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The INTERNATIONAL JOURNAL for GLOBAL and DEVELOPMENT EDUCATION RESEARCH REVISTA INTERNACIONAL sobre INVESTIGACIÓN en EDUCACIÓN GLOBAL y para el DESARROLLO OUTRA MANEIRA DE LER E MUDAR O MUNDO: A MÍSTICA NA EDUCAÇÃO POPULAR Danilo R. Streck

Ao falar em “nosso grupo” pode‐se subentender que tem uma pluralidade de místicas, porque os objetos, os símbolos provêm da realidade do grupo. Conforme a frase que serve de referência para esta reflexão, pode ser uma palavra de Paulo Freire, a Bíblia, um alimento ou qualquer outro objeto que estabeleça alguma relação com o cotidiano. A idéia de transcendência não é construída a partir de conceitos ou de idéias trazidas de fora, mas emerge ao tomar coisas e acontecimentos do dia‐a‐dia como ponto de partida para a reflexão e para a projeção de novas realidades. Leonardo Boff explica assim o sentido sociopolítico da mística: “A mística é, pois, o motor secreto de todo o compromisso, aquele entusiasmo que anima permanentemente o militante, aquele fogo interior que alenta as pessoas na monotonia das tarefas cotidianas” (Boff e Betto, 1994, p. 25). ‐ A mística aproxima: Na mística é comum o contato físico: um abraço no vizinho, “sintonizar” o tom de voz no canto, lembrar um companheiro ou companheira doente ou em dificuldade, celebrar conquistas coletivas ou de membros do grupo. É uma espécie de “cimento” para a formação do espírito coletivo. Ele cria um espírito de comunhão que não faz desaparecer as diferenças, mas faz com que estas sejam simbolicamente subsumidas dentro de uma unidade. Essa proximidade de que fala o nosso grupo na roda de avaliação encontra eco em alguns de nossos grandes pensadores. José Martí escreve que os mestres de nossa América devem levar pelos campos a ternura junto com os conhecimentos técnicos. Por quê? Para fazer verter o sangue coagulado nas veias do povo. Paulo Freire fala da amorososidade como uma forma de ser no mundo. Igualmente não se trata de uma idealização de uma suposta natureza amorosa do povo latino‐americano, mas como uma necessidade para a recuperação da dignidade do oprimido. ‐ Faz pensar e refletir: Engana‐se quem relaciona mística com sentimentalismo piegas. Num relato de uma de nossas “rodas de avaliação” que fazia parte da pesquisa consta que a mística estava ao encargo de uma das padarias de uma comunidades periféricas de Curitiba. As mulheres levaram elementos de seu trabalho para a reunião: um copo que encheram com água, um pouco de açúcar e azeite. O que dá quando se mistura água e açúcar? E quando se acrescenta o azeite? Daí pensar na vida do grupo e da relação com o grupo com a comunidade é um passo muito simples e se torna um exercício acessível a todos. Veja‐se que está dito que não apenas ajuda a pensar, mas “faz pensar”, no sentido de introduzir um elemento novo que provoca e desacomoda. Disse um conhecido biblista, nos tempos áureos da leitura popular da Bíblia, que o que carregava o estudo da Bíblia era a liturgia. Acredito que este é o sentido de fazer pensar e refletir. Sabemos de grupos populares que cultivaram epistemologicamente essa curiosidade e estudaram grego e hebraico para poder ler a Bíblia no vernáculo. Mesmo assim, esse “faz pensar” aponta para um não esgotamento da experiência pela razão. Eymard Vasconcelos fala de sua experiência como médico e educador popular que tem a obra de Carl Jung como uma de suas referências: Número Uno (Febrero 2012) Issue One (February 2012)

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