Brasil Observer #16 - Portuguese Version

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LONDON EDITION JULY 31 – AUGUST 13

ISSN 2055-4826

CLÁSSICO DO CINEMA ‘Terra em Transe’ tem exibição especial em Londres >> Página 15

REPRODUÇÃO

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LEANDRO DE BRITO

DIÁLOGOS DE INOVAÇÃO

PARCERIA ENTRE BRASIL E REINO UNIDO QUE PRETENDE ACELERAR SOLUÇÕES INOVADORAS PARA CIDADES SUSTENTÁVEIS TRAÇA ESTRATÉGIAS PARA OLIMPÍADA DO RIO

>> Páginas 10 e 11


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EM FOCO Notícias que foram destaques na quinzena

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BRASILIANCE BRICS começam a construir nova ordem

LONDON EDITION 06

BRASIL NO UK Desafios da literatura brasileira no exterior

EDITORA - CHEFE

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UK NO BRASIL

Ana Toledo ana@brasilobserver.co.uk

Amistoso celebra 100 anos da Seleção Brasileira

EDITORES

PERFIL

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Guilherme Reis guilherme@brasilobserver.co.uk

Fábio Panone Lopes

Kate Rintoul kate@brasilobserver.co.uk

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RELAÇÕES PÚBLICAS

Congresso Nacional em renovação

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COLABORADORES

CONECTANDO

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CAPA Brasil e Reino Unido unem forças para o Rio 2016

ELEIÇÕES 2014

A história de uma professora soropositiva

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BRASIL OBSERVER GUIDE Glauber Rocha e muito mais...

Roberta Schwambach roberta@brasilobserver.co.uk

Alec Herron, Antonio Veiga, Bianca Dalla, Gabriela Lobianco, Marielle Machado, Michael Landon, Nathália Braga, Ricardo Somera, Rômulo Seitenfus, Rosa Bittencourt, Shaun Cumming, Wagner de Alcântara Aragão

PROJETO GRÁFICO wake up colab digala@wakeupcolab.com.br

DIAGRAMAÇÃO

16 - 17

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19

22 - 23

24 - 25

16|17 CAPA DO GUIA 18 NINETEEN EIGHT-FOUR 19 GOING OUT 22/23 NEW CANVAS OVER OLD 24/25 TRAVEL

Jean Peixe ultrapeixe@gmail.com

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IMPRESSÃO Iliffe Print Cambridge iliffeprint.co.uk

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E D I T O R I A L

BRASIL OBSERVER NAS ELEIÇÕES Por Ana Toledo – ana@brasilobserver.co.uk

Começou a corrida eleitoral. Ainda um pouco tímida, pois a exposição dos candidatos através dos programas eleitorais de radio e TV tem início a partir do dia 19 de agosto. Além do cargo de Presidente da República, brasileiros e brasileiras vão às urnas para escolher seus representantes no Congresso Nacional: senadores e deputados federais. E, a nível estadual, governador e deputados estaduais. Por isso, a partir desta edição você poderá acompanhar o nosso especial Eleições 2014. Nas páginas 12 e 13, você fica por dentro do funcionamento do sistema político do país, entendo a atuação do Congresso Nacional, além da composição que forma as duas casas. Nas próximas quatro edições, até o primeiro turno das eleições, dia 5 de outubro, apresentaremos o perfil de cinco dos

11 candidatos ao cargo de Presidente da República. Adotando a lógica da colocação nas pesquisas eleitorais recentemente divulgadas, começaremos com o pastor Everaldo Pereira (PSC) e Luciana Genro (PSOL), seguindo por Eduardo Campos (PSB), Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT). Desta forma, valorizando a construção de ideias através de discussões e debates, apresentamos esta edição. E convidamos nossos leitores a participar enviando seus comentários, críticas e sugestões no decorrer deste processo que, mesmo com inúmeros defeitos, compõe o sistema democrático do Brasil. Envie sua mensagem através das nossas redes sociais: www. facebook.com/brasilobserver | www.twitter.com/brasilobserver Até a próxima!

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EM FOCO

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MÍDIA NINJA

BRASIL CONDENA AÇÃO DE ISRAEL EM GAZA

Ato reuniu 2 mil pessoas em São Paulo

MERCOSUL DEVE ANTECIPAR TARIFA ZERO

GRUPOS DEFENDEM MANIFESTANTES PRESOS

O Brasil quer a redução a zero das tarifas de importação de produtos entre o países membros do Mercosul, além de Colômbia, Peru e Chile – apesar de não pertencerem ao bloco, os três países mantêm acordos de redução de tarifas com os membros do bloco. O anúncio estava previsto para ser feito durante a 46ª Reunião de Cúpula do Mercosul, no dia 29 de julho, em Caracas, capital da Venezuela. Segundo o vice-secretário-geral da América do Sul, Central e do Caribe do Ministério das Relações Exteriores, Antônio Simões, o bloco já tem acordos de redução de tarifas de importação. A intenção do governo brasileiro é antecipar a vigência da tarifa zero. “Hoje, conforme o que foi assinado, a tarifa zero viria no final de 2019. Nós propomos antecipar para o final deste ano,” explicou o embaixador. Caso os países do Mercosul concordem com a proposta, o passo seguinte será realizar uma reunião do bloco com cada um dos três países não membros. Essa proposta, que já foi discutida anteriormente, voltará à pauta nesta reunião, disse Simões. Colômbia, Peru e Chile integram a Aliança do Pacífico, bloco

Representantes de movimentos sociais condenaram o processo contra 23 ativistas acusados de associação criminosa no Rio de Janeiro, em entrevista coletiva que reuniu o grupo Tortura Nunca Mais, o Sindicato dos Trabalhadores Públicos Federais em Saúde e Previdência Social no Estado do Rio de Janeiro (Sindsprev-RJ), o Sindicato dos Petroleiros, a Frente Internacionalista dos Sem Teto e o Instituto dos Defensores dos Direitos Humanos (DDH). O recém-criado Comitê Popular contra o Estado de Exceção, que anunciou que estava convocando atos em várias partes do país para o dia 30 de julho, também participou da declaração. Joana Ferraz, que representou o grupo Tortura Nunca Mais na entrevista, afirmou que a entidade mandou alertas para organizações nacionais e internacionais, afirmando que os 23 ativistas estão sendo perseguidos, torturados e obrigados a viver na clandestinidade. Coordenador do DDH, que teve advogados presos no in-

comercial que inclui ainda o México e a Costa Rica. A proposta é realizar uma reunião com a Aliança do Pacífico antes de dezembro. O Mercosul tem também acordos de liberalização comercial com Bolívia e Equador. Segundo o embaixador, o interesse do Brasil em antecipar a redução das tarifas explica-se pelo aumento no comércio com os três países e por envolver produtos manufaturados. “De 2002 a 2013, por exemplo, o comércio com a Colômbia aumentou 300%, com o Peru, 389%, e com o Chile, 200%”, informou Simões. “É um comércio importante porque envolve produtos manufaturados. Que são de alto valor agregado, que rendem empregos com carteira assinada.” A 46ª Cúpula do Mercosul também marca o retorno do Paraguai ao bloco regional. Além dos presidentes do Brasil, Dilma Rousseff; da Argentina, Cristina Kirchner; do Paraguai, Horacio Cartes; do Uruguai, José Mujica; e da Venezuela, Nicolás Maduro, estará presente o presidente boliviano, Evo Morales. A Bolívia é associada ao bloco e está em processo de incorporação como membro pleno.

quérito, Thiago Melo disse que as acusações do processo são genéricas porque não há fundamentos para as acusações individuais e específicas. Ele também disse que as acusações são autoritárias e reclamou dos grampos telefônicos de linhas do instituto, que defende vítimas de violações praticadas por policiais. “É duplamente grave que isso tenha acontecido. A comunicação dos clientes com advogados tem que ser secreta”, avaliou. “Temos uma tradução clara de que os movimentos sociais estão sendo interpretados pela polícia e pela justiça criminal como crime organizado”, disse. O Sindsprev-RJ distribuiu uma nota em que se posiciona sobre a acusação de ter financiado marmitas para manifestantes, afirmando que participa ativamente de todas as mobilizações populares e que apoia diretamente as mobilizações que questionam governos. “Em vez de atender às exigências da população, a resposta dos governantes foi tratar os protestos como caso de polícia”, diz a nota.

O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, defendeu a posição do governo brasileiro que condenou “energicamente o uso desproporcional da força” por Israel em conflito na Faixa de Gaza. “Condenamos a desproporcionalidade da reação de Israel, com a morte de cerca de 700 pessoas, dos quais mais ou menos 70% são civis, e entre os quais muitas mulheres, crianças e idosos. Realmente, não é aceitável um ataque que leve a tal número de mortes de crianças, mulheres e civis”, disse o ministro em evento em São Paulo. O ministro lembrou que o Itamaraty já havia divulgado nota condenando o movimento islâmico Hamas pelos foguetes lançados contra Israel, e também Israel pelo ataque à Faixa de Gaza. “Israel se queixa que não repetimos a condenação que já tínhamos feito. A condenação que já tínhamos feito continua, somos absolutamente contrários ao fato de o Hamas soltar foguetes contra Israel. Isso se mantém. Não há dúvida. Não pode haver dúvida disso”, afirmou. Figueiredo rebateu ainda afirmação do porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Yigal Palmor, que classificou o Brasil de “anão diplomático”, apesar de sua posição econômica e cultural. “O que eu li é que o Brasil é um gigante econômico e cultural, e é um anão diplomático. Eu devo dizer que o Brasil é um dos poucos países do mundo, um dos 11 países do mundo, que têm relações diplomáticas com todos os membros da ONU. E temos um histórico de cooperação pela paz e ações pela paz internacional. Se há algum anão diplomático, o Brasil não é um deles”, reagiu o chanceler. Segundo Figueiredo, as declarações do porta-voz da Chancelaria israelense não devem, porém, estremecer as relações de amizade entre os dois países. “Países têm o direito de discordar. E nós estamos usando o nosso direito de sinalizar para Israel que achamos inaceitável a morte de mulheres e crianças, mas não contestamos o direito de Israel de se defender. Jamais contestamos isso. O que contestamos é a desproporcionalidade das coisas”, destacou. O chanceler também defendeu a posição brasileira assumida no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas. O Brasil votou favoravelmente à condenação da atual ofensiva militar de Israel na Faixa de Gaza e à criação de uma comissão internacional para investigar todas as violações e julgar os responsáveis.


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BRASILIANCE

PROTAGONISTAS DE UMA NOVA ORDEM

Em reunião de cúpula realizada em Fortaleza, países do BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – criam banco

e fundos próprios, reúnem-se com chefes de Estado da América Latina e começam a organizar uma nova ordem econômica

Por Wagner de Alcântara Aragão Talvez só com o tempo se dê a devida conta, mas desde já é possível arriscar que o mês de julho de 2014 vai entrar para a história da geopolítica internacional. No dia 15 daquele mês, durante a VI Cúpula do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) na cidade de Fortaleza, capital do Estado do Ceará, foi formalizada a criação de dois instrumentos econômico-financeiros que simbolizam a consolidação de um novo bloco de poder no mundo, em contraposição ao G-7, grupo dos sete países mais ricos do planeta. Tratam-se do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) e do Arranjo Contingente de Reservas (ACR). O banco vai financiar obras de infraestrutura e projetos de desenvolvimento sustentável nos países do BRICS e em outros emergentes – há uma demanda mundial de crédito não atendida da ordem de US$ 1 trilhão por ano somente na área de infraestrutura, de acordo com a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio de Desenvolvimento. Já o Arranjo de Contingente de Reservas vai funcionar como um fundo para auxiliar financeiramente países com eventuais problemas de liquidez. O NBD vem cumprir uma função hoje exercida pelo Banco Mundial, enquanto o ACR se contrapõe ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Há, porém, uma diferença qualitativa. O NBD terá um capital inicial autorizado de US$ 100 bilhões e um capital inicial subscrito de US$ 50 bilhões, aportados em partes iguais. Diferentemente do é praticado pelo FMI, onde o voto de cada país é proporcional ao seu peso econômico e político – o que gera contínuas reclamações das nações mais pobres –, os cinco países do BRICS terão o mesmo peso nas concessões de auxílio, uma arquitetura coerente com a estratégia do bloco de construir uma organização multipolar no cenário mundial. O primeiro presidente do Novo Banco de Desenvolvimento será da Índia e sua sede, em Xangai. O presidente do Conselho de Governadores será da Rússia e do Conselho de Administração, do Brasil. Haverá ainda a criação de um centro regional na África do Sul.

MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA

VI Cúpula do BRICS aconteceu em Fortaleza


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INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA A criação dos dois instrumentos financeiros foi o destaque da VI Cúpula do BRICS em Fortaleza, mas não a única decisão tomada pelos chefes de Estado dos cinco países. Foi por posicionamentos do bloco sobre outros assuntos globais que o encontro ganhou contornos de marco histórico. É o que pensa o professor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), Zeno Soares Crocetti, doutor em Geografia e com especialização em Geopolítica. “A Declaração de Fortaleza não para por aí [criação do banco e do contingente de reservas]; ela afirma a disposição do bloco em atuar em uma ampla gama de temas estratégicos em disputa na arena global”, disse o professor em entrevista ao Brasil Observer (leia mais na página ao lado). “Sempre reiterando a centralidade das Nações Unidas, o BRICS se posicionou claramente em relação aos conflitos na Síria, no Irã e a questão nuclear, Afeganistão, Iraque, Ucrânia, Palestina, e reafirmou a necessidade de uma reforma abrangente das Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança”, exemplificou. Crocetti destacou ainda a integração do grupo com a América do Sul, viabilizada pelo encontro entre os chefes de Estados do BRICS e da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), realizado em Brasília, no dia seguinte à Cúpula de Fortaleza. O encontro também foi enaltecido pelo professor e sociólogo Emir Sader, que classificou a reunião como “o feito histórico mais importante desde a Guerra Fria”. “Eu diria até que é uma espécie de Bretton Woods do sul do mundo, que foi o acordo no final da Primeira Guerra Mundial pelas grandes potências capitalistas para controlar o sistema internacional, do qual surgiu o FMI”, comparou em entrevista concedida à Rede Brasil Atual. Outro que salientou a reviravolta que o encontro entre os países do BRICS e da Unasul representou para a geopolítica internacional foi o cientista político Juan Manuel Karg, da Universidade de Buenos Aires. Em seu blog no site da TeleSur – emissora de televisão multiestatal da América do Sul –, Karg considerou que a reunião entre os dois blocos “demonstra o novo papel da América Latina” no cenário mundial. O cientista político lembrou que o surgimento de ambos os blocos se deu contemporaneamente, a partir da segunda metade da década passada. Agora, os caminhos de ambos se cruzam. “Não por casualidade o documento final da VI Cúpula do BRICS destaca ‘processos de integração da América do Sul’ e, em especial, ‘a importância da Unasul’”, escreveu o analista. “Em um novo mundo onde Washington já não deterá a hegemonia econômica, a inter-relação entre BRICS e Unasul

abre valiosas portas para um desenvolvimento autônomo de nosso continente”, completou. A criação do Novo Banco de Desenvolvimento, para Juan Manuel Karg, gera “uma nova arquitetura financeira mundial”. Entretanto, ressalvou ele, a nova instituição só vai de fato se contrapor ao FMI e ao Banco Mundial se não repetir as práticas desses dois. “O novo banco só poderá ser uma alternativa válida se não intervir na política interna dos países para os quais efetuar os empréstimos, se não impor condições ‘leoninas’ como as do FMI e do Banco Mundial, quais sejam redução dos gastos públicos, privatizações etc.”.

Momento histórico para o mundo periférico Brasil Observer: A Cúpula do BRICS pode ser considerada um passo importante para a mudança da ordem internacional? Zeno Soares Crocetti: Foi um momento histórico para o Mundo Periférico. O encontro representou uma importante força para mudanças e reformas nas atuais instituições multilaterais globais em direção à uma governança mundial mais representativa e equitativa. É um esforço pela recuperação econômica mundial e por alternativas que tenham impacto sobre a vida das pessoas, ainda atingidas por políticas neoliberais de arrocho agressivas, que empobrecem e cortam direitos sociais de trabalhadores em diversos países, sobretudo na Europa. O conteúdo [da Declaração de Fortaleza] por si só é revolucionário e subversivo, e sua realização concreta beira provocação às forças conservadoras que sustentam o imperialismo.

O FATOR CHINÊS

Brasil Observer: É possível projetar como Estados Unidos e União Europeia devem reagir diante da consolidação do BRICS?

Um desafio para o Brasil e para a América Latina de um modo geral está em alcançar relações comerciais mais equilibradas com a China – o mais poderoso país do BRICS. Isso se o objetivo do grupo é, de fato, promover uma maior integração. O comércio bilateral Brasil-China, por exemplo, chegou a quase US$ 90 bilhões em 2013, cifra recorde, segundo o governo brasileiro. No entanto, mais de 80% das exportações brasileiras para o país asiático são de produtos primários, commodities como minério de ferro, soja e outros itens do extrativismo e de agricultura. Já a pauta de exportações da China para o território brasileiro é baseada em produtos industrializados. Foi-se o tempo em que chegavam da China só artigos de vestuário, artigos do lar, brinquedos etc. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), há dez anos a China ocupava a décima posição entre os países dos quais a indústria de transformação brasileira mais adquiria máquinas. Hoje, a China está em segundo no ranking que usa como critério o valor monetário das importações e em primeiro no ranking por volume (peso). No dia 17 de julho foi realizada ainda uma reunião entre a presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, o presidente da China, Xi Jinping, e chefes de Estado e representantes da América Latina exatamente com o propósito de debater as relações entre os dois lados do planeta. Do encontro se decidiu constituir o Fórum América Latina, Caribe e China, que deve se reunir pela primeira vez no ano que vem. “Eu considero que foi uma reunião de alto nível, em que questões importantes foram olhadas, numa ótica e perspectiva da América Latina”, disse Dilma em coletiva à imprensa. Segundo o Palácio do Planalto, Dilma Rousseff e Xi Jinping assinaram 32 atos, “dentre eles, importantes parcerias comerciais”. Ainda de acordo com o Planalto, “Dilma destacou a necessidade de diversificar e agregar valor às exportações e investimentos brasileiros relacionados à China”.

Zeno Soares Crocetti: Num primeiro momento, a mídia global, influenciada pela pressão do imperialismo, tentou ignorar a reunião histórica da cúpula e a criação do banco. Depois tentou transformá-lo num brechó. Reduziu a quinquilharias o acordo multilateral do BRICS, que sozinho poderá abrigar, nos próximos dez anos, segundo dados da ONU, 1,8 bilhão de consumidores com renda superior a US$ 3 mil anuais, entre os quais 200 milhões com ganhos acima de US$ 15 mil. Brasil Observer: O fortalecimento do BRICS pode afastar o Brasil do processo de integração latino-americana? Zeno Soares Crocetti: Desde que o PT ganhou as eleições e passou a administrar o país há mais de uma década, um dos maiores acertos de gestão se deu na política externa. Deixamos de ser vassalos do imperialismo, abandonamos nosso posto de subserviência e passamos a ser protagonistas. Mas isso tem um preço. O Brasil, devido sua ousadia, passou a ser chamado de país subimperialista. O centro do capitalismo passou a tratar e reconhecer o país como competidor, cortando vários incentivos e isenções fiscais e monetárias. Nossa balança comercial despencou. Desse processo teve início a construção de pontes com os países latino-americanos, africanos, asiáticos e com o Oriente Médio. Acredito que cada vez mais o Brasil será latino-americano.

O TAMANHO DO BRICS

18% do PIB mundial

46% da população do planeta

26% da massa do planeta

O TAMANHO DE CADA UM (PIB)

China: 53% Brasil: 18,8%

Índia: 13,8%

Rússia: 13,2%

África do Sul: 3,3%


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BRASIL NO UK

REPRODUÇÃO

São raros os livros de autores brasileiros traduzidos para o inglês, mas o interesse está ficando cada vez maior

DESAFIOS DA LITERATURA BRASILEIRA EM INGLÊS A internacionalização da literatura brasileira está em destaque: tanto no Brasil quanto no Reino Unido acontecem eventos que caminham nesse sentido. No dia em que este jornal chega às ruas, começa a 12ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP) – este ano de 31 de julho a 3 de agosto –, que é a maior vitrine da literatura tupiniquim para o mundo. A 2ª edição da versão inglesa do festival, a FlipSide, será em outubro (www.flipsidefestival.co.uk), mas quem já quiser entrar no clima pode conferir o colóquio “Brazilian Literature: Challenges for Translation”, que acontece dia 18 de agosto no Strand Campus do King’s College London, em Covent Garden. O evento, gratuito e com duração de um dia, está sendo organizado pelo Departamento de Estudos Espanhol, Português e Latino-Americano da universidade, assim como pelo Instituto Brasil. De acordo com os organizadores, há

alguns anos é possível observar um interesse crescente pela literatura brasileira – tanto do mercado quanto dos leitores – no Reino Unido e nos Estados Unidos, especialmente depois da publicação do título “The best of young Brazilian novelists”, pela revista Granta (2012), além da tradução de novos romances de Clarice Lispector por Benjamin Moser (2009). Assim, com o objetivo de encorajar a reflexão sobre o processo de seleção, tradução, publicação e circulação da literatura brasileira no exterior, o King’s College London abre espaço para a discussão entre estudantes, pesquisadores, editores, tradutores e demais interessados. O evento será dividido nos seguintes painéis: 1) “Brazilian literature on the international scene”; 2) “Brazilian literature and the publishing market”; 3) “Brazilian literature, and the dynamics and politics of translation”; e 4) “Beyond Brazilian literature: into the twenty-first century”. Entre os participan-

tes convidados estão Cimara Valim de Melo (King’s Brazil Institute), Lenita Esteves (Universidade de São Paulo), Francisco Vilhena (Granta Magazine) e Moema Salgado (Fundação Biblioteca Nacional). Desde que o romance Iracema, de José de Alencar, foi traduzido para o inglês pelo explorador e escritor britânico Richard Burton no século 19, relativamente poucos trabalhos foram traduzidos nos Estados Unidos e no Reino Unido, tanto de escritores clássicos quanto dos mais novos. O português, que é a sexta língua mais falada no mundo, não está entre os idiomas mais traduzidos para o inglês. Além disso, no Brasil, único país da América Latina cujo idioma oficial é o português, 60% dos livros publicados são traduções, sendo 75% do inglês. Nos Estados Unidos, para se tenha uma ideia, apenas 3% dos livros publicados todos os anos são traduções de outra língua. Tudo isso forma um momento oportuno para a discussão proposta pelo King’s

Colóquio organizado pelo King’s College London vai debater a situação atual da literatura brasileira traduzida, assim como as perspectivas para sua circulação internacional

College, ou seja, como reposicionar a literatura brasileira no mundo contemporâneo. Para mais informações sobre o colóquio – e para reservar seu lugar – acesse o endereço http://goo.gl/zr9Ba2.

LANÇAMENTOS Um dia após o colóquio, em 19 de agosto, o King’s Brazil Institute vai promover o lançamento de dois livros: Brazil: The Troubled Rise of a Global Power (de Michael Reid) e The Country of Football: Politics, Popular Culture and The Beautiful Game in Brazil (editado por Paulo Fontes e Bernardo Buarque de Holanda). Reid e Fontes estarão no evento e vão responder perguntas da plateia. A entrada é gratuita e não há necessidade de reserva. g

Mais em http://goo.gl/NJ61iW


UK NO BRASIL AMISTOSO NO RIO CELEBRA 100 ANOS DA SELEÇÃO BRASILEIRA Time sub-23 do Fluminense e o Exeter City FC empataram em 0 a 0, em jogo que relembrou a primeira partida da Seleção Brasileira, também contra o time inglês, em 1914 DIVULGAÇÃO/UK IN BRAZIL

(1) Jogadores de Fluminense e Exeter perfilados antes da partida; (2) a Taça Marcos Carneiro de Mendonça; (3) imagem rara do primeiro jogo da Seleção Brasileira, contra o Exeter, no Rio de Janeiro, em 1914.

DIVULGAÇÃO/UK IN BRAZIL

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O Governo Britânico no Brasil, o Fluminense FC e o Exeter City FC celebraram no dia 20 de julho os 100 anos da primeira partida da Seleção Brasileira, disputada contra o time inglês, no bairro de Laranjeiras. O Tributo ao Centenário foi realizado no mesmo campo onde foi feito o jogo de 1914 e o chute inicial foi feito com a bola original utilizada naquela partida histórica. Ao todo, 900 convidados assistiram à disputa pela Taça Marcos Carneiro de Mendonça. Muitos sócios presentes e torcedores ingleses prestigiaram o amistoso internacional entre o time sub-23 do Fluminense e o Exeter City. O jogo, embora bastante movimentado no segundo tempo, acabou ficando num empate sem gols – o que deu o troféu ao time inglês, conforme previsto anteriormente em caso de empate. De todo modo, o que valia mesmo era a festa. Antes da partida, houve um longo cerimonial com a presença de dirigentes do Exeter e do clube carioca. A história do primeiro amistoso foi detalhadamente contada. Em 1914, nas Laranjeiras, a Seleção Brasileira jogou pela primeira vez em sua história, justamente contra o Exeter, e venceu por 2 a 0. Filha de Marcos Carneiro de Mendonça, goleiro brasileiro do jogo de 1914, Barbara Heliodora Carneiro de Mendonça, que também é crítica teatral, falou emocionada sobre o evento. “É uma oportunidade para relembrar meu pai que teve tanta história no futebol pelo Fluminense. Ele dizia que o chute, quando é feito de forma correta, sempre é defensável. A única boa que não tinha salvação era aquela que desviava ou que acertava o caminho do gol sem querer”, contou. Jornalista, tricolor ilustre e apresentador da TV Globo, Pedro Bial também marcou presença no evento e, à reportagem do LANCE!Net, comentou o histórico momento: “Depois da derrota do Brasil na Copa do Mundo e vendo este jogo histórico hoje, se no passado tivemos a fundação da Seleção Brasileira, este Fluminense e Exeter City poderia marcar a refundação da Seleção Brasileira. Nada mais simbólico”. Eric Menezes, responsável por levar o Exeter ao Brasil, explicou o significado do evento para o time inglês. “Vieram mais de 150 torcedores com o time. É uma celebração da existência do Exeter. Aquele jogo com o Brasil foi o mais marcante da história e reviver isso aqui nas Laranjeiras, contra o Fluminense, foi absolutamente especial. Hoje é mais um dia feliz para o Exeter”, disse Menezes. Para a Cônsul Geral do Reino Unido no Rio de Janeiro, Paula Walsh, a data é um importante marco da boa relação entre os países. “O Brasil está ligado ao Reino Unido por uma grande paixão que dividimos pelo futebol. Nossa relação não poderia ser melhor tanto em campo quanto fora dele”, disse a diplomata, que discursou junto aos presidentes do Fluminense e do Exeter antes da execução dos hinos.


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PERFIL

Fábio Panone Lopes:

Internacionalizando conhecimento Arquiteto e artista brasileiro esteve recentemente em Londres e conversou com o Brasil Observer sobre seu trabalho, a experiência na capital britânica e o que pensa sobre graffiti Por Rômulo Seitenfus

Da mistura de linhas expressivas da arquitetura, somadas a preenchimentos super coloridos do graffiti, o gaúcho Fábio Panone Lopes, natural de Caxias do Sul, expõe em suas obras um estilo diferenciado. Com influências que vão da Pop Art à Art Nouveau, traz ainda para suas pinturas um toque essencialmente brasileiro, com referências à fauna e à flora, assim como aos indígenas. FPLO, como é conhecido, mistura e expõe seus conhecimentos artísticos há 15 anos. No Brasil, já participou de diversos eventos, principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. No exterior, rodou por diversas cidades dos Estados Unidos e países da Europa, como França, Alemanha e, mais recentemente, Inglaterra. Em Londres, onde esteve pela segunda vez em julho passado, ficou responsável pela pintura de murais no teatro Sadler’s Wells, um dos mais prestigiados da cidade, por conta do espetáculo ‘Brasil Brasileiro’, que ficou em cartaz até o fim do mês. A curadoria foi de Letty Lyons, que chegou ao artista graças a Pigment, que já há alguns anos traz para a Europa artistas brasileiros ligados ao graffiti. Nesta entrevista exclusiva ao Brasil Observer, Fábio fala sobre como começou a desenvolver suas técnicas de desenho, sobre a experiência de levar seu trabalho para o exterior e reflete sobre a essência do graffiti, assim como seu desenvolvimento fora das ruas.

Fábio Panone Lopes (foto 1) assinou trabalhos no teatro Sadler’s Wells (2 e 3) e nas ruas de Camden Town (4)

DIVULGAÇÃO

A essência do graffiti é a rua. Quando eu sou chamado para decorar um ambiente ou para expor em uma galeria, noto que o dever está sendo bem cumprido nas ruas


brasilobserver.co.uk 9 Desenhar é um dom, mas exige aperfeiçoamento. Como isso aconteceu com você? Quando começou a desenhar e como foi o processo até chegar ao traço técnico que usa hoje?

transformam as mesmas em uma galeria a céu aberto dentro da malha urbana. Você pode ir ao trabalho e voltar para casa, e no meio do caminho encontrar uma nova “exposição”.

Gosto de desenhar desde criança. Lembro que gostava muito de desenhar em folhas A4 e pendurar na parede do meu quarto, como se fossem telas. Mais tarde comecei a pintar alguns murais na rua e nunca mais parei. Já pratiquei diversas formas de pintura dentro do graffiti. Lembro que os estilos que eu mais gostava de pintar eram o 3D e o Wild Style. Depois, ao ingressar na faculdade de Arquitetura e Urbanismo, fui pegando gosto pelo traçado livre e expressivo, pois projetamos sempre com croquis rápidos. E a arte que faço hoje ganhou minha identidade de forma natural. Um mix das linhas expressivas da minha formação de arquiteto com o universo multicolorido dos sprays, com degrades e formas clássicas do graffiti.

Como é levar seu trabalho para diversos cantos do mundo?

Você é arquiteto. Como alia a profissão com sua arte? Hoje eu praticamente vivo as duas coisas de simultaneamente. Às vezes eu projeto, e às vezes eu realizo alguma obra. Nos finais de semana me sobra mais tempo e ai eu consigo realizar os murais na rua. O mais legal é que às vezes eu faço algum projeto para algum cliente e o cliente já pede antecipado para ter uma tela assinada por mim, ou alguma parede grafitada na casa. Acontece muito também de colegas arquitetos indicarem o meu trabalho para seus clientes. O graffiti saiu das ruas e, além de entrar em museus e galerias de arte, entra cada vez mais no lar das pessoas. Isso pode ser considerado um objetivo cumprido do graffiti?

Sempre que eu vou para fora do Brasil levo na bagagem um pouco da nossa cultura além do futebol e do carnaval. Realizo murais pelas ruas com temas da nossa fauna e flora. Um pouco dos povos indígenas também faz parte das minhas referências. Enfim, procuro levar um pouco mais da riqueza e da cultura que existe aqui no Brasil e que às vezes passa despercebido pelas pessoas que vivem no exterior. Internacionalização da arte, internacionalização de conhecimento... Sempre uma troca muito justa. Como foi sua experiência em Londres no evento ‘Brasil Brasileiro’? Teve um jornal daqui que falou que o evento era um “One Way Ticket” para o Rio... Foi inesquecível! Representar a arte do graffiti brasileiro dentro de um dos teatros de dança mais importantes do Reino Unido (Sadler’s Wells Theatre) foi uma experiência muito boa! A responsabilidade era grande, e busquei inspiração nos movimentos da apresentação dos dançarinos do mesmo espetáculo apresentado nas ruas de Londres dias antes da pintura, para expressar o que senti através da arte. Acho que o resultado ficou bacana. O pessoal do teatro gostou bastante e me disse que ficou melhor do que o esperado quando finalizei a pintura. Tenho visto através das redes sociais, fotos dos murais feitos pelas pessoas que estão indo ao espetáculo. Estou super feliz em poder ter contribuído com o evento.

A essência do graffiti é a rua. Quando eu sou chamado para decorar um ambiente ou para expor em uma galeria, noto que o dever está sendo bem cumprido nas ruas. É o reconhecimento de que estou trazendo vida para as cidades e despertando sensações nas pessoas dentro do meio urbano. Dessa forma, é natural que o graffiti venha a invadir cada vez mais as galerias e os ambientes, pois as pessoas que circulam nas ruas e sentem prazer em ver uma arte no meio do caos urbano, são as mesmas que irão no futuro querer alguma obra para embelezar o seu próprio lar ou o seu ambiente de trabalho.

Você também pintou em outros lugares de Londres...

O graffiti se relaciona com a questão urbanística das cidades...

Muito bacana. Já havia ouvido falar por outros amigos e artistas brasileiros sobre a Pigment, e quando planejei ir para Londres entrei em contato com o pessoal. É super interessante formalizar essas parcerias. Afinal de contas eu volto ao Brasil, mas deixo em Londres o meu trabalho, tendo a certeza de que a Pigment seguirá formalizando novos contatos para possíveis futuros trabalhos, não só em Londres, como pela Europa toda.

Diretamente. Trazendo cor, vida e expressão para as cidades. O graffiti geralmente rompe as barreiras visuais (muros), ou até mesmo resgatam o olhar das pessoas para grandes intervenções em fachadas de edifícios, históricos ou não. Na minha visão, os graffitis de diversos artistas espalhados pelas cidades

Sim. Como eu já havia visitado Londres em 2010, fiz questão de focar esse ano apenas para colorir as ruas. Fiquei uma semana na cidade e pintei todos os dias. Fiz diversas intervenções em Camden Town, Shoreditch e Hackney Wick. Como foi sua parceria com a Pigment? Qual a importância de inicitavas como esta para artistas brasileiros fora do país?


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CAPA DIVULGAÇÃO/RIO2016

Transformação: Vista aérea do local de construção do Parque Olímpico e a projeção de como ele ficará

BRASIL E REINO UNIDO JUNTAM FORÇAS PARA O RIO 2016 Com apoio da Embaixada Britânica no Brasil, Useful Simple Projects desenvolve programa Diálogos de Inovação e colabora com a construção do Parque Olímpico do Rio 2016 Por Kate Rintoul

Brasil e Reino Unido têm crescido, há cinco anos ou mais, de forma cada vez mais conjunta. Envolvidos na mútua paixão por futebol e cultura, têm buscado novas parcerias e, não à toa, assinaram importantes acordos comerciais e estabeleceram projetos bilaterais de longo prazo por meio de programas governamentais. A passagem da bandeira olímpica de Londres para o Rio de Janeiro foi oportunidade perfeita para estreitar ainda mais as relações e efetivar ações tanto simbólicas quanto práticas. A esperança é que a Cidade Maravilhosa possa repetir, daqui dois anos, o espírito, o apoio popular e o sucesso geral que foram os Jogos Olímpicos de Londres 2012. Ainda que os desafios do Rio 2016 sejam diferentes e até maiores em escala, a preocupação comum entre as duas cidades é a ideia de construção de um legado dos jogos. Em vez de apenas construir belos estádios e apresentar uma

cerimônia de abertura memorável, os organizadores do evento devem considerar a sustentabilidade do mesmo. Tanto em Londres quanto no Rio, as pessoas querem ter a certeza de que todo esforço, dinheiro e por vezes irritações causadas pelo fato de ser sede de uma grande festa valerão a pena. Useful Simple Projects é uma empresa de consultoria sediada em Londres que trabalha com diversas organizações no desenvolvimento de estratégias de sustentabilidade, além de identificar oportunidades de inovação. A companhia trabalhou na Olimpíada de 2012 na capital britânica e agora está focada em ajudar o Rio a desenvolver a sua. A missão deles envolve a implementação da Estratégia de Sustentabilidade para o Parque Olímpico carioca, provendo as diretrizes para empresa AECOM, responsável pelo design do parque. O planejamento tem objetivos dividi-

dos em seis áreas destinadas a assegurar que as construções olímpicas sejam feitas com consciência ambiental; uso de fontes de energia renováveis; melhora da ecologia; redução de desperdícios e aplicação de práticas sustentáveis relacionadas ao uso da água e do transporte para o Rio 2016. As áreas de água e transporte são particularmente importantes para a cidade. Apesar de sua costa litorânea, a capital carioca não possui acesso universal à água limpa e se sistema de esgoto está calamitosamente subdesenvolvido. Como muitas outras regiões metropolitanas no Brasil, o rápido crescimento do número de carros e a crescente população levaram as ruas e avenidas da cidade a ponto de ebulição. Da mesma maneira, a falta de investimentos significa que há também falta de inovação e melhora no transporte público, o que consequentemente encoraja mais pessoas a optarem

pelo transporte individual, elevando o problema de trânsito congestionado. O planejamento e a experiência dos envolvidos na Estratégia de Sustentabilidade tanto em Londres quanto no Rio devem assegurar que os jogos não sejam apenas um sucesso midiático, mas também promotor de impacto duradouro para as próximas gerações. É também um excelente sinal de estreitamento das relações entre Brasil e Reino Unido, mostrando como o compartilhamento de conhecimento e recurso pode fazer esses países mais fortes. Mas, afinal, o que exatamente a Estratégia de Sustentabilidade planeja para resolver os problemas citados e fazer do Rio 2016 um evento sustentável e de sucesso? A seguir estão os objetivos gerais do planejamento traçado, como eles devem ajudar a cidade em longo prazo e como eles já estão sendo desenvolvidos pelos responsáveis.


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CERTIFICAÇÃO EM LIDERANÇA EM ENERGIA E DESIGN AMBIENTAL

ENERGIA

ECOLOGIA MATERIAIS E DESPERDÍCIO

ÁGUA TRANSPORTE

Como parte do comprometimento com a sustentabilidade, a cidade do Rio busca a certificação das construções dos salões esportivos e outras obras permanentes do Parque Olímpico para assegurar que as mesmas sejam desenhadas, construídas e operadas de maneira que reduzam ao máximo possível o impacto ambiental dos projetos. O design das estruturas temporárias será baseado em arquitetura nômade – módulos que podem ser desmontados e reutilizados, operados e movidos para ou-

tros locais com impacto mínimo. O trabalho nesta área começou com a elaboração de um manual técnico que oferece padrões de referência e que será certamente um legado para o setor de eventos brasileiro. Um time de arquitetos está trabalhando com o mercado fornecedor para melhorar o entendimento sobre o sistema e materiais necessários. Isso significa que em longo prazo mais projetos de infraestrutura e arquitetura deverão ser desenvolvidos com consciência ambiental no Brasil.

O fato de ser sede da Olimpíada de 2016 estimulou a construção de obras de larga escala no Rio. Em 2012, o Useful Simple Projects, através do UK Brasil Diálogos de Inovação, recebeu financiamento para desenvolver um manual capaz de ajudar projetistas e desenvolvedores a adereçar mecanismos de energia sustentável em novos projetos de arquitetura e na reforma de prédios na cidade. Em vez de produzir um relatório de rendimento, foi criado um website (www.riorenewables.com), com versões em inglês e português, o que significa que a informação é acessível para maior número de pessoas. Edifícios com eficiência energética e o uso adequado da tecnologia de energia

renovável vão ajudar a garantir que o Rio se desenvolva de forma sustentável e que os jogos deixem um legado positivo para a cidade. A incorporação desses princípios em projetos de edifícios ajudará na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas e gerará uma gama de benefícios ambientais, sociais e econômicos. Os organizadores dos jogos já se comprometeram a operar ônibus e veículos leves com combustíveis limpos provenientes de recursos renováveis. O objetivo é ter ao menos 75% dos veículos leves operando com etanol e eletricidade, ao passo que todos os ônibus operem com a mais elevada porcentagem de biodiesel disponível.

No sentido de promover um desenvolvimento moderno e sustentável, o meio ambiente tem sido uma preocupação constante – e isso em todos os níveis, segmentos e fases de vários projetos em andamento. O plano para a Barra da Tijuca do

UK Brasil Diálogo de Inovação foca na limpeza e desenvolvimento sanitário do sistema de lagos. A Zona Oeste da cidade terá seus rios e lagoas revitalizados através de drenagem para que a população local tenha um legado permanente.

Ainda que os organizadores tenham tentado onde possível usar e reformar obras e estádios já existentes, o Parque Olímpico na Barra da Tijuca requer um desenvolvimento completo do local com a construção de novos estádios e arenas, além de acomodações para aproximadamente 15 mil atletas que vão participar dos jogos. O período de cinco a sete anos após a Olimpíada é classificado como segunda fase e ilustra como o local pode operar durante a transição quando tudo já estiver construído. Os times do UK Brasil Diálogos de Inovação e a AECOM também desenharam o lugar, então nesse período 25% da área podem ser utilizados para treinamento dos futuros talentos

esportivos do Brasil. O restante do local estará disponível para uso temporário: festivais, feiras, exibições etc. A terceira fase, que será desenvolvida após 15 anos, verá um desenvolvimento em longo prazo, com sugestões que incluem complexos de compras, centros comerciais e prédios residenciais. Os materiais de construção e o desperdício também são preocupações recorrentes. A reutilização e reciclagem dos materiais demolidos foram estabelecidas por garantias contratuais e já estão sendo colocadas em prática. As obras do Parque Olímpico começaram em julho de 2012 com a remoção do antigo circuito automobilístico de Jacarepaguá, que se transformou em torre de observação.

A estratégia para a área triangular do parque na Barra da Tijuca cobre o suprimento, a coleta e o tratamento da água, assim como a drenagem da superfície e a integração com a Logoa de Jacarepaguá.

Para isso, o Useful Simple Project utilizou o conhecimento adquirido durante a construção do Parque Olímpico de Londres, do qual também ficou responsável pela estratégia de utilização da água.

Nesta área, as obras incluem um renovado sistema de trens, uma estrutura de metrô expandida e quatro novas linhas de ônibus rápido. Essa rede, que será integrada a diversas estações ligadas às quatro áreas que receberão competições e com locais importantes da cidade, pretende transformar o ambiente urbano e deixar um forte legado: esperado para ser entregue em dezembro de 2015, o sistema expandido deve ser capaz de atender 230 mil passageiros por dia.

Com tais melhorias e a atenção mundial que será dada ao Rio, a Olimpíada pode trazer um senso de melhor autoestima para a cidade e para o país. Isso foi perfeitamente resumido por Alberto Murray, ex-membro do Comitê Olímpico Brasileiro, que disse: “O Rio é o cartão postal do Brasil e não há cidade melhor para receber os jogos. Se os jogos são democraticamente mostrados para o mundo, então os problemas sociais não podem ser escondidos”.


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ELEIÇÕES 2014 DIVULGAÇÃO

Senado e Câmara dos Deputados: obra do prestigiado arquiteto Oscar Niemeyer em Brasília

CONGRESSO NACIONAL EM RENOVAÇÃO A previsão é de que a reformulação no Senado chegue a 70%, enquanto que na Câmara dos Deputados supere os 50%

Até o dia 5 de outubro, mais de 24 mil candidatos vão disputar na televisão, rádio, internet e nas ruas o voto de 140 milhões de eleitores. Em disputa estarão 1.059 vagas em uma eleição para escolha de deputado estadual e distrital (somente no Distrito Federal), governador, deputado federal, senador e presidente. A maioria dos brasileiros está de olho na eleição presidencial – a sétima depois da redemocratização –, mas os 6.970 candidatos que disputam vaga para cargo de senador ou deputado federal, nas duas casas que formam o Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado), também não economizam para conquistar o eleitor. E se a eleição presidencial promete ser acirrada entre os três principais candidatos – Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) – os candidatos ao parlamento não ficam atrás. Dos 6.789 que disputam uma vaga na Câmara dos Deputados, 399 concorrem à reeleição. Segundo o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), haverá uma mudança drástica na Câmara dos Deputados este ano. A previsão é que a renovação da Casa ultrapasse a média

histórica e supere os 50%. Das 513 cadeiras, mais da metade será ocupada por novos parlamentares. Já no Senado, nas vagas em disputa (27 cadeiras, um terço do total de 81), a renovação promete ser ainda maior e pode passar de 70% (ou 25% do total das cadeiras). O Senado Federal, que teve inspiração na Câmara dos Lordes inglesa, foi criado durante o Império. Com a proclamação da República, em 1889, a Casa passou por alterações e incorporou o modelo norte-americano. Ao lado da Câmara dos Deputados, o Senado compõe o Congresso Nacional, formando o Poder Legislativo. Enquanto os 81 senadores legislam em nome dos 26 Estados e do Distrito Federal, a Câmara, com 513 deputados, tem como função representar o povo. Para manter o equilíbrio nas decisões, cada unidade federativa tem o direito de eleger três senadores, em mandato de oito anos. A escolha para o cargo ocorre a cada quatro anos. Em 2014, um terço da Casa será renovado e em 2018, outros dois terços. O sistema é majoritário. São eleitos os dois mais votados, quando a renovação é de dois terço. Neste ano, será eleito um por Estado.


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SENADO: FUNÇÃO EXCLUSIVA Uma lei só entra em vigor depois que ela é aprovada pelas duas Casas (Senado Federal e Câmara dos Deputados) e assinada pelo presidente da República. Proposições encaminhadas pela Presidência, como medidas provisórias e projetos, primeiro é votada na Câmara e só então analisada e votada no Senado. O Senado avalia primeiro quando o projeto é de autoria de seus parlamentares. Quando há sessões conjuntas – Congresso Nacional –, são para analisar e votar os vetos presidenciais. Compete ao Congresso verificar se a aplicação dos recursos públicos ocorre de acordo com a lei. Para isso, o órgão conta com o auxílio do Tribunal de Contas da União (TCU), que pode, por exemplo, exigir esclarecimentos de qualquer pessoa que gerencie receitas, bens e valores públicos. É função exclusiva do Senado processar e julgar o presidente da República, o procurador-geral da República, além de ministros de Estado e do Supremo Tribunal Federal.

COMPOSIÇÃO DO CONGRESSO NACIONAL* *Dados referentes a maio de 2013

SENADO

SITUAÇÃO n PMDB (20) OPOSIÇÃO n PSDB (12)

PT (12)

n

PTB (6)

DEM (4)

n

PSOL (1)

n

n

n

PDT (5)

n

PP (5)

n

PR (5)

n

PSB (4)

n

PCdoB (2)

n

PSD (2)

n

PRB (1)

n

PSC (1)

n

Pv (1)

DEPUTADOS FEDERAIS Na eleição para deputado federal o voto é proporcional e aberto. As cadeiras são distribuídas proporcionalmente à votação de cada partido ou coligação. Definidos o número de cadeiras, as vagas são preenchidas de acordo com o mais votado, seja pelo partido ou pela coligação. Na hora da totalização dos votos, a Justiça Eleitoral exclui os votos brancos e nulos, que não beneficiam nenhum candidato, para fazer a divisão das vagas. Na sequência, é calculado o quociente eleitoral. Este é o número que cada partido ou coligação precisa alcançar para conseguir uma cadeira no Legislativo. Como as vagas são dividas pelos partidos ou coligações, nem sempre os candidatos que recebem mais votos acabam eleitos. Se o candidato estiver em uma chapa com muitos candidatos bem votados é possível que ele não consiga se eleger mesmo tendo mais votos do que adversários de outros partidos ou coligações que conquistam vagas devido à configuração de suas chapas. Nas últimas eleições, algumas legendas focaram suas campanhas nos chamados “puxadores de voto”. Em 2010, por exemplo, o então palhaço Tiririca foi eleito com 1,35 milhão de votos pelo PR. Garantiu sua vaga e a de mais 3,5 deputados de seu partido. Em 2002, Enéas Carneiro, candidato pelo Prona, fez 1,5 milhão de votos e levou para Câmara outros quatro deputados de seu partido. A Câmara dos Deputados, com seus 513 parlamentares, discute a aprovação de leis sobre diversos temas e fiscaliza o uso dos recursos arrecadados. A divisão das cadeiras é proporcional ao número de habitantes dos estados e do Distrito Federal, respeitando o mínimo de 8 e o máximo de 70 parlamentares por unidade da federação.

CÂMARA DOS DEPUTADOS

SITUAÇÃO n PT (89) n PMDB (82) n PSD (46) n PP (37) n PR (35) n PDT (26) n PSB (26) n PTB (18) n PRB (10) n PV (10) n PTdoB (3) n PEN (2) n PRP (2) n PHS (1) n PRTB (1) n PSL (1) OPOSIÇÃO n PSDB (49)

n

DEM (28)

n

PPS (11)

n

PMN (14)

n

PSOL (3)

n

PSC (16)

n

PCdoB (13)

SEM PARTIDO n 1 Deputado

VOTO NO EXTERIOR Uma parcela dos eleitores que vão escolher o próximo presidente do Brasil mora e vota no exterior. Trata-se de um número cada vez maior de pessoas. Em 2014, serão 354.184 eleitores aptos a votar fora do país – um aumento de 77% em relação às últimas eleições gerais, de 2010, quando 200.392 brasileiros participaram do pleito.

torais organizadas com a ajuda de missões diplomáticas e repartições consulares. Para quem é domiciliado no exterior, o voto é obrigatório para o cargo de presidente. A inscrição, transferência ou revisão do título têm que ser feitas até 151 dias antes do pleito, prazo que já foi encerrado. As faltas precisam ser justificadas.

Os eleitores estão em 120 países. Serão, ao todo, 1.033 seções elei-

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Mais informações em www.brazil.org.uk.


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CONECTANDO

ÂMBITO DE TRABALHO EDUCATIVO POSITIVO DIVULGAÇÃO

O setor educativo pode, com esforço, consciência e orientação, ser um local de trabalho de aceitação, solidariedade e dignidade para os trabalhadores que vivem com HIV Por Mariana Iaconog

Quando recebi meu diagnóstico de soropositiva aos 20 anos, soube, desde o começo, que não ia hesitar em ser visível, isto é, em contar que tinha HIV. Já conhecia minha vocação: o trabalho social. Obtive o diploma de assistente social com orientação em pedagogia, especializada em educação. Sempre me perguntei se havia, inconscientemente, escolhido esta orientação por minha condição sorológica, já que para trabalhar em escolas o acesso ao cargo é por um ato público com base na classificação em concurso, sem exames pré-admissionais. Tradução: Não serei discriminada por viver com HIV para ter acesso a um trabalho no campo da educação. Trabalho em educação numa escola de educação básica e numa escola de ensino médio. Ambas são frequentadas por adolescentes e jovens. Também sou professora da matéria “Construção da cidadania”. Desde o começo, soube que contar meu diagnóstico de HIV a meus colegas, companheiras e companheiros docentes e aos estudantes se transformaria numa ferramenta de trabalho. Também poderia entrelaçar meu ativismo em HIV/AIDS com minha militância em educação. O que facilitou este processo foi o apoio que tinha do Programa de Promoção e Prevenção do HIV/AIDS, da Confederação de Trabalhadores da Educação da Republica Argentina. Em 2009, com outras doze pessoas da América Latina que vivem com o vírus, protagonizei a campanha “Paixão pela vida” para a Iniciativa de Meios Latino-Americanos sobre a AIDS (IMLAS). Isto significaria uma grande mudança em minha vida e, realmente, daria maiores frutos ao meu trabalho e à luta contra o estigma das pessoas que vivem com HIV. Esta campanha era composta de um spot de trinta segundos

que passava na TV aberta e a cabo, internet e rádio. Também participei na ampla difusão da campanha, que incluiu entrevistas em revistas, diários, programas de televisão nacionais e rádio. Isto implicava que seria visível nos meios de comunicação de massa, que já não contaria com o direito à confidencialidade. Fiz um trabalho antes do lançamento em minha psicoterapia. Além disso, contava com o apoio da organização da qual faço parte, a Rede Argentina de Mulheres que Vivem com HIV/AIDS (RAMVHIS). Certamente, devo mencionar em primeiro lugar minha família, meu marido e meus amigos. Estes últimos, sem sabê-lo, contribuiriam para a luta contra o estigma das pessoas que têm HIV. Chegou o lançamento... As entrevistas, as transmissões de televisão e rádio. Depois tinha que esperar as reações e repercussões que não tardaram em aparecer. As pessoas perguntavam se era verdade ou se era só uma publicidade, se era por isso que dava as oficinas de HIV e insistia tanto em capacitá-los no cuidado da saúde sexual e reprodutiva. Perguntavam-me como estava de saúde. A reação menos esperada foram alguns abraços espontâneos que recebi no pátio. Deram-me apoio sem dizer nada mais que “Ontem te vi na TV”. Esse também foi o caso de alguns homens de um de meus cursos depois que uma companheira trouxe uma das revistas. Era o motivo para voltar a trabalhar o tema e oferecer-lhes a parte testemunhal porque a estavam solicitando. Não havia razão para não incluir esta parte, já que, através de minha história de resistência, iriam concretizar os conhecimentos que haviam adquirido quanto à discriminação, o HIV, o estigma e o dia-a-dia.

Na sala de professores disseram que alguns estudantes haviam feito comentários ou que eles mesmos haviam visto alguma das entrevistas. Então, a partir disto começávamos a falar sobre o HIV, os meios de transmissão, os métodos de prevenção e a medicação. A diretora de uma das escolas sempre comenta com certo orgulho que a assistente social da escola tem HIV, fala isso normalmente com as pessoas e internalizou isto como algo natural. As professoras de biologia me convidam para participar nas classes de educação sexual. Em nenhuma ocasião vivi uma situação de discriminação dentro das escolas por parte do pessoal docente. Sempre tiveram uma atitude positiva e tentaram obter mais informação sobre o tema e o novo vocabulário que não gera discriminação contra as pessoas com HIV. Meu caso, a conversão de uma assistente social numa referência do tema de HIV no âmbito da educação, era possível graças à aceitação e à solidariedade de meus companheiros de trabalho. Desde que meus companheiros docentes, não docentes, estudantes da escola, as famílias e toda a comunidade educativa conheceram meu diagnóstico, me demonstraram que dar uma identidade às pessoas que vivem com o HIV serve para desarmar preconceitos e estigmas e trabalhar contra a discriminação. Favorece ainda espaços de trabalho amigáveis, especificamente na escola, onde a discriminação é vivida todos os dias por muitos outros fatores. O âmbito educativo pode, com esforço, consciência e orientação, ser um local de trabalho de aceitação, solidariedade e dignidade para os trabalhadores que vivem com HIV. Dedicado a Ludmila

Spot de trinta segundos da campanha “Paixão pela vida” passava na TV aberta e a cabo, internet e rádio

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Publicado originalmente em “Trabalhadores/as positivos/as escrevem!”. Confira o trabalho completo em http://ninj.as/dgte1

COMO PARTICIPAR? Conectando é um projeto desenvolvido pelo Brasil Observer que visa colocar em prática o conceito de comunicação ‘glocal’, ou seja, uma história local pode se tornar global, ser ouvida e lida em diferentes partes do mundo. Mande sua história para nós! Saiba como participar entrando em contato pelo conectando@brasilobserver.co.uk


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Brasil Observer

GUIDE

ENTRANCED LONDON EDINBURGH FESTIVAL FRINGE SOCIETY

As a leader of the Brazilian Cinema Novo movement and director of some Brazilian cinema classics, Glauber Rocha was undoubtedly one of the country’s most competent movie makers. Discover more about the man, the movies and what they say about the world past and new at a special screening at the Institute of Contemporary Art. >> Read on pages 16 and 17 Glauber Rocha foi provavelmente o cineasta mais competente do Brasil, líder do movimento Cinema Novo e diretor de alguns dos maiores clássicos do cinema nacional, como Deus e o Diabo na Terra do Sol (foto), Terra em Transe e Idade da Terra. Descubra qual desses será exibido em Londres em sessão única no mês de agosto. >> Leia nas páginas 16 e 17

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BRAZILIAN CINEMA CLASSIC IN LONDON A special screening of Terra em Transe (Entranced Earth), the masterpiece by director Glauber Rocha, to be shown at the Institute of Contemporary Art By Gabriela Lobianco

The ICA’s summer programme, Cinematheque: We must discuss, we must invent started on 8 July and runs until 2 September, as part of the cultural centre’s current exhibition and event series Journal. The season of screenings explores the artist’s role in bringing focus to a constantly changing world and highlights the “Third Cinema” movement, with films that provide a glimpse into the continents of Asia, Africa and Latin America, which have traditionally been labelled as “third world”. The concept was outlined during the Cuban Revolution of 1959 and rise of Brazilian Cinema Novo, within the famous manifesto of the national Nouvelle Vague director Glauber Rocha, born in Bahia State, “The Aesthetics of Hunger”. Nico Marzano, cinema coordinator at the ICA responsible for curating the series, describes the movement as a “set of radical manifestos and low-budget experimental movies by a group of Latin American filmmakers who defined a ‘cinema of opposition’ in reaction to Hollywood and European models”. Marzano reiterates the importance of these works, “The multiplicity of identities and histories needs to be displayed through subjects able to read a dialogue between new technologies, class, gender and a mix of languages. Due to a changing multiracial and multicultural reality, Third Cinema must reinvent itself in terms of gender, class and geographical identity – and consequently in terms of narrative structure and aesthetics”.

AN IDEAD IN HEAD The Brazilian Cinema Novo filmmakers were influenced by the Italian Neorealist movement and the French Nouvelle Vague, and set out to aesthetically renew the films that Brazil produced during the 40s and 50s. With “A camera in hand and an idea in head”, as his motto, Glauber Rocha was one of the best known directors of the movement. It was only fitting therefore that among the selected films shown at the ICA, Brazil’s entry, Terra em Transe (Entranced

Earth) was directed by Rocha. The film is the second installment of a trilogy: Deus e o Diabo na Terra do Sol (Black God, White Devil - 1964), Terra em Transe (Entranced Earth - 1967) and Idade da Terra (The Age of the Earth - 1980). While the three films can be watched indivdiually, Rocha had intended them to be seen in successtion, in a letter to the American producer Tom Luddy, he said they form “a single speech about Brazil and the world”. Unfortunately the director died a month after writing this letter and so far, the display of three films in sequence was never shown at a cinema, as he had wished. Entranced Earth is set in Eldorado, a fictitious Latin Amercian country and against the backdrop of an internal struggle for political power. The film follows the story of the jaded journalist Paulo Martins who opposes two equally corrupt political candidates: a populist and a conservative but whose life has become increasingly entangled in theirs. For film critic and scholar of Glauber Rocha, Francis Vogner dos Reis, the “film strongly identified with not only questions of Brazil under dictatorship, but also with all the winds in the 1968 world”. The film comes from Rocha’s own political concerns and search for an art focused on reflection, that would encourage viewers to question and emerge a critical review of reality. The aesthetics of Entranced Earth are not based on the linearity of logic and common sense. Trance is the driving force of the narrative and the character’s agenda. Vogner dos Reis says “Rocha directly confronts Latin American (left and right) populism and implies the role of intellectuals against anxieties of revolution, the contradiction between the fights for the people and their affinities with power”. For all that and because it represents the deep Brazilian and world ideas so well, the film is a must see. This screening will be accompanied by an introduction from ICA Film & Cinema Manager Nico Marzano who will offer an overview and insight into the work and will take place 6.30pm on 19 August. Info: www.ica.org.uk.

1) Entranced Earth scene and 2) Glauber Rocha


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CLÁSSICO DO CINEMA BRASILEIRO EM LONDRES Terra em Transe, do diretor Glauber Rocha, compõe a programação cinematográfica do Instituto de Artes Contemporâneas: dia 19 de agosto as 6.30pm Por Gabriela Lobianco

REPRODUCTION

O ciclo cinematográfico ICA Cinematheque: We must discuss, we must invent acontece desde o dia 8 de julho e se estende até 2 de setembro, como parte do projeto Journal (exibições, filmes e eventos) do Institute of Contemporary Arts (ICA), em Londres. Organizado pelo coordenador de cinema do ICA, Nico Marzano, o evento destaca o movimento “Terceiro Cinema”, projetando obras que proporcionam um olhar sobre os continentes da Ásia, África e América Latina, zonas rotuladas como de “terceiro mundo”. O conceito delineou-se a partir da Revolução Cubana de 1959 e do Cinema Novo brasileiro, com o famoso manifesto do diretor baiano da Nouvelle Vague nacional, Glauber Rocha, “Uma Estética da Fome”. Marzano, no blog do ICA, descreve que a ideia formou-se a partir de “um conjunto de manifestos radicais e filmes experimentais de baixo orçamento por um grupo de cineastas latino-americanos que definiu um ‘cinema de oposição’ em reação à Hollywood e modelos europeus”. E justifica a escolha: “A multiplicidade dessas identidades e histórias precisa ser exibida através de assuntos capazes de promover um diálogo entre as novas tecnologias, classe, gênero e uma mistura de línguas. Devido a uma realidade multirracial, o Terceiro Cinema se reinventa em termos de gênero, classe, identidade geográfica, estrutura narrativa e estética”.

UMA IDEIA NA CABEÇA “Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”. Esse foi o mote principal de Glauber Rocha e outros cineastas do Cinema Novo brasileiro – influenciado pelo Neorrealismo italiano e pela Nouvelle Vague francesa –, que tinha a proposta de renovar esteticamente o cinema que vinha sendo produzido no Brasil nos anos 40 e 50. Assim, dentre os filmes selecionados para projeção no ICA, está o representante do Brasil, dirigido pelo próprio Glauber Rocha, Terra em Transe. O filme é parte integrante da Trilogia da Terra do cineasta: Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), Terra em

Transe (1967) e Idade da Terra (1980). Sobre essas três obras, Rocha afirmou, em carta endereçada ao produtor norteamericano Tom Luddy, formarem “um único discurso sobre o Brasil e sobre o mundo”. O diretor faleceu um mês depois de escrever essa carta; até o momento, a exibição dos três filmes em sequência nunca foi projetada numa sala de cinema, como era o seu desejo. Terra em Transe narra a saga do jornalista e poeta Paulo Martins (Jardel Filho) e seu triângulo amoroso com o político conservador Porfirio Díaz (Paulo Autran) e à amante dele, a meretriz Silvia (Danuza Leão), enquanto o fictício país em que se passa a trama, República de Eldorado, está na iminência de um golpe de Estado. O protagonista Paulo, rodeado por militantes revolucionários e políticos autoritários, acaba por sacrificar sua vida por um ideal. Para o crítico de cinema e estudioso do legado de Glauber Rocha, Francis Vogner dos Reis, trata-se de “um filme fortemente identificado não somente com as questões do Brasil sob uma ditadura, mas também com todos os ventos de 1968 no mundo (o maio francês, a primavera de Praga...)”. Reafirmando, assim, a ideia de que a película pode ser uma metáfora do Brasil da década de 60. O cinema de Rocha vem de suas inquietações políticas e da busca por uma arte voltada à reflexão, fazendo com que o espectador se questione e emirja numa revisão crítica da realidade. Com isso, a estética de Terra em Transe foge da linearidade lógica e do senso comum. O transe é a força motora da narrativa e pauta os personagens, as campanhas políticas, o golpe de Estado, as orgias, etc. Vogner completa dizendo que “Glauber Rocha [no filme] confronta diretamente os populismos latino-americanos (à esquerda e à direita) e implica o papel do intelectual frente aos anseios de revolução, a contradição entre a sua luta junto ao povo e suas afinidades com o poder”. Por tudo isso, por representar tão bem o Brasil profundo a também a América Latina, o filme é imperdível. A sessão está marcada para as 6.30pm do dia 19 de agosto. Para mais informações, como venda de ingressos, acesse www.ica.org.uk.


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NINETEEN EIGHT-FOUR

WHAT’S NEW TO LISTEN TO? O QUE TEM DE NOVO PARA OUVIR? There is a famous song sung by Elis Regina that says: “Our idols are still the same and appearances do not deceive”. The song, titled Como nossos pais (Like our parents), was recorded in the 1970s, but the ideas hold true today. Many of us still love the songs of protest written during Brazil’s military dictatorship, the baião rhythm of Luiz Gonzaga and distinctive piano sounds of Bossa Nova. While times change, the creation of art and music, never end; artists may not be the figureheads as they were 40 years ago, but the music industry still has an important social role to play. This week, I’ve written about the new talent that might not make as much noise as those of yore, but who have made their presence known just one stand out record or as a viral sensation that make them exciting acts to watch.

WADO After 10 years of making music, Wado only reached the general public (I’m parochial so “general public” to me is synonymous with Sao Paulo) after the release of his latest album Vazio Tropical produced by Marcelo Camelo. This new sound is great, but the artist’s back catalogue is a mess. When trying to find his music on Deezer and Spotify it’s impossible to find what came before the current album. Confused. Summed up in one word: Timeless. Play: Fortalece Aí, Cordão de Isolamento and Quarto Sem Porta.

5 A SECO This band of five young guys from Sao Paulo take turns with different instruments and voices to create interested compositions. Their story has been a quick rise to fame, from playing at friend’s parties, to getting thousands of YouTube views and then becoming known throughout Brazil (when will this modern fairytale “from the internet to the world?” get old? Or is it already old?). 5 a Seco have appeared on my feed for years. Once I clicked on one of their videos and the sound quality was really bad, so I gave up. Recently it appeared again with audio taken from the DVD recorded at the Ibirapuera Auditorium in Sao Paulo which won me over. From You Tube to accompanying me through life on mobile phone, that’s a story that does not get old. Summed up in one word: Talent. Play: Pra você dar o nome.

FILIPE CATTO Darling of Brazilian music radios and festivals, Felipe Catto is a good blend of mainstream and underground music. With a sound that mixes up the more experimental (using the timbre that many classify as female in my vision a kind of Ney Mato Grosso), Catto has a poetic delicacy voice that’s won him fans and has every composer lining up to work with him. Great to dance along, enjoy and be enchanted. Summed up in one word: Voice. Play: Roupa do Corpo.

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By Ricardo Somera

Por Ricardo Somera

Tem uma canção famosa na voz de Elis Regina que diz: “Nossos ídolos ainda são os mesmos e as aparências não enganam não. Você diz que depois deles não apareceu mais ninguém”. A música, cujo título é Como nossos pais, foi gravada na década de 1970, mas a ideia de que o passado era melhor faz sentido até os dias de hoje. Ainda adoramos as músicas de protesto contra a ditadura militar, o baião de Luiz Gonzaga e o piano da Bossa Nova. A criação e a arte, porém, nunca se acabam; os artistas talvez não sejam tão grandiosos quanto eram 20 anos atrás, mas a indústria musical também não tem essa importância toda. Até o final de 2014, vou escrever algumas colunas sobre os novos talentos que talvez não façam tanto barulho quanto aqueles de outrora, mas que marcam nem que seja com apenas aquele single gravado no computador ou no clipe viral que os tornou a melhor banda de todos os tempos da última semana.

WADO Com mais de dez anos de carreira, o alagoano Wado alcançou o grande público (bairrista que sou “grande público” para mim é sinônimo de São Paulo) após o lançamento do seu último álbum Vazio Tropical, produzido por Marcelo Camelo (eterno Los Hermanos). O som é ótimo, mas a discografia do artista é uma bagunça só. No Deezer e Spotify é um jeito (sem o Vazio Tropical e músicas trocadas), no site só tem o álbum em questão. Confuso. Definição do artista em uma palavra: Atemporal. Escutar: Fortalece Aí, Cordão de Isolamento e Quarto Sem Porta.

5 A SECO Cinco jovens paulistanos que se revezam nas composições e nos instrumentos e vozes. Das festinhas de amigos, para o YouTube e depois para todo o Brasil (quando será que vai ficar velha essa história “da internet para o mundo”? Ou já está muito velha?). O 5 a Seco aparece há anos no meu feed; uma vez cliquei no vídeo e o som estava muito ruim, desisti. Recentemente apareceu de novo com um áudio retirado do DVD gravado no Auditório do Ibirapuera. Escutando tinha certeza que quem estava cantando Feliz pra Cachorro era o Lenine. Aí a história não fica velha: do YouTube pro meu celular. Definição da banda em uma palavra: Talento. Escutar: Pra você dar o nome.

FILIPE CATTO Queridinho das rádios de música brasileira e dos festivais pelo país, Felipe Catto é uma mistura de mainstream com underground da música tupiniquim. Com uma sonoridade que confunde os mais desatentos – o timbre que muitos classificam como feminino na minha visão (audição?) é Ney Matogrossense – Catto é a voz com a qual todo compositor gostaria de ter uma música gravada; é a delicadeza poética. Pra dançar junto, curtir uma fossa e se encantar. Definição do artista em uma palavra: Voz. Escutar: Roupa do Corpo.


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Colin Currie and the Youth Orchestra of Bahia perform new work by Julia Wolfe and Mahler’s First Symphony. Inspired by New York City street beats and the rhythms of American work song, Julia Wolf’es riSE and fLY is a dazzling work composed especially for Colin Currie. Borrowing the title from a chain gang work song, Wolfe’s intention is to ‘take Colin to a new place and to bring something earthy and visceral to the orchestra – to break with formality and get down and dirty.’ The result is a thrilling evocation of street drummers, accordionists, singers, Chinese stringed erhus and the folk tradition of body percussion that fully encapsulates the festival’s title, Metal, Wood and Skin. Mahler’s First Symphony established the intimate relationship between his symphonic scores and songs, its enchanting melodic world evoking the sights and sounds of nature and taking its cue from his Songs of a Wayfarer. The stylistic nerve-centre is a slow movement that juxtaposes a minor-key version of Frère Jacques against the sounds of streets bands and popular music.

YOUTH ORCHESTRA OF BAHIA 17 September Where Queen Elizabeth Hall Tickets £20 - £15 - £10 >>www.southbankcentre.co.uk

Where Notting Hill | Tickets Free

Where The Forge | Tickets £8

Where Rose Lipman Building | Tickets Free

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>> www.clubedochoro.co.uk

>> www.casafestival.org.uk

NOTTING HILL CARNIVAL

CLUBE DO CHORO UK

CASA NIGHT OF IDEAS

24-25 August

30 August

6 September

Europe’s biggest street festival, Notting Hill Carnival is a vivid spectacle representing London’s multicultural past and present. Since 1964 the capital’s Afro-Caribbean communities have celebrated their culture and traditions with a two-day festival of fantastic live music ranging from reggae to dub to salsa, soca floats, steel bands, uplifting beats, jerk chicken and fried plantain food stalls, and much more.

Clube do Choro UK hosts one of the most revered cavaquinho players in Brazil, Henrique Cazes. Born in Rio de Janeiro, Henrique Cazes has been playing professionally since 1976. He started to play the guitar when he was six years old and gradually went on to play cavaquinho, mandolin, tenor guitar, banjo, twelve-string caipira guitar and lately electric guitar, all self taught! He is well known for his Beatles’n’Choro adaptations.

Inspired by the Institut Francais’ brilliant La Nuit de la Philosophie / My Night with Philosophers, Casa Latin America Theatre Festival is excited to announce the very first all night celebration of Latin American culture in the heart of East London. From 6pm to 6am there will be an amazing line up of talks and debates on politics, literature, drugs, sex, art, architecture and more alongside movie and documentary screenings, traditional board-games, play-readings, live music and genre-busting DJs.

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NEW CANVAS OVER OLD

WELCOME TO THE WEIRD WORLD OF VLOGGING By Kate Rintoul

Trend spotters say you can see when an underground movement has gone mainstream when you see it three times in quick succession, and this is exactly what happened to me when, in the space of two days I had read about, found myself talking about and watching various vlogs. These last few weeks have seen me traverse a wide range of emotions from skepticism, astonishment, admiration and all out confusion as I have tried to get my head around the weird world of vlogging. Of course, I call only it weird because I was born before 1990, can remember life before Facbook and find the inexplicable popularity of the selfie totally unnerving, annoying and horribly narcissistic. This journey started during my weekly reading of the Financial Times Weekend’s ‘Lunch with…’ section which always profiles interesting, professionally successful characters over lunch with the journalist and this kind of informal interview brings out real insights. As someone who would one day like to be seen as interesting and professionally successful, I hope that by reading I will gain nuggets of wisdom from older people with established careers that I admire. So imagine my reaction when lunch on this occasion was to be share with Zoella: the fashion and beauty ‘vlogger’ who is three years younger than me, has a seemingly questionable penchant for pink and who prior to this, I’d never heard of before. As it turns out there was a lot to learn from this encounter. While I admit I wasn’t all that interested in watching Zoella discuss the merits of cherry shaded lipstick (but then I’m hardly her target audience), her meteoric rise to vlogging stardom is something to admire. The article also gave real insight into how this form of new media is expanding and the commercial potential of it. As a once-aspiring documentary filmmaker who found that the more I learnt about funding bids, production costs and non-existing wages put me off ever actually making films, the sheer amount of money being exchanged on the vlogosphere is very interesting to me. As YouTube has grown especially popular with the golden demographic of 16-24 year olds, the money from traditional advertising has gone with it, providing funding to smaller experimental projects which would not have otherwise been possible. Of course it has also made certain vloggers, very very rich. The same FT article said that advertisers are considered “to be willing to pay £20,000 a month for banners on well-known

vloggers’ YouTube channels, while £4,000 can change hands for each mention of their product in the video itself.” And said that “based on the rates commanded by the most successful vloggers, [Zoella’s] income from advertising alone could now be running at a rate of several hundred thousand pounds a year”. Wow not bad for a 24-year old who spends her time shopping and giving beauty advice from the comforts of her very pink bedroom! Then the next day while working on an advice article for independent filmmakers in Brazil, my attention was drawn to ParaMaker. Headed up by 26-year old Rio-born media entrepreneur Felipe Neto, this is an extension of Maker Studios in Los Angeles and is the first and largest YouTube network company in Brazil. ParaMaker oversee hundreds of YouTube channels, and help vloggers and talented Brazilians start their channel and coach them on how to be successful. The company creates numerous opportunities to learn different roles and progress the careers of those working on and off screen and 90 per cent of the company is under 30 years-old. I spoke to the American-Brazilian editor Rebecca Roche who graduated last year and decided to make Rio the place to start her career and currently works as an editor and assistant director for a ParaMaker beauty channel called TOP which is sponsored by Pantene. Platforms like ParaMaker and Maker have made filmmaking more accessible and have empowered recent graduates who a few years ago in the wake of the recession were being labelled ‘the lost generation’. Roche said her fluidity, rapid growth of the YouTube market and lucrative advertising partnerships means that those working in film can speed track their careers, “I started out as an editor, but I was quickly encouraged to participate in pre-production. They wanted to hear my opinions and ideas for the videos. A few weeks ago, I was assigned to be the assistant director of the channel´s production team, as well as an editor. I couldn’t be happier with all the opportunities I’ve been given. I am very fortunate to be learning and growing with the company.” So while I might grapple with the ethics of people with often no known experience or expertise being paid by large corporations to endorse products to impressionable teenagers, I can’t help but hope that vlogging somehow also represents a new salvation for independent filmmakers that we wouldn’t otherwise get to see. And surely that can be no bad thing.

Based on the rates commanded by the most successful vloggers, Zoella’s income from advertising alone could now be running at a rate of several hundred thousand pounds a year


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BEM-VINDO AO ESTRANHO MUNDO DOS ‘VLOGS’ REPRODUCTION

Por Kate Rintoul

Observadores de tendências dizem que um movimento underground vira mainstream quando você vê o mesmo três vezes em curto espaço de tempo; foi exatamente o que aconteceu comigo quando, em um período de dois dias, me peguei lendo, vendo e falando sobre diversos vlogs – abreviação de vídeo blog. Nas últimas semanas passei por uma diversa gama de emoções: ceticismo, surpresa, admiração e toda confusão relacionada a minha tentativa de entender o estranho mundo dos vlogs. Obviamente, só uso termo “estranho” porque nasci antes de 1990 e posso lembrar-me da vida antes do Facebook, assim como acho o inexplicável fenômeno das selfies algo extremamente narcisista. Tudo começou com minha leitura semanal da sessão “Lunch with...” do Financial Times, que sempre traça interessantes perfis de profissionais de sucesso e proporcional ideias muito valiosas. Como alguém que almeja se tornar um dia uma pessoa vista como profissionalmente bem sucedida, eu esperava que, através da leitura, me deparasse com pessoas sábias que pudessem dar bons conselhos. Então imaginem minha reação quando a personagem da vez foi Zoella: a vloger de moda e beleza que é três anos mais nova que eu. Acontece que havia muito que aprender com a entrevista. Ainda que eu admita não estar tão interessada em assistir Zoella discutir os méritos de cada batom (dificilmente faço parte do público alvo dela), sua ascensão meteórica é algo a se admirar. O artigo também deu boas ideias de como essa nova forma de mídia está se expandindo e sobre o potencial comercial dela. Para uma ex-interessada em produzir filmes como eu, que descobriu que a realidade do meio é desesperadoramente difícil, notar a quantidade de dinheiro sendo negociada na vlogosphere é bastante instigante. Com o crescimento do YouTube especialmente entre a faixa de ouro entre 16 e 24 anos, o dinheiro de anúncios tradicionais migrou junto para a internet, financiando pequenos projetos experimentais que de outra maneira não teriam sido colocados em prática. Isso fez com que muitos vloggers se tornassem muito, muito ricos. O mesmo artigo do Financial Times diz que anunciantes estão considerando pagar 20 mil libras por mês

por um banner em um canal popular do YouTube, enquanto 4 mil libras podem mudar de mãos para cada menção sobre seus produtos no próprio vídeo. Baseado nos números dos mais famosos vloggers, o rendimento de Zoella pode ultrapassar as centenas de milhares de libras por ano. Nada mal para uma pessoa de 24 anos que gasta seu tempo fazendo compras e dando conselhos em frente a uma câmera em seu quarto. No dia seguinte, enquanto trabalhava em um artigo sobre cinema independente no Brasil, minha atenção se prendeu a ParaMaker. Liderada pelo empreendedor carioca Felipe Neto, a empresa é uma extensão da Maker Studios de Los Angeles e é a primeira e maior companhia voltada ao YouTube no Brasil. A ParaMaker administra centenas de canais do YouTube e ajuda novos talentos a começar seus próprios canais com sucesso. A empresa cria numerosas oportunidades de aprendizado e trabalho; 90% de seus empregados têm menos de 30 anos de idade. Eu conversei com a editora Rebecca Roche, que acabou sua graduação no ano passado e escolheu o Rio de Janeiro para começar sua carreira. Ela trabalha atualmente como editora e diretora assistente da ParaMaker no canal de beleza chamado TOP, que é patrocinado pela Pantene. Plataformas como a ParaMaker tem tornado a produção de filmes mais acessível e tem dado poder a jovens recém graduados que anos atrás, no meio da crise financeira, faziam parte da chamada “geração perdida”. Roche disse que o rápido crescimento do lucrativo mercado de anúncios do YouTube significa que aqueles que trabalham com filme podem crescer também rapidamente na carreira. “Eu comecei como editora, mas fui logo encorajada a participar de pré-produção. Eles queriam ouvir minhas ideias para os vídeos. Semanas atrás, fui promovida para diretora assistente, além de editora. Não poderia estar mais satisfeita”, ela contou. Por isso, ainda que eu possa discordar com o fato de que pessoas com pouca experiência estejam sendo muito bem pagas por grandes corporações para endossar produtos a adolescentes deslumbrados, apenas posso esperar que o mundo dos vlogs represente um novo caminho para jovens diretores que de outra maneira não estariam sendo vistos. Certamente isso não pode ser uma coisa ruim.


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TRAVEL

DESTINATIONS TO ENJOY THE WINTER IN BRAZIL Thinking of winter in Brazil may sound strange to some people. But yes, winter doesn’t just exist in Brazil, it’s a also a huge part of tourism in the country. The best Brazilian winter cities offer everything that a traveller wants: hot chocolate, fondue, roaring fireplaces, charming inns, excellent restaurants, great mountain vistas, good music and comfort. Brasil Observer tells you more about four Brazilian cities where you can enjoy the winter tropical country!

GRAMADO – RIO GRANDE DO SUL

The chill of the Serra Gaucha combined with Bavarian architecture, cozy inns, good food, hospitality and shopping make this a lovely winter destination. Famous for chocolate, film festivals and festive lights, the city also has beautiful landscapes that seem like something straight out of a romantic movie scene. There’s also a chance of frost and occasional snow with thermometers dropping below 0°C.

CAMPOS DO JORDÃO – SÃO PAULO

Located in the Serra da Mantiqueira, the city of Campos do Jordao is known as the Brazilian Switzerland. The city receives thousands of tourists during the winter because of its intense cultural programming, cozy bars and fine restaurants. At Campos do Jordao it is not uncommon for thermometers to score zero temperatures. It is the highest Brazilian city, at an altitude of more than 1600 meters and is ideal for those who enjoy the chill of the mountains and all the charm of a city with architecture based on European buildings.

CURITIBA – PARANÁ

DESTINOS PARA CURTIR O INVERNO NO BRASIL Pensar em inverno, friozinho ou baixas temperaturas no Brasil pode soar estranho para algumas pessoas. Mas sim, tem inverno no Brasil! E as melhores cidades de inverno do país oferecem tudo aquilo que o turista quer: frio, chocolate, fondue, lareiras crepitantes, pousadas charmosas, restaurantes estrelados, grandes paisagens de montanha, boa música e conforto. Para esta edição o Brasil Observer lista quatro cidades brasileiras onde aproveitar o inverno do país tropical!

With it’s world renowned transportation system, excellent museums and green surroundings, the state capital of Paraná is considered one of the best cultural destinations in Brazil. Curitiba preserves the quiet atmosphere of small towns, with the infrastructure of a great metropolis. In winter, tourists visiting the city in search of leisure and entertainment, delight in the beauty of the parks, squares and woods.

TERESÓPOLIS – RIO DE JANEIRO

The city of Teresopolis is located in the mountainous region of Rio de Janeiro and is a suitable destination for those looking to immerse themselves in mountainous nature. One of the main attractions is the Finger of God, a rocky peak that reaches 1692 meters.


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GRAMADO – RIO GRANDE DO SUL

O friozinho da Serra Gaúcha aliado à arquitetura bávara, pousadas aconchegantes, boa comida, hospitalidade, compras e segurança garantem Gramado como um encantador destino de inverno. Famosa pelos festivais de cinema e das luzes, e também por belas paisagens românticas que parecem cenário de filme, os termômetros na cidade chegam a marcar temperaturas abaixo de 0ºC com neve ocasional.

CAMPOS DO JORDÃO – SÃO PAULO

Localizada na Serra da Mantiqueira, a cidade de Campos do Jordão é conhecida como a Suíça brasileira. A cidade recebe milhares de turistas durante o inverno devido sua intensa programação cultural, seus bares aconchegantes e restaurantes requintados. Em Campos do Jordão, não é raro os termômetros marcarem temperaturas negativas. Um dos mais altos municípios brasileiros, com mais de 1.600 metros de altitude, é ideal para quem gosta de curtir o friozinho das montanhas e todo o charme e beleza de uma cidade que possui arquitetura baseada nas construções europeias.

CURITIBA – PARANÁ

A capital do Estado do Paraná é considerada um dos melhores destinos culturais do Brasil. Não fosse suficiente, Curitiba preserva o clima pacato das pequenas cidades, com a infraestrutura de uma grande metrópole. No inverno, os turistas que visitam a cidade, em busca de lazer e entretenimento, se encantam com a beleza dos parques, praças e bosques.

TERESÓPOLIS – RIO DE JANEIRO

A cidade de Teresópolis está localizada na Região Serrana do Rio de Janeiro e é um destino indicado para quem busca por natureza e o clima ameno. Um dos seus principais cartões postais é o Dedo de Deus, um pico rochoso com 1.692 metros de altitude.


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