Ainda lembro do som que a pedra fazia quando riscava o chão, do gosto da primeira bolinha de sabão que engoli, dos gritos da minha mãe, me pedindo para entrar em casa para tomar banho. Porém, as maiores recordações que tenho da minha infância são os cheiros, as várias texturas do chão, o vento que batia no rosto enquanto corria, o dia que demorava para passar.
Para brincar, era preciso adaptar, transformar, improvisar. A calçada abrigava a amarelinha, a brincadeira de estátua, caminho desenhado no chão para fazer corrida com obstáculos de tampa de refrigerante e, com uma corda de estender roupas, virava a quadra de vôlei. O verso do pequeno quadro negro das aulas de reforço passava a ser a mesa de ping-pong, cuja rede era uma ripa e as raquetes, sandálias de dedo.
Era tempo de criar e imaginar, de amizades mais próximas e de sorriso no rosto.