ÍSIS SEM VÉU - VOL.III

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contra de Garlande, seu bispo em Orléans, endereçado ao Papa Alexandre III, termina por estas palavras: "Que vossas mãos apostólicas se encarreguem de pôr a nu a iniqüidade desse homem, a fim de que se cumpra a maldição contra ele prognosticada no dia da sua consagraçáo; pois, abrindo-se os evangelhos sobre o altar segundo o costume, as primeiras palavras erami e o joyem, deixantlo as vestes de linho, escctpou-se deles nu" 39.

Por que então condenar à fogueira os mágicos leigos e os consultores

de

livros, e canonizar os eclesiiásticos? Simplesmente porque os fenômenos medievais, assim como os modernos, manifestados pelos leigos, e produzidos mediante conhecimentos ocultos ou por manifestação independente, contradizem as pretensões das Igrejas católica e protestante quanto aos milagres diünos. Em face das evidências reiteradas e incontestáveis, tornou-se impossível, paÍa a primeira, manter com sucesso a afirmação de que semelhantes manifestações miraculosas, executadas pelos "anjos bons" e pela intervenção direta de Deus, só podiam ser produzidas por seus ministros eleitos e seus santos. E tampouco a Igreja protestante podia sustentar convincentemente, pelo mesmo motivo, que os milagres terminaram com os tempos apostólicos. Pois, se da mesma natureza ou não, os fenômenos modernos reclaÍnaÍn uma estreita semelhança com os fenômenos bíblicos. Os magnetizadores e curadores de nosso século entraram em competiçáo direta e aberta com os apóstolos. O zuavo Jacob, da França, suplantou o profeta Elias, chamando à vida pessoas que estavam aparentemente mortas; e Alexis, o sonâmbulo, mencionado pelo Sr. Wallace em sua obra4o, por sua lucidez, envergonhou os apóstolos, os profetas e as Sibilas de antigamente. Depois da queima do último feiticeiro, a grande Revolução Francesa, táo diligentemente preparada pela liga das sociedades secretas e seus hábeis emissários, explodiu sobre a Europa e despertou o terror no seio do clero. Como um furacão destruidor, ela varreu em seu curso os melhores aliados da lgreja, a aristocracia católica romana. A partir de então, o direito à opinião pessoal foi solidamente estabelecido. O mundo livrou-se da tirania eclesiástica, abrindo um caminho desimpedido para Napoleão, o Grande, que deu o golpe de misericórdia na Inquisição. Este srande matadouro da Igreja cristã - no qual ela assassinou, em nome do Cordeiro, todas as ovelhas que arbitrariamente declarava desprezíveis - estava em ruínas, e ela .e viu abandonada à sua própria responsabilidade e recursos.

Enquanto os fenômenos ocorreram apenas de modo esporádico, ela se sentiu suficientemente poderosa para reprimir-lhes as conseqüências. A superstiçáo e a .rença no Demônio eram mais fortes do que nunca, e a ciência ainda não tinha erüsâdo medir publicamente as suas forças com as da Religiáo sobrenatural. Nesse nterim, o inimigo lentamente, mas seguramente, ganhava terreno. E de repente a ;uerra explodiu com inesperada violência. Os "milagres" começaram a ocorrer em :lena luz do dia, e passaÍam de sua reclusão mística ao domínio da lei natural, em :ue a mão profana da ciência estava pronta para arrancaÍ a máscara sacerdotal. Entretanto, ainda por algum tempo, a Igreja manteve a sua posiçáo, e, com o pode:oso auxílio do medo supersticioso, refreou o progresso da força inoportuna. Mas :aando, em seguida, surgiram os mesmeristas e os sonambulistas, reproduzindo o ::nômeno físico e mental do êxtase, que até enÍão eta, como se acreditava, um dom :specífico dos santos; quando a paixão peÌas mesas girantes atingiu, na França e :rl outros países, o seu clímax de fúria; quando a psicografia - atribuída aos espíri:,rs - pâSSou de uma simples curiosidade e despertou um interesse inesgotável, e 31


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