Jornal Cavalo Crioulo - Abril 2013

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Geral

Pesquisa da UFPel testa limiar anaeróbico e frequência cardíaca do cavalo Crioulo Max Cirne

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Foto Felipe Ulbrich - Arquivo ABCCC

ma pesquisa da pós-graduação em Veterinária da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) obteve resultados quanto ao tipo físico e à constituição muscular do cavalo Crioulo a fim de obter um padrão de resposta às provas de alta exigência equestre do Freio de Ouro. Publicado na revista Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, sob o título Limiar anaeróbico (V4) e frequência cardíaca de cavalos Crioulos, o trabalho científico analisou em que momento dos exercícios os animais atingem o limiar anaeróbico, ou seja, o limiar de fadiga. O Crioulo foi escolhido como objeto de estudo porque um dos seis autores do artigo, Aníbal Torres, é criador e compete em várias provas da raça. Segundo ele, o trabalho do ginete ou treinador fica apenas em trotear o cavalo, um esforço aeróbico desnecessário à prova. “Tínhamos a certeza que os cavalos treinados para o Freio de Ouro não eram adequadamente submetidos ao treinamento físico específico”, aponta o que motivou a pesquisa. Para averiguar essa questão, adaptaram ao Crioulo métodos de avaliação utilizados em outras raças, com testes de desempenho realizados em pista. O professor Carlos Nogueira explica que a pesquisa partiu da análise das fibras musculares, divididas em lentas, aquelas que trabalham com oxigênio, chamadas de aeróbicas, e as rápidas, que trabalham sem oxigênio, chamadas de anaeróbicas. As primeiras conferem resistência e as demais potência. A conclusão foi de que o cavalo Crioulo é misto. “Utiliza as duas fibras e possui capacidade de adaptação muito grande”, conta o professor.

Estudo avaliou o desempenho dos animais em provas de alta exigência física que compõem o Freio de Ouro A partir dessa informação, o estudo prosseguiu na busca de seu objetivo principal: descobrir as condições em que o animal passa do exercício aeróbico para o anaeróbico. Nogueira coloca em linguagem mais simples. “Podemos comparar com atividades dentro de uma academia. A esteira é aeróbico e a musculação é anaeróbico. Porém, se aumentar a velocidade na esteira é possível transformar o aeróbico em anaeróbico”, esclarece. Durante seis meses a equipe ficou envolvida com a parte prática do estudo. Esta foi realizada com 23 cavalos em centros de treinamento de cinco municípios gaúchos (Rio Grande, Bagé, Porto Alegre, Arambaré e Foto Divulgação

Foram medidos batimentos cardíacos e a dosagem sanguínea de lactato

Uruguaiana), através de três etapas de velocidade progressiva de 6 m/s, 8m/s e 10 m/s, com duração de cinco minutos para cada fase. Aparelhos mediram o batimento cardíaco e a dosagem sanguínea de lactato. “Os testes realizados a campo determinaram que o Crioulo, parecido com os cavalos de padrão muscular misto, começa a trabalhar de forma anaeróbica a partir da frequência cardíaca de 120 bpm.” A análise de concentração do lactato sanguíneo comprovou que a substância aumenta a partir da velocidade de exercício de 6 m/s. Em 20 animais, o que corresponde a 90% do universo da pesquisa, atingiu-se 4mmol/L de lactato na velocidade entre 6 e 8 m/s, com média de frequência cardíaca de 121 a 140 bpm. A correlação é determinada pela V4 ou limiar anaeróbico, conceituada como a velocidade em que ocorre o equilíbrio entre a produção e o consumo do lactato. “Se passar de 4 mmol/L, com o cavalo bem treinado, o índice vai retornar para baixo de 4. Se não parar abaixo de 4 em 30 minutos, é um cavalo mal treinado e vai ter dores e problemas futuros”, comenta o professor da UFPel. A fadiga inicia quando o animal atinge a velocidade de 29 quilômetros por hora. O resultado do trabalho, segundo Torres, demonstrou que a maioria dos animais apresentam baixa capacidade anaeróbica e alta capacidade aeróbica. Também foi analisada a capacidade de recuperação

da fadiga, que demonstra a capacidade aeróbica dos cavalos. O estudo demonstrou a importância de um treinamento físico anaeróbico para o Crioulo. “O preparo utilizado pela maioria dos treinadores nos centros é o exercício a trote, de baixa intensidade para o cavalo. Com isso, os animais não têm treinamento adequado para uma prova que exige alta velocidade e intensidade, como é o Freio de Ouro”, fala o estudante da pós-graduação. Por outro lado, o treinamento a trote ao menos justifica a boa recuperação cardiopulmonar após o teste de exercício forçado. A pesquisa de autoria dos acadêmicos Lorena Amaral e Aníbal Torres, em conjunto com os professores Carlos Eduardo Nogueira, Charles Martins, Viviane Rabassa e Márcio Corrêa, comprovou a necessidade de um preparo anaeróbico para as provas do Freio de Ouro. O treinamento aeróbico é utilizado em provas de resistência e baixa intensidade, como é o caso de enduro e marcha de resistência. Nogueira adianta que outros estudos na UFPel estão averiguando o condicionamento físico dos animais para outras provas funcionais. “Os chilenos possuem alguns resultados nesse sentido. Mas a UFPel está produzindo essas pesquisas porque aqui, no Rio Grande do Sul, o Crioulo é diferente”, finaliza.

Abril, 2013 | Cavalo Crioulo

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