Caderno de Educação Popular em Saúde - volume 2

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ininteligível. Quando rompe seu compromisso com a vida, aliena-se: e não se aliena só, separadamente, para, depois, alienar e cultura toda. Sua separação já é reflexo mistificado e mistificador da alienação cultural, como processo total de desumanização do mundo. E o reflexo é o contrario da reflexividade, o contrario da criticidade, não o comprometimento. Uma cultura alienada e alienante não se desaliena, pois, tão só pelo esforço exclusivo de um saber critico. Enquanto o saber se compromete, existencialmente, e assume sua função de reflexividade concreta no processo global da práxis, responde à sua vocação essencial: a de ser consciência critica do referido processo. Esta consciência não se constitui fora, mas dentro do processo: é histórica também. Consciência critica é consciência histórica. Não é sobre-determinaçao que empurra o processo desde fora, nem força que o impulsiona desde dentro. O mundo humano é histórico: consciência histórica é, também, consciência do mundo. E esta, como temos repetido tantas vezes, não é um dualismo, mas unidade originaria, isto. O saber não desaliena nem se desaliena, se não implicado nas tensões dialéticas que dinamizam internamente essa unidade originaria, isto é, solidário com todo o processo que o gerou e de que ele deve ser a mais lúcida expressão de consciência histórica – o processo de encarnação objetivamente e comunhão intersubjetivante, os dois aspectos da cultura autêntica, que crescem juntos, um em razão direta do outro.

3. A cultura é um processo vivo de permanente criação: perpetua-se refazendo-se em novas formas de vida.Só se cultiva, realmente, quem participa deste processo, ao refazê-lo e refazer-se nele. A transmissão do já feito, é cultura morta. O feito é só mediador de cultura, enquanto manifesta, interiormente, um fazer interno de que participamos. A elaboração do mundo só é cultura e humanização, se intersubjetiva as consciências. Elaboração que postula, necessariação de um mundo comum. Participação que radica na comunicação do saber da cultura: participação no saber, no saber fazer, no fazer que se sabe. E nisso consiste, essencialmente, o aprendizado. Ninguém aprende o que se lhe ensina: cada um aprende o que aprende. Agora, se o saber, como vimos, é o reverso translúcido da cultura (é a mesma cultura que se vai dizendo a si mesma, como consciência critica, e, neste dizer-se, vai se do é participação ativa, comprometida no processo histórico cultural). Toda cultura é, assim, medularmente aprendizado. Em sua dinâmica, o homem se faz, aprendendo a refazer-se. Cultura autêntica é conscientização.Na cultura alienada, o saber deixa de ser cultura que se sabe, num saber que critica e promove: passa a ser um reflexo ideológico, mistificante, da dominação que impede ao sujeito recuperar-se na objetividade, o coisifica no mundo e o domínio do mundo se confunde com a dominação da consciência. O saber se transforma em instrumento de mistificação das consciências: não liberta, justifica a servidão.Na cultura alienada, o aprenNossas fontes

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