FOLHA ARTISTAS FRUSTRADOS NÚMERO 2

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ARTISTAS FRUSTRADOS Muitos pensam que artistas frustrados são aqueles que não conseguiram ser artistas profissionais, quando, de fato, são os únicos artistas que podem ser humanos de verdade.

O poeta é um repetidor. Repete tão descaradamente Que chega a repetir a dor A dor que nem sabe se sente. E se alguém lê o que escreve, Na dor lida nada sentem, Além da repetição que o poeta atreve, A repetição que ele não tem.

Pablo Gobira A verdade está estampada na cara. Mas nada é dito na televisão. Está convocada a máxima potência do processo mediano de composição. Os chamados incapazes se levantam. Estão munidos de armas que não empunhavam. Com olhos arregalados nunca vistos. Torcem pela continuidade por onde passam. Dia-a-dia estão convocados nossos irmãos e irmãs. Aqueles iguais perante as leis. Talvez muçulmanos rebeldes ou cristãos. Talvez algumas lésbicas e alguns gays. O fato é que a verdade surge. Nasce de um livro da ficção menos lida. É um grito de um tempo que urge do qual ninguém mais duvida.

Jamesson Buarque (Goiás)

E assim nas rodas da moda Repete, sem entender a repetição, Esse relógio de corda Parando sempre na mesma estação.

ELOGIO DOS MEDÍOCRES

[Pablo Gobira]

Belo Horizonte, 02 de maio de 2009

O pobre mal educado é teu espelho. O rico educado é tua ruína!

NOVA AUTOPSICOGRAFIA (repetida) Josué Borges

ANO 1, NÚMERO 2, JULHO DE 2009

Há um mecanismo de salvação com antenas, teclados e eletricidade. Há um vazio preenchido que dizem ser de identidade. Um risco é mais aceito agora. Um elogio, uma derrota, uma variação. As figuras compõem a linguagem vã. O sujeito ecoa na rima pobre com "ão". Figuras comuns são repetidas ao extremo e a linguagem as permite. Colam na cabeça, grudam nos braços, nas pernas, faz-se dermatite.

Eu sou um poço vazio, Um polo desmagnetizado, Uma vida sem brio, Sou uma árvore ao relento. Sou o concreto em seus pés, O sopro do vento seco, Sou uma pena da pomba, Que nada leva, nem paz. Sou o tormento das luzes, A ilustre versificação do nada, O completo eu, sem um eu. Eu nada sou, além de ti, Sem medo, sem preconceito, Sou um dedo de esperança. Wilson Seabra

http://www.4shared.com/file/70668044/ a493b423/Pablo_Gobira_e_Rafael_Senra__Fabula_Material.html

Quem levanta todos os dias, coletivos, segue ao trabalho, insistentemente. Acorda e tira a corda do pescoço que agora coça. Tende a atender por gente.

Trilha sonora:

PARA FAZER UMA PERFORMANCE DADAÍSTA NOS DIAS DE HOJE VOCÊ PRECISA: Não ser dadaísta. [Pablo Gobira]

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS

Entrem em contato: osartistasfrustrados@gmail.com

O sujeito vira para o lado e vê igualdade. O sujeito vira para o outro e vê igualdade. A irmã pega a caneta e não assina o cheque. Imagéticamente compõem a realidade. O sucesso é a repetição de uma mesma janta. Sabor requentado em dia diferente. Como a vida de um amigo invejada, ou como uma felicidade indecente. Por tudo isso, todos iguais são medíocres. Da multidão dos medíocres os melhores aparecem. Perdidos nas esquinas de muros rabiscados. Daqueles para os quais o sol não amanhece. Dos traços que inundam a propriedade, priva-se o cidadão de um bom passeio seguro. Na verdade o que não pode mais existir é a vida escondida por trás do muro. Enquanto ela persiste atrás e atrás da parede, fica a figura mitológica já não mais na rede, a repetir que já se levantou, e grita como medíocre finalmente: "Eu sou, eu sou, eu sou, eu sou e estou a seguir".

Corpo Editorial: Josué Borges Pablo Gobira Também publicam neste número: ; Jamesson Buarque (GO); Rafael Senra (São João del-Rei/MG); Wilson Seabra (BH/MG)


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