Os sete - andre vianco

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por aí. — Como é que você tá enxergando cocô de rato neste breu? — Pô, Cesão, olha o cheiro! Tem merda pra tudo que é lado. — Assim não dá para procurar nada. É melhor a gente voltar de manhã ou então voltar com lanternas. Tiago paralisou. Não respondeu. Estava observando uma das montanhas de entulho. Um calafrio percorreu seu corpo. De todas, aquela era a única que não estava coberta por excremento e mofo, como se alguém, algum vampiro, o tivesse revirado recentemente. — Venham aqui, me ajudem a tirar esse entulho. — Para quê? Não dá pra ver nada aí! — resmungou Cesão. — Não reclama, eu tenho um pressentimento. Os três passaram a escavar os escombros. Tiago podia enxergar o que fazia, diferente dos dois amigos que primeiro tateavam enojados as pedras que encontravam para depois removê-las. Tiraram quilos e quilos de pedras pequenas e médias até se depararem com um imenso pedaço de laje. Tiago notou que o concreto estava coberto de mofo e excremento, que cobriam as pedras deixadas na parte superior do recinto. Sentiu que estava na pista correta porque certamente aquele pedaço de laje já estivera na superfície e agora se encontrava ali, enterrado. Pediu ajuda aos amigos para erguer aquela laje. Os dois fizeram força sobre-humana e apenas conseguiram erguê-la alguns centímetros, o suficiente para Tiago dar uma espiadela ali embaixo. Esperava deparar-se com a múmia ressequida de Sétimo, mas tudo o que viu foram pedras. Teriam de escavar ainda mais. Empregou sua força vampírica e ergueu o concreto com violência, arremessando-o para o lado. Ouvindo o barulho que a rocha produziu ao deslizar, César assustou-se, jogando-se para o lado. Tiago esquecera que os amigos não conseguiriam enxergar o percurso da pedra pesada; teriam de adivinhá-lo. Por um triz César não foi atingido pelo concreto. A peça rolou sobre o entulho até se chocar contra uma coluna empoeirada. O impacto fez o que restara do teto tremer e soltar em cima dos três uma grossa nuvem de poeira acumulada ao longo das décadas. O três tossiram, com os pulmões tomados pelo pó. A coluna rachou e cedeu, indo ao chão com estardalhaço. César caiu para trás do amontoado de entulho que escavavam, rolando várias vezes sobre o próprio corpo, como um palhaço de circo tarado por cambalhotas. Tiveram a impressão de que o prédio todo havia tremido, ameaçando vir abaixo por completo. Olavo sentiu um pavor gigante tomar conta de sua cabeça, proporcionando uma tontura repentina. Continuava inalando poeira espessa e agora sentia o ar tornar-se mais carregado, e a garganta, mais seca. Correu, tropeçou e caiu diversas vezes, tentando adivinhar o lado da saída. Parecia existir um trovão aprisionado ali, naquele porão, tanto barulho as velhas estruturas emitiam. Tiago ficou estático. Os dois amigos não viam, mas ele podia ver, apesar de não o desejar naquele momento. As paredes tremiam, e o que restara do teto estava vindo abaixo. Teriam muita sorte se aquele velho e


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