissão, que hoje representam um dos maio ! " # regiþes com extremo potencial eólico e solar e para o qual estão planeados a maioria dos projetos. Neste ponto pode-se destacar o caso da falida Abengoa, concessionåria do maior número de quilómetros de linhas de transmissão contratadas, em especial no interior do estado da Bahia, servido por excelentes recursos eólicos e solares e com dezenas de projetos em espera. As concessþes à empresa espanhola encontram-se hoje enredadas por uma disputa judicial que ainda se deverå arrastar por muitos meses. Ainda que o leilão de dezembro se tivesse realizado, nunca contaria com as dezenas de projetos planeados para estados campeþes em geração eólica e solar, como Rio Grande do Norte, Bahia e Rio Grande do Sul, devido à incapacidade de escoamento de energia motivada por estes atrasos nas linhas de transmissão. Num outro campo, a falta de liquidez do mercado nacional tem deixado $ & seus projetos, mesmo junto do Banco Nacional de Desenvolvimento Eco ' *+/:' ! ; <=>? @ # $ &H ! I @ & custos gerados pelos atrasos e multas por atraso no início da operação. Embora muitos agentes do mercado tenham procurado levantar junto das autoridades o tema da indexação dos contratos de energia ao Dólar, o acesso à dívida externa Ê, na pråtica, inviåvel, dada a situação do rating de crÊdito do país e mesmo de muitas das suas empresas. + <=>K *+/:' @ & & V @ & # $ @ & & ter os níveis de alavancagem perto dos 70% para projetos eólicos e 80%


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