ÍSIS SEM VÉU - VOL.III

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isto é, da minha doutrina. Ora, se a compreendemos bem, não podemos deixar de pensar que essa doutrina "secreta" de Jesus, cujas expressões técnicas sáo meras repetiçóes da fraseologia mística gnóstica e neoplatônica - que essa doutrina, dízíamos, estava baseada na mesma filosofia transcendental da Grnse oriental e de todas as outras reügiões de então e do passado. Nenhuma das seitas cristás, de data mais recente, apesar da sua bazófia, foi o seu herdeiro - e isso está evidenciado nas contradiçóes, nas cincadas e nos remendos malfeitos dos erros do século passado ocasionados pelas descobertas do século seguinte. Esses erros, contidos em muitos rnanuscritos tidos como autênticos, sáo às vezes táo ridículos, que trazem em si mesmos a evidência de uma falsificação piedosa. Assim, por exemplo, a ignorância absoluta de alguns dos defensores patúticos dos Evangelhos que pretendiam defender. Mencionamos a acusação de Tertuliano e de Epifânio contra Marcion de ter este mutilado o Evangelho atribuído a Lucas e de ter apagado dele o que agora se provou nunca ter existido antes naquele Evangelho. Finalmente, o método adotado por Jesus de falar por parábolas, com o que ele apenas seguia o exemplo da sua seita, é atribuído nas Homílias63 a uma profecia de Isaíast. Pedro diz: "Pois Isaías disse: 'Abrirei a minha boca em parábolas e pronunciarei coisas mantidas em segredo desde a fundação do mundo"'. Essa referência errônea a Isaías em uma frase dos Salmos, LXXYIII,2 eslâ, não só nas Homilias apócrifas, mas também no Codcx sinaítico[*]. Comentando esse fato em sua obra, o autor de Supernatural Religion aÍirma que "Porfírio, no século III, censurou os cristãos por terem permitido que seu evangelista inspirado atribuísse falsamente a Isaías uma passagem dos Salmos e assim colocasse os padres num grande embaraço"64. Eusébio e Jerônimo tentaram contornar a dificuldade colocando o eÍro nas

costas de um "escriba ignorante"; e Jerônimo chegou a afirmar que o nome de Isaías núnca figurou, em relaçáo à frase acima, em nenhum dos velhos códices, estando em seu lugar o nome de Asaph; todavia, "homens ígnorantes o apagaram"6s.

Em relação a este ponto, o autor observa novaÍnente que "o fato é que a interpretação 'Asaph' por Isaías, não consta de nenhum manuscrito. E, embora 'Isaías' tenha desaparecido de quase todos os códices obscuros, não se pode negar que o nome tenha existido nos textos antigos. No Codex sinaítico, que é provavelrnente o manuscrito mais antigo de todos os existentes (. . .) e que se atribui ao século IV", acrescenta

*

O Codex sinaiticus extÍai seu nome do lugar de sua descoberta, o famoso mosteiro de Santa Catarina, no Monte Sinai, fundado em meados do século VI d. C. pelo Imperador Justiniano. Em meados de 1844, um erudito bíblico alemão, ConstantineTischendorf (1815-1874), viajando em busca de manuscritos antigos, Íesgatou 43 folhas desse manuscrito do século IV de porções do Velho Testamento, em grego, de um cesto que continha pergaminhos esfarrapados que seriam queimados como lixo. Em sua terceira visita ao mosteiro, em 1859, foi-lhe mostrado um manuscrito ainda mais volurnoso, que continha náo só porções do Velho Testarnento, mas também o Novo Testarïl.ento completo. Depois de ter vencido várias dificuldades, foi-lhe permitido levá-lo como presente ao Imperador Alexandre II da Rúsia, que conferira inúmeros benefícios ao mosteiro. Finalmente, o Governo ImperiaÌ pagou 9.000 rublos ao mosteiro por esse manuscrito, e eìe foi depositado na Biblioteca Pública Imperial em São Petersburgo. Alguns anos ap6s a Revolução Russa, o Governo Soviético, depois de tentar vendê-lo na América, abriu negociações com o Museu Britânico e em 1933 o manuscrito foi comprado pela soma de 100.000 libras esterlinas com a ajuda e a aprovação da Governo Britânico. Esú agora incorporado às coleções como Manuscrito Adicional 43725. Para narrativa detalhada, consultar: The Codex Sirmiticus and thc Codex Alexandrtnus, tm livrinho publicado pelos Trustees do Museu Britânico,24 ed., Londres, 1955. (N. do Org.) t71


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