ÍSIS SEM VÉU - VOL.III

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religiosa e da nobre simplicidade de catáter de algum ateu? Comparemos, por exemplo, o hindu Asoka, que viveu em 300 a.C., e o cartaginês Santo Agostinho, que viveu três séculos depois de Cristo. Segundo Max Müller, eis o que se achou gravado sobre as rochas de Girnâr, Dhauli e Kapôrdigiri: "Piyadasi, o rei amado dos deuses, deseja que os ascetas de todos os credos possam residir em todos os lugares. Todos esses ascetas professam igualmente o império sobre si mesmos e a pnÍeza de alma que cada um deveria exercer. Mas as pessoas têm diferentes opiniões, e diftrenies inclinações."55

E aqui está o que Agostinho escreveu depois de sua conversão: "O' meu Deus! Maravilhosa é a profundidade dessas tuas palavras com que convidas os humildes. Amedronta-me tanta honra e me estremeço de amor ante profundidade tão maravilhosa. A teus inimigos (os pagãos) eu os odeio veementemente, Digna-te atravessá-los com tua espada de dois gumes para que deixem de ser teus inimigos, porque me comprazeria vê-los mortos.56 Maravilhoso espírito do Cristianismo; e isso oriundo de um maniqueu convertido à religiáo d'Aquele que mesmo em Sua cruz suplicava por Seus inimigos! Não é difícil de imaginar quem eram os inimigos do "Senhor", de acordo com os cristãos; as raras ovelhas no rebanho de Agostinho eram Seus novos filhos e favoritos, que suplantaraÍrÌ em Sua afeiçáo os filhos de Israel, Seu "povo eleito". O resto da Humanidade eram Seus inimigos naturais, As inumeráveis multidões de gentios consistiam em bom alimento para as chamas do inferno; só os poucos da comunhão cristáeram os "herdeiros da salvação". Mas se tal política proscritiva era justa, e sua política "doce sabor" para as narinas do "Senhor", por que não desprezar também os ritos e a Filosofia pagã? Por que haurir táo profundamente dos poços da sabedoria, abertos e preenchidos até a boca pelos mesmos pagãos? Ou então, em seu desejo de imitar o povo eleito, quiserrìm os pais da Igreja evocar o episódio da espoliação do Êxodo [XII, 35-6]? Pretendiam eles, fugindo do Paganismo como os judeus do Egito, carregar suas valiosas alegorias religiosas, como os "eleitos" o fizeram com os ornarnentos de ouro e prata?

Poderíamos acreditar que os eventos dos primeiros séculos do Cristianismo foram apenas os reflexos das imagens lançadas pelo espelho do futuro, ao tempo do Êxodo. Durante os tempestuosos dias de lrineu, a Filosofia Platônica, com a sua mística submersão na Divindade, náo era tão odiosa à nova doutrina ao ponto de impedir os cristáos de se apoiarem nela para a sÌüì abstrusa metafísica de todos os modos e maneiras. Aliando-se com os terapeutas ascéticos - precursol'es e modelos dos monges e eremitas cristãos -, foi em Alexandria, náo nos esqueçanìos, que eles fincaram as primeiras fundações da doutrina puramente platônica da Tr,mdade. Esta se tornou mais tarde a doutrina platônico-filônica, tal como a encontramos hoje. Platáo considerava a nat:ureza divina sob uma tríplice modificação da Causa Primeira, a razão ol o Logos, e a alma ou espírito do universo. "Os três princípios iírquicos ou originais", diz Gibbon57, "eram representados no sistema platônico como três deuses, unidos entre si por uma misteriosa e inefável geração". Unindo essa idéia transcendental com a figura mais hipostática do I'ogos de Fflon, cuja doutrina era a da annga Cabala, e que considerava o Rei N4essias como o Metatron, ort "o anjo do Senhor", o Legatus descido à carne, mas não o próprio Ancião dos Días58; os cristáos vesttam, com essa representação mística do Mediador para a raQa 38


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