ÍSIS SEM VÉU - VOL.III

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relativa aos dez Aeôns, basta para demonstrar a um cabalista que Jesus pertencia à Franco-maçonaria daqueles dias; pois "I", que é o Iota em grego, tem outros nomes em outras línguas; e é, como o era entre os gnósticos daqueles dias, uma senha, que significa o CETRO do Pai, nas fraternidades orientais que existem ainda hoje. Mas nos primetos séculos, esses fatos, mesmo se conhecidos, foram propositadamente ignorados, e não apenas negados à opinião púbìica na medida do possível, mas veementemente negados sempre que o assunto vinha à baila. As denúncias dos padres tornaraÌn-se mais amargas na proporção da verdade que procuravam refutar. "Deduz-se dai" - escreve Irineu, queixando-se dos gnósticos - "que eles não aceitam nem as Escrituras, nem a tradição"e1. Devemos, portanto, nos espantar, quando mesmo os comentadores do século XIX, tendo apenas uns poucos fragmentos dos manuscritos gnósticos para comparar com os volumosos escritos de seus caluniadores, foram capazes de detectar a fraude em quase todas as páginas? Quanto mais os gnósticos polidos e eruditos, com todas as suas vantagens da observação pessoal e do conhecimento dos fatos, compreenderam o estupendo esquema de fraude que estava sendo consumado diante de seus próprios olhos! Por que acusariam eles a Celso por afirmar

que sua religião se baseava por completo nas especulaçóes de Platáo, com a diferença de que as doutrinas deste eram muito mais puras e racionais do que as deles, quando vemos Sprengel, dezessete séculos depois, escrevendo o seguinte? - "Não apenas pensavam eles [os cristáos] descobrir os dogmas de Platão nos livros de Moisés, mas, além disso, pensavam que, introduzindo o platonismo no Cristianismo, elevariam a dígnidade dessa relígíão e a tornaríam mnis popular entre os pagãos."s2 Eles o introduztram tão bem que náo apenas a Filosofia Platônica foi selecionada como uma base para a trindade, mas mesmo as lendas e as histórias míticas correntes entre os admiradores do grande filósofo - homenagem tradicional a todo herói digno de {eificaçáo - foram restauradas e utilizadas pelos cristãos. Sem ir para além da Índia, náo tinham eles um modelo pronto para a "concepção niraculosa", na lenda de Perictionê, a mãe de Platão?e3 A esse respeito, afirmava também a tradição popular que ela o havia concebido imaculadamente, e que o deus Apolo era seu pai. Mesmo a anunciação por um anjo a José "num sonho", os cristãos a copiaram da mensagem de Apolo a Ariston, esposo de Perictionê, de que a criança a nascer dela era fllho desse deus. Assim também, afirma-se que Rômulo era filho de Marte e da virgem Réa Sflvia. Afirmam em geral a maioria dos simbologistas que os ofitas eram acusados de praticar ritos Licenciosos durante seus encontros religiosos. A mesma acusação era feita

contra os maniqueus, os carpocratas, os paulicienses, os albigenses - em suma, contra toda a seita gnóstica que cometia a ousadia de reclamar o direito de pensar por si mesma. Em nossos dias, as 160 seitas americanas e as 125 seitas inglesas nâo sáo com tanta freqüência perturbadas por tais acusações; os tempos mudaram, e mesmo o outrora todo-poderoso clero tem de refrear sua língua ou provar suas caluniosas acusações. Percorremos cúdadosamente as obras de autores como R' Payne Knight, C. W' King, e Olshausen, que tratam de nosso tema; consultamos os pesados volumes de Irineu, Tertuliano, Sozomen, Theodoret; e em nenhum deles, a não ser nos de Epifânio' encontramos qualquer acusação baseada na evidência direta de uma testemunha. "Dizem", "Alguém diz", "Ouvimos" - tais são os termos gerais e indefinidos utiÌizados pelos acusadores patrísticos. Somente Epifânio, cujas obras sâo citadas em cada um desses casos, parece que se compraz em relatar esses dados. Não temos a intenção de tomar a defesa das seitas que inundaram a Europa no século XI, e que trouxeram à luz os 281


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