II Ciclo de Encontros Regionais de Políticas públicas de Juventude

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II Ciclo de Encontros Regionais de Políticas públicas de Juventude


Governo do Estado de São Paulo José Serra Secretaria de Relações Institucionais José Henrique Reis Lobo Coordenadoria Estadual de Juventude Mariana Montoro Jens Secretaria de Economia e Planejamento Francisco Vidal Luna Fundação Prefeito Faria Lima - Cepam Felipe Soutello

Produção editorial | Gerência de Comunicação e Marketing do Cepam Coordenação | Adriana Caldas Editoração de Texto e Revisão | Eva Célia Barbosa, Marcia Labres (estagiária), Maria Thereza Venuzo, Michele Yogui (estagiária) e Silvia Galles Direção de Arte | Jorge Monge Assistente de Arte | Carlos Papai Estagiários | Ivan Varrichio, Janaína Alves da Silva e Joice Yukie Kariya Tiragem | 800 exemplares


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Š Coordenadoria Estadual de Juventude Coordenadora Mariana Montoro Jens Equipe tÊcnica Carol Godoi Hampariam, Eneida Moratto Lopes, Raquel Cristina Dias Rodrigues, Renata Carolo Nepomuceno e Tathiana Segolim Anselmo

Texto Ana Carolina Moreno (carolmoreno@gmail.com) Renata Carolo Nepomuceno (re.carolo@gmail.com) Tathiana Segolim Anselmo (xtathix@gmail.com)

Sites inspiradores Blogue Novo em Folha http://novoemfolha.folha.blog.uol.com.br Blogue Ponto Media http://ciberjornalismo.com/pontomedia www.museudalinguaportuguesa.com.br

Agradecimentos Paulo Fehlauer (paulofeh@gmail.com) Pedro Markun (pedro@markun.com.br)


Nosso intuito, neste II Ciclo de Encontros Regionais de Políticas Públicas de Juventude, é dar a vocês a oportunidade de conhecerem e se apropriarem das ferramentas oferecidas pelo governo na implementação de políticas públicas para a juventude. O II Ciclo, que está começando, vem para consolidar o trabalho da Coordenadoria Estadual de Juventude e a nossa parceria com o Cepam. O objetivo é ampliar as discussões sobre diversos temas que envolvem a juventude, não só entre os gestores, mas também entre os jovens de todo o Estado. Neste ano, os encontros serão ampliados para 30, com dois dias de atividades em cada região, ficando ainda mais abrangentes. Também serão realizadas oficinas de comunicação para que vocês se tornem correspondentes regionais e divulguem as iniciativas de sua cidade no Portal da Juventude Paulista. É importante saber que o governo de São Paulo, num projeto inédito, por meio de um convênio entre a Coordenadoria Estadual de Juventude e o Centro de Estudos de Políticas Públicas (Cepp), está concluindo o mapeamento de iniciativas de arte e cultura feitas por jovens ou para os jovens, em todo o Estado. O resultado dessa pesquisa proporcionará o acesso a inúmeras informações e projetos culturais voltados para os mais de dez milhões de pessoas como vocês. Estamos caminhando no rumo certo. A realização deste II Ciclo é um sinal de que as ações estão direcionadas para um público cada vez mais interessado em debater e difundir as políticas públicas de juventude. O governo quer fazer de você um colaborador atuante e multiplicador das ações em sua cidade, ampliando a rede jovem paulista no Estado. Sucesso! José Henrique Reis Lobo secretário de Relações Institucionais



O público jovem paulista é numeroso e diverso. Há algumas décadas, esse grupo populacional passou a demandar políticas públicas específicas nas áreas de saúde, educação, trabalho, esporte, cultura, entre outras. No âmbito do governo do Estado, a resposta veio de diferentes maneiras, por meio de programas e ações elaboradas e gerenciadas por suas várias secretarias. No entanto, a Coordenadoria Estadual de Programas para a Juventude constatou que as informações sobre as ações do governo do Estado voltadas para os jovens não se encontravam sistematizadas, organizadas e centralizadas. Cada secretaria disponibilizava, à sua maneira, os conteúdos que consideravam necessários, sem que houvesse um lugar em que estivessem reunidos e divididos por temas de interesse. Esse fato levou à construção de um canal de comunicação que permitisse ao jovem conhecer seus direitos e saber como acessar as inúmeras políticas públicas destinadas a ele, transformando as garantias em verdadeiro exercício. Essa ferramenta inovadora e interativa ganhou formas com o Portal da Juventude Paulista (www. juventude.sp.gov.br). O primeiro objetivo – e desafio – foi reunir em um só lugar todas as informações de interesse do público jovem. Depois, criar condições para que o portal fosse um espaço aberto a todos, que aproximasse grupos e indivíduos interessados em aprofundar a discussão sobre a juventude, além de possibilitar a participação de todos. Em 2009, ao investir nesses objetivos e no seu aprimoramento, surgiu a necessidade de ampliar o número de pessoas que alimentam o portal diariamente. A ideia central desse novo desafio é permitir que não só os profissionais da Coordenadoria de Juventude mantenham o site funcionando, mas que o próprio jovem cidadão seja o ator/protagonista desse espaço. Juntou-se, ao desejo de proporcionar maior participação do jovem no portal, o diagnóstico do I Ciclo de Encontros Regionais de Juventude, realizado em parceria com o Cepam, nas 15 Regiões Administrativas do Estado, no primeiro semestre de 2008, que apontou a necessidade de maior aproximação e diálogo (in loco) com os jovens de todo o Estado. Dessa forma, eles seriam apresentados à coordenadoria e ao Portal da Juventude e convidados a se tornar correspondentes regionais do mesmo.


No entanto, não bastaria criar um espaço virtual e esperar que o público fosse até ele. Era fundamental participar dos espaços já existentes, ter contato com o público e agregar conteúdo ao que já estava sendo produzido sobre o tema. Era preciso conhecer a fundo as demandas e realidades dos jovens, bem como as atuais ferramentas que utilizam para se relacionar com o mundo: as redes sociais interativas. Nasceu, então, a proposta de realizar, mais uma vez com o Cepam, o II Ciclo de Encontros Regionais de Juventude, com dois dias de duração, e um integralmente dedicado aos jovens. Para que a ideia pudesse sair do papel, contamos com a colaboração de alguns parceiros que atuam com a juventude na cidade de São Paulo. Foram eles: Artigo 19, Instituto Sala 5, Museu da Pessoa, Onda Jovem e Projeto/Revista Viração. A eles, o nosso muito obrigado: todos cooperaram para a elaboração e finalização do formato desses encontros com os jovens paulistas. Certamente, o contato com os jovens das 15 Regiões Administrativas do Estado de São Paulo, que ocorrerá durante o II Ciclo de Encontros Regionais, contribuirá para o aperfeiçoamento dos programas do Poder Público estadual voltados à juventude. Além disso, com esse projeto, o Portal da Juventude Paulista passará de mero endereço virtual a aglutinador de pessoas interessadas no tema e terá um conteúdo cada vez mais interessante, dinâmico, informativo e interativo. Esperamos que este primeiro grupo de jovens participantes não seja o único e que se constitua numa rede interligada e atuante; e que o portal seja, de fato, da juventude paulista. Mariana Montoro Jens Coordenadora Estadual de Juventude Felipe Soutello Presidente do Cepam


APRESENTAÇÃO PREFÁCIO INTRODUÇÃO.............................................................................11 1. MATERIAL DE APOIO PARA OS CORRESPONDENTES REGIONAIS DO PORTAL DA JUVENTUDE 1.1 Histórico da Coordenadoria de Juventude.....................................15 1.2 Portal da Juventude Paulista..........................................................16 1.3 Rede de Correspondentes Regionais do Portal da Juventude.......20 1.4 Perguntas mais Frequentes............................................................21 2. SEJA VOCÊ O DONO DO SEU ESPAÇO!.....................................25 3. VENDO O MUNDO COM OUTROS OLHOS.................................31 3.1 O que Pode Virar uma Notícia .......................................................31 3.2 O Que Faz um Jornalista . ..............................................................32 4. CONSTRUINDO UMA HISTÓRIA 4.1 Planejamento: Da Pauta à Publicação............................................37 4.2 Estrutura: O que É bom não Faltar no seu Texto.............................38 5. ESTILOS DE TEXTO 5.1 Introdução.......................................................................................43 5.2 Reportagem Factual........................................................................43 5.3 Reportagem Especial......................................................................45 5.4 Retranca / Personagem .................................................................48 5.5 Entrevista........................................................................................49 5.6 Artigo..............................................................................................53 5.7 Editorial...........................................................................................56 5.8 Crônica............................................................................................58 6. CONHEÇA A NOVA gramática 6.1 Reforma Ortográfica........................................................................63 6.2 Alguns Erros Mais Comuns.............................................................68



No mundo atual, o acesso à informação ocorre em uma velocidade cada vez maior. A rápida evolução das tecnologias digitais de comunicação tem possibilitado a promoção de inéditos patamares de interação entre seus usuários. As novidades aparecem e aproximam todos cada vez mais! O público que mais navega no ritmo dessas mudanças é justamente o jovem. Porém, uma lacuna ainda não foi suprida: há uma distância entre o que o governo oferece – programas, ações e eventos – e aquilo que o jovem conhece e utiliza. Para solucionar este problema, a Coordenadoria Estadual de Juventude resolveu criar o Portal da Juventude Paulista, site que reúne diversas informações de interesse do público jovem em um só lugar. Mas, apenas informar não é o suficiente. É imprescindível que os jovens possam alimentar e fortalecer esse espaço virtual, já que são atores desse mundo de conexões cada vez mais velozes. Pensando em sensibilizar esse público para que também participe, envie informações e seja dono desse espaço, surgiu o projeto de capacitação dos correspondentes regionais do Portal, que acontecerá durante o II Ciclo de Encontros Regionais de Juventude, no qual o jovem será apresentado ao conceito de correspondentes regionais e convidado e orientado a participar dessa rede de comunicadores a fim de potencializar sua atuação. O material a seguir foi pensado e criado para auxiliar os jovens nas oficinas que serão realizadas em suas respectivas regiões. Nele, estão descritos o histórico da coordenadoria, sua missão, seus desafios, o Portal da Juventude, a rede de correspondentes regionais e uma série de dicas para quem pretende encarar o desafio de ser um interlocutor com o Estado e porta-voz de seu município.


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1. MATERIAL DE APOIO PARA OS CORRESPONDENTES REGIONAIS DO PORTAL DA JUVENTUDE PAULISTA


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CORRESPONDENTES OS ARA P O AULISTA DE APOI UVENTUDE P J DA 1. MATERIAL DO PORTAL REGIONAIS .br

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1.1 Histórico da Coordenadoria de Juventude A Coordenadoria de Juventude foi criada dentro do governo do Estado devido à necessidade de um olhar diferenciado e de uma definição de prioridades e abordagens específicas na condução das políticas públicas voltadas aos jovens. Desde sua criação, até o ano de 2006, a coordenadoria fazia parte da Secretaria da Juventude, Esporte e Lazer. Era uma instância realizadora de ações voltadas diretamente à população jovem dessa faixa etária. No entanto, em 2007, ocorreu a sua transferência, da Secretaria do Esporte para a recém-criada Secretaria de Relações Institucionais. Como decorrência, veio também uma atribuição diferente da anterior: a coordenadoria passou a constituir uma instância articuladora das diferentes secretarias e gestores de políticas públicas relacionadas à juventude. Além disso, foi também a partir do início de 2007 que a faixa etária que compreende a juventude foi expandida de 15 a 24 anos para 15 a 29 anos. De fato, a decisão de colocar a coordenadoria entre as competências da Secretaria de Relações Institucionais diz muito a respeito do que se planeja para ela, para o jovem no Estado de São Paulo e para a sociedade paulista: reafirmar que há uma preocupação destacada com a juventude, mas que dela não se tratará isoladamente. A mudança entre secretarias pautou-se na compreensão de que a juventude é um assunto transversal a todos os demais temas de interesse da população e do próprio governo. Colocada em uma posição de articulação, a coordenadoria tem sua atuação potencializada: promove condições para que as mais diversas políticas públicas, relacionadas a diferentes temas, atendam às particularidades do público jovem – tanto em suas características e potencialidades, como em suas necessidades.


Vale ressaltar que os jovens são um público estrategicamente muito importante em um cenário de mobilização social, desenvolvimento e mudança, pois aqueles que têm entre 15 e 29 anos estão assumindo as rédeas da sua vida e decidindo quem vão ser para si, para a família e para o mundo.

Missão Contribuir para a articulação, eficácia e eficiência das políticas públicas voltadas à população jovem em aplicação no território do Estado de São Paulo.

Desafios As políticas públicas de juventude estão relacionadas diretamente com as áreas de educação, saúde, emprego, desenvolvimento social, habitação, justiça, entre outras. Assim, não há política pública de juventude que não encontre um elo com temas já previstos pelo governo para a sociedade. No entanto, quando as diversas políticas não são executadas de forma complementar e articulada, corre-se o risco de gerar tanto a sobreposição de políticas públicas quanto lacunas no atendimento. Por isso a necessidade de um olhar transversal. Apesar dos inúmeros avanços nessa área, ainda há muitos desafios a serem superados. O principal deles é a escassez de canais de comunicação que permitam que o jovem conheça seus direitos e tenha acesso às políticas públicas, desenvolvidas por e para ele. Pensando nisso, o governo do Estado de São Paulo criou, por meio da Coordenadoria Estadual de Juventude, uma ferramenta inovadora para se comunicar com o jovem paulista: o Portal da Juventude Paulista (www.juventude.sp.gov.br) e para garantir sua constante atualização de forma cada vez mais interativa decidiu implantar o projeto Correspondentes Regionais do Portal da Juventude.

1.2 Portal da Juventude Paulista O portal foi lançado em junho de 2008 com o objetivo de estreitar as relações do governo do Estado de São Paulo com você que reside, trabalha e estuda em São Paulo. Trata-se de um website com formato e linguagem diferentes das demais páginas oficiais. No portal, você encontra as mais diversas informações relacionadas ao universo juvenil e divididas nos links descritos a seguir.

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Institucional Histórico – conta a trajetória e a atuação da Coordenadoria Estadual de Juventude, desde sua criação até os dias de hoje. Missão – explica os objetivos da coordenadoria. Equipe – apresenta “quem é quem” na coordenadoria e quais são suas responsabilidades. Prestando contas – possibilita o acesso aos relatórios anuais de atividades da coordenadoria. Conheça nossos parceiros – links e informações de todos aqueles que nos apoiam, nos ajudam e fazem a diferença. Programas – apresenta e explica os diferentes programas oferecidos pelo governo do Estado para o jovem. Reúne informações sobre as Secretarias de Saúde, de Educação, do Trabalho, entre outras. Rede de gestores – um espaço de referência para quem pensa e executa as políticas públicas de juventude nos diversos municípios paulistas. Há leis e materiais de interesse que auxiliam os gestores municipais nas atividades e desafios cotidianos.

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Notícias Últimas notícias – todas as informações que foram publicadas no portal estão organizadas e divididas conforme a seção à qual a notícia pertence, com acesso facilitado por temas. Fotos – galeria dos diversos eventos realizados pela coordenadoria ou por nossos parceiros (fóruns, encontros, reuniões, debates, etc.).

Agenda Contém informações sobre todos os eventos que vão rolar nas 15 regiões do Estado, além de dicas de passeios, encontros, reuniões, oficinas, data de inscrição para vestibulares, etc.

Fórum Reúne todos os fóruns criados no portal. Cada fórum é independente e pode abordar diferentes assuntos e/ou temas. Por ser aberto, todos podem participar dando opiniões, sugestões e fazendo comentários. Você pode, por exemplo, criar um grupo de discussões da sua cidade! Já imaginou que legal? Visite! Participe!

Blogue A seção tem o objetivo de falar, informalmente, sobre o que está rolando na coordenadoria: reuniões, eventos, expectativas, aniversários na equipe, etc.

Fale conosco e juventude@sp.gov.br O Fale Conosco é o canal direto com a coordenadoria. Você pode utilizá-lo para enviar um texto de sua autoria para ser publicado no portal, uma matéria para a seção Minha Cidade, informações sobre um evento bacana que você ficou sabendo e tudo o que estiver relacionado ao universo jovem. Use e abuse dessa ferramenta, porque é com ela que vamos conseguir, cada vez mais, diminuir as distâncias geográficas e melhorar o portal!

As cinco seções O portal contém cinco seções, para facilitar o seu acesso: Divirta-se, Estude, Trabalhe, Viva com Saúde e Faça Política.

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Saiba um pouco mais sobre cada uma delas.

Divirta-se – informações sobre lazer, shows, exposições, cinema, oficinas e mais um monte de coisas bacanas que rolam diariamente em todo o Estado! Estude – dicas legais sobre escolas, cursos e vestibular. Além de manter você informado sobre datas de inscrição, cursos técnicos, escolas, universidades... Trabalhe – é o lugar certo para você buscar informações sobre o primeiro emprego, concursos abertos, empresas e ONGs que oferecem estágio profissionalizante e tudo mais! Viva com saúde – saiba o que fazer para evitar os problemas de saúde que mais afetam o jovem hoje e encontre dicas de como viver bem e com saúde! Faça política – você não acha importante participar da melhoria das políticas públicas de juventude da sua cidade? Não acha legal ajudar a não poluir o meio ambiente? Quer montar um grêmio no colégio? Fique ligado! Aqui é o lugar para tirar todas as suas dúvidas e ter ideias bacanas para ajudar a mudar o mundo! E se você pensa que para por aí, surpreenda-se: em todas as seções você encontra o + a Fundo e o Comigo Foi Assim. São entrevistas com pessoas que falam um pouco mais sobre determinado assunto ou contam experiências pessoais. Você acha que acabou? Então prepare-se. Fora isso, ainda tem a seção Minha Cidade que a coordenadoria criou para garantir um espaço democrático no qual as notícias de todos os municípios possam aparecer! Essa seção funciona da seguinte maneira: são 15 páginas, uma de cada Região Administrativa do Estado, com mapas, links, dados e notícias locais. E cada página regional ainda disponibiliza um link exclusivo para cada cidade da região! E quer saber o melhor de tudo isso? É que você encontra todas essas informações em um só lugar (www.juventude.sp.gov.br)!

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1.3 Rede de Correspondentes Regionais do Portal da Juventude Você também pode colaborar para manter o portal atualizado enviando textos, novidades, fotos e tudo que achar importante ser divulgado. A ideia do Portal da Juventude é ser um espaço público e contar com a participação de todos. Qualquer um pode contribuir e divulgar notícias, desde que tenha conteúdo direcionado ao jovem. O desejo da Coordenadoria de Juventude é que o conteúdo possa ser produzido por vocês, jovens paulistas, cidadãos ativos, participativos e comprometidos com o mundo à sua volta. Os jovens que contribuírem constantemente para a manutenção do Portal formarão a rede de Correspondentes Regionais do Portal da Juventude. Este material que você tem em mãos faz parte do ciclo de capacitação de Correspondentes Regionais do Portal da Juventude. Recebê-lo significa que você foi escolhido na sua cidade e agora passará por uma capacitação especial da equipe da Coordenadoria Estadual de Programa para a Juventude. Aproveite! Tire suas dúvidas e comece hoje mesmo a mandar textos, fotos e vídeos. Ah! Se você tem um amigo ou conhecido que não está participando da capacitação, mas que tem interesse em ser um Correspondente Regional, peça para ele entrar em contato com a gente por e-mail (juventude@sp.gov.br).

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o de co nt rib uir co m alqu er pe ss oa po qu e qu a bi sa cê Vo tícia s? Um do s di vulg aç ão de no na e ud nt ve Ju Po rtal da is ta , vo cê , jo ve m paul paço é es tim ular es e ss de os tiv je ob ss a so cied ad e. a mais at ivo na no nd ai l pe pa um r a exer ce a, di vulg ue! Participe , co ns tru

1.4 PERGUNTAS MAIS FREQUENTES Que é a rede de correspondentes regionais? É um grupo de jovens que escreve regularmente para o Portal da Juventude. Eles compartilham o que veem, sentem e percebem em suas cidades. Você pode ser um Correspondente Regional enviando reportagens, artigos, depoimentos, entrevistas, fotos, vídeos, poesias, etc. Em suma, o Correspondente Regional é qualquer jovem que se interessa em mostrar sua cara, sua opinião e sua cidade. Queremos que esta seja uma rede permanente de encontro e construção!

por que ser um correspondente regional? Você terá sua voz ampliada por um veículo que é acessado mensalmente por milhares de pessoas. Além disso, a rede de correspondentes pretende ser um espaço de participação, troca e diálogo entre os jovens de todos os cantos do Estado. Você poderá saber o que acontece com jovens de outros municípios, realizar intercâmbios diversos e divulgar sua opinião sobre informações e acontecimentos.

como funciona? É fácil. Você só precisa enviar o material para publicarmos no portal. Isso pode ser feito por e-mail (juventude@sp.gov.br). Além disso, você pode escrever seu texto em qualquer ferramenta da Internet e colocar a tag juventudesp – automaticamente, esse conteúdo chegará até nós. Não se preocupe em seguir um padrão, o que nos interessa é conhecer e estarmos próximos de você e da sua cidade. Você não vai ficar fora dessa, vai?

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2. SEJA VOCÊ O DONO DO SEU ESPAÇO!


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! SEU ESPAÇO DO DONO CÊ O 2. SEJA VO ov.br ude.sp.g

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Mostrar sua cara, falar o que você pensa, expor-se, pode dar um frio na barriga... Mas é preciso superar essa primeira sensação e ir em frente. Você pode começar fazendo um blogue pessoal! Existem vários sites que permitem fazê-lo gratuitamente. Alguns deles são: www.wordpress.com www.blogspot.com www.blogger.com.br

Cada um deles disponibiliza ferramentas diferentes para você usar. Há links para sites de amigos, galerias de fotos e integração entre vários sites. O mais importante é que você decide sobre o que será publicado e como vai fazê-lo. Muitas pessoas criaram seus blogues (quem escreve adora!) e algumas ficaram até famosas. Apesar de não ter a abrangência de um jornal de circulação nacional ou um noticiário de televisão, seu blogue vai ser lido por alguém em algum lugar e a informação vai ser passada adiante. Portanto, arregace as mangas, descubra histórias legais e comece a produzir! Veja a seguir os depoimentos de duas pessoas que criaram suas próprias páginas e começaram a escrever. Uma delas é o conhecido Marcelo Tas e o outro é o estagiário da Coordenadoria de Juventude, o Bryan!


Marcelo Tas Marcelo Tristão Athayde de Souza, mais conhecido pelo pseudônimo de Marcelo Tas, nasceu em Ituverava, no dia 10 de novembro de 1959. Ele é diretor, apresentador, escritor e roteirista de televisão.

Por que ter um blogue? Tas – Comecei por puro instinto. Para testar minhas ideias em público. Hoje tornou-se o meu principal trabalho. Tenho um contrato com a UOL, atualizo diariamente e produzo vídeos exclusivos para serem postados no blogue.

A Internet é um instrumento de democratização ou de exclusão? Tas – A Internet é só ferramenta. Pode ser um excelente auxílio na democratização do conhecimento. É ágil, fácil de usar, aberta... Mas, sozinha, a Internet não tem poderes mágicos. Não resolve a criminosa desigualdade social instalada no País há séculos.

Você lida com diversas mídias. Qual é a diferença da Internet para as outras? Tas – Velocidade e interação. Ao contrário da TV, do rádio e dos jornais, por exemplo, a Internet é uma mídia em que você vai até ela. Você tem participação ativa. Escolhe onde clicar. E tem a capacidade de emitir sua opinião, interagir. É uma revolução brutal que ainda não soubemos assimilar nem valorizar. Acesse: marcelotas.blog.uol.com.br

Bryan Bryan Jonnes cursa Jornalismo, é um futuro personal stylist e produtor de moda que adora andar sem rumo pelas ruas de São Paulo. Criou o blogue para falar sobre o que quisesse e para discutir ideias.

Por que ter um blogue? BJ – Para estar em contato com a web, conhecer pessoas diferentes, falar o que penso, ser ouvido e treinar o que aprendo no curso de Jornalismo.

A Internet é um instrumento de democratização ou de exclusão? BJ – Democratização. Porque rompe barreiras e fronteiras, faz com que as pessoas se libertem de modismos impostos pela grande mídia e oferece um espaço no qual qualquer pessoa pode escrever e ter sua própria página.

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Que você acha da criação de um blogue para os correspondentes regionais do Portal da Juventude? BJ – Super interessante! Isso fará a gente entender mais o perfil do jovem paulista e nos aproximar de tudo aquilo que rola em todos os cantos do Estado. Acesse: http://bryanjonnes.wordpress.com/

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2. SEJA VOCÊ O DONO DO SEU ESPAÇO!

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3. VENDO O MUNDO COM OUTROS OLHOS


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Para você, que pretende ser um Correspondente Regional do Portal da Juventude, escrever matérias ou, quem sabe, até um dia, seguir a carreira de jornalista, aí vão algumas dicas valiosas! Mais do que preparar você para ser um Correspondente Regional, as dicas apresentadas a seguir tem a intenção de ajudá-lo a produzir e divulgar suas ideias para o mundo. Por isso, fique à vontade para usar o conteúdo a seguir da maneira que achar melhor. Aliás, você pode repassar essas informações do jeito que elas estão ou criar sua própria versão!

3.1 O que Pode Virar uma Notícia A notícia é produzida pelo jornalista e consumida pelo público. Transmitir uma notícia quer dizer traduzir um fato em uma linguagem acessível para quem não viu o fato acontecer de perto. Como há bilhões de pessoas no mundo e inúmeros fatos que ocorrem diariamente, deve existir um critério de seleção para definir quais deles serão divulgados para o resto da população, ou seja, quais virarão notícia. Os principais critérios são: Se o fato é novo – uma coisa que nunca aconteceu antes sempre ganha mais importância do que um fato corriqueiro (exemplo: um jovem da sua cidade ganhou o campeonato estadual). Se o fato é útil – assuntos que afetam a população diretamente sempre são de interesse dos leitores; quanto mais efeito o fato tem, maior a relevância (exemplo: prorrogaram a data para a inscrição no vestibular). Se o fato está próximo dos leitores – cada jornal tem um tipo de público e, portanto, esse fato pode ou não ser notícia (exemplo: um buraco que surgiu em uma rua da sua cidade pode ser noticiado em um jornal do município, mas não deve ir para o Jornal Nacional).


Se o fato acontece com uma personalidade – alguns fatos só viram notícia porque envolvem pessoas famosas (exemplo: muitas mulheres enfrentam o câncer todos os anos, mas, quando ocorreu com a atriz Patrícia Pillar, os jornais noticiaram).

3.2 O Que Faz um Jornalista Se, a partir de agora, você vai escrever, publicar sua opinião e/ou os fatos que considera relevante, anote algumas dicas. A primeira regra importante é o compromisso com a verdade. Em hipótese alguma uma informação falsa deve entrar no texto jornalístico. É claro que errar é humano, e, por isso, um dos verbos importantes da sua lista de tarefas é o CHECAR. Cheque sempre o que realmente aconteceu, o local exato, a data do evento e o número de pessoas envolvidas. O texto nunca deve ser publicado, se ainda há alguma dúvida. Para acabar com todos os pontos de interrogação, o único jeito é perguntar para quem sabe. Pergunte sempre! Outra função obrigatória de quem quer ser jornalista é colocar o público em primeiro lugar. Antes de agradar a algum chefe ou a quem estiver entrevistando, é preciso pensar nos fatos mais relevantes para quem vai ler o texto. Isso não quer dizer que as outras pessoas envolvidas devam ser desconsideradas. Quem concede entrevista merece o respeito de ter suas frases publicadas sem edição ou alteração de sentido, ainda que não haja espaço para tudo o que foi dito. Aliás, não é raro que alguém entre na justiça contra um jornal pela publicação de informações incorretas. Para evitar esse tipo de problema, recomendamos que você sempre tenha um bloco de notas e caneta em mãos, para anotar tudo o que as pessoas dizem durante a entrevista. Quando for falar com alguma autoridade, ou sobre um assunto mais sério, é sempre bom, se possível, levar um gravador.

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4. CONSTRUINDO UMA HISTÓRIA


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IA UMA HISTÓR NDO I 4. CONSTRU .br

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4.1 Planejamento: Da Pauta à Publicação O processo de produção de uma boa matéria tem várias etapas e começa de uma maneira bem simples: a partir da observação. Treinar o olhar para estar sempre atento(a) à sociedade e, assim, perceber quando há uma boa história a ser contada. Veja quais são as etapas para preparar uma matéria jornalística: Pauta – é a ideia inicial, que guiará todo o processo de coleta de informações. (Exemplo: quero saber se o crescimento econômico está influenciando no índice de gravidez na adolescência.) Apuração – é a parte “fisicamente” mais trabalhosa. O jornalista precisa ir para as ruas, pesquisar dados, procurar especialistas. Afinal, sua função não é se basear no “achismo” para contar uma história, mas sim traduzir as informações apuradas de modo que os leitores possam compreendê-las. (Exemplo: Para descobrir se minha pauta é sólida, vou buscar um gráfico do crescimento econômico nos últimos anos e compará-lo com o índice de gravidez na adolescência no mesmo período; depois, posso entrevistar alguma médica ginecologista para falar sobre essa comparação e, além disso, posso buscar casos de outros países para ver se esse é um comportamento mundial.) Redação – é a produção do texto e segue as regras do estilo de texto escolhido. Para muitas pessoas, essa é a parte mais trabalhosa – o problema é o famoso “bloqueio mental”. É importante, nesse momento, tentar organizar todas as informações e definir a importância e a relação que cada uma tem com as demais. Assim, fica mais fácil “costurar” um texto ao mesmo tempo informativo, coerente e agradável de ler. No texto, misturamos as informações que as fontes nos dão: algumas escrevemos usando nossas próprias palavras, outras colocamos entre aspas, seguindo exatamente o que o(a) entrevistado(a) disse. (Exemplo: Começo mostrando os números principais no lide e a justificativa principal dos especialistas; depois posso contar a história de alguma adolescente cuja mãe deu à luz enquanto também era adolescente, comparando as gerações; fornecer mais dados, baseados, inclusive, no padrão mundial, e finalizar com informações sobre prevenção à gravidez e os riscos de se ter filhos muito cedo.)


Edição – muita gente pensa que basta só escrever, mas, na verdade, não existe texto que não possa ser melhorado depois de relido. Nessa etapa é que você vai ver se o texto está longo ou curto demais, se há muitas palavras repetidas, se contém algum erro de digitação ou gramática, se faz sentido, se as informações e números estão corretos, etc. Há sempre o que mudar durante a edição! A atenção aos detalhes contribui, e muito, para que o produto final seja ainda melhor.

ut as in te re ss an Co mo de sc ob rir pa

te s qu e po de m vir

ar ma té ria s?

mais su nt os qu e vo cê iso le r so br e os as s , ac es se os meio cr ev er. Para is so es de ia ar st go e te m in te re ss e qu e rádio, te vê , et c.) re vis ta s, jo rn ai s, s, te (si o çã ca ni de co mu fiq ue at en to ao tic a. Além di ss o, ís al rn jo de da ili te nh am cr edib balh o, irr o, es cola ou tra cidade , em se u ba a su em ce te on qu e ac r no ticiado – ou nt e vale a pe na se me al re e qu o o nd se mp re av alia um cê , ma s, sim , para te ap en as para vo an ss re te in é o seja , nã pe ss oa s. gr an de gr up o de

r, é pr ec Em pr im eiro lu ga

4.2 Estrutura: O que É Bom Não Faltar no Seu Texto O lide que citamos anteriormente é muito comum porque já traz consigo muitas informações essenciais para um texto informativo. Mas é necessário também lembrar de outros detalhes que não podem faltar: Fonte – nunca escreva sobre algo do qual você apenas ouviu falar. É necessário comprovar um fato para poder publicá-lo sem correr o risco de prejudicar alguém. Se sua amiga disse que a vendinha da esquina foi assaltada, vá até o dono da venda para confirmar a informação antes de escrever sobre a violência no bairro. O outro lado – alguém denunciou uma irregularidade dentro da sua escola? Ouça a diretora também antes de publicar a notícia. Mesmo que ela se negue a responder às perguntas, é sua obrigação ceder espaço para que ela se explique ou prove que a denúncia é falsa, se for o caso.

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Fatos – pensa que esse item não deveria estar aqui? Pois reflita novamente: às vezes, é muito comum escolhermos um assunto que daria uma boa reportagem, mas não conseguirmos falar objetivamente sobre ele. Parece que está na ponta da língua, mas falta alguma coisa... Nesse caso, falta o fato. O dado, o número, o documento, o evento. É preciso dar um jeito de traduzir essa ideia vaga em algo concreto e real para transmitir ao leitor. Imagens – a importância de uma imagem vai além do clichê sobre as “mil palavras”. Às vezes, uma matéria só é publicada se há uma foto comprovando aquilo que o repórter está relatando. Sem contar que as fotografias ajudam a atrair a atenção dos leitores e suavizam a leitura. Uma imagem sempre deve levar consigo uma legenda que explique o que está retratado, de modo a acrescentar informações, e não meramente descrever o que qualquer um pode ver com os próprios olhos.

4. CONSTRUINDO UMA HISTÓRIA

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5. ESTILOS DE TEXTO


II Ciclo de Encontros Regionais de Políticas públicas de Juventude


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DE TEXTO LOS I EST . 5 .br

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5.1 Introdução Abra o jornal e vá folheando as páginas. Se você prestar atenção, verá que cada uma tem um tipo de texto diferente. Em algumas (geralmente nas primeiras páginas), não há assinatura do texto e o conteúdo é bastante opinativo. Em outras, várias notícias dividem o espaço. Algumas possuem chamadas em letras maiores, seguidas de notas menores ou continuações da matéria principal e apresentam a assinatura do(a) repórter. O conteúdo, nesses casos, tende a ser o mais informativo e imparcial possível. Já nas páginas de cultura ou esporte, há colunas com a foto do autor que escreve regularmente naquele espaço, com uma linguagem mais informal e valorizando a interatividade com os leitores. Nesses casos, há mais adjetivos do que nas páginas informativas e até mesmo peças de ficção! Cada estilo de texto serve para um propósito diferente, porque há várias maneiras de transmitir uma informação para alguém. Todos têm seus limites e suas regras, afinal, não é possível escrever uma notícia factual, ou seja, apoiada em fatos, com mais opinião do que informação, por exemplo. A seguir, conheça os estilos mais comuns encontrados nos veículos de comunicação.

5.2 Reportagem Factual É o estilo de texto mais fiel ao princípio básico do jornalismo: reportar fatos. A reportagem factual também é conhecida como notícia, matéria ou nota. Pode ter vários tamanhos e abordar diversos temas (como cidades, polícia, economia, esporte, cultura, etc.). A forma mais tradicional de começar uma reportagem factual é pelo “lide”, aquele primeiro parágrafo que resume as informações principais do resto do texto. Para se montar um lide, o jeito mais fácil é responder às seguintes perguntas: O quê? Quem? Quando? Como? Onde? Por quê?.


Essas indagações, quando esclarecidas, já apresentam uma ideia geral do que aconteceu, quem esteve envolvido, o motivo por tudo isso ter acontecido e, ainda, situa o fato no seu local e hora. Esse tipo de construção também é conhecido por “pirâmide invertida”, já que leva as principais informações no início, para depois seguir com os detalhes menos relevantes, mas ainda assim de interesse do leitor. O texto é construído de forma a prender a atenção de quem começou a ler e despertar seu interesse para que vá até o final da matéria. Mas também serve para a pessoa, que não puder ler tudo, ao menos ser informada do que é mais importante saber. Veja um exemplo de reportagem factual descrita a seguir.

Título: Menina é atropelada na ZL Autores: Ana Carolina Moreno, Elisa Estronioli, Oswaldo Faustino Veículo: Jornal da Tarde (30 de dezembro de 2007) O atropelamento de uma menina de 5 anos na Avenida Aguiar da Beira, em Haia do Carrão, região do Aricanduva, na zona leste, provocou um protesto dos vizinhos por melhores condições de segurança para os pedestres. O ato acabou em confronto com a Polícia Militar. Luana Silva Vieira, 5 anos, chegou a ser socorrida no Pronto-Socorro do Jardim Iva, mas não resistiu. O acidente aconteceu às 19h15 de anteontem. A menina, que nunca era autorizada a cruzar a avenida sem a ajuda de adultos, acabou saindo de casa com um amigo, também de 5 anos, para comprar balas no mercado. “Estava esquentando a janta e achava que minha filha de 15 anos estava cuidando da Luana”, contou a mãe da vítima, Maria Leonice da Silva Marques, 42. Luana ia na frente do amigo e não chegou ao fim das seis pistas da avenida. Seu amigo nada sofreu. Ela foi atingida por um Gol branco, guiado por Flávio Rodrigues Siqueira, 24 anos. Segundo testemunhas, ele dirigia acima dos 60 km/h permitidos e, ao perceber a aglomeração de pessoas, fugiu sem prestar socorro. Horas depois, a PM o prendeu em casa, pois vizinhos anotaram a placa do carro. Ele foi indiciado por homicídio culposo no 41o DP. De acordo com os moradores do bairro, Luana seria a quarta pessoa a morrer por causa do abuso de velocidade dos motoristas na avenida, em 2007. Um ciclista de

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70 anos e duas crianças, uma delas de 4 anos, também fariam parte das estatísticas. Revoltados, às 22h de sexta-feira, os vizinhos fecharam um sentido da via com pneus e atearam fogo. O Corpo de Bombeiros foi acionado para apagar as chamas e coube aos policiais militares dispersar a multidão. Mas, segundo o pastor Renato da Silva, a PM levou pedradas de alguns jovens e revidou com balas de borracha e bombas de gás de efeito moral, que acabaram atingindo até quem não protestava. “Jogaram bombas na rua e o gás entrou nas casas”, contou a irmã de Luana, Karine, 18 anos, que ficou dentro de casa. A vizinha dela, Sueli Soares de Jesus, 42, disse que seu marido foi atingido nos olhos pelo gás, mas que a família foi impedida pela PM de sair da casa. “Tivemos que jogar água com açúcar nos olhos dele”, contou. Ontem, algumas crianças do bairro exibiam, além das balas de borracha e cápsulas de bomba de gás que restaram do confronto, cicatrizes de ferimentos no rosto e nas pernas. “Isso dói muito”, contou um menino de 10 anos atingido na pálpebra esquerda. A Polícia Militar não comentou a operação.

Ruas fechadas Os motoristas que passavam pela Avenida Aguiar da Beira ontem de manhã não tinham alternativa senão diminuir a velocidade, por causa das viaturas policiais e das dezenas de moradores que ocuparam a via depois do enterro de Luana, às 11h, na Vila Formosa. “Só quem não sabe o que aconteceu passa rápido agora”, contou um vizinho. Às 14h, a avenida foi interditada pelos moradores em três trechos, e permanecia fechada às 19h de ontem. Desta vez, a Polícia Militar, ficou apenas olhando.

5.3 Reportagem Especial Dentro de uma redação de jornal, os repórteres dividem suas tarefas em textos que precisam escrever “para o dia” e os “especiais”. Os primeiros são aqueles que abordam fatos – corriqueiros ou não – considerados “quentes”, ou seja, precisam ser publicados naquele dia. Já as matérias especiais também falam de assuntos quentes, mas contêm uma profundidade que não pode ser apurada em apenas um dia. Para esse tipo de texto, o jornalista pesquisa fontes, entrevista diversos especialistas, procura números atualizados (e, de preferência, inéditos), busca personagens, marca fotos, prepara gráficos mais elaborados para ilustrar sua reportagem e dispõe de mais espaço para escrever o texto principal e as retrancas (veja sobre elas mais adiante).

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Na maioria das vezes, a reportagem especial é publicada durante os finais de semana no jornal, quando o leitor tem mais tempo, interesse e concentração para ler sobre um tema. Veja abaixo um exemplo desse estilo de texto, que ocupou uma página inteira de jornal em um sábado.

Título: Ricos reclamam mais Autores: Ana Carolina Moreno e Felipe Grandin Veículo: Jornal da Tarde (11 de agosto de 2007) Os paulistanos que mais exercem seu direito de cobrar ações da prefeitura são justamente os que já recebem os melhores serviços do Poder Público. Essa é a conclusão do relatório da Ouvidoria-Geral do Município, que relacionou as reclamações recebidas entre março e junho com o nível de acesso aos direitos humanos em cada região. O resultado mostra que, onde há melhor infraestrutura, educação e nível socioeconômico, os moradores reclamam quase três vezes mais do que em bairros com condição de vida precária. “Fizemos o cruzamento de dados para confirmar o que observávamos empiricamente”, explica a ouvidora do órgão, Maria Inês Fornazaro. Um claro exemplo comparativo é o das subprefeituras de Pinheiros, na zona oeste, e de Guaianases, no extremo leste. Com cerca de 250 mil habitantes, Pinheiros, onde a garantia de direitos humanos é alta, registrou 81 reclamações junto à ouvidoria no segundo trimestre, a maioria sobre jardinagem. Em Guaianases, moram 270 mil pessoas, mas só 8 relatórios de insatisfação chegaram até o órgão. Lá, a garantia de direitos básicos é precária. “Jogam uma favela por dia aqui no meio do mato, sem luz, sem água, sem asfalto”, diz a doméstica e estudante de direito Marli Medeiros, presidente da Associação de Moradores Nova Jerusalém, em Fazenda do Carmo, entre Guaianases e Itaquera. A líder comunitária acredita que nos bairros pobres não há costume de cobrar o governo. “Na favela, o Estado é o traficante, a cultura é não se meter com ninguém para não arrumar problema.” Já em áreas nobres, os moradores não hesitam em reclamar, apesar de o problema mais grave ser a poda malfeita das árvores. “Eles só deixam o tronco. As pessoas entram em pânico porque estão tirando um patrimônio do bairro”, diz Célia Marcondes, presidente da Sociedade dos Amigos e Moradores do Bairro Cerqueira César (Samorcc).

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Segundo ela, a maioria defende seus direitos diretamente com a prefeitura. “Só falam com a Samorcc em último caso.” Enquanto alguns “sofrem” com a falta de folhas, quem vive em Parada de Taipas enfrenta um problema mais grave, a falta d’água. “É o maior sacrifício. Tem que pegar com balde no cano da Sabesp”, reclama o vigia Rogério da Silva, de 26 anos, que mora em uma rua sem asfalto nem luz. Ele nunca reclamou com a prefeitura e nem sabe como falar com a ouvidoria. “Não dá tempo, tenho que trabalhar.”

Desperdício O Sistema Interurbano de Monitoramento dos Direitos Humanos foi lançado em 2006, custou quase R$ 70 mil e levou seis meses para ficar pronto. Mas, até hoje, só foi usado pela ouvidoria. Segundo o presidente da Comissão Municipal de Direitos Humanos, José Gregori, ele foi criado para diminuir a subjetividade que cerca o tema e dar recursos para ações mais eficazes do governo para reduzir a desigualdade social. “Aí a bola passa para os executores das políticas públicas.”

Por que pobres não procuram a ouvidoria Quatro hipóteses explicariam por que as pessoas de baixa condição social quase não procuram a Ouvidoria do Município: quem já vive em condições precárias é menos exigente; os canais entre população e prefeitura, apesar de gratuitos, ainda são de difícil acesso; os serviços ainda são desconhecidos pela população; e parte dos paulistanos vive em áreas irregulares e tem receio de procurar a ouvidoria. “Mas essas hipóteses não se excluem”, diz a ouvidora, Maria Inês Fornazaro. A conclusão do relatório não surpreendeu os especialistas em direitos humanos e segurança pública da capital. Segundo Denis Mizne, diretor executivo da ONG Instituto Sou da Paz, os dados mostram que parte da população é excluída múltiplas vezes. “Não é conformismo, é falta de cultura de cobrança, de saber que o Poder Público não está aqui para te fazer favor”, afirma. A coordenadora do Núcleo de Violência e Justiça da PUC-SP, Luzia Fátima Baierl, acrescenta que “os mais pobres não sabem que informação é arma”, e a causa do problema é a falta de educação básica. “Saber é poder”, explica Luzia. Já o coordenador da Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP, Mário de Oliveira Filho, vê no relatório uma ferramenta. “É uma possibilidade de a prefeitura levar conhecimento aos menos informados.”

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Como reclamar seus direitos 156 – O telefone geral da prefeitura registra todos os pedidos dos moradores e os repassa para os órgãos responsáveis. Subprefeitura – A solicitação pode ser registrada pessoalmente, na Praça de Atendimento das subprefeituras. SAC – Pela Internet, é possível cadastrar solicitações de serviços do governo municipal. Endereço: http://sac.prefeitura.sp.gov.br Ouvidoria – Se o problema não for resolvido, ligue gratuitamente para 0800 17-5717 e registre a reclamação.

5.4 Retranca / Personagem Para evitar a publicação de textos muito longos, o jornal geralmente divide a matéria em um texto principal (também conhecido como “abre”, se ficar no topo da página) e suas retrancas. Estas são notas mais curtas, que abordam o mesmo tema, só que de um ponto de vista diferente. A retranca pode ser escrita em forma de entrevista ou texto corrido e geralmente contém mais detalhes sobre um dos dados citados na primeira matéria. Em alguns casos, a retranca traz a história de uma pessoa que está passando ou já passou pelo assunto tratado na matéria principal. Essa pessoa é chamada de “personagem” e é constantemente usada para humanizar e exemplificar os números publicados no texto. Em outras palavras, uma personagem prova que aquele dado é real e afeta as pessoas na pele. O exemplo que mostramos na seção Reportagem Factual foi publicado com uma retranca que traz mais informações sobre uma das personagens e sobre o problema que causou o evento reportado pelo jornal. Leia a seguir. tre vis tad o qu e po de er so nage m” é um en “p um o, tic lís na jor No meio a ma tér ia so bre em qu es tão . Ex .: um nto su as o bre so se rvir de exem plo oa rso nage m um a pe ss po de tra ze r co mo pe lar bu sti ve do s fio os de sa cana pra m alg um a his tór ia ba na unive rsidade co pre ste s a ing re ss ar dibilid ad e para o recur so qu e tra z cre um é se Es o. iss bre co ntar so mais int ere ss an te. tex to e ain da o tor na

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Título: Moradores exigem farol para pedestre Autor: Ana Carolina Moreno Veículo: Jornal da Tarde (30 de dezembro de 2007) A baixinha e bagunceira Luana vivia com cinco irmãos mais velhos e a mãe em uma casa construída por um mutirão de moradores em 2003. As pistas lisas da Avenida Aguiar da Beira eram o segundo sinal de que a urbanização chegara à favela Haia do Carrão. Mas a via tem 3 km com placas de velocidade, sem obstáculos. Assim, atravessá-la para ir ao mercado, à creche e ao posto de saúde se tornou perigoso: pelo menos duas crianças e um idoso, além de Luana, teriam morrido atropelados este ano. Rachas são comuns. “Os motoristas se sentem estimulados a acelerar, sem respeitar”, disse o líder do bairro, José Antonio da Silva. Os moradores querem lombada eletrônica e faixa de pedestres. O subprefeito Vicente Marques diz ter enviado dois ofícios à Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) pedindo os equipamentos. A CET afirma que colocou sinalização básica na avenida e estuda alternativas. Também disse que o Conselho Nacional de Trânsito proibiu a lombada eletrônica. Luana era uma de centenas de crianças no bairro. “É muito duro perder um filho assim”, lamentou a mãe dela, Maria Leonice. (A.C.M.)

5.5 Entrevista Alguns personagens ou especialistas podem ter uma relevância maior em um determinado momento da cobertura jornalística. Nesse caso, uma simples matéria tem menos impacto do que uma entrevista (ainda mais se for exclusiva!). Pode ser que você consiga entrevistar o ganhador de um prêmio na comunidade ou um rapper famoso que veio até o bairro fazer um show. Talvez você descole um horário para conversar com um vereador recém-eleito, o subprefeito ou um pesquisador que produziu algum dado bacana para o seu público. Também conhecida por “pingue-pongue”, a entrevista apresenta um texto introdutório, no qual você explica quem é o(a) entrevistado(a), citando as principais posições tomadas durante a conversa. Em seguida, você coloca as principais perguntas feitas e as respostas. Lembre-se do conselho sobre o gravador, ou pelo menos tenha um bloco de notas e uma caneta confiável!

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Leia a seguir um exemplo de entrevista que usou uma personagem.

Título: Saramago elogia Ensaio sobre a cegueira Autor: Rodrigo Fonseca Veículo: Site O Globo (10 de setembro de 2008) Prestes a lançar A Viagem do Elefante, o 44o livro de uma carreira consagrada com o prêmio Nobel de Literatura, José Saramago pede licença a seus compromissos com a prosa sempre que o assunto é a adaptação cinematográfica dirigida por Fernando Meirelles de seu Ensaio sobre a Cegueira. Co-produção entre o Brasil, o Canadá e o Japão, o longa-metragem, estrelado por Julianne Moore, estreia nesta sexta-feira sob as bênçãos do escritor português. Desde maio, logo após a exibição da produção na abertura do Festival de Cannes, Saramago se mostrou satisfeito com o que viu. Nesta entrevista ao GLOBO, feita por e-mail, o autor de Memorial do Convento, que completa 86 anos em novembro, chama de “brilhante” o trabalho de Meirelles na direção. Em tom de parábola, o filme fala de uma misteriosa epidemia capaz de gerar perda de visão em massa, levando suas vítimas a um doloroso processo de quarentena. Admitindo completo desprezo pela ditadura dos efeitos especiais na telona, Saramago avalia sua relação com o cinema e analisa duas graves catástrofes contemporâneas: a cegueira política e a miopia artística.

No filme de Fernando Meirelles, assim como no seu livro, a epidemia de cegueira é retratada como uma catástrofe, servindo como metáfora para desarmonias sociais contemporâneas. O que significa ser cego no mundo pós-11 de setembro? Saramago: Já estávamos cegos antes do 11 de setembro. O mundo é muito maior que Nova York, e o terrorismo é apenas um dos males de que a humanidade tem sofrido desde sempre e quem sabe se para sempre. Peço perdão pelo que o termo “apenas” possa parecer restritivo. Se não nos limitássemos a olhar, se víssemos de fato o que temos diante dos olhos todos os dias, se tudo isso tivesse um efeito real na nossa consciência, então não poderia haver nada capaz de deter o movimento geral de protesto que se desencadearia a escala mundial contra o terrorismo da Al-Qaeda, mas também contra essa enfiada maldita de calamidades que fizeram deste mundo um inferno, o único, porque é impossível que haja outro como este. Costumo dizer que o ser humano é um animal doente. Os fatos o confirmam. Quanto ao Ensaio sobre a Cegueira, sou o primeiro a dizer que não passa de uma pálida imagem da realidade.

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Logo após a exibição de Ensaio sobre a cegueira em Cannes, em maio, o senhor exaltou as qualidades do filme. Hoje, como o senhor avalia o trabalho de Fernando Meirelles na transposição de seu texto para o cinema? Saramago: O resultado da adaptação de Fernando Meirelles é mais do que satisfatório. Considero-o até brilhante. O essencial da história está ali, como seria de esperar, mas, sobretudo, encontrei na narrativa fílmica o mesmo espírito e o mesmo impulso humanístico que me levaram a escrever o livro. Nem Fernando Meirelles nem eu pensamos que vamos salvar a humanidade, mas somos conscientes de que, quer como artistas, quer como cidadãos, levamos a cabo um trabalho responsável.

O senhor conhece a obra cinematográfica de Meirelles? Saramago: Vi e apreciei como devia Cidade de Deus e O Jardineiro Fiel. Quando dei o “sim” a Fernando, sabia o que fazia. Suponho que os brasileiros devem estar orgulhosos de que um dos seus seja um dos melhores realizadores de cinema da atualidade. Quanto à minha relação com o cinema internacional, para além da irritação profunda que me causam os chamados efeitos especiais, reconheço que não o acompanho com regularidade. O caráter absorvente do meu trabalho de escritor distrai-me da obrigação de princípio de acompanhar de perto outras manifestações artísticas, sem esquecer a distância física a que me encontro dos grandes centros (o autor vive entre Lisboa e a Ilha de Lanzarote, na Espanha).

Além de Meirelles, o que mais o senhor conhece do cinema brasileiro? E em relação ao cinema português? O nonagenário Manoel de Oliveira, o mais importante cineasta de seu país, está entre seus “diretores de cabeceira”? Saramago: A resposta anterior já antecipou em grande parte o que poderia dizer sobre este assunto. Não sou de todo ignorante do que se tem feito em Portugal e Brasil, mas o meu conhecimento é demasiado parcelar para que me permita uma opinião fundada. Admiro Manoel de Oliveira, evidentemente, mas confesso que não está entre os que chamo de meus diretores de cabeceira.

Passados quase 13 anos da publicação de Ensaio sobre a cegueira, que dilemas o senhor acredita que a personagem da mulher do médico, interpretada por Julianne Moore, ainda sintetiza? O senhor releu o livro a fim de saber a atualidade da parábola nele representada?

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Saramago: Muitas das “mulheres do médico” são homens. São todas aquelas pessoas que estão conscientes do verdadeiro caráter do mundo em que vivem e que sofrem por não ver sinais positivos de mudança, mas também pela sua própria impotência perante o desastre que se tornou a vida humana. Não li o livro recentemente. Aliás, não é meu costume reler o que escrevi. Obviamente, releio as provas. Mais do que isso, não.

Qual é a maior cegueira literária do mundo contemporâneo? Saramago: Considero a literatura talvez a menos cega das expressões artísticas atuais. Em muitos dos livros que têm sido escritos, se forem atentamente lidos, encontrar-se-á, além de claras denúncias da dramática situação a qual chegamos, abundante e substancial matéria de reflexão. Assim, que o leitor esteja disposto a abandonar a sua mais ou menos confortável cadeira de espectador do mundo.

O que nos espera em seu novo livro, A viagem do elefante, que a Companhia das Letras promete para novembro? Saramago: O meu próximo livro, A Viagem do Elefante, não é um romance, mas sim um conto, uma narrativa que, apesar das suas 250 páginas, não perde nunca a sua natureza de conto. Pelo contrário, reivindica-a. A história parece simples, o relato do que acontece a um elefante que é levado de Lisboa a Viena, mas a simplicidade, neste caso, é uma mera aparência. O leitor julgará por si mesmo.

No seu blogue (http://blog.josesaramago.org), o senhor adianta que A viagem do elefante será uma trama coral, narrada a várias vozes. De que maneira esse enredo vai abordar a questão da solidariedade, tema que norteia Ensaio sobre a cegueira e vários outros livros seus? Saramago: As questões da coralidade e da solidariedade, embora presentes, são algo marginais ao miolo da história. Como é meu costume, uma vez mais, a epígrafe do livro resume e anuncia o que virá depois: “Sempre acabaremos chegando aonde nos esperam”. A frase só aparentemente é enigmática.

Três décadas após a publicação de Objecto quase, livro que marca sua estreia como contista, o senhor retoma o formato em seu novo livro. O senhor pretende continuar a investir nos contos? Saramago: Não creio, ainda que me tenha atrevido a chamar conto a Viagem do Elefante… De todo modo, tomo nota da sugestão.

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5.6 Artigo Você consegue contar nos dedos quantas dissertações já escreveu para as aulas de Português? Pois o artigo não é muito diferente de uma redação dessas: expõe uma linha de raciocínio na introdução, apresenta argumentos favoráveis e contrários e, por fim, encerra-se em uma conclusão contendo a posição do autor do texto. No jornal, a sessão de artigos é, na maioria das vezes, assinada por pessoas que não são jornalistas. Pode ser um economista renomado, um ex-ministro, o governador do Estado, o diretor de alguma ONG. Também pode ser alguém com um cargo menos pomposo, mas com domínio do assunto e boa escrita. É por isso que existe sempre um curto currículo do(a) autor(a) no final do texto. Um artigo bem elaborado pode incitar um debate, criar uma polêmica e, ainda que cause uma bagunça, ele faz as pessoas pensarem e aprenderem mais sobre um determinado tema.

Título: Mundo sustentável Autor: Xico Graziano Veículo: Jornal O Estado de S. Paulo (2 de junho de 2009) A natureza está em alta nesta semana. Em 5 de junho celebra-se o Dia Mundial do Meio Ambiente. Governos, escolas, empresas e ONGs programam significativos eventos. Bonitos discursos serão ouvidos. Há o que comemorar? O meio ambiente é assunto recente na história da humanidade. Um impactante relatório, intitulado Os Limites do Crescimento, publicado em 1972 pelos especialistas do Clube de Roma alertava para o colapso nos recursos naturais. Foi um marco teórico. No mesmo ano, a ONU promoveu a Conferência de Estocolmo sobre o Ambiente Humano. Representantes de 113 países recomendaram, pela primeira vez, a utilização de políticas públicas em defesa do meio ambiente. Governos entraram na briga. Antes disso, cientistas e entidades civis já se movimentavam pela causa ecológica. A primeira ONG, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), surgiu em 1947, na Suíça. No Canadá, apareceu em 1971 o Greenpeace. O agrônomo José Lutzenberger, na mesma época, formou a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan). Logo depois, José Goldemberg e Fábio Feldmann despontaram com sua luta idealista.

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Dois livros cumpriram papel fundamental na tomada da consciência ecológica. Primeiro, o impressionante Primavera Silenciosa, de Rachel Carson, publicado em 1962. Sua contundente crítica contra a contaminação por agrotóxicos dos pinguins da Antártida varreu o mundo. A vida do planeta estava ameaçada. Segundo o marcante ensaio População, Recursos e Ambiente, escrito por Paul e Anne Ehrlich e publicado em 1970. O foco crítico dos cientistas norte-americanos recaía sobre as nefastas consequências da explosão demográfica. Assim se inicia o livro: “... essa massa humana ameaça destruir a maior parte da vida no planeta. A própria humanidade está agora muito próxima da destruição total”. Apavorante. Obviamente, os donos do poder reagiram a essas posições, amenizando-as. Influenciado pelo catolicismo, até hoje o ambientalismo menospreza a demografia. Mas a questão ambiental entrou, para não mais sair, na agenda do desenvolvimento mundial. E os resultados da luta começaram a aparecer. Uma década após as denúncias de Rachel Carson, os perigosos inseticidas organoclorados, extremamente contaminantes, como o DDT e o BHC, começaram a ser mundialmente banidos. Grande vitória. O então chamado Terceiro Mundo demorou a participar da agenda ambiental. Justamente o Brasil capitaneou a posição conservadora dos países periféricos. O governo militar da época defendia claramente o “direito de poluir”, incentivando as empresas “sujas”. Importava o progresso material. A opinião pública, todavia, exigia a tomada de decisões. Em 1974, o eminente Paulo Nogueira Neto assumiu, no âmbito federal, a Secretaria Especial de Meio Ambiente. Em São Paulo, Franco Montoro criou, em 1983, o Conselho Estadual do Meio Ambiente, germe da atual secretaria de Estado. O ambientalismo oficializava-se. Até desaguar na Conferência da ONU realizada no Rio de Janeiro em 1992. Avançavam os compromissos. Percebe-se que o mundo descobriu há pelo menos quatro décadas o problema ecológico. E, aos trancos e barrancos, resolveu enfrentá-lo. Os céticos, ou pessimistas, valorizam o fracasso e continuam vendo o fim do mundo. Os crédulos, ou otimistas, destacam o sucesso e enxergam o futuro promissor. Quem tem razão? De certa forma, ambos. Veja o caso das florestas. Em São Paulo se anuncia a proteção do cerrado remanescente e a recuperação da vegetação ciliar de mata atlântica. Uma página virada no desmatamento. Mas em outros locais, principalmente no bioma da

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Amazônia, as portas da derrubada florestal continuam abertas. Arde a motosserra. O Rodoanel de São Paulo expressa a moderna fase da agenda ambiental. Concebido para aliviar o trânsito da capital, reduzindo a poluição atmosférica, seu soerguimento causa fortes impactos na região dos mananciais. Por isso, no licenciamento ambiental, exigências e condicionantes foram rigidamente definidas, visando a mitigar ou compensar tais prejuízos sobre a biodiversidade e os recursos hídricos. Resultado: o zelo ambiental tornou o trecho sul do Rodoanel um exemplo para a engenharia brasileira. Há quem não acredite nessas informações positivas. Esse é o ponto a destacar. Ronda a questão ambiental um problema de comunicação. Sempre sobressai a notícia ruim, o lado negativo. Faz parte da origem. O ambientalismo iniciou-se como denúncia das mazelas do crescimento. Era preciso aparecer, chamar a atenção, subir em árvores para que não as derrubassem. Esse denuncismo até hoje permeia o movimento ambientalista. Primo do discursismo e parente do sensacionalismo, ambos alimentam-se das desgraças para sobreviver. Uma nova fase, porém, se cristaliza entre as organizações e lideranças do terceiro setor: o ambientalismo de resultados. Significa menos conversa, mais gestão. Difícil para quem se acostumou a gritar, mas absolutamente necessário para concretizar os sonhos da mudança civilizatória. Ação efetiva. Existe ainda muita lição de casa a fazer, no lixo, no esgoto, no desperdício, na energia limpa. A luta dos ambientalistas, entretanto, certamente é vitoriosa e qualquer ganho na agenda ambiental deve sempre ser comemorado, todos os dias. Embora com sofreguidão, constroem-se as bases do novo desenvolvimento. Brota o mundo sustentável. Falta uma tarefa, a maior de todas, para impulsionar o processo: investir fortemente na educação ambiental das crianças. Mudança de valores, com novas atitudes, somente se consegue dando prioridade à sala de aula, com professores conscientes e valorizados. Demora uma geração, mas fica irreversível. Xico Graziano, agrônomo, é secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. E-mail: xico@xicograziano.com.br

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5.7 Editorial Politicamente, o editorial é o texto mais importante de um jornal, pois representa a posição coletiva da redação do jornal a respeito dos assuntos em alta na sociedade. É também a página mais lida pelas autoridades, do vereador ao Presidente da República. Curiosamente, o editorial, assim como o artigo, se parece muito com as dissertações que você precisa fazer na aula de Português: é um texto opinativo e impessoal que traz argumentos para defender uma determinada posição ou ideologia. Por representar a opinião de uma empresa, diferentemente do artigo, o editorial não é assinado por uma pessoa.

Título: A concordata da GM Veículo: Jornal O Estado de S. Paulo (2 de junho de 2009) Junho começou com otimismo nas bolsas americanas, como se o mercado festejasse novidades muito animadoras. Mas a grande notícia prevista para o dia 1o e confirmada logo de manhã não era nada animadora: a General Motors (GM) pediu concordata em Nova York. A empresa, maior produtora de automóveis do mundo até o ano passado, fechará 14 fábricas até 2011. Nos próximos 40 dias terá de transferir seus ativos para uma nova empresa, controlada pelo governo dos Estados Unidos e com participação minoritária de trabalhadores e credores. Havia, sem dúvida, motivo para comemoração: com mais US$ 30 bilhões do tesouro americano, US$ 9,5 bilhões do governo canadense e mais a conversão de dívidas em ações, seria possível salvar da ruína um dos símbolos do poderio industrial americano. Outro símbolo, a Chrysler, em concordata desde 30 de abril, já havia sido salvo no último instante. Esta recessão, descrita por muitos como a mais severa do segundo pós-guerra, tem arrasado vários dos grandes ícones do capitalismo, aí incluídos os maiores bancos. Este detalhe é uma das marcas da crise atual: os erros, desta vez, foram bastante graves para abalar seriamente grupos considerados, até há pouco tempo, quase indestrutíveis. A grande concordata desta segunda-feira mereceu discurso do chefe de governo. O colapso da GM e da Chrysler “seria devastador para o país”, disse o presidente Barack Obama, justificando a intervenção oficial nas duas companhias. O socorro, lembrou o presidente, vai ter um custo elevado para os cidadãos, mas a alternativa, segundo ele, seria muito pior. Mas o socorro a essas grandes empresas não encerra os problemas: “Dias difíceis estão à frente”, disse Obama. “Mais empregos serão perdidos, mais

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fábricas serão fechadas, mais revendedores fecharão suas portas, assim como muitos fornecedores de autopeças.” O governo, segundo o presidente, é “um acionista relutante” e não tentará administrar o dia a dia da GM. A condução da tarefa será entregue a um executivo, Al Koch, especializado em reestruturar empresas. Ele já ajudou a companhia a renegociar com os credores a conversão de seus créditos em ações. Seria perda de tempo discutir se o governo americano deveria ou não permitir a quebra de alguns dos maiores grupos bancários e industriais do país. Essa decisão poderia satisfazer o senso de justiça de algumas pessoas, mas o custo seria excessivo para dezenas de milhões de outras. O governo pode ser um acionista relutante, como disse o presidente dos Estados Unidos, mas sua omissão produziria, certamente, consequências dolorosas. O mesmo argumento pode justificar as ações – ou boa parte delas – de vários governos europeus. Mas não basta salvar as empresas “grandes demais para quebrar”. Se os governos se limitarem a resgatar os grandes grupos, estarão alimentando o risco moral mais do que em qualquer episódio anterior. Desta vez, o desastre atingiu alguns dos maiores bancos suíços e alguns dos maiores americanos, como o Citibank, e indústrias do porte da GM, da Opel e da Chrysler. Isto só foi possível porque os padrões administrativos atingiram níveis de lassidão inadmissíveis na maior parte das empresas. A crise financeira pode ter devastado companhias bem administradas, mas sem condições de resistir a pressões tão fortes. Mas esse não é o caso das grandes indústrias socorridas pelos governos nem dos bancos classificados, tradicionalmente, como de primeiríssima linha. Os problemas foram desencadeados no setor financeiro e hoje não há dúvida quanto às causas principais: as operações de risco foram levadas a níveis dificilmente imagináveis, graças a uma combinação de ganância irresponsável, erros de avaliação política e escandalosas deficiências de regulação. Onde a regulação funcionou e a política monetária foi conduzida com alguma prudência, os lances de maior risco foram limitados. Com a crise do sistema financeiro, as fraquezas de grandes grupos empresariais foram expostas. A GM já vinha acumulado prejuízos há vários anos. Por quanto tempo continuaria operando, se os bancos não houvessem entrado em colapso e jogado a economia na recessão? Deu-se pouca atenção, até agora, a esse tipo de problema, como se o descontrole, a supervisão deficiente e o risco moral afetassem apenas o setor financeiro.

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5.8 Crônica Os jornais têm espaço disponível para um texto diferente. A crônica é geralmente escrita por jornalistas que também são escritores(as) e recebem um espaço fixo semanal para preencher. Não precisa ser necessariamente tema fictício, longo ou poético. O importante é que sejam escritos pelo(a) “dono (a) do espaço” que, com o passar do tempo, acaba ganhando seus próprios fãs dentro do jornal ou revista. Um exemplo de crônica de ficção (inspirada em casos muito comuns na época do verão): crianças são carregadas pelas chuvas nos córregos a céu aberto que correm pela periferia da Região Metropolitana.

Título: Gabriel e o córrego dos milagres Autor: Gilberto Amendola Veículo: Jornal da Tarde (abril de 2008) Gabriel era o menino debruçado na janela da casa debruçada sobre o córrego. Gabriel era o menino que vivia naquele desastre iminente, desafiando a Lei da Gravidade e os agentes da prefeitura. Gabriel era o menino que não se incomodava com o mau cheiro, os mosquitos da dengue e a sujeira. Gabriel era o menino que queria uma bicicleta. De tanto querer, o córrego trouxe a tal bicicleta. O menino só teve que se atirar na água marrom e resgatar o seu presente. Coincidência? Sorte? Acho que não. Dias depois, Gabriel pediu uma bola de futebol e também foi atendido pelo córrego. Depois, sonhou com um álbum de figurinhas, o uniforme do Corinthians, um chapéu de caubói e com um Big Mac. Sim, é isso mesmo que você está pensando. O córrego trouxe tudo o que o menino pediu. Não demorou para que a família de Gabriel estranhasse o súbito “enriquecimento” do garoto. “Com que dinheiro você comprou essa bicicleta?”, “De onde veio esse Playstation 3?”, “O que esse macaquinho tá fazendo aqui em casa?” Interrogado pelos parentes, Gabriel contou a verdade. É claro que ninguém acreditou. Ser sincero sobre o córrego rendeu uma surra do padrasto e a chacota dos irmãos mais velhos. A mãe, coitadinha, pensou que o caçula tivesse virado ladrão. “Virei não, mãe.” Vendo o desapontamento da mãe, Gabriel puxou-a pela mão. Nas margens do córrego, o menino falou. “Você quer um fogão novo, não é? Então espera um pouco...”

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Em menos de 30 segundos, um fogão surgiu boiando nas águas daquele córrego fedido. “Milagre, milagre”, gritou a mãe. Logo, a família inteira veio ajudar a mulher a tirar o fogão do córrego. Gabriel convenceu a família inteira. O irmão ganhou uma moto; a irmã, um computador, o padrasto; uma caixa de 51; o primo, um binóculo e o tio... “Me arruma uma loira peituda”. Parece mentira, mas o córrego também atendeu a esse pedido. Era só Gabriel desejar que o córrego atendia. A fama do córrego dos milagres espalhou-se por São Paulo. Diariamente, centenas de ônibus de excursão estacionavam nas proximidades da casa de Gabriel. Tinha gente capaz de matar só para ficar um minuto com o menino. “Me pede uma Ferrari”, “me pede um tevê de plasma”, “me pede um dinossauro de verdade”, “me pede um disco autografado pelo Paul McCartney”. Um dia o céu escureceu de repente. Um dilúvio caiu na cidade. O córrego transbordou e destruiu a casa do menino milagreiro. Todos escaparam com vida. “Mas cadê o Gabriel?” Ninguém mais encontrou o garoto. O córrego tinha atendido seu último desejo.

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6. CONHEร A A NOVA gramรกtica


II Ciclo de Encontros Regionais de Políticas públicas de Juventude



gramática NOVA A A Ç 6. CONHE .br

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6.1 REFORMA ORTOGRÁFICA Já que agora você virou um comunicador, é importante estar ligado nas mudanças ortográficas do acordo assinado pelos países lusófonos1 em 1990 e que começaram a vigorar em janeiro de 2009. Para ajudá-lo a ficar por dentro de tudo, apresentamos aqui um texto de Carlos Alberto Faraco, professor titular (aposentado) de Linguística e Língua Portuguesa da Universidade Federal do Paraná e membro da Comissão para a Definição da Política de Ensino-Aprendizagem, Pesquisa e Promoção da Língua Portuguesa do Ministério da Educação. O texto foi originalmente publicado no site da Rádio CBN de Curitiba (www.cbncuritiba.com.br) e está disponível para download no site do Museu da Língua Portuguesa (www.museudalinguaportuguesa.org.br).

Entenda o caso A língua portuguesa tem dois sistemas ortográficos: o brasileiro e o português, adotado por Macau (na China) e pelos países africanos: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, São Tomé e Príncipe, Moçambique e Timor. Você já ouviu alguém falando português de Portugal? Reparou como é parecido, apesar de apresentarem algumas palavras diferentes? Notou que a pronúncia muda? Então, entendemos quase tudo, mas temos que prestar atenção, não é? O mesmo acontece com a escrita, que possui dois sistemas ortográficos. As diferenças não são substanciais e não impedem a compreensão dos textos escritos numa ou noutra ortografia. No entanto, a dupla ortografia dificulta a difusão internacional da língua

Lusófonos: têm a língua portuguesa como língua materna. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Lus%C3%B3fonos)

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(por exemplo, os testes de proficiência2 têm de ser duplicados), além de aumentar os custos editoriais, na medida em que o mesmo livro, para circular em todos os territórios da lusofonia, precisa normalmente ter duas impressões distintas. O Dicionário Houaiss, por exemplo, foi editado em duas versões ortográficas para poder circular em Portugal e em outros países lusófonos. Essa situação motivou um esforço de unificação que se consolidou no Acordo Ortográfico que, em princípio, já está vigorando e devemos colocá-lo em uso. Observação importante: A mídia costuma apresentar o acordo como uma unificação da língua. Há, nessa maneira de abordar o assunto, um grave equívoco. O acordo não a modifica (nem poderia, já que a língua não é passível de ser alterada por leis, decretos e acordos). Apenas unifica a ortografia. Algumas pessoas – por absoluta incompreensão do sentido do acordo e talvez induzidas por textos imprecisos da imprensa – chegaram a afirmar que a abolição do trema (prevista na Reforma Ortográfica) implicaria a mudança da pronúncia das palavras (não diríamos mais o “u” de linguiça, por exemplo). Isso não passa de um grosseiro equívoco: o acordo só altera a forma de grafar algumas palavras. A língua continua a mesma.

As Mudanças Para nós, brasileiros, são poucas as mudanças. Atingem a acentuação de algumas palavras e operam algumas simplificações nas regras de uso do hífen.

Acentuação a) Fica abolido o trema: palavras como lingüiça, cinqüenta, seqüestro passam a ser grafadas linguiça, cinquenta, sequestro. b) Desaparece o acento circunflexo do primeiro -o em palavras terminadas em -oo: palavras como vôo, enjôo, abençôo passam a ser grafadas voo, enjoo, abençoo. c) Desaparece o acento circunflexo das formas verbais da terceira pessoa do plural terminadas em -eem: palavras como lêem, dêem, crêem, vêem passam a ser grafadas leem, deem, creem, veem.

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Teste de proficiência: mede as habilidades e as competências em determinada língua.


d) Deixam de ser acentuados os ditongos abertos -éi e -ói das palavras paroxítonas: palavras como idéia, assembléia, heróico, paranóico passam a ser grafadas ideia, assembleia, heroico, paranoico. e) Fica abolido, nas palavras paroxítonas, o acento agudo no -i e no -u tônicos quando precedidos de ditongo: palavras como feiúra, baiúca passam a ser grafadas feiura, baiuca. f) Fica abolido, nas formas verbais rizotônicas (que têm o acento tônico na raiz), o acento agudo do -u tônico precedido das letras g ou q e seguido de -e ou -i. Essa regra alcança algumas poucas formas de verbos como averiguar, apaziguar, arguir: averigúe, apazigúe e argúem passam a ser grafadas averigue, apazigue, arguem. g) Deixa de existir o acento agudo ou circunflexo usado para distinguir palavras paroxítonas que, tendo respectivamente vogal tônica aberta ou fechada, são homógrafas de palavras átonas: Assim, deixam de se distinguir pelo acento gráfico: para (á), flexão do verbo parar, e para, preposição; pela(s) (é), substantivo e flexão do verbo pelar, e pela(s), combinação da preposição per e o artigo a(s); polo(s) (ó), substantivo, e polo(s), combinação antiga e popular de por e lo(s); pelo (é), flexão de pelar, pelo(s) (ê), substantivo, e pelo(s) combinação da preposição per e o artigo o(s); pera (ê), substantivo (fruta), pera (é), substantivo arcaico (pedra) e pêra, preposição arcaica. Observação 1: A Reforma Ortográfica ocorrida em 1971 aboliu os acentos circunflexos diferenciais. Manteve-os apenas para a forma verbal “pôde”. O texto do acordo mantém essa exceção e acrescenta, facultativamente, o uso do acento na palavra “fôrma”. Observação 2: O acordo manteve a duplicidade de acentuação (acento circunflexo ou agudo) em palavras como econômico/económico, acadêmico/académico, fêmur/ fémur, bebê/bebé. Entendeu-se que, como essa acentuação reflete o timbre fechado (mais frequente no Brasil) e o timbre aberto (recorrente em Portugal e demais países lusófonos) das pronúncias cultas das vogais nesses contextos, ela não deveria ser alterada. Em princípio, nada muda, para nós brasileiros. A novidade é que as duas formas passam a ser aceitas em todo o território da lusofonia e devem ambas constar nos dicionários.

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Assim, se um brasileiro, que hoje é obrigado a usar o acento circunflexo, grafar com o agudo não estará cometendo erro gráfico.

O caso do hífen O hífen é, tradicionalmente, um sinal gráfico mal sistematizado na ortografia da língua portuguesa. O texto do acordo tentou organizar as regras de modo a tornar seu uso mais racional e simples. a) Manteve sem alteração as disposições anteriores sobre o uso do hífen nas palavras e expressões compostas. Determinou apenas que se grafe de forma aglutinada (ou seja, junto) certos compostos nos quais se perdeu a noção de composição (mandachuva e paraquedas, por exemplo). Para saber quais palavras perderam o hífen, teremos de esperar a publicação do novo Vocabulário Ortográfico pela Academia das Ciências de Lisboa e consultar o editado pela Academia Brasileira de Letras. É que o texto do acordo prevê a aglutinação, dá alguns exemplos, e termina o enunciado com um etc. – o que, infelizmente, deixa em aberto a questão. b) No caso de palavras formadas por prefixação, houve as seguintes alterações: – só se emprega o hífen quando o segundo elemento começa por h. Ex.: pré-história, super-homem, pan-helenismo, semi-hospitalar. Exceção: Manteve-se a regra atual que descarta o hífen nas palavras formadas com os prefixos des- e in- e nas quais o segundo elemento perdeu o h inicial (desumano, inábil, inumano). – e quando o prefixo termina na mesma vogal com que se inicia o segundo elemento. Ex.: contra-almirante, supra-auricular, auto-observação, micro-onda, infra-axilar. Exceção: Manteve-se a regra atual em relação ao prefixo co-, que em geral se aglutina com o segundo elemento, mesmo quando iniciado por o (coordenação, cooperação, coobrigação). Com isso, fica abolido o uso do hífen: – quando o segundo elemento começa com s ou r, devendo estas consoantes ser duplicadas.

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Ex.: antirreligioso, antissemita, contrarregra, infrassom. Exceção: Manteve-se o hífen quando os prefixos terminam com r, ou seja, hiper-, inter- e super-. Ex.: hiper-requintado, inter-resistente, super-revista. – quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente. Ex.: extraescolar, aeroespacial, autoestrada, autoaprendizagem, antiaéreo, agroindustrial, hidroelétrica. Observação: Permanecem inalteradas as demais regras do uso do hífen.

O caso das letras k, w, y Embora possuam uso restrito, elas foram incluídas em nosso alfabeto, que passa, então, a ter 26 letras. Importante deixar claro que essa medida nada altera o que está estabelecido. Apenas fixa a sequência dessas letras para efeitos da listagem alfabética de qualquer natureza. Adotou-se a convenção internacional: o k vem depois do j, o w depois do v e o y depois do x.

O caso das letras maiúsculas Se compararmos o disposto no acordo com o que está definido no atual Formulário Ortográfico Brasileiro, veremos que está simplificado o uso obrigatório das letras maiúsculas. Elas ficaram restritas a nomes próprios de pessoas (João, Maria, Dom Quixote), lugares (Curitiba, Rio de Janeiro), instituições (Instituto Nacional da Seguridade Social, Ministério da Educação) e seres mitológicos (Netuno, Zeus), a nomes de festas (Natal, Páscoa, Ramadão), na designação dos pontos cardeais quando se referem a grandes regiões (Nordeste, Oriente), nas siglas (FAO, ONU), nas iniciais de abreviaturas (Sr., Gen., V. Exª) e nos títulos de periódicos (Folha de S. Paulo, Gazeta do Povo).Tornou-se facultativo o uso da letra maiúscula em nomes que designam os domínios do saber (matemática ou Matemática), nos títulos (Cardeal/cardeal Seabra, Doutor/doutor Fernandes, Santa/ santa Bárbara) e nas categorizações de logradouros públicos (Rua/rua da Liberdade), de templos (Igreja/igreja do Bonfim) e edifícios (Edifício/edifício Cruzeiro).

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Apreciação Geral O acordo é, em geral, positivo. Em primeiro lugar, porque unifica a ortografia do português, mesmo mantendo algumas duplicidades. Por outro lado, simplifica as regras de acentuação, limpando o Formulário Ortográfico de regras irrelevantes e que se aplicavam a poucas palavras. A simplificação das regras do hífen é também positiva: torna um pouco mais racional o uso desse sinal gráfico.

Bem ? Por que Escrever mu nica r-s e de am en tal pa ra co nd fu é ês gu rtu En te nd er o po ns ag em ga ra nt e qu e a me er co rre ta me nt e ev cr Es a. en pl ma neira r/int er lo cu to r. en dida pelo leito re mp co e nt me seja pe rfeita ec ê- la a, é pr ecis o co nh er te r a gr am át ic bv su ra pa o sm At é me un dida de . pr im eiro , em pr of

6.2 Alguns Erros Mais Comuns Erros gramaticais e ortográficos sempre devem ser evitados. Alguns, no entanto, como ocorrem com maior frequência, merecem atenção redobrada. Abaixo, separamos para você alguns dos erros mais comuns do idioma. Use esta relação como um roteiro para fugir deles! 1. “Mal cheiro”, “mau-humorado”. Mal opõe-se a bem e mau, a bom. Assim: mau cheiro (bom cheiro), mal-humorado (bem-humorado). Igualmente: mau humor, malintencionado, mau jeito, mal-estar. 2. “Fazem” cinco anos. Fazer, quando exprime tempo, é impessoal: Faz cinco anos. / Fazia dois séculos. / Fez 15 dias. 3. “Houveram” muitos acidentes. Haver, como existir, também é invariável: Houve muitos acidentes. / Havia muitas pessoas. / Deve haver muitos casos iguais. 4. “Existe” muitas esperanças. Existir, bastar, faltar, restar e sobrar admitem normalmente o plural: Existem muitas esperanças. / Bastariam dois dias. / Faltavam poucas peças. / Restaram alguns objetos. / Sobravam idéias. 5. Para “mim” fazer. Mim não faz, porque não pode ser sujeito. Assim: Para eu fazer, para eu dizer, para eu trazer.

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6. Entre “eu” e você. Depois de preposição, usa-se mim ou ti: Entre mim e você. / Entre eles e ti. 7. “Há” dez anos “atrás”. Há e atrás indicam passado na frase. Use apenas: Há dez anos ou Dez anos atrás. 8. “Ao meu ver”. Não existe artigo nessas expressões: A meu ver, a seu ver, a nosso ver. 9. “Venda à prazo”. Não existe crase antes de palavra masculina, a menos que esteja subentendida a palavra moda: salto à (moda de) Luís XV. Nos demais casos, também não se usa crase: a salvo, a bordo, a pé, a esmo, a cavalo, a caráter. 10. “Porque” você foi? Sempre que estiver clara ou implícita a palavra razão, use por que separado: Por que (razão) você foi? / Não sei por que (razão) ele faltou. / Explique por que razão você se atrasou. Porque (junto) é usado nas respostas: Ele se atrasou porque o trânsito estava congestionado. 11. Vai assistir “o” jogo hoje. Assistir como presenciar exige a: Vai assistir ao jogo, à missa, à sessão. Outros verbos com a: A medida não agradou (desagradou) à população. / Eles obedeceram (desobedeceram) aos avisos. / Aspirava ao cargo de diretor. / Pagou ao amigo. / Respondeu à carta. / Sucedeu ao pai. / Visava aos estudantes. 12. Preferia ir “do que” ficar. Prefere-se sempre uma coisa a outra: Preferia ir a ficar. “É preferível” segue a mesma norma: É preferível lutar a morrer sem glória. 13. O resultado do jogo, não o abateu. Não se separa com vírgula o sujeito do predicado. Assim: O resultado do jogo não o abateu. Outro erro: O prefeito prometeu, novas denúncias. Não existe o sinal entre o predicado e o complemento: O prefeito prometeu novas denúncias. 14. Não há regra sem “excessão”. O certo é exceção. Veja outras grafias erradas e, entre parênteses, a forma correta: “paralizar” (paralisar), “beneficiente” (beneficente), “xuxu” (chuchu), “previlégio” (privilégio), “vultuoso” (vultoso), “cincoenta” (cinquenta), “zuar” (zoar), “frustado” (frustrado), “advinhar” (adivinhar), “benvindo” (bem-vindo), “ascenção” (ascensão), “pixar” (pichar), “impecilho” (empecilho), “envólucro” (invólucro). 15. Quebrou “o” óculos. Concordância no plural: os óculos, meus óculos. Da mesma forma: meus parabéns, meus pêsames, seus ciúmes, nossas férias, felizes núpcias.

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16. Comprei “ele” para você. Eu, tu, ele, nós, vós e eles não podem ser objeto direto. Assim: Comprei-o para você. Também: Deixe-os sair, mandou-nos entrar, viu-a, mandou-me. 17. Nunca “lhe” vi. “Lhe” substitui a ele, a eles, a você e a vocês e por isso não pode ser usado com objeto direto: Nunca o vi. / Não o convidei. / A mulher o deixou. / Ela o ama. 18. “Aluga-se” casas. O verbo concorda com o sujeito que é oculto, mas é plural: Alugam-se casas. / Fazem-se consertos. / É assim que se evitam acidentes. / Compramse terrenos. / Procuram-se empregados. 19. “Tratam-se” de. O verbo seguido de preposição não varia nesses casos: Tratase dos melhores profissionais. / Precisa-se de empregados. / Apela-se para todos. / Conta-se com os amigos. 20. Chegou “em” São Paulo. Verbos de movimento exigem a, e não em: Chegou a São Paulo. / Vai amanhã ao cinema. / Levou os filhos ao circo. 21. Atraso implicará “em” punição. Implicar é direto no sentido de acarretar, pressupor: Atraso implicará punição. / Promoção implica responsabilidade. 22. Vive “às custas” do pai. O certo: Vive à custa do pai. Use também em via de, e não “em vias de”: Espécie em via de extinção. / Trabalho em via de conclusão. 23. Todos somos “cidadões”. O plural de cidadão é cidadãos. Veja outros: caracteres (de caráter), juniores, seniores, escrivães, tabeliães, gângsteres. 24. O ingresso é “gratuíto”. A pronúncia correta é gratúito, assim como circúito, intúito e fortúito (o acento não existe e só indica a letra tônica). Da mesma forma: flúido, condôr, recórde, aváro, ibéro, pólipo. 25. A última “seção” de cinema. Seção significa divisão, repartição, e sessão equivale a um intervalo de tempo, função: seção eleitoral, seção de esportes, seção de brinquedos; sessão de cinema, sessão de pancadas, sessão do Congresso. 26. Vendeu “uma” grama de ouro. Grama, peso, é palavra masculina: um grama de ouro, vitamina C de dois gramas. Femininas, por exemplo, são a agravante, a atenuante, a alface, a cal, etc.

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27. “Porisso”. Duas palavras: por isso, como de repente e a partir de. 28. Não viu “qualquer” risco. É a palavra “nenhum”, e não “qualquer”, que se emprega depois de negativas: Não viu nenhum risco. / Ninguém lhe fez nenhum reparo. / Nunca promoveu nenhuma confusão. 29. A feira “inicia” amanhã. Alguma coisa se inicia, se inaugura: A feira inicia-se (inaugura-se) amanhã. 30. Soube que os homens “feriram-se”. O “que” atrai o pronome: Soube que os homens se feriram. / A festa que se realizou... O mesmo ocorre com as negativas, as conjunções subordinativas e os advérbios: Não lhe diga nada. / Nenhum dos presentes se pronunciou. / Quando se falava no assunto... / Como as pessoas lhe haviam dito... / Aqui se faz, aqui se paga. / Depois o procuro. 31. O peixe tem muito “espinho”. Peixe tem espinha. Veja outras confusões desse tipo: O “fuzil” (fusível) queimou. / Casa “germinada” (geminada), “ciclo” (círculo) vicioso, “cabeçário” (cabeçalho). 32. Não sabiam “aonde” ele estava. O certo: Não sabiam onde ele estava. Aonde se usa com verbos de movimento, apenas: Não sei aonde ele quer chegar. / Aonde vamos? 33. “Obrigado”, disse a moça. Obrigado concorda com a pessoa: “Obrigada”, disse a moça. / Obrigado pela atenção. / Muito obrigados por tudo. 34. O governo “interviu”. Intervir conjuga-se como vir. Assim: O governo interveio. Da mesma forma: intervinha, intervim, interviemos, intervieram. Outros verbos derivados: entretinha, mantivesse, reteve, pressupusesse, predisse, conviesse, perfizera, entrevimos, condisser, etc. 35. Ela era “meia” louca. Meio, advérbio, não varia: meio louca, meio esperta, meio amiga. 36. “Fica” você comigo. Fica é imperativo do pronome tu. Para a terceira pessoa, o certo é fique: Fique você comigo. / Venha pra Caixa você também. / Chegue aqui. 37. A questão não tem nada “haver” com você. A questão, na verdade, não tem nada a ver ou nada que ver. Da mesma forma: Tem tudo a ver com você.

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38. A corrida custa 5 “real”. A moeda tem plural, e regular: A corrida custa 5 reais. 39. Vou “emprestar” dele. Emprestar é ceder, e não tomar por empréstimo: Vou pegar o livro emprestado. Ou: Vou emprestar o livro (ceder) ao meu irmão. Repare nesta concordância: Pediu emprestadas duas malas. 40. Foi “taxado” de ladrão. Tachar com ch é que significa acusar de: Foi tachado de ladrão. / Foi tachado de leviano. 41. Ele foi um dos que “chegou” antes. Um dos que faz a concordância no plural: Ele foi um dos que chegaram antes (dos que chegaram antes, ele foi um). / Era um dos que sempre vibravam com a vitória. 42. “Cerca de 18” pessoas o saudaram. Cerca de indica arredondamento e não pode aparecer com números exatos: Cerca de 20 pessoas o saudaram. 43. Ministro nega que “é” negligente. Negar introduz subjuntivo, assim como embora e talvez: Ministro nega que seja negligente. / O jogador negou que tivesse cometido a falta. / Ele talvez o convide para a festa. / Embora tente negar, vai deixar a empresa. 44. Tinha “chego” atrasado. “Chego” não existe. O certo: Tinha chegado atrasado. 45. Tons “pastéis” predominam. Nome de cor, quando expresso por substantivo, não varia: tons pastel, blusas rosa, gravatas cinza, camisas creme. No caso de adjetivo, o plural é o normal: ternos azuis, canetas pretas, fitas amarelas. 46. Lute pelo “meio-ambiente”. Meio ambiente não tem hífen, nem hora extra, ponto de vista, mala direta, pronta entrega, mão de obra, dia a dia, projeto piloto, etc. O sinal aparece, porém, em matéria-prima, primeira-dama, vale-refeição, meiode-campo, micro-ondas, etc. 47. Queria namorar “com” o colega. O com não existe: Queria namorar o colega. 48. O processo deu entrada “junto ao” STF. Processo dá entrada no STF. Igualmente: O jogador foi contratado do (e não “junto ao”) Guarani. / Cresceu muito o prestígio do jornal entre os (e não “junto aos”) leitores. / Era grande a sua dívida com o (e não “junto ao”) banco. / A reclamação foi apresentada ao (e não “junto ao”) Procon.

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49. As pessoas “esperavam-o”. Quando o verbo termina em m, -ão ou -õe, os pronomes o, a, os e as tomam a forma no, na, nos e nas: As pessoas esperavam-no. / Dão-nos, convidam-na, põe-nos, impõem-nos. 50. Vocês “fariam-lhe” um favor? Não se usa pronome átono (me, te, se, lhe, nos, vos, lhes) depois de futuro do presente, futuro do pretérito ou particípio. Assim: Vocês lhe fariam (ou far-lhe-iam) um favor? / Ele se imporá pelos conhecimentos (e nunca “imporá-se”). / Os amigos nos darão (e não “darão-nos”) um presente. / Tendo-me formado (e nunca tendo “formado-me”). 51. Chegou “a” duas horas e partirá daqui “há” cinco minutos. Há indica passado e equivale a faz, enquanto a exprime distância ou tempo futuro (não pode ser substituído por faz): Chegou há (faz) duas horas e partirá daqui a (tempo futuro) cinco minutos. / O atirador estava a (distância) pouco menos de 12 metros. / Ele partiu há (faz) pouco menos de dez dias. 52. Blusa “em” seda. Usa-se de, e não em, para definir o material de que alguma coisa é feita: blusa de seda, casa de alvenaria, medalha de prata, estátua de madeira. 53. A artista “deu à luz a” gêmeos. A expressão é dar à luz, apenas: A artista deu à luz quíntuplos. Também é errado dizer: Deu “a luz a” gêmeos. 54. Estávamos “em” quatro à mesa. O “em” não existe: Estávamos quatro à mesa. / Éramos seis. / Ficamos cinco na sala. 55. Sentou “na” mesa para comer. Sentar-se (ou sentar) em é sentar-se em cima de. Veja o certo: Sentou-se à mesa para comer. / Sentou ao piano, à máquina, ao computador. 56. Ficou contente “por causa que” ninguém se feriu. Embora popular, a locução não existe. Use porque: Ficou contente porque ninguém se feriu. 57. O time empatou “em” 2 a 2. A preposição é por: O time empatou por 2 a 2. Repare que ele ganha por e perde por. Da mesma forma: empate por. 58. À medida “em” que a epidemia se espalhava. O certo é: À medida que a epidemia se espalhava... Existe ainda na medida em que (tendo em vista que): É preciso cumprir as leis, na medida em que elas existem.

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59. Não queria que “receiassem” a sua companhia. O i não existe: Não queria que receassem a sua companhia. Da mesma forma: passeemos, enfearam, ceaste, receeis (só existe i quando o acento cai no e que precede a terminação -ear: receiem, passeias, enfeiam). 60. Eles “tem” razão. No plural, têm é assim, com acento. Tem é a forma do singular. O mesmo ocorre com vem e vêm e põe e põem: Ele tem, eles têm; ele vem, eles vêm; ele põe, eles põem. 61. A moça estava ali “há” muito tempo. Haver concorda com estava. Portanto: A moça estava ali havia (fazia) muito tempo. / Ele doara sangue ao filho havia (fazia) poucos meses. / Estava sem dormir havia (fazia) três meses. (O havia se impõe quando o verbo está no imperfeito e no mais-que-perfeito do indicativo.) 62. Não “se o” diz. É errado juntar o se com os pronomes o, a, os e as. Assim, nunca use: Fazendo-se-os, não se o diz (não se diz isso), vê-se-a, etc. 63. Andou por “todo” país. Todo o (ou a) é que significa inteiro: Andou por todo o país (pelo país inteiro). / Toda a tripulação (a tripulação inteira) foi demitida. Sem o, todo quer dizer cada, qualquer: Todo homem (cada homem) é mortal. / Toda nação (qualquer nação) tem inimigos. 64. “Todos” amigos o elogiavam. No plural, todos exige os: Todos os amigos o elogiavam. / Era difícil apontar todas as contradições do texto. 65. Favoreceu “ao” time da casa. Favorecer, nesse sentido, rejeita a: Favoreceu o time da casa. / A decisão favoreceu os jogadores. 66. Ela “mesmo” arrumou a sala. Mesmo, quanto equivale a próprio, é variável: Ela mesma (própria) arrumou a sala. / As vítimas mesmas recorreram à polícia. 67. Chamei-o e “o mesmo” não atendeu. Não se pode empregar o mesmo no lugar de pronome ou substantivo: Chamei-o e ele não atendeu. / Os funcionários públicos reuniram-se hoje: amanhã o país conhecerá a decisão dos servidores (e não “dos mesmos”). 68. Vou sair “essa” noite. É este que designa o tempo no qual se está ou objeto próximo: esta noite, esta semana (a semana em que se está), este dia, este jornal (o jornal que estou lendo), este século (o século 20).

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69. A temperatura chegou a 0 “graus”. Zero indica singular sempre: zero grau, zero-quilômetro, zero hora. 70. A promoção veio “de encontro aos” seus desejos. Ao encontro de expressa uma situação favorável: A promoção veio ao encontro dos seus desejos. De encontro a significa condição contrária: A queda do nível dos salários foi de encontro às (foi contra) expectativas da categoria. 71. Comeu frango “ao invés de” peixe. Em vez de indica substituição: Comeu frango em vez de peixe. Ao invés de significa apenas ao contrário: Ao invés de entrar, saiu. 72. Se eu “ver” você por aí... O certo é: Se eu vir, revir, previr. Da mesma forma: Se eu vier (de vir), convier; se eu tiver (de ter), mantiver; se ele puser (de pôr), impuser; se ele fizer (de fazer), desfizer; se nós dissermos (de dizer), predissermos. 73. Ele “intermedia” a negociação. Mediar e intermediar conjugam-se como odiar: Ele intermedeia (ou medeia) a negociação. Remediar, ansiar e incendiar também seguem essa norma: remedeiam, que eles anseiem, incendeio. 74. Ninguém se “adequa”. Não existem as formas “adequa”, “adeque”, etc., mas apenas aquelas em que o acento cai no a ou o: adequaram, adequou, adequasse, etc. 75. Evite que a bomba “expluda”. Explodir só tem as pessoas em que depois do d vem e e i: explode, explodiram, etc. Portanto, não escreva nem fale “exploda” ou “expluda”, substituindo essas formas por rebente, por exemplo. Precaver-se também não é conjugado em todas as pessoas. Assim, não existem as formas “precavejo”, “precavês”, “precavém”, “precavenho”, “precavenha”, “precaveja”, etc. 76. Governo “reavê” confiança. Equivalente: Governo recupera confiança. Reaver segue haver, mas apenas nos casos em que haver apresenta a letra v: Reavemos, reouve, reaverá, reouvesse. Por isso, não existem “reavejo”, “reavê”, etc. 77. Disse o que “quiz”. Não existe z, mas s, nas pessoas de querer e pôr: quis, quisesse, quiseram, quiséssemos; pôs, pus, pusesse, puseram, puséssemos. 78. O homem “possue” muitos bens. O certo: O homem possui muitos bens. Verbos em -uir só têm a terminação ui: inclui, atribui, polui. Verbos em -uar é que admitem ue: continue, recue, atue, atenue.

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79. A tese “onde”... Onde só pode ser usado para lugar: A casa onde ele mora. / Veja o jardim onde as crianças brincam. Nos demais casos, use em que: A tese em que ele defende essa idéia. / O livro em que... / A faixa em que ele canta... / Na entrevista em que... 80. Já “foi comunicado” da decisão. Uma decisão é comunicada, mas ninguém “é comunicado” de alguma coisa. Assim: Já foi informado (cientificado, avisado) da decisão. Outra forma errada: A diretoria “comunicou” os empregados da decisão. Opções corretas: A diretoria comunicou a decisão aos empregados. / A decisão foi comunicada aos empregados. 81. “Inflingiu” o regulamento. Infringir é que significa transgredir: Infringiu o regulamento. Infligir (e não “inflingir”) significa impor: Infligiu séria punição ao réu. 82. A modelo “pousou” o dia todo. Modelo posa (de pose). Quem pousa é ave, avião, viajante, etc. Não confunda também iminente (prestes a acontecer) com eminente (ilustre). Nem tráfico (contrabando) com tráfego (trânsito). 83. Espero que “viagem” hoje. Viagem, com g, é o substantivo: Minha viagem. A forma verbal é viajem (de viajar): Espero que viajem hoje. Evite também “comprimentar” alguém: de cumprimento (saudação), só pode resultar cumprimentar. Comprimento é extensão. Igualmente: Comprido (extenso) e cumprido (concretizado). 84. O pai “sequer” foi avisado. Sequer deve ser usado com negativa: O pai nem sequer foi avisado. / Não disse sequer o que pretendia. / Partiu sem sequer nos avisar. 85. Comprou uma TV “a cores”. Veja o correto: Comprou uma TV em cores (não se diz TV “a” preto e branco). Da mesma forma: Transmissão em cores, desenho em cores. 86. “Causou-me” estranheza as palavras. Use o certo: Causaram-me estranheza as palavras. Cuidado, pois é comum o erro de concordância quando o verbo está antes do sujeito. Veja outro exemplo: Foram iniciadas esta noite as obras (e não “foi iniciado” esta noite as obras). 87. A realidade das pessoas “podem” mudar. Cuidado: palavra próxima ao verbo não deve influir na concordância. Por isso: A realidade das pessoas pode mudar. / A troca de agressões entre os funcionários foi punida (e não “foram punidas”).

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88. O fato passou “desapercebido”. Na verdade, o fato passou despercebido, não foi notado. Desapercebido significa desprevenido. 89. “Haja visto” seu empenho... A expressão é haja vista e não varia: Haja vista seu empenho. / Haja vista seus esforços. / Haja vista suas críticas. 90. A moça “que ele gosta”. Como se gosta de, o certo é: A moça de que ele gosta. Igualmente: O dinheiro de que dispõe, o filme a que assistiu (e não que assistiu), a prova de que participou, o amigo a que se referiu, etc. 91. É hora “dele” chegar. Não se deve fazer a contração da preposição com artigo ou pronome, nos casos seguidos de infinitivo: É hora de ele chegar. / Apesar de o amigo tê-lo convidado... / Depois de esses fatos terem ocorrido... 92. Vou “consigo”. Consigo só tem valor reflexivo (pensou consigo mesmo) e não pode substituir com você, com o senhor. Portanto: Vou com você, vou com o senhor. Igualmente: Isto é para o senhor (e não “para si”). 94. Já “é” 8 horas. Horas e as demais palavras que definem tempo variam: Já são 8 horas. / Já é (e não “são”) 1 hora, já é meio-dia, já é meia-noite. 94. A festa começa às 8 “hrs.”. As abreviaturas do sistema métrico decimal não têm plural nem ponto. Assim: 8 h, 2 km (e não “kms.”), 5 m, 10 kg. 95. “Dado” os índices das pesquisas... A concordância é normal: Dados os índices das pesquisas... / Dado o resultado... / Dadas as suas ideias... 96. Ficou “sobre” a mira do assaltante. Sob é que significa debaixo de: Ficou sob a mira do assaltante. / Escondeu-se sob a cama. Sobre equivale a em cima de ou a respeito de: Estava sobre o telhado. / Falou sobre a inflação. E lembre-se: O animal ou o piano têm cauda e o doce, calda. Da mesma forma, alguém traz alguma coisa e alguém vai para trás.

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