Indústrias Químicas e o Meio Ambiente

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Talvez alguma justificativa para a razão desta perpetuação possa ser encontrada nas palavras de Sheldrake (2001, p. 20), ao assinalar que os mecanicistas “sempre temeram, e continuam a temer, que a aceitação da realidade de algo ‘misterioso’ ou ‘místico’ na esfera da vida implique o abandono das certezas laboriosamente adquiridas pela ciência”. Para Sheldrake (2001), a teoria mecanicista da vida proposta por Descartes, segundo a qual todos os animais e plantas são, essencialmente, máquinas complexas, em princípio plenamente explicáveis nos termos da física e da química comuns, foi proposta pela primeira vez como parte da filosofia mecanicista da natureza: o cosmo era uma máquina, como tudo o que nele se continha, inclusive os corpos humanos. Segundo o campo epistemológico mecanicista, “apenas a mente consciente e racional do homem era diferente, sendo espiritual em sua essência” (SHELDRAKE, 2001, p. 19). Para Sheldrake (1993, p. 59): O universo de Descartes era um vasto sistema matemático de matéria em movimento. A matéria preenchia todo o espaço; era a matriz universal. Sob uma forma sutil, ela rodopiava em vórtices; Descartes pensava que a terra e outros planetas eram levados a girar em torno do sol devido a tal redemoinho. Tudo no mundo material funcionava de maneira inteiramente mecânica, de acordo com necessidades matemáticas. Sua ambição intelectual era ilimitada; ele aplicava em tudo essa sua nova maneira mecânica de pensar, até mesmo às plantas, aos animais e ao homem. Embora os detalhes do seu sistema fossem logo substituídos pelo universo newtoniano, onde a matéria atômica se movimentava no vazio, ele assentou os alicerces da visão de mundo mecanicista tanto na física como na biologia. Na filosofia de Descartes, as almas foram eliminadas da totalidade do mundo natural; toda a natureza era inanimada, desprovida de alma, e morta em vez de viva. A alma também foi retirada do corpo humano, que se converteu num autômato mecânico, deixando-se apenas a alma racional, a mente consciente, alojada numa pequena região do cérebro, a glândula pineal. Desde o tempo de Descartes, a região favorecida deslocara-se um par de polegadas em direção ao córtex cerebral, mas, essencialmente, a idéia permanece a mesma. A mente, de certa forma, interage com a maquinaria do cérebro, embora a maneira como as duas estão relacionadas continue sendo um mistério impenetrável.

O esteio da filosofia de Descartes pode ser resumido por sua famosa frase em latim: “Cogito, ergo sum“ ou “Penso, logo existo”; conceito que proporcionou o surgimento da doutrina do dualismo. Contrariando as idéias originalmente defendidas pelo pensamento linear, defensores da teoria da complexidade, também denominada de não-linear e que será adotada para o desenvolvimento deste estudo, criticam


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